16 de fevereiro de 2010

Como se fosse domingo.

Fui almoçar no bar. Gosto do hábito e da repetição da coisa. Como um pequeno ritual: pede uma e o cardápio, escolhe e pergunta o que acompanha só pra ouvir a mesma resposta de sempre: arroz, feijão, farofa e batata frita.
Bebo a cerveja tranquilo e acendo um cigarro. Fumando reparo na vida alheia e vejo que tem uma garota me olhando. Olhando mesmo, apenas olhando. Sem nenhuma intenção objetiva. Assim como reparo na vida alheia ela repara em mim.
(Me lembrei da minha ex que sempre que alguém a olhava, dizia que o alguém tinha dado em cima dela. Era um traço quase inocente da personalidade dela. Nessas todo mundo já tinha dado em cima dela, inclusive a finada Cássia Eller.)
O prato chega veloz e o cigarro nem acabou. Mais um gole e um traguinho e repito outro ritual: o feijão primeiro e direto do pote pro prato, sem auxílio da colher; depois 2 colheres de forofa e então o arroz e a batata frita. O arroz e a farofa sempre sobram, a batata frita não. Sal, azeite no feijão e a carne assada com molho de tomate deixo onde está, pegando uma fatia por vez.
Como devagar e dou pequenos goles de cerveja - o que é raro, pois, na média, ou como ou bebo, nunca misturando as duas coisas.
Almoço terminado e comi bem menos do que eu pensava. Na calçada, uma preta de rua e feia, que até me deixa na dúvida se é homem ou se é mulher, berra: - dá um pouco desse arroz aí, colega.
Faço sinal de positivo e peço pro garçom preparar a quentinha pra ela. Do meu lado, duas pessoas me olham como se eu tivesse sido supergeneroso e eu penso que o mundo é mesmo muito mesquinho.
O garçom me mostra a quentinha que ele fez e ressalta que acrescentou um feijãozinho. Resmungo um legal e ele entrega a quentinha pra ela. Depois vem até mim e diz:
- pô, pensei que era um homem...
- eu também...
- sorte que é carnaval, né?
Ele sai sorridente e faço sinal pra conta.
Venho andando pra casa e penso que hoje o dia tá foda. Tento entender o meu ranço e concluo que a culpa foi eu ter dormido sem querer, diante da tv. Dormi de roupa, óculos e sem escovar os dentes. Quando acordei eram 5 e 30 da manhã e sentia um ódio de outra vida. A minha boca era um cinzeiro molhado e eu não fazia idéia do que fazer.
Tomei banho, arrumei a cama e vi uma besteira ou outra no computador. Voltei a dormir e acordei as 12 e 30 cheio de culpa porque o texto-obrigação que eu tenho que fazer anda à passos lentos e dolorosos.
Pronto, o ranço tá explicado.
Agora é esperar o sol cair fora e ver se a noite vai trazer suas belas corujas.
Talvez eu desça pra comprar um sorvete,
talvez eu faça um telefonema,
talvez eu fique apenas contando os segundos pra um outro dia começar.