27 de abril de 2010

2 cervejas.

Se inveja matasse, eu morria.

Era um casal de adolescentes. Ele, óbvio que ulula, era bem pior que ela. Ela era linda, usava óculos de gatinhas e vestia um vestido amarelo. Seios pequenos, piercings, pulseiras e tornozeleiras. Ele, sem jeito e meio bicha, usava aparelho nos dentes e tinha, pra minha glória e desgraça, aquele cabelo raspado que deixa só o topete.
Ele parecia um cara legal, mas tinha esse jeito de idiota imperdoável. Ela, ao contrário, parecia mais velha e muito descolada - jovem hippie, mas esperta. No máximo 18 anos.
Eles conversavam muito e bebiam pouco e com jeito de amadores. Eu via. Eu sempre vejo. Eu gosto de ver. Eu toco punhetinhas vendo.
O "clima" entre eles era claro. Ele, como era de se esperar, travado e sem jeito. Ela tranquila e quase radiante. Foi no ápice desse "clima" que vi o mais invejável de tudo: ela sacou de sua bolsa moderna um caderno e uma caneta.
Meu Deus! Eu já sabia de tudo! Eu era ele! Ela era elas! E o mundo era uma pinóia por excesso de repetição! Foi óbvio e fatal: eu era o idiota imperdoável e ela era elas! Doze anos voam! Meu Deus! Era eu! Era elas! Eu já tinha participado da mesma coisa há doze anos atrás!
Não deu outra: um começou a escrever pro outro. Conversavam através do caderno. Um escrevia e o outro lia. E vice-versa. Ele, o idiota imbatível que era eu, colocou as mãos nas coxas dela enquanto ela lia seu 4° ou 5° escrito. Eu torcia. Eu era o Galvão Bueno do casal adolescente. Mais duas ou três escritas no caderno e o beijo viria.
O beijo veio. Um beijo que foi o mesmo que eu dei há doze anos atrás. Elas fazendo gracinhas e fingindo resistência e eu, o idiota imperdoável, querendo que aquele beijo fosse O Beijo.
Foi demais pra mim. Eu paguei a conta e voltei pra casa. Eu era ele e éramos parte de uma farsa eterna: o mundo se repete e a gente (eu/você) faz parte desse vídeo-game canhestro e sem surpresa.
Foi um tiro no peito. Foi a tristeza mais velha e mais bonita.
Senti saudades da inocência tremenda. De achar que O Beijo existe. De trocar escritos em cadernos como forma de novas conquistas. De usar o que se leu como estratégia de fodas. De não se incomodar com o jogo das fêmeas. De achar que as coisas aconteceriam puras e simplesmente porque deviam acontecer.
Doze anos atrás.
Doze anos agora.
Não posso nem reclamar.