Os sentidos se perdem. Às vezes para sempre. Às vezes não.
Não sei qual é o caso, mas não importa.
Tava nos meus arquivos catando coisas e caçando sentidos. Daí vi isso, que é bem antigo e sem data. Lembro que comecei em 2.000 ou 99. O alimentei por um tempo e depois parei. Quando tentei retornar, acho que 2006, não consegui.
Na época pensei que era um pedaço da adolescência impossível de ser retomado ou mexido.
A última vez que alterei o arquivo foi em 2009, mas não sei se foi quando escrevi isso.
De toda forma, segue:
=
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herói e fernando:
Fernando: herói me diz uma coisa.
herói: fala.
Fernando: você tem medo da morte.
herói: ...não, acho que não...
Fernando: Faz tempo que eu não venho aqui...
herói: eu sei...
Fernando: você deve Ter mudado muito, deve estar
diferente...
herói: não sei...
Fernando: Você me irrita, herói..
herói: Por que?
Fernando: Porque você está aqui há muito tempo.
Não caga nem sai da moita(herói o olha) É uma expressão herói(ele o olha) Uma
maneira de falar...
Herói: E você? Você faz diferente? Caga e sai
da moita?(fernando fica em silêncio) A única coisa que eu posso dizer de mim é
que eu faço muita coisa, mesmo que eu não cague e nem saia da moita...
Fernando: Eu odeio isso em você herói...essa
mania de repetir as coisas...parece que é uma maneira de você ganhar
tempo...Ter volume...
Herói: (revoltado) Volume de
quê? Volume...
Fernando: Como de quê? De
páginas, meu bem, de páginas.
Herói: Mas isso é coisa sua. Não me diz
respeito. Eu apenas sigo suas manias...
Fernando: Então é culpa minha?
Herói: Claro! Claro que sim. Você fala e não
chega a nada. Parece até que você foge, sei lá....será que você foge?
Fernando: Como assim? Fugir de que?
Herói: E eu sei lá? Mas as vezes eu penso
sozinho, sem ninguém dizer nada, e eu penso que você me usa...assim como sempre
as pessoas fazem se fazer de conta que a vida tem algum valor, algum sentido,
sei lá.
Fernando: Porra, herói, se você disser isso
fudeu de vez.
Herói: Eu to cansado, cara. Eu me repito e
você não me ouve.
Fernando: Mas não é assim, Herói. A gente tenta
chegar em algum lugar. Todo mundo tenta. É normal que essas coisas demorem, é
normal que essas coisas se confundam...
Herói: Ta, ta. Pode ser, mas vamos combinar
que isso cansa, oras. É demais, é tempo demais.
Fernando: Ta, ta. Mas o que você que que eu
faça?
Herói: Quero que você decida e pare de me
usar. Pare de fazer de conta que ta tudo bem e que as coisas têm que ser assim.
Não têm que ser assim. Isso só depende mesmo é de você. Decida aí, cara.
Fernando: Herói, mas você nem fala cara. Por que
ta falando ‘cara’?
Herói: você é mesmo muito cínico...
Fernando: ta, ta. Eu admito: sou cínico. Então
vai lá e resolve tudo. Eu vou ficar aqui, do mesmo jeito, vou ficar inventando
minhas mentiras e vou te usar de novo. Pô, herói, achei que teria jeito, sabe?
Quando eu comecei isso aqui eu achei que teria jeito, mas não tem. Sei lá. Mas
é como se antes as possibilidades fosse maiores. Agora não. Agora tem eu e
você. Você que é meu produto, entende? Uma merda.
Herói: Ta. Mas o que eu faço então?
Fernando: eu não sei, não sei.
Herói: você que manda. Então vou ficar aqui.
Esperando.
Fernando: Espera herói, espera.