13 de outubro de 2010

Entre os livros chatos, o telefone e as obrigações diárias.

Às vezes a vida parece insuportável. Então a loucura desponta, mas é apenas outra vaidade. Como se houvesse fuga, como se fosse remédio. A loucura associada a ideia de liberdade é um desses equívocos enormes que insistem em se repetir.
Dom Quixote é belíssimo, mas é triste, triste pra caralho - o que, todavia, nunca impede o humor. O riso bom, quase complacente, quase cristão, como se todas as ações maléficas pudessem ser perdoadas quando sussurramos pra nós mesmos: perdoai-os, é muita dor e muita tristeza.
A dor e a tristeza me explicam muitas coisas. Ou então as pessoas seriam apenas mesquinhas, ignorantes e agressivas e, de fato, más e perversas - o que não faria nenhum sentido e só deixaria tudo ainda mais trágico.
São por dores antigas que serial killers se manifestam, são por tristezas profundas que tratamos mal à quem se ama. A impossibilidade de realmente compartilhar uma dor/a solidão de querer entender o que não tem explicação.
Acho que a Arte, de maneira geral, vem pra tentar dar conta disso. E mesmo que não consiga, ainda é - dos paliativos - um dos mais concretos. A Arte como salvação, mas sem frescura: sem florear lixo, sem pôr perfume em bostas, sem disfarçar dores e, principalmente, sem compromisso com a realidade ipesliteres. A Arte como compreensão e tolerância, mesmo quando deseja agredir e lançar merda no ventilador.
O Dom Quixote sendo levado dentro de uma gaiola e morrendo no final.
A esperança sem final feliz, mas ainda assim, a esperança.
Não
escrever
é
igual
a
ver
televisão.