14 de outubro de 2008

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e nem faz uma semana.
Ela estava bonita com aquele vestido florido. Sem soutien, as belas costas. Eu não lembrava desse vestido.
Enquanto eu arrumava as coisas reparava nas roupas que preferia, nas que usava pouco, nas de vovó.
Tudo muito estranho e doloroso. A carta que recebi ontem, o disparate de um reencontro desnecessário. A ironia fina do planeta fazendo rasgos na minha pele amarelada de quem bebe pra fugir. E no meio do disparate - enquanto quicava e suava e comia maçã ao mesmo tempo em que fumava um cigarro - lembrei do proverbiozinho que diz "o que não tem solução, solucionado está". Proverbiozinho de merda. Na verdade não quer dizer nada. É um proverbio vazio usado por burocratas de papelão. É um proverbio que não considera que as pessoas têm alma e outras coisas do tipo.
A solidão só em boa em duas situações. 1 - quando se deseja peidar alto e 2 - quando realmente não a ninguém com quem se queira estar. E peidar alto é possível mesmo quando não se esta só, basta ligar o rádio na cbn, fechar a porta e lavar a louça.
E eu também sei de mim e do que eu acarreto.
Dos meus problemas, da minha insatisfação, da minha obsessão por plenitude, do meu idealismo doentio, do querer mais, do chifre em cabeça de cavalo, do sonhos de Quixote, do corpo de Sancho, da falta de leveza, da descrença no simples, do risco da loucura, da mania de eternidade, do deboche arrogante, do desprezo pelos restaurantes de luz indireta, da cara inchada, do pau duro na hora errada, do amor que é a morte, da ilusão da insistência, dos discursos articulados, da loucura.
E também das coisas boas que nem sempre compensão as ruins.