25 de setembro de 2010

"A memória é uma prisão"

Lembro dela exaltando a dor,
falando de como suas tragédias tinham a deixado forte.
Lembro dela em um dia de chuva,
reclamando e dizendo que a vida era uma merda,
que não havia justiça e que eu era um idiota machista.
Lembro de uma cãibra durante uma foda
e do desprezo que ela sentia por mim e
de como isso me dava um tesão estranho e doentio.
Lembro das tardes de inverno,
sempre lembro das tardes de inverno,
mesmo quando elas não existiram
e eu as inventava
bebendo whisky durante tardes de domingo.
Lembro dela exaltando a poesia do Renato Russo,
dizendo literalmente a poesia do Renato Russo
e eu sentia esse ódio cheio de tesão
e nós fazíamos amor,
mas só falávamos eu te amo quando
trepávamos de quatro.
Lembro dela colhendo flores e dizendo
que queria morar numa casa ensolarada,
onde teria um cachorro e dois filhos machinhos.
(Ela ria quando falava machinhos...)
Lembro dela preocupada com a feridinha que apareceu em sua buceta
e lembro da pomada que o médico recomendou
e que eu passava nela e ela em mim.
E o nome disso era Amor.
Lembro até da gente fazendo planos:
cachorros, gatos, filhos machinhos
e jardim com cebolinha, salsinha e manjericão.
Lembro de tudo ou quase tudo.
Lembro da noite fria em que ela teve pressão baixa
e peguei sal do cara que vendia milho cozido
e a gente sentou no meio fio
e ficamos beijando por horas.
Lembro do seu cabelo pintado de loiro
e das confusões que arranjávamos para espantar o tédio.
Lembro que, mesmo assim,
a gente não conseguiu espantar o tédio.

23 de setembro de 2010

quinta feira no rio de janeiro.

Está um dia bonito e ontem (ou anteontem?) começou a primavera. Lavei roupas, comprei verduras, toquei 6 punhetas e agora fumo um cigarrinho enquanto mamo uma cerveja em lata.
Tenho coisas para fazer e para pensar. Todo imbecil na terra tem coisas para fazer e para pensar. Eu entre eles. É quase uma tristeza, mas apenas quase. A vida besta e bonita, em outras palavras.
Quero falar sobre São Paulo. Sobre beijos em calçadas e sobre porres cheios de vitalidade. Mas agora não. É como disse: tenho coisas pra pensar.
Então faço contas e programo grande textos a serem escritos. É o que os chatos chamam, com emissão afetada e sibilante, de processo. Ou melhor: proccessso.
Fico remoendo a imagem. No caso, beijos em calçadas. A partir daí vou inventando umas coisas e juntando outras, incluo delírios e deduções baratas, aumento mentiras, crio verdades e, quando for escrever, eu mesmo estarei confuso sobre o que pensei na hora e o que pensei depois quando já me imaginava escrevendo sobre. Uma confusão que me agrada e me dá tesão: deturpar a realidade que, enfim, nem existe assim tão real e absoluta. Uma merda velha.
(sempre lembro da pesquisa de alguma revista científica que li que dizia que pro cérebro não havia diferença entre o vivido e o imaginado, que no cérebro tudo [ verdade ou mentira ] era processado na mesma área)
Penso no risco e nas confusões. Lembro da louca que achou que eu tinha escrito pra ela e também da outra louca que me cobrou por coisas que eu nem pensava, mas tinha escrito.
A confusão que me agrada e me dá tesão.
Minha doença mais terna e gratuita.
Minha diversão de nerd.

22 de setembro de 2010

mulheres lindas do meu lado.

Elas falam sobre seus maridos e namorados.
Mexem as bocas vermelhas com delicadeza e precisão,
têm gestos elegantes e piscam de maneira belíssima:
as pálpebras descem lentas e
se apertam por um milagroso segundo.
Então os olhos surgem imensos, úmidos e pretos - e também profundos e abissais -
e revelam aquela coisa terrível que a gente chama de alma.

21 de setembro de 2010

meu a-ha, u-hu.

É tudo um golpe ou um tipo de golpe. Tanto faz. Estilo é a parada, né Tio Buk? Golpe com estilo e eu acredito porque sou fácil de enganar. Porque a realidade é essa bobagem que a gente toca adiante enquanto pensamos nas coisas importantes. Por essas os políticos são a corja que são. Eles fingem se importar com a realidade. Mas eu não estou falando de políticos. Estou falando de teatro. De milhares e milhares de teatro que fazem sucesso sem mérito algum. É isso.
Mas mérito é coisa de fracos, assim como decência, amor, competência e inteligência. É o Peréio quando diz: "não precisa ter pau grande, precisa ter cara de quem tem pau grande." Mas o Peréio tem o mérito e a inteligência do humor. Ele ri. Ele sabe rir. E quem realmente sabe rir? Eu não estou falando de rir com o Jô ou com Stand-Up. Estou falando do riso que brota a partir da visão da merda. Vê-se a bela bosta e ri. O deboche do capeta, tá escrito no livro. O riso é a máscara que o diabo deu aos humanos, tá em outro livro.
Mas quem ri? Quem ri mesmo? Rir e se enganar é possível? Deus! O Jô é apenas engraçado. Tô falando de riso e também de delírio. Sem concessão. Rir quando não pega bem e quando há sangue nas gengivas sem dentes. Rir sem dente, rir pela ausência de dentes.
Não dá para crer no sucesso das peças de teatro que fazem sucesso. Porque na grande média o sucesso é um engano. Ta aí o P. Coelho, o valor cultural do Funk Carioca, a consciência ecológica do J. Serra e a aceitação da diferença como estratégia de omissão.
Há que se ver a merda. Há que se ver a merda e rir. E só assim. Sem desculpas, sem sacadinhas, sem verdades da moda.
Só o hipócrita salva, só ele, só ele. Porque ele é cínico e sabe da farsa. Ele não acredita na farsa. Ele usa a farsa. Ele é hipócrita e mente em benefício próprio. Ele é bom por isso. Ele é o cretino que sabe que a mentira e a verdade são apenas convenientes ou não. O Hipócrita é o que eu quero ser, claro está.
Tirando isso há a curtição do facebook, os comentários em blogues e os seguidores de twitters. A farsa como instituição e o aumento da confusão: seja nas estátisticas eleitorais, nos imortais da ABL ou na criança que ganha prêmio por imitar adultos no programa do R. Gil.
São gracinhas e jogadas. A gente participa querendo ou não. Por inconsciência ou cinismo.
Cá comigo ainda prefiro o cinismo.

20 de setembro de 2010

#

Cheiro meus próprios dedos pra me reconhecer. É uma tática antiga, estúpida e quase eficiente. Voltar demora, chegar em casa demora, sentir a doce e produtiva solidão demora também. Tento pensar pra frente, mas não consigo. O futuro é sempre um tipo de abstração. Faço minhas obrigações, cago no meu banheiro e, no hortifruti, compro legumes e saladas como se eu fosse o cara mais saudável do Oeste. O rádio tá ligado na cbn e tenho que lavar camisetas e cuecas. A vida parece besta, mas mesmo assim é agradável. Há coisas à fazer, sempre há coisas a fazer. Parece indecente esse fazer-fazer sem fim. E é.

11 de setembro de 2010

Deve rolar em Sampa/Capital no dia 18 de Setembro - se tudo der certo na Dona Roosevelt.

9 de setembro de 2010

essa euforia é todo um tesãozinho.

Ter paz na tarde chuvosa do Rio de Janeiro e ver que o cinza do dia nem é nada tão sério.
Porque tem essa gente que se deprime por causa do tempo e desse mal eu não sofro.
E tenho muita merda, sofrimento e revolta, mas besta eu não sou.
Que, cá comigo, acho bem patético e vaidoso essa coisa de se deprimir em feeds de facebook.
(meu limite de patético e vaidoso é meu blogue - essa coisinha aqui que até punhetinhas me rende)
Então mexo no meu pau sem foda e penso que tudo é uma grande bobagem. A euforia é uma grande bobagem. A depressão também.
No espelho do elevador reparei na minha pança. Ela é grande, branca e parece crescer. Mas o pior é: nem me importo.
Lembro do meu pai falando da diabetes que virá via gene, da ex que me queria saudável e da boa amiga que diz, quase suave: Fernando, você sabe que engordou demais nos últimos anos.
E, contra mim mesmo, reflito bêbado e falsamente profundo: melhor ter pança do que não ter alma.
Lembro de todo mundo e da última louca. Tento entender porque eu e as loucas nos aproximamos e tentamos, sempre com muita incompetência, nos envolver. E fico apavorado ao cogitar a coisa triste e óbvia: era claro que não daria certo.
E insistir no que não dá certo é a sabotagem mais clássica de toda auto-ajuda.
Agora ouço bebop e concluo que trompete é bem mais tesudo que violões, pianos e sambinhas tradicionais tocados por garotos da zona sul.
Eu já falei sobre alma nesse post, não falei?
-
Mais um cigarro pra dentro e a infelicidade de imaginar que a vida longa parece ser a vida saudável.
É que preferia morrer velhobemvelho e fumante e bebendo e sem exercícios.
Mas quem sabe o que?
E o que seria da regra sem a exceção?
A cerveja é gelada, o cigarro é mais prazeroso do que imaginam os não-fumantes e meu pau, bem... meu pau ainda impressiona as adolescentes de Botafogo.

7 de setembro de 2010

queria bem enfiar-lhe a pica. seria minha maneira mais sincera de lhe dizer saudades.
você igual, você eufórica.
eu dentro e você soltando aquele riso frouxo e dizendo meio idiota "- você por aqui?"
o afeto seria uma linguada no rabo.
depois banhozinho e casa. nada de conchinha, nada de pé gelado, nada de "bom dia, faz café?"
ligaria a TV e acenderia um cigarro. olharia meu pau melado e passaria meu dedo no prepúcio.
o cheiro de látex da camisinha.
a maldita camisinha, a maldita camisinha.

4 de setembro de 2010

Estranho e lento.

  1. Daqui a pouco devo esquentar a pizza. Lembro de J me acusando pelo excesso de pizza.
  2. No som um Nick Cave que é do Renatinho. Ouço, mas nem sei se gosto. Penso, com minha pança branca e mimada, que é le-ê-gal ouvir Nick Cave.
  3. Daí lembro do Bortolotto quando ele fala que ta ouvindo um disco. E sempre parece que ele tá ouvindo o melhor disco do mundo. E várias vezes ouços os discos que ele diz, mas nem é igual. O lance é o jeito como ele diz.
  4. Amanhã, após 2 meses, não haverá peça. Era cansativo a obrigação de todo fim de semana chegar cedo ao teatro e arrumar as coisas. Depois torcer pra que houvesse platéia e que o espetáculo fosse bom - porque teatro (quem faz, sabe) nem sempre é bom.
  5. Matava minhas tardes de sábado e domingo, mas ajudava a dar sentido pra vida. É besta, eu sei. Mas é real: com aquela peça em cartaz eu não tinha nenhuma dúvida de que eu participava do mundo.
  6. Penso que preciso de uma foda. De uma BOA foda. Foda-Fantástica. Aquela coisa de trepar e realmente sentir a plena descarga sexual. Sentir a morte durante o orgasmo e não se importar. Se abandonar praquela buceta que envolve seu pau e, secretamente, pensar: morrer ou viver não é importante.
  7. Imagino M me dando. Ela chega até mim, se apresenta e diz algo fatal. Fico cheio de medo. Entendo que se eu quiser treparemos e me apavoro. Desconfio do porquê M me daria e fico triste ao lembrar que ela lê meu blogue e que, muito provavelmente, quer me dar apenas para ler o que escreverei depois. A vaidade de mão dada com uma enorme bobagem. Como M não mora no RJ, eu me acalmo.
  8. Tem uma foto que vi num blogue aí. A foto era de uma garota. Esse blogue aí é de uma garota que é mãe de uma garota de uns 12, 14 anos. E achei que a foto era da filha e não da mãe-dona-do-blogue. Por sei lá que motivo, na solidão livre da internet, me senti profundamente constrangido. Até hoje, quando vejo esse blogue aí, lembro disso e me constranjo. Quem explica? Freud não, eu acho.
  9. Delirei com uma resposta. Sempre deliro com essa resposta que nunca veio ou virá. Talvez a cisma católica dos milagres, talvez o gosto pelo impossível ou, talvez, apenas o medo de nunca ter algo como aquilo. Porque o real é constrangedor e estranho. E quando o real é belo é ainda mais estranho e constrangedor.
  10. Coisas existiram. E, quando as vejo à distância, sinto a tristeza mais bonita do mundo. Acho até que sinto paz.

2 de setembro de 2010

A realidade e toda sua merda tacanha.

Comezinho é a palavra. Acho que é assim que escreve.
Então eu mesmo enfio o dedo no meu cu e me pergunto com ares filosóficos:
- é isso mesmo que quer rapaz, é esse mundo comezinho que deseja?
E fico com cara de bundão e faço mil contas loucas e inúteis:
de um lado a aceitação da merda morna que está aí à ser cagada; de outro as grandes diarreias cheias de cólicas.
Troca-troca de misérias e outras jogadas.
(Lembro da adolescente de 14 anos que me olhou no metrô. Ela me dava mole entre Botafogo e Catete. Me dava mole por conveniência: uma garota de 14 anos descobrindo que sua sexualidade é uma maneira legítima de chamar atenção. Eu era seu objeto e topava. Ela fazia caras e bocas e mexia nos cabelos. A mãe notou. Olhou pra mim com desprezo e chamou atenção da filha. Eu continuei olhando pra ela e ela olhando pra mim. Troca-troca de misérias, eu disse - e foi o que me fez lembrar disso.)
Joga-se por tédio ou por diversão. A moeda, que é a mesma, roda no ar e finge ser a portadora da sorte ou do azar.
Quem suporta? Quem entende?
Conta gotas de sim ou não. A humanidade diante do precipício e com apenas duas respostas: sim ou não.
É triste, é triste a beça.
Tantas coisas ditas para chegar à palavras com apenas três letras.
Tédio tem cinco e parece melhor. Assim como raiva, cisma e sumir.
Eu me defendo. Acho normal se defender. E normal não é bom. É o que é. A fatalidade de dizer pra si mesmo: - pois é, bem que comia a garota do metrô com 14 anos.
Porque toda essa patetice e esse sei lá indiferente é a merda sem cólica que chamamos de maturidade.
E nos achamos esperto por isso! E vibramos com nossa constatação imbecil: - estamos velhos...estamos velhos...
E nossa constatação imbecil é mais uma manifestação comezinha do maldito e enorme mundo. Que era melhor não pensar, não saber. Mas é tarde demais:
não somos vira-latas ou crianças, e nem gostamos desse papo.
Então o lance é peidar e criar blogues.
A homeopatia e doses mínimas que saciam.
Sei lá o que e sei lá quem.

1 de setembro de 2010

Nunca consigo falar o que penso naquela hora e praquela pessoa.
Só ela só ela.
E também o manto lindo e azul que a vesti e assim ficou.
E gosto.
Que ela é minha porque a invento.
E é bom.
A única mulher minha será inventada.
Quase bonita a minha limitação.
Como se falar ou escrever pervertesse pureza.
Como se purezas existissem.

30 de agosto de 2010

minha santinha.

A única Balzaca que importa
dança e comemora
longe de mim
como nunca.
Minha melhor
invenção,
a ternura
mais fina
na carta
futura.

27 de agosto de 2010

pra entender o mi-mi-mi

Ficou uma azia. E também um gosto velho na boca. O mundo chato. O mundo chato e besta em suas eternas repetições. Eu me repetindo diante do mesmo furacão.
Não há comoções ou delírios. Há insistência na própria loucura. E não vejo graça nessas loucuras. Que tenho a couraça fraca e me abalo. Que tento entender o que não é pra ser entendido.
Fiz o que pude. Ignorei as ligações, bebi as cervejas e até mandioca eu fiz. Mas há essa paisagem e esse disco arranhado. Um corpo que resiste e empurra depois de puxar e dizer sim.
Sejamos amantes, sejamos amigos, sejamos primos. E a confusão parece um fetiche sem sentido e sem descarga sexual.
O Budão Gordo se chama Sidharta Gautama, ela disse.
Minha culpa, minha máxima culpa.
Deveria ter previsto o óbvio.

25 de agosto de 2010

Budão, blogue, punheta e outras jogadas.

Volta e meia escrevo com papel e caneta/lápis. Não acontece muito, mas acontece. Geralmente nas beiradas dos livros que levo pro bar. Sou um tipo de idiota que leva livros pro bar. Isso, claro, quando vou beber sozinho. E bebo sempre sozinho.
Gosto de ficar no bar bebendo sozinho: uma cerveja, duas páginas lidas e três bundas que passam.
Eu mesmo, muito prazer.
Noite dessas peguei um caderninho que eu tinha comprado pro mestrado e escrevi nele. Raciocínio de índio gordo: meu computador não tem internet aqui / escrever é vício as vezes / nas aulas do mestrado nunca anoto nada de fato / caderninho bonito de capa dura e preta / escrever combate o tédio e pode até substituir a punheta.
Daí que nesse caderninho tem um treco legal. De um lado minhas ânsias de santo: F., se escreveu aqui é pra ficar aqui. De outro minha tara substituta de punheta e outras jogadas: atualiza o blogue, atualiza o blogue.
Então lembro do Buda gordão e machista me dizendo: caminho do meio, ponderação, blá-blá-blá.(O Buda gordão e machista me toquei a pouco. Com a autobiografia de uma mulher que tô lendo. Nunca tinha ficado tão claro o quanto o "Oriente-Exemplo-Pra-Mulheres-Moderninhas" é machista. Mulher apenas geme e, de preferência, baixinho e dolorido como uma gueixa. Budão Safado! Nem casou, o espertinho!.)
Com o Buda à tira colo faço mil planos imbecis: atualizo o blogue falando sobre atualizar o blogue, o escrito treco-legal do caderninho deixo programado pra quando estiver em Sampa e, finalmente, nem toco punheta nem nada - apenas whisky e cigarrinhos.
(Será que o Budão, cheio de machismo galante, me recriminaria pela fumacinha?)
Seja como for, meus conflitos estão resolvidos.
Termino minha bebedinha e lembro da bundinha cheia de suor que voltava da academia. Ela era gostosa, mas não era bonita... vai entender.
Ah, se ela me desse... Ah, se Budão bebesse comigo no Coimbra... Ah, se a pornografia fosse menos violenta e o sexo mais simples...Ah, Ah...
Bem que podia ganhar na MegaSena e me desprender... Ah, que se desprender é tão bonito... Ah, que eu adoraria descobrir que tenho um filho de 9 anos... Ah, se a garota do sul me quisesse em Manaus...
Ah, nem Budão nem MegaSena...
Ah, eu...
Ah, eu mesmo...
Ah, muito prazer...
Ah, garota do sul...
Ah, diz que volta...
Ah, nossos filhos sem nome...

24 de agosto de 2010

a moça do bar.

Esperança depositada no bebêzinho que morreu antes da hora. Os olhos bem abertos e o sorriso frouxo que aparenta sempre dizer adeus. A ternura é um laço no pescoço e as mãos, magras e frias, gostam de acariciar os vira latas. Ela não liga quando a gata prenhe que caça ratos no pé-sujo se roça em suas pernas.
Bebe sempre uma cerveja e dois velhos com limão. Toda noite, toda noite. Melhor do que os remédios pra dormir, ela disse.
Ontem mesmo ela me perguntou se eu tinha filhos. Foi quando falou do bebêzinho morto. Agora entendo porque ela tem aquele sorriso que sempre diz adeus.

22 de agosto de 2010

Olhando pro céu.

A cabeça cheia de merda e também sangue e massa cinzenta.
A vida inteira - passando e indo pra frente. Seja lá o que isso for.
Tem também os videos do youtube ensinando como viver melhor, como ser feliz e outras bobagens do tipo. Todo velho, ao ser questionado sobre a morte e a idade, faz ares de sábio.
Uma vez vi um velho falando mal da morte e da velhice. Não lembro quem era, mas era um velho famoso (Paulo Autran?) e ele dizia de como era ruim o corpo fraco e a morte eminente. Parecia sincero e muito mais sábio do que os outros velhos.
Ontem, por acaso, encontrei com A. Falei da minha peça.
- no domingo tô aqui. no domingo nunca tem nada pra fazer. não que hoje tenha algo pra fazer.
É por essas que gosto de A. E pelo mesmo motivo prefiro o velho que falou mal da velhice.
A vida é muito mais idiota do que gostaríamos que fosse.
O que não quer dizer que a vida seja ruim ou que não haja as grandes euforias de plenitude.

21 de agosto de 2010

O sexo era uma bela distração.

E haviam também as macarronadas de domingo e o Toddy, doce e quente, nas noites de inverno.
Quando chovia fazíamos pipoca.
Tínhamos o costume de dizer "eu te amo" um para o outro, mas nem era o caso.
Era só que namorar há tanto tempo e não dizer "eu te amo" parecia estranho.
A gente dizia:
- te amo.
- também.
Vivíamos bem. Gostávamos de ver os mesmos seriados americanos e o sexo se tornava cada vez mais conveniente.
Só que um dia ela queimou o alho do molho da macarronada. Eu achei sacanagem aquilo. Eu só tinha pedido pra que ela dourasse o alho que o resto eu fazia.
No meio da minha revolta eu a chamei de burra.
Daí foi ela que se revoltou:
- na verdade, eu nem te amo.
Não consegui me segurar:
- eu sei. eu não te amo também. a gente sabe.
O 'a gente sabe' foi desaforo, segundo ela. Berrou:
- QUER DIZER QUE SOMOS HIPÓCRITAS, É?
Nem esperou eu responder. Bateu a porta e nunca mais voltou.
Eu fiquei triste. Acho que ela também.
Mas fazer o que? Tentar voltar?
A gente nem se amava, poxa...

19 de agosto de 2010

um tesãozinho de fim de tarde.

Meu caralho tem olhos e julga o planeta.
Julgar é julgar. Julgar não é ser justo.
Estou na roda e julgo:
por prazer, tédio, incapacidade e etcs.
Meu caralho tem olhos, eu repito.
Sou uma criança legal e bem disposta.
Não trago vermes na barriga, mas, mesmo assim, tomo minhas vacinas.
Eu me protejo, oras.
Tô no mundão e me protejo.
Justiça e decência não combinam.
Por isso eu cago regras, tipo:
- ser tratato por apelidos é fetiche cheio de recalque.
- ter pseudônimo só faz sentido em ditaduras.
- inventar uma alcunha de efeito é afetação com máscara e canalhice enrrustida.
- (e só valem os canalhas declarados, a gente sabe.)

Coço minhas pernas e pego meu táxi.
Isso. E apenas isso.
Mais o julgar prazeroso e bestial.
Eu tô no mundo, eu vejo o mundo, eu até participo do mundo.
E já que eu penso, eu julgo
o que não quer dizer que eu esteja certo.

18 de agosto de 2010

são contas: mais cinco reais pelo black&white.

As belezas são minhas e eu as invento.
Por isso me sinto bem.
Não tenho a ambição do cara do orkut que diz: - quem não gosta da própria vida é porque não vive.
Eu vivo.
E gosto e desgosto - o que só me confirma que "sim, sim, eu vivo".
Que o excesso de amor pode ser desespero, que o eterno otimismo pode ser doença, que o hábito de resmungar pode ser insuficiência cardíaca.
Então repito arrogante: eu vivo.
Meu mel e minha merda. Meus anjos e meus demônios. Meus delírios e minhas dores.
Eu vivo.
Vejo gente por aí, ganho uma merreca no gringo do J. Botânico e, às vezes, consumo a pornografia da Internet que insiste em fazer de todo ato sexual uma disputa de poder. Como se todo sexo fosse competição, como se tudo pudesse ser explicado, como se a morte - por ser inevitável - fosse compreensível.
Hoje - e só hoje - há as castanhas gordas presenteadas pelo meu bom amigo. E também a certeza de que o que eu gosto de fazer é o que faço melhor - o que, infelizmente, não tem nada a ver com ser bem sucedido ou estar satisfeito.
É apenas a vida e eu vivo. É o que eu faço e consigo fazer.
E, mesmo assim, isso não me impede de lamentar pelo fato de ter um bom tempo que não tenho uma paixão da boa...

14 de agosto de 2010

Chatos espalhados.

A bondade infinita cheia de caras e bocas. Dizendo ''olá'', ''como vai?'' e coisas do tipo. Tudo certo. Sou leegal e enteendo tuudo. O mundo tem lá suas formalidades e somos educados. Dizer ''olá'' e ''como vai?'' é quase inocente...
Mas os chatos estão à postos e são simpáticos. Fazem de conta que não estão apenas na formalidade. Insistem, como bons chatos, em serem muiito sinceros.
E, dentro da fogueira vaidosa chamada sinceridade, os chatos põe suas manguinhas de fora e usam a sinceridade como desculpa para qualquer imbecilidade que seja dita.
Pode ser um garoto de rua ou uma mulher-promessa-de-foda-milagre. Os chatos se parecem. Eles se repetem e têm consistência. Sabem sempre ser leegais e dizer coisas estúpidas parecendo sinceros, ou pior: verdadeiros.
Então fico só e evito quem eu acho que devo evitar. Eu, chato também, mas sem alugar ninguém com a minha chatice. É a tal proteção. Meu muro de dois gumes que, por um lado, me compromete as mulheres-milagres e, por outro, possibilita a certeza de que não perderei tempo em 'interações' que apenas aborrecem.
Por isso vou ao bar para beber e ler. O livro, se chato, é fechado e não me cobra atenção. E o porre, bem, o porre quase sempre me agrada.
De forma que concluo que nessa sexta-feira 13 tive o melhor 1 à 1 que poderia ter.
Acho que foi o Zagalo que disse essa ótima frase: - que empate o melhor.
Hoje, eu concordo.

11 de agosto de 2010

declarações de amor cheias de elegância paulista.

  1. Os comentários do último post que me deram vontade de escrever um novo post que não escreverei agora, mas escreverei depois.
  2. O bom amigo com histórias e euforias sinceras.
  3. A ternura na bêbada mais triste do bar e a certeza de que só eu reparava nela.
  4. O fim da caganeira e o ceú que eu pinto de roxo por fetiche e pau duro.
  5. As crianças que ainda jogam bola na rua e desafiam os carros da Rua da Passagem.
  6. O convite à família religiosa com quem divido elevador há dez anos.
  7. A caiçára mais linda do nordeste que me fritará os supracitados bifes.
  8. O tédio como território de transição e as meias penduradas no varal.
  9. A pizza que sobrou e a bênção do forno à gás.
  10. O fim da música que coincide com o fim da cerveja e do cigarro.

9 de agosto de 2010

As mulheres calmas com vestido de algodão que meu tio Buk me falou ficaram todas no exílio.

Agora elas andam com pressa e têm a maldita auto suficiência como dogma. Nem entenderam que a 'auto suficiência' da Marina Colasanti era objetiva e queria dizer apenas 'auto suficiência financeira'.
Elas radicalizaram. São tão auto suficientes que não precisam de nada e de ninguém. São todas órfãs - com pai ou mãe vivos, tanto faz - são todas órfãs.
Gozam sozinhas, trepam sozinhas, cozinham sozinhas, ficam doentes sozinhas, trocam lâmpadas sozinhas. E até falam sozinhas quando conversam com você.
Um dia, por puro acaso, pedi pra uma órfã auto suficiente: - me frita um bife? E ela me disse das opressões que seu sexo sofria, dos abusos que havia sofrido, da mãe que era traída pelo pai e de como os homens com os seus pênis achavam que podiam possuir tudo.
Eu insisti: - mas mesmo assim, me frita um bife?
Ela subiu nas tamancas e disse que eu era machista, que eu era um crápula, que era o mimadinho que queria ser servido, que eu não aceitava a 'nova mulher' e que o bife era o ícone de todo meu machismo enrustido. E ela ainda bateu a porta da minha casa dizendo que eu era ''mais um porco machista".
Eu queria um bife e achava coerente pedir isso à ela. Ela tão linda e gostosa, ela que dizia que gostava muiiito de mim. Pensei, inocentemente, que eu poderia, com ternura, pedir pra ela me fritar um bife. Mas ela não disse sim ou não, ela apenas me xingou com acusações da década de 70 e bateu a porta.
Contentei-me com salaminhos cortados por mim e salpicados com limão.
Até hoje, antes de dormir e depois da oração, lamento comigo mesmo: - era apenas um bife, era apenas um bife...

O pau sem mira, mas a vida boa.

Acordo tarde e quase sem culpa. (sentir culpa é tão reconfortante...). A TV tem tela azul e nem interessa. A Internet, além da tela azul, tem uma oferta incrível de pornografia.
Toco punhetas para todas as homemades e penso em juntar dinheiro para comprar uma máquina digital. (nunca tive uma máquina digital...). Se eu pudesse escolher, me apaixonava por uma mulata: coxa marrom e buceta rosa, o inferno à cores.
Desço e vejo gente. Gente. Gente é legal, gente é comum, gente enche o saco. (ser eu mesmo enche o saco...) E, de novo, tive um sonho estranho. Não lembro como foi. Mas lembro de acordar e pensar: de novo um sonho estranho.
Agora voz de mulher na vitróla e meu pau mole balançando sem ficar duro ou mesmo ter mira. Mira pro pau é tão importante, disse um ex professor canastrão que tive. Mesmo canastrão, ele tinha seus momentos.
Domingo à noite, uma ligação perdida no celular e nenhuma buceta-mira pra ajudar à dar sentido pras coisas. A pizza tá no forno e cheira bem. (definitivamente não entendo quem tem preconceito contra a carne dos porquinhos...).

8 de agosto de 2010

Com platéia.

Se for assim, se ficar assim, fica tudo mais fácil. Sonhos intimidados que voltam com mais gosto. Que sonhar é bom, mas cansa. É franco: sonhar cansa.
Mas o teatro estava lotado e eu me sinto muito bem obrigado. Sou a putinha mais terna do oeste e faço boquetes com dedicação e alegria.
Sendo sempre assim - ou quase sempre, pelo menos - eu viro um hippie, desses que falam sobre pensamentos positivos e coisas do tipo. Serei seguro , dono de mim e acreditarei nas ações individuais. Berrarei para todos: - mundo fluído, saca?
Talvez, então, até comece a frequentar as praias sujas da Zona Sul Carioca.
E por essa satisfação egoísta e passageira encerro por aqui.
Conheço-me bem e sei que fácil fácil faço uma nova piadinha auto destrutiva...
Deixa pra lá.

7 de agosto de 2010

Amorzinho gostoso no fim de tarde.

Então há os dedinhos que giram em cima da cabeça e parecem dizer algo, mas apenas parecem. Gosto cada vez mais do que sempre gostei. Repetir-se até virar quem se é. A coisa bem melhor dita pelo bom Leminskão: "Isso de querer ser quem a gente é, ainda vai nos levar além".
E eu rezo. Antes de dormir, eu rezo. Quer dizer, não rezo, mas é como se rezasse. Teatro feito pra fora e que tem mais a ver com a brincadeira de fazer teatro do que com o teatro sagrado que denuncia a vaidade velada dos seus padres-fazedores.
Teatro pra fora e vida decente. Vida decente é sentir raiva, ódio, melancolia e amor. Vida decente é a jogada toda: as merdas que não ameaçam e que são parte do pacote, as euforias passageiras que abastecem mesmo sendo falsas. Vida pra fora, teatro pra fora, gente pra fora. Que Deus me livre da vida interna que só gosta de si ou que nunca gosta de si.
Então cago com meu cigarro na boca e penso na vida. Pensar e cagar, vislumbrar as mulheres lindas que me arrancarão de mim, lembrar das belezas que passaram sem ternura e imaginar a mulata com a lordose mais linda do mundo me chamando de branquinho.
Apenas isso e também outros milhares de coisas que nem escrevo agora. Como o relógio biológico da minha amiga querida ou a ânsia por paz de outra ótima amiga.
A vida, as coisas e o teatro. Que seja pra fora é a minha reza. Pra fora não por tentar achar algo escondido, mas porque estamos aí e continuamos, porque nossa teimosia tem charme e ternura, porque, apesar das merdas, o ventinho chega no rosto e é capaz de nos acalmar.

5 de agosto de 2010

Meu reino do Hortifruti e frio de 20 graus no Rio de Janeiro.

Nada de nada, mas há os telefonemas e aqueles montes de passeios.

Em Curitiba o frio era de 4 graus e era impossível sair de casa. Sair pra quê? Dorme-se, e muito bem. Dormir no frio é o único jeito real de dormir. Parece a morte, um apagamento e um sono pesado: sem drogas ou masturbação.
Um dia antes de voltar ao RJ tive esse sonho. Alguém queria me matar e eu fugia, teve até uma 'caatinga' cheia de espinhos por onde tive que passar e me cortei à beça. Lembro que dentro do sonho, eu pensava no Lampião...vai entender. Daí eu tava nesse hotel vagabundo onde eu me escondia. Mas, mesmo assim, eu sabia que seria morto. Quer dizer: no sonho eu tinha consciência de que provavelmente eu morreria. Mas, ainda assim, eu fugia e dizia pra mim mesmo: não posso desistir. Bonito, né? Bonito e patético. O que me impressionou mesmo foi a selva de espinhos à lá 'caatinga'.
Claro que quando houve turbulência a primeira coisa que lembrei foi: selva de espinhos. (Toda vez que estou dentro de um avião penso que se o avião cair, será normal. Simplesmente porque voar é errado. Repito: voar é errado.)
No RJ faz 20 graus e as cariocas estão lindas de bota e cachecol. Há também as pequenas tarefas e minha solidão doce e afetada. E também punhetas que não homenageiam ninguém, além cigarros e outras bobagens.
Vou, após uma soneca justa, ao meu reino Hortifruti. A maravilha de Botafogo, o único lugar civilizado de toda a América Latina: HORTIFRUTI.
As frutas e os legumes não estão bons, mas faço uma bela compra de 40 pratas. Minhas sacolas plásticas agora são culpadas pelo declínio do meio ambiente. Observo elas com pena.
Na volta lembro do casal que vi. Casal normal não fosse ela vesga. Vesga, vesga mesmo, profissional. Dessas que dão agonia por ser impossível saber de antemão qual é o olho 'bom'. Penso que ele é um grande cara. Imagino como é trepar olhando pros olhos de uma vesga e penso que ele é realmente um grande cara. Acho que eu não conseguiria...uma mulher com dois olhos...meu deus...
No mais, a música americana e o copo cheio. Penso em trinta coisas e isso não quer dizer nada. Há rosbife na geladeira e pão cheio de grãos.
Deus me ajuda, mesmo eu usando as sacolas plásticas.

3 de agosto de 2010

Minha dor era um fetiche na cabeça dela.

(Eu entendi depois, bem depois.)
Com 29 anos controlo meu esfincter e sou senhor dos meus intestinos. Isso é o que eu chamo de independência. Um homem livre precisa cagar em paz. De preferência pela manhã - para melhor rendimento no dia. De preferência em dois trôços longos.
Foi um processo doloroso. Largas as fraldas, deixar de depender da mão que vinha com o clássico berro: - manhê, terminei!
Bunda limpa sem talquinho, mas o saco ficando grande e esporrando as mil maravilhas. Não se pode ter tudo, uma pena.
Agora pé pra dentro e pulo pra fora. Um saci do Sul rumo à algum lugar. As areias do Saara e também outros delírios: estrelas enormes, neóns em praças públicas e chafarizes batizados com caixas de sabão por adolescentes descolados.

30 de julho de 2010

Infelizmente não havia polenta frita. Mas o cachorro passeia pra lá e pra cá e enfia seu foçinho gelado nas minhas pernas. Passo minho mão em sua cabeça e ele fecha os olhos. Lá fora há um belo céu azul de inverno e a mendiga que toca a campainha pede uma caixa de leite. É impossível negar uma caixa de leite. Daqui à pouco haverá crianças falantes e histórias repetidas. Talvez queijo e cerveja, talvez o último gole de whiskey. A mesa estará cheia e os rostos serão conhecidos. Será estranho e familiar.

28 de julho de 2010

nove.

  1. Aquela língua que se enfiava na minha boca durante a noite me fazia bem. A conveniência mais sincera e mais tola. Lamber. Lamber como os cachorros lambem, igual eu escutava na infância: sabia que cachorro lambe porque não sabe beijar?
  2. Tinha o pau duro. O riso era travado e o corpo era aberto. Sempre o sr. Álcool forjando intimidade e desculpas. Eu me desculpava e ela também. Dois desculpadores lado à lado...parecia tão perfeito, mas nem era.
  3. Falava da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dizia que só lá havia o mundo real. Eu não sabia o que era o mundo real. Eu pensava: por que, então, na mora no tal mundo real?
  4. A boca pintada de batom parecia um coração. Uma coisa muito linda: eu sendo chupado por uma mulher que nunca havia tomado sol em toda sua vida. Parecia uma grande coisa, mas era bobagem.
  5. Vampiros soltos e amigos que dizem ter parado de usar cocaína. Deus abençoou o RJ, segundo a mãe de um grande amigo. A mãe desse meu amigo, numa foto que vi, tinha, por coincidência, a boca em forma de coração.
  6. Quero a glória, entendeu? Eu disse sim e menti. Ela mentia também. Não queria a glória. Queria era que eu me masturbasse pensando dela. Eu me masturbava pensando nela. Depois entendi: ela se sente mulher quando algum idiota lhe dedica uma punheta.
  7. Essa coisa de reparar com quem fulano anda é bíblico. Por um lado, parece apenas mais um preconceito cristão. Por outro, é o óbvio sendo ululado por um Jesus pintado pelo A. Warhol.
  8. A louca de rua berrava, como quem diz uma pérola: "depois que fechar os olhos, acabou. aproveitem enquanto estão vivos". Até tentei encarar o que ela dizia como algo fodão por ela ser uma autêntica louca de rua. Mas nem deu: ser maluca não a impedia de falar merda.
  9. Arrancar os cabelos e comer a raiz do couro cabeludo. Há uma grande explicação psicológica pra essa patologia. Algo como: no oculto há a ideia de essência. É bacana de pensar isso, mas, cá comigo, penso que só mesmo um cretino arranca os próprios cabelos. Ainda mais se faz isso pra achar o que quer que seja.

27 de julho de 2010

Eu ia escrever um monte de coisas.
Mas, daí, por motivos que não conto, mas que sei quais são, desisti.
Vou apenas preparar meu sanduíche e deitar - assim, como quem confessa um desejo do qual sente medo.

25 de julho de 2010

O incrível carrossel com cavalinhos gigantes.


É a vida/vidinha e toda a jogada. Hoje, com medinho de que o teatro não enchesse, descobri que sou uma putinha. Foi só os clientes chegarem que a maquiagem foi retocada e a paz renovada. Putinhas. Putinhas tristes que se satisfazem com excesso de picas em uma mesma noite.
Tudo certo.
Então a gente faz nossa peça e ela é o que é. Não é um sucesso, não é um fenômeno e, definitivamente, não agrada aos nossos pares. É um fato: nossos pares - gente de teatro - torce o nariz praquilo, com o papinho conhecido: "parabéns, é divertido" ou "parabéns, me diverti".
E, na verdade, to pouco me fodendo. Quando lembro das coisas que os nossos pares gostam e admiram, concluo: melhor assim.
Porque há esse fetiche pela arte, a arte como uma sabedoria superior e dona de um conhecimento 'especial'. Então prefiro que os meus pares apenas se divirtam e torçam os narizes. Eles gostam da arte séria e sagrada, a arte-salvação que é muito limpa e bem feita, mas que renega o desbunde e o prazer puro e simples que é assistir uma peça de teatro.
E, nessas, como boa putinha, desejo apenas que o público continue vindo. As velhinhas de Copa, os casais que bebem e berram durante a peça, a mãe separada e a filha adolescente com as amigas.
Agora sou mais uma putinha satisfeita e, como tal, desconfio das mulheres que super valorizam o tesão que dizem sentir. Elas entendem tudo de tesão, mas o sentem pouco. Elas gostam mesmo é da cara de tesão que elas fazem diante do espelho.
Eu entendo, eu até topo, mas, cá comigo, prefiro quando uma putinha faz a cara mais feia e estranha durante o orgasmo. Isso, pra mim, é o que parece real.

síntese

Tesão
em mulheres
desconhecidas.
Não,
isso não
é vida.

23 de julho de 2010

Ela gosta de fugir.

Cria fugas em noite de chuva

e muda de ideia subitamente.
Gosta de ser volúvel,
gosta de se dizer líquida.
Usa palavras como "pós-modernidade"
e "vicissitudes".
Vê um céu roxo e descolado que ninguém mais vê.
Gosta de comentar sobre o tamanho da lua
e se supõe muito sexual por trepar sem critério algum.
Adora rebeldias antigas,
mas diz nunca sentir saudades ou arrependimentos.
Considera toda culpa uma bobagem
e não usa sacolas plásticas para o bem do planeta.
Ela roda de táxi pela cidade
e faz visitas norturnas
aos malditos colegas que têm nextel.
(A Trupe-Nextel que fala sem parar
ocupando o vazio pelas ondas do rádio)
Na última jogada
ela pisou na calçada molhada
com uma expressão
que demonstrava uma raiva sem sentido.
O táxi parou e ela se sentiu ótima
com o seu esforço de não-tô-nem-aí.
Ela, não resta dúvidas,
é uma garota muito bem sucedida:
vive o seu tempo e
não se importa com nada.

Apenas dormir.

ver os olhos e, principalmente, as veias dos olhos.
pensar na loucurinha e sentir a velha cócega.
ter tesão nas anãs e sorrir sem se pertubar.
cervejinha lenta e gelada escorrendo pela garganta. não se precisa de esperanças. precisa-se de cerveja gelada e noite calma. um copo, dois copinhos. a cerveja como pretexto e o papo que segue: sem jogadas, sem idiotias e sem precipitações.
a cerveja gelada desce lenta e é melhor assim.
há o tempo. o tempo que passa e faz os outros passarem. tudo certo: o mundo velho invadindo os acontecimentos. riscos tão velhos que nem riscos são.
era pra ser o que era pra ser. não precisava de nenhuma virada. apenas o que era. seria. mas não foi.
por uma vaidade besta, concluo calmo: a culpa não foi minha.
FIM.

21 de julho de 2010

Perdi o que escrevi! meu puta merda! coisinha que nem dá pra repetir porque era um grito e nem importa se bom ou ruim! perdi! e nem tenho ninguém pra culpar! é a única solidão que existe! perdi meu textinho do blogue e nem houve um terremoto!

20 de julho de 2010

"Pronto. Perdi a aposta." *

Adorava dizer 'foda-se' de boca cheia. Era a satisfação. O 'foda-se' amigo como prancha pra uma possível liberdade.
Eu dançava e você dançava. Dançávamos junto e éramos cúmplices. Uma maravilha falsa e honesta no sol mais lindo do Arpoador.
Todas as revoluções e todas as crianças. A gente gostava de crianças e elas gostavam de nós. Nôs sentíamos bem entre os brinquedos. O sorriso amarelo era o passado de um brinquedo morto.
Toda ternura era minha e você era minha musa. Dizia pornografias no meu ouvido durante todo o percurso da roda gigante. Desprezava o uso de animais em circos.
Eu topava. Eu estava apaixonado e defendia suas teorias anti mal trato de animais com a cegueira mais bonita do Sudeste Brasileiro. Paixão.
Havia a tristeza da vida e os dias cinzas onde a chuva não era motivo de pipocas e risadas. Era patético: crianças velhas querendo sugar alegrias da infância. Não dava certo e a gente estava desesperado.
O sol, a areia e a praia. Todos os passeios para sair de si mesmo e tentar descobrir o que quer que fosse. Mas as descobertas não chegavam e precisávamos da velha solidão para poder pensar em paz.
Pensávamos. E a paz nem aparecia.
Era o abismo ganhando cores de Mangá Japonês. Sorriso amarelo virando laranja. O desejo disputando força com o dia à dia.
Nossa boca, finalmente, sangrou. E a gente se beijou ainda, cheios de sangue na língua e pus na garganta. Repetimos "não quero te perder'' sem muita convicção e dormimos, achando que o sono sararia a realidade e o sol do próximo dia.
Perdemos.
Perdemos a mão e a cabeça. Viramos idéias e não pessoas. Perdemos.
De noite ainda nos frequentávamos. Como vampiros que desejam virgens que não existem. Mas, de noite, os vampiros se enganavam e chupavam sangue velho enquanto imaginavam sangue de mocinhas inocentes. Foi a despedida.
Depois todo o resto.
O resto: a cabeça dizendo não quando devia dizer sim, as mãos crispadas na hora de estarem abertas, o grito que achou que seria ouvido, o mar cinza ao invés de azul, as tardes sem pipoca durante o inverno... o resto.
A virada veio. Veio sem sonho, a virada. Tudo era simpatia agora. Éramos simpáticos e velhos amigos. Dizia eu e você: você é muita es-pe-ci-al.
Foi o fim. A cabeça tranquila e o sangue lento dentro das veias. Tínhamos a relação civilizada e amigável que desejávamos ter.
Tínhamos paz, mas quem, afinal, se importava com a paz?
Amigos para sempre e amantes nunca mais. Civilizados e decentes. A grande idéia que, após materializada, se torna a maior bobagem do universo.
A tristeza travestida em palavras que tentam substituir a solidão.
A falta, a Leila, as mulheres que te salvam - o inferno, o inferno mais quentinho de toda a existência... o milagre...o milagre...
*e viva o domingos oliveira e seu imbatível todas mulheres do mundo.

19 de julho de 2010

nossos dadinhos.

Ela fala sobre "sexozinho inofensivo".
Eu me choco e não aguento.
Fico pensando na minha formação religiosa e no amor representado nas ótimas comédias românticas do cinema americano.
Eu choro ao final desses filmes. Eu choro porque acontece o que eu queria que acontecesse. Eu sou fraco, já disse. É verdade.
Mas ela fala "sexozinho bom e rápido, tu e eu no banheiro, sacou?"
Eu saco. Eu sempre saco. Mas, meu bom Jesus, cadê o sexo cheio de amor louco que era o certo na minha cabeça?
"Sexo é sexo, amor é amor", ela diz. É verdade. Mas ser verdade não me consola. Eu queria amor, amorzinho. Eu queria a foda-milagre e o orgasmo-deus. Eu erro. E eu sofro.
A gente joga dadinhos juntos. Estamos mentindo e mentir é legal. "Sexo é sexo, amor é amor." Sou vítima do Nelsão que me disse: sexo é para vira-latas.
Faço meu acampamento e preparo meu miojo. Tenho preconceito com mulheres que valorizam a marca do vinho e o raio da lua.
Digo "bye-bye" para parecer POP e solto ''até logo'' sem nenhuma convicção.
Ó sim! Ó Deus! Eu adoro jogar banco imobilário!

18 de julho de 2010

Amor de verdade só dura 13 dias, ela disse.

Ela me disse coisas bonitas. Como: - de quatro eu dou pra idiotas, quando eu gosto de alguém, eu quero é papai e mamãe.
Ela tinha essas frases de efeito e me impressionava. Eu podia amar ela pra sempre, eu podia a achar perfeita. Ela gostava de mentir pra mim e eu gostava de acreditar nas mentiras dela. Éramos perfeitos.
No dia 2 de Julho de 2009 ela falou sobre o ex-namorado. Achei chato, mas achei normal. Em algum momento os/as ex viram assunto. É normal. Chato e normal, enfim.
De quatro, mas com muito orgulho. Me senti mal. Eu enfiava porque era esse o meu papel. O enfiador. De quatro. Poderia ter sido um milagre. Mas nem. De quatro. O espelho do quarto foi o grande privilegiado.
Outra frase bonita foi: - nunca me diga eu te amo. Deus! Quantas frases! Quantas coisas! Essas mulheres querem me impressionar! Eu me impressiono!
Era 10 de Julho ou menos. Eu queria fazer amor. Não falei pra não oprimir. Fazer amor é opressivo, havia me dito uma ex que adorava dar de quatro.
Então fui discreto, mas desejava: fazer amor, fazer amor...
Dois meses depois, ela me chamou prum café. Queria conversar. Eu topei. Era merda que viria, mas, bem, o que fazer? As merdas estão por aí e, cedo ou tarde, elas serão ditas pra você durante um café. Eu disse, não disse?
Ela: - meu ex me perturba e não estou livre pra você. Desculpe.
Eu desculpei. Ficar com raiva nem fazia sentido. Ela era apenas a garota com ótimas frase e ótimo corpo. A garota que eu poderia mil coisas, mesmo sem nada. Acontece.
Hoje - 17 Julho de 2010 - o que me impressionou foi a barriga. Imaginava quase tudo, mas fiquei surpreso com a gravidez. Ela até me agradeceu. Disse ser eu o responsável por ter despertado seu instinto maternal. Disse que isso? e ela se foi.
Agora fumo meus cigarros tentando achar sentido nas coisas. Não consigo. Não há sentido nas coisas. Ela está grávida de outro e, infelizmente, eu nem me importo. Acho uma pena eu não me importar, mas acontece. TUDO acontece. E TUDO, a gente sabe, não importa.
Nunca importou.

16 de julho de 2010

originalidade é bobagem.

Tomo vinho vagabundo e me sinto bem. Comprei duas garrafas: um seco e outro suave. Vinho vagabundo, eu disse. Ambos brancos.
Enfio as rolhas pra dentro (meu saca-rolha quebrou na primeira tentativa) e misturo os dois em um jarro. Bebo em uma caneca branca.
Concluo que eu tenho estilo.
Bobagem.
Ouço uma música bonita da Tiê em blogue alheio e penso que, se a música fosse pra mim, eu poderia me apaixonar.
Apaixonar.
Paixonar.
Faz tempo que não tenho uma paixão da boa. Com paixão da boa quero dizer: eu estar apaixonado e ela não. Paixão livre, onde só um apaixonado dá conta da coisa toda. No caso, eu.
A última, com essa pegada, foi há mais 2 anos atrás - ou 3? Eu apaixonado declarado e ela não. Eu lutava. Eu queria a conquistar. Eu dizia coisas lindas pra ela e tentava a agradar com presentinhos e exageros. Comprava bilhetinhos da loto pra ela...
A gente conversava de madrugada pelo telefone e eu sempre, sempre mesmo, me declarava. Era bom pra ela e pra mim. Uma paixãozinha da fina e generosa, onde um alimentava o outro.
Durou três meses e nem houve carne. Por orgulho meu e teimosia dela. Mas não importa. Eu tava paixonado e queria a conquistar. Era bom, falso e vital.
Uma portuguesinha me tirou da rota. E ela saiu da rota também: um novo namorado que, se não me engano, dura até hoje.
Resta a saudade e a boa lembrança.
Agora, semi-bêbado, penso nessas paixões cheias de paz, onde se expor apaixonado nem doía nem nada.
Paixonites cheias de milagres, delírios e ternuras.
Minha última paixão, por exemplo, me deu muita ternura. Assim como guardo da Fran-Fran uma boa lembrança até hoje. E isso apenas porque foi o que foi: uma paixonite cheia de paz.
Bem diferente o amor e/ou o envolvimento real. Paixão é mais simples, sejamos francos.
Sinto saudades. Mas, sendo honesto, eu sempre sinto saudades.
O passado, na minha cabeça, é quase sempre melhor. Ta aí a Preta e o início do Rj ou Sp com 19 anos. Em 2001 eu era o cara. É fácil ser o cara em 2001.
Agora, 2010, me acho muito mais inteligente, mas isso é besta. Como besta sempre é. Agora tenho mais deboche e nem me engano com tanta facilidade.
Vantagem e desvantagem em tudo. É o que sempre digo: o conta gotas fatal e a administração do tédio, da glória e do terrível.
Enquanto eu estiver vivo, vou me repetir. Só quando estiver morto - e que demore bastante - serei original.
Ser original... outra bobagem.

15 de julho de 2010

A solidão volta a afagar.

Talvez sejam os dias de chuva e o sono pesado. Talvez a distância e o esquecimento. Alimento-me quase sempre em casa e assisto TV por horas: Houses antigos e Lei e Ordem. Quase não bebo.
Meu edredon faz meu pau ficar duro. Mexo nele, converso com ele: - segura as pontas, garotão. Eu e meu pau, velhos conhecidos.
Depois da mania de fritar bifes, veio a de comer cenoura ralada com sal e limão. Agora me dedico à omeletes. Penso que os ovos são um presente de Deus - mentira. Lembro da minha mãe me aconselhando quando falo que nem sempre sei o que cozinhar: faz um omeletinho. meu filho...tão fácil...
Nos omeletes de agora crio experimentos: Curry nos ovos e coisas do tipo. Até omelete doce eu fiz. Claro que não deu certo.
Olho pro relógio e penso que tenho que ir ao banco. Missão de merda conversar com o gerente. Devia ter aparado a barba e cortado o cabelo pra isso. Gerentes de banco levam à sério essa coisa de aparência.

14 de julho de 2010

o eterno sorriso.

Vem pelo calcanhar como uma cobra. Enrola-se na minha perna e aperta. Mantém-se apertada até doer os músculos. A dor não é causada pela pressão em si. É causada por pressionar há muito tempo. O pé vai ficando roxinho e a circulação interrompida faz com que a dor deixe de ser sentida. É uma gracinha do mundo: por excesso de dor, a dor parece não existir.
Agora o pé já tá preto e os dedos caem um à um. Quem precisa de um pé? Quem liga pra um pé? A perna, toda roxinha, começa a desmanchar também. Vai-se a perna junto com a cobra. O problema está solucionado e não há mais cobras. Agora, finalmente, posso viver sem me preocupar. Mas, às vezes, parece faltar algo.
Sinto falta da perna ou sinto falta da cobra?

13 de julho de 2010

pós - parto?

os cachorros estão rosnando, dentro e fora de mim. eu vou fazer de conta que eu não me importo. meu desejo é não me importar. ser um velho canalha que trata mal todos tirando proveito da velhice. velho que rouba lugares sentados em ônibus. por agora deixo os cachorros rosnarem e ofereço carne. carne velha e podre. que eles ocupem seus caninos com essas carnes. eu tô fora. eu sou chato e acho tudo uma chatice. ouvi parabéns demais pra acreditar em parabéns. eu não quero nada ou quero a glória. exercer simpatia me cansa, como se assim eu antecipasse a morte. não quero conversar com ninguém. quero apenas saber como termina a batalha do velho com o peixe no livro da vez. quero dormir enquanto eu leio e não quero sonhar com boquetes, bucetas ou mortas que ressuscitam. quero uma casa de onde possa ver o mar e um emprego público e medíocre. não quero mais desejar grandezas e sonhar. foi só que fiz sempre. eu mesmo. meus dedos querendo apontar pra frente e meu maxilar travado. o mundo, meu velho inimigo. provando que ser legal é mais importante que competência, mostrando que todo bem sucedido é apenas dono de uma rede de amizades influentes. eu desejei grandezas por tempo demais. estraguei minha vida assim, perdi tempo assim. quero apenas um jogo de cartas e carne assada aos sábados. entrar na merda profundamente. a ponto de se confundir com ela e parar de pensar. quero dormir. quero dormir 19 horas por dia e não ter sonhos ou pesadelos. 5 horas acordado com talvez 5 min. que valham a pena. impossível suportar a vida real. impossível ter esse blogue tacanho que tenta, em vão, substituir a terapia e os calmantes tarja preta. quero sumir e não dar nenhuma satisfação. ser aquele que desapareceu e que nunca mais foi visto até o esquecimento completo. como se eu pudesse morrer sem ter nascido. como se num estalo eu pudesse desaparecer. só importa o velho e o peixe. a luta real. a única luta real. que só sobra a repetição. minha, do mundo e de todos. repetição que perdeu a graça quando fiz 25. repetição que insistirá até o dia fatídico. é fácil reconhecer a merda espalhada. raro é perceber a merda que não vale a pena durante a cagada.

12 de julho de 2010

sobreviver não importa.

No meio do mundo percebo que eu sou um cara doce. Isso mesmo: d-o-c-e. É claro que é estúpido isso. Se sentir doce é idiota. Mas é o que é. Me vejo no mundo e, depois de muito pensar, concluo: sou um cara doce.
Essa conclusão não quer dizer nada. Não é boa nem ruim. Conclusão morna, honesta e quase contra mim. Meu putaquepariu chora baixinho. Porque há uma bela vitalidade no ódio, porque há grande prazer na raiva e na loucura.
(e devo admitir que uma coisa não impede a outra)
Talvez esteja mais velho, talvez mais tolerante, talvez mais besta e mais conformado. Tanto faz. As coisas mudam. E as coisas mudarem é um treco bacana - mesmo que as mudanças não sejam as revoluções que secretamente desejávamos.
Mais velho, mais esperto e menos passional. E, veja, eu gosto da passionalidade, eu admiro o sangue da passionalidade. Atitudes passionais são sempre encantadoras - para o bem e para o mal.
Mas a gente tem que viver e vive. Há que se ter alguma proteção contra a merda toda. A maturidade é uma proteção - e apenas isso.
Eu sorrio e sou quase sincero. Queria que algumas pessoas vissem minhas peças e lessem meus escritos. Eu gosto da vida, mesmo não achando tudo uma maravilha. É decente isso. Eu acho.
Pela frente a nova semana e meus 3 pontos de atenção. Sou eu mesmo. Mais velho e menos passional. Algum método para aproveitar o tempo e as esperanças mais lindas que sempre alimento com enorme carinho - como, afinal, faz todo cara doce.

11 de julho de 2010

Anti Cia de Teatro.


Há muita ternura no sentimento de posse. Há quem não entenda isso. Há quem ache que todo sentimento de posse é opressivo. Acho isso um jeito estranho de entender a liberdade. Como se só fosse livre aquele que não tem nada ou ninguém. Minha liberdade é escolher os meus e me dedicar à eles. Minha ternura se expressa assim. Gosto de julgar as pessoas para que elas se tornarem únicas. Desprezo, com toda a minha força, esse papo de que 'somos todos iguais'.

1107

As coisas são lentas e sinistras. Eu gosto. Eu em uma versão que topo.
Crianças dançam enquanto eu fico na cabine. Sou justo e generoso, na medida do possível.
Imagino bucetas de ouro e aperto botões cheios de incrível tecnologia. São milagres esses botões. Cada cor é uma coisa. Cores obedientes e submissas. Eu aperto, eu aperto.
Olho pra fora e desconfio de tudo. Somos simpáticos e dizemos parabéns! Lembro das minhas sobrinhas e resolvo dançar também. Sim-pa-tia.
Eu rio. Eu me divirto. Eu não acredito em nada do que eu vejo. Eu sou egoísta. Melhor: eu sou melhor quando eu sou egoísta. Eu sou cínico também. Eu disfarço.
Os dentes muitos brancos me lembram novas pastas de dentes.
Os olhos amarelos são problemas de fígado. Ou rins. Ou rins!

9 de julho de 2010

relatinho.

A calma vem como uma decisão. Era de manhã e tive sonhos verdadeiramente terríveis. Eu me perdia dentro de uma festa onde apresentaria meu teatrinho. Pesadelo sem saída é quase um clássico.
Demoro pra acordar e desisto da visita. Telefono pra saber das coisas e me programo pra terça visitar o gringo convalescente. É um mundo estranho e cheio de gracinhas. Pessoas ficam doentes sem razão ou explicação.
O café é meu amigo e me proporciona uma cagada divina. Cago com precisão e prazer. A bosta que sai de mim é uma dádiva e um orgulho. Tudo meu.
Faço circuitos idiotas pelas internet. Não quero atacar meu problema. Olho pro puto e digo "daqui à pouco". Meu problema sorri e diz "estou te esperando, gatinho".
Telefonemas estranhos vêm me perturbar. Decido que nada me abalará hoje. Apenas hoje. Troco uma nota de cem reais no almoço por kilo e me sinto preparado para tudo. Uma bobagem séria que me alimenta.
Ataco meu problema pelas beiradas. Faço contas precisas. Não tenho tempo e falta de tempo, agora, é vantagem. Uma coisa de cada vez. Visões infernais: glória e fracasso de mãos dadas. Não me importo. Bunda na janela e cara à tapa. Eu sou eu. Eu faço o que eu faço. Eu também sei ser simpático com os imbecis.
Meu problema tá quase resolvido. Preciso achar as palavras. Aquilo que posso dizer e mudar através das palavras. Sem frescura, sem mentira e sem desespero. Invisto na calma e no controle. Sem ilusão sobre esse sexo fudido de ejaculações precoces. É a clareza que encanta. Um tesão antigo de repetir o que se sabe fazer.
Eu entre os outros. Tudo certo. Cada um faz o que pode, o que acredita, o que deseja, o que consegue. Estamos no planeta e entendemos bem mal a vida. Sou um Cristão e compreendo a dor do mundo. Sou irmão de todos na dor que sentimos. Cogito até fundar uma igreja.
Uma voz doce se destaca e me imagino tendo filhos com ela. O tesão do delírio. O delírio e suas coisas. Uma voz e meu delírio. Só faz sentido fazer teatro se esse teatro dialogar com o delírio, é o meu caga regra.
A casa, a música, a cerveja e o blogue. Nostalgia é um treco bacana. Cansaço é uma satisfação natural e estúpida. Tô no mundo e vivo. Morro de medo e sinto grandes alegrias. Acredito em milagres e ainda sinto tesão em mulheres sem sutiã.
Paz, acho, passa por aí.

até 7.

  1. É cruel e fatal. De repente vira pó. É como a música infantil. Era vidro e se quebrou. E fico quase chocado. Porque de tão claro e óbvio não poderia ser claro e óbvio. Como explicar? Impossível explicar. O tempo mais preciso do mundo, a coincidência mais surpreendente do planeta. O óbvio ulula e choca. Como um piano que só cairia na sua cabeça naquele exato segundo. Quase um desenho animado.
  2. Ele chorou, mas eu desconfiei. Ele chorou grosso demais. Ele até queria chorar, mas não conseguiu. Eu, alí, pra ele, era seu terapeuta cheio de consolos e soluções. Mas eu não sou seu terapeuta e desconfiei do choro com razão. Tentar chorar é legítimo. Chorar de verdade é outra história. Querer um cúmplice pro próprio choro é ainda mais em baixo. Eu entendi seu desespero, mas dizer pra ele que eu havia entendido isso seria um erro tremendo.
  3. Às vezes me sinto muito hábil. Há o mundo e há eu. A gente se estranha faz tempo. Mas estou no meio da turma e converso com todos. Fico surpreso e me sinto idiota. "É simples porque é besta", é a minha conclusão.
  4. Dançar com garotas lindas e pedir perdão. As mulheres do Século XXI adoram perdões. Elas se sentem femininas ao maltratarem homens. Elas dizem que são livres e mostram os dois dedos que usam para tocar siriricas.
  5. Contra tudo e contra todos, eu resolverei as merdas que eu tenho que resolver. A merda é o aspecto coletivo do maldito teatrinho que eu faço. Minhas migalhas eu garanto. Mas até aí.
  6. Cada vez mais penso em mulatas e negras. Mulatas e negras me parecem perfeitas. Deliro que suas bucetas rosas me trarão a glória da grande trepada que não tenho há a algum tempo. Claro está que todo sexo casual e tacanho é feito em busca cega pela grande trepada. A velha ilusão, afinal.
  7. A bicha gorda berra que precisa se expressar. A bicha gorda se sente estranha e capaz. Diz que gosta de tocar punheta pensando em mulheres mortas. A bicha gorda é um cavalo na minha coluna. Ela - a bicha gorda - me manda um torpedo onde diz eu te amo.

7 de julho de 2010

Teatro Irresponsável.

Mais um sonho na caixinha.

Ser especialista em coisas inúteis tem seu tesão e sua glória.

Migalhas gordas que alimentam um tipo de gente.

A tosse e a costela fraturada não é o que importa.

Pouca coisa importa.

Muito pouca coisa importa.

6 de julho de 2010

beiradinha.

dizer eu te amo e depois até logo. contar vantagens pra idiotas e entregar cartões com nome, número e e-mail. bater palmas e sorrir. espremer cravos em coxas bonitas e ir ao cinema sempre aos mesmos horários. cultivar paixões. inventar amores. ver a morte e oferecer um chocolate. ser descolado e simpático. criar um blogue. alimentar um blogue. usar o blogue pra punhetas antigas. eu te amo e até logo. cortar o cabelo e aparar a barba. falar sobre as mulatas fantásticas que adoraria comer. ligar a TV e ver a TV. perceber a eficiência americana. punheta. punhetas pras milfs. as milfs. freudinho caolho sussurrando vai lá, garotão. os fuzis pra fora do carro dos policiais cariocas. a jogoda. a passagem comprada. nova iorque, bayb, nova iorque! festivais que elogiam seu períneo. festivais sem festas em bela escala industrial. a boca seca e o elogio mais imbecil do mundo fazendo você se sentir muiiitoo bem. a punheta. o pau mole. a buceta. o desejo achando que é mais que desejo. a punheta. a foda fantástica. o blogue, o blogue, o blogue. a desculpa recalcada em atitudes generosas. a mentira, a punheta, o blogue e as paixões sazonais. o jogo. a alemanha fudendo o maradona. a tristeza. a tristeza e a fuga. o equilíbrio. o buda-gordão de costas pra rua: clássico, clichê e eterno. o budão.

4 de julho de 2010

)(

Vejo uma garota de bicicleta. Penso que poderia ser você. Estou atravessando a rua e estou sem óculos. Espremo meus olhos em frente a padaria pra tentar distinguir alguma coisa, mas sem sucesso. Acho que não era você. Concluo que achei que poderia ser pelo jeito que a garota pedalava - com força na parte da frente das pernas. E também por ser uma garota grande em uma bela roupa florida.
Volto pra casa com as cervejinhas e o cigarro e penso que beleza seria:
Você me atropelando com sua bike como numa comédia romântica americana.
Câmera lenta: meu passo na rua, o pneu da bicicleta batendo na minha perna e nós dois caindo atrapalhadamente (comédia, lembra?).
Daí a gente se levantava e se via. Agora teria aquele maravilhoso clichê do tempo que pára quando os dois amantes se olham no olho um do outro. Câmera lenta abruptamente interrompida. Os amantes se reconhecem:
- não acredito.
- nem eu.
- você não olha por onde anda, não?
- você não sabe andar de bicicleta?
- você sempre me atrapalha!
- você que me atrapalha! Quem mandou passar de bicicleta em frente à minha casa?
- ah...a culpa é minha, né? A rua é sua, né?
- que idiota...olha só o que você fez...
- e você...olha aqui, olha aqui!
- machucou?
- um pouco...
- deixa eu ver.
- ai!
- tá doendo?
- claro, né?
- deixa eu dar um beijinho que passa...(beija)
- que nojo!
- o quê?
- beijar meu joelho esfolado! que nojo! é bem a sua cara isso! se mete na minha frente, faz eu cair e machucar o joelho e depois acha que um beijinho resolve...você se acha, né? aposto que acha que eu passei aqui de propósito, né? cara, sério...você é muito...
- (ele interrompe a fala dela com um beijo na boca)
- você é louco!
- você é linda!
- cara...você não pode fazer isso não...acha que eu sou o quê? você se mete na minha frente, faz eu cair e agora vem e faz de conta que...
- (interrompe a fala e a beija)
- que mania, cara!
- você é linda!
- olha, para com isso...acha que eu sou criança, é? acha que falando isso, você vai...
- (interrompe a fala e a beija. beijo mais longos que os anteriores)
- cara, você é muito idiota, sabia?
- sabia.
Ele se levanta e a ajuda se levantar. A câmera se afasta. Vão pro canto da rua. Não ouvimos mais o que eles dizem, mas o padrão se repete: ela falando e ele a interrompendo com beijos. A câmera se afasta cada vez mais. Os dois viram apenas dois pontinhos distantes no meio da Rua da Passagem.
---FIM---

3 de julho de 2010

du bar.

Vejo garotas lindas que passam de cabelo molhado pelas ruas de Botafogo.
Agradeço a distância imaginando que seus cabelos estãos cheios de creme pós-lavagem.
Penso nas vantagens da distância e lembro da garota mais linda do Sul e Sudeste do país:
gostosa, tesuda, impossível e casada.
Perfeita, em outras palavras.

1 de julho de 2010

"eu ligo o rádio e bláblá..."

Reviro meu caderno porque desejo atualizar o meu blogue. Não acho nada e venho aqui. Vaidade velha de guerra pondo as manguinhas de fora. Tanta bobagem, meu Deus, tanta bobagem!

Se minha vaidade fosse mais eficaz, se, além de desejar atualizar meu blogue, eu quisesse, por exemplo, conquistar uma fortuna... sei lá...me soaria mais decente.

É estranho admitir que a minha punheta me satisfaz. Se, além de ambicioso, eu não julgasse minha ambição seria melhor, é minha conclusão.

Mas fazer o quê? Tenho tesão em enfiar o dedo na minha cara e me acusar. Gosto disso em mim e gosto disso nos outros. Auto acusação é algo que aprecio.

Então olho meu umbigo e penso em mim. É bacana ser eu mesmo. Mas não porque eu me adore. É porque, acho mesmo, falta humor e deboche nos outros.

E humor e deboche, a gente já aprendeu, precisa de um mínimo de auto crítica - como o Kaufman notando a farça de um curandeiro.