28 de julho de 2010

nove.

  1. Aquela língua que se enfiava na minha boca durante a noite me fazia bem. A conveniência mais sincera e mais tola. Lamber. Lamber como os cachorros lambem, igual eu escutava na infância: sabia que cachorro lambe porque não sabe beijar?
  2. Tinha o pau duro. O riso era travado e o corpo era aberto. Sempre o sr. Álcool forjando intimidade e desculpas. Eu me desculpava e ela também. Dois desculpadores lado à lado...parecia tão perfeito, mas nem era.
  3. Falava da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dizia que só lá havia o mundo real. Eu não sabia o que era o mundo real. Eu pensava: por que, então, na mora no tal mundo real?
  4. A boca pintada de batom parecia um coração. Uma coisa muito linda: eu sendo chupado por uma mulher que nunca havia tomado sol em toda sua vida. Parecia uma grande coisa, mas era bobagem.
  5. Vampiros soltos e amigos que dizem ter parado de usar cocaína. Deus abençoou o RJ, segundo a mãe de um grande amigo. A mãe desse meu amigo, numa foto que vi, tinha, por coincidência, a boca em forma de coração.
  6. Quero a glória, entendeu? Eu disse sim e menti. Ela mentia também. Não queria a glória. Queria era que eu me masturbasse pensando dela. Eu me masturbava pensando nela. Depois entendi: ela se sente mulher quando algum idiota lhe dedica uma punheta.
  7. Essa coisa de reparar com quem fulano anda é bíblico. Por um lado, parece apenas mais um preconceito cristão. Por outro, é o óbvio sendo ululado por um Jesus pintado pelo A. Warhol.
  8. A louca de rua berrava, como quem diz uma pérola: "depois que fechar os olhos, acabou. aproveitem enquanto estão vivos". Até tentei encarar o que ela dizia como algo fodão por ela ser uma autêntica louca de rua. Mas nem deu: ser maluca não a impedia de falar merda.
  9. Arrancar os cabelos e comer a raiz do couro cabeludo. Há uma grande explicação psicológica pra essa patologia. Algo como: no oculto há a ideia de essência. É bacana de pensar isso, mas, cá comigo, penso que só mesmo um cretino arranca os próprios cabelos. Ainda mais se faz isso pra achar o que quer que seja.