19 de agosto de 2011

Éfinho vê teatro.

É uma peça chata em que ficam brincando de ser ou não ser teatro. Como se houvesse dúvida, como se - de fato e realmente - os atores em cena pudessem não estar em cena e, portanto, não estarem interpretando. Um flerte com essa ideia que anda por aí e que se convencionou chamar de não-interpretação.
A tal peça tem alguma inteligência que eu, infelizmente(ou seria felizmente?), não compreendo. É o teatro como sacada, como situação "atores-diante-do-público" levada ad infinitum. Eu não entendia porque riam. Quando ri, sorri e fui honesto. Quero dizer: o aparte (esse recurso ancestral e legítimo) é legal e tudo, mas, bem, há limites. Ainda mais um aparte que 'conversa' com a plateia - como se fosse natural e não artificio.
Olhando aquilo pensei em tudo que não quero e não me interessa. Teatro pra dentro, voltado pra uma ideia de inteligência de salão que faz com que os momentos engraçados sejam um desfrute para os que captaram a mensagem - ou melhor: a sacada.
É o teatro blasé e cheio de referências pós-dramáticas - esse termo/conceito que está aí e que explica o melhor e o pior do teatro contemporâneo.
Na peça chata havia champanhe e taças e belezas e tudo, tudo mesmo, era lindo. Os atores, a luz indireta, os movimentos de corpo que significavam alguma coisa que eu nunca entenderei... um mistério.
E o texto brincava uma única brincadeira: o ator dizendo sobre o personagem que ele representa: "- então ele resolve sair" (o ator que é o ele, o personagem, o performer consciente do aqui agora, etc ad infinitum) "e ele fala pra ela: te adoro". E então esse ator faz agora o 'ele' com mais 'verdade' e diz: "te adoro." E a cena continua. E muda para atriz: "- e ela sorriu", e a atriz sorri, "e disse: eu não te adoro", e a atriz, cheia de sacada diz: "eu não te adoro."
90 min. E não gosto de sair no meio Deus sabe porquê. Deve ter a ver com meu catolicismo e o lance da culpa...
Seja como for, estive lá, me aborreci e nem doeu. Ver teatro chato e afetado assim me dá uma puta vontade de montar a banca do meu teatrinho - que pode não contemplar a inteligência cheia de sacadas, mas que não te aluga e vai pra fora.
Não alugar, em se tratando de obras de arte, é, pra mim, um puta dum mérito.

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Tem uma frase de uma música do R. Seixas que gosto muito e que, as vezes, me parece o próprio sentido da vida: "Só vou curtir meu roquezinho antigo/que não tem perigo de assustar ninguém".