20 de julho de 2010

"Pronto. Perdi a aposta." *

Adorava dizer 'foda-se' de boca cheia. Era a satisfação. O 'foda-se' amigo como prancha pra uma possível liberdade.
Eu dançava e você dançava. Dançávamos junto e éramos cúmplices. Uma maravilha falsa e honesta no sol mais lindo do Arpoador.
Todas as revoluções e todas as crianças. A gente gostava de crianças e elas gostavam de nós. Nôs sentíamos bem entre os brinquedos. O sorriso amarelo era o passado de um brinquedo morto.
Toda ternura era minha e você era minha musa. Dizia pornografias no meu ouvido durante todo o percurso da roda gigante. Desprezava o uso de animais em circos.
Eu topava. Eu estava apaixonado e defendia suas teorias anti mal trato de animais com a cegueira mais bonita do Sudeste Brasileiro. Paixão.
Havia a tristeza da vida e os dias cinzas onde a chuva não era motivo de pipocas e risadas. Era patético: crianças velhas querendo sugar alegrias da infância. Não dava certo e a gente estava desesperado.
O sol, a areia e a praia. Todos os passeios para sair de si mesmo e tentar descobrir o que quer que fosse. Mas as descobertas não chegavam e precisávamos da velha solidão para poder pensar em paz.
Pensávamos. E a paz nem aparecia.
Era o abismo ganhando cores de Mangá Japonês. Sorriso amarelo virando laranja. O desejo disputando força com o dia à dia.
Nossa boca, finalmente, sangrou. E a gente se beijou ainda, cheios de sangue na língua e pus na garganta. Repetimos "não quero te perder'' sem muita convicção e dormimos, achando que o sono sararia a realidade e o sol do próximo dia.
Perdemos.
Perdemos a mão e a cabeça. Viramos idéias e não pessoas. Perdemos.
De noite ainda nos frequentávamos. Como vampiros que desejam virgens que não existem. Mas, de noite, os vampiros se enganavam e chupavam sangue velho enquanto imaginavam sangue de mocinhas inocentes. Foi a despedida.
Depois todo o resto.
O resto: a cabeça dizendo não quando devia dizer sim, as mãos crispadas na hora de estarem abertas, o grito que achou que seria ouvido, o mar cinza ao invés de azul, as tardes sem pipoca durante o inverno... o resto.
A virada veio. Veio sem sonho, a virada. Tudo era simpatia agora. Éramos simpáticos e velhos amigos. Dizia eu e você: você é muita es-pe-ci-al.
Foi o fim. A cabeça tranquila e o sangue lento dentro das veias. Tínhamos a relação civilizada e amigável que desejávamos ter.
Tínhamos paz, mas quem, afinal, se importava com a paz?
Amigos para sempre e amantes nunca mais. Civilizados e decentes. A grande idéia que, após materializada, se torna a maior bobagem do universo.
A tristeza travestida em palavras que tentam substituir a solidão.
A falta, a Leila, as mulheres que te salvam - o inferno, o inferno mais quentinho de toda a existência... o milagre...o milagre...
*e viva o domingos oliveira e seu imbatível todas mulheres do mundo.