29 de abril de 2010

benzinho.

Sofrer não é virtude, meu benzinho. Então não sofra assim para tentar comover os idiotas. Os idiotas são idiotas, meu benzinho. Eles querem ganhar tempo, eles acham que eles ganham tempo. Idiotas, meu benzinho.
Minha dica é: use o telefone. Mas se quiser mesmo ser eficiente, meu benzinho, eu digo: afaste as pernas devagar, ainda com a calcinha, olhe nos olhos dele e diga sem ser vulgar ou infantil: - me c-o-m-e.
E dê pra ele sem pressa, meu benzinho.
É claro que eu vou morrer de ciúmes. Eu sempre morro de ciúmes. Sou possessivo, benzinho. Meu pau só fica duro quando escuta: - sou sua.
Sabe, benzinho? Fiquei pensando nas coisas. Achei tanta resposta triste, benzinho. Até imaginei você mentindo pra mim, vê só. Absurdo, absurdo.
Mas, benzinho, entenda que hoje tá chovendo e que, por isso, senti uma saudades enorme. A chuva lá fora, benzinho, me fez lembrar de quando você, cheia de remelas nos olhos, dizia enquanto encaixava seu quadril no meu: - vamô fazê naninha, vamô?

veneninho

Imagino ela me procurando no sábado de manhã. Está sozinha em casa porque seu marido foi pra Trilha. Isso mesmo: Trilha. Todo sábado ele faz Trilha. Vai ele e seus amigos. Todos machos, todos muito machos. Todos eles usam boné. Todos têm mais de 30 e usam boné. Usam boné não por causa do sol, mas por falta de senso de ridiculo mesmo. Como machos que são, levam também mate e água quente. Machos que usam boné, tomam chimarrão e fazem Trilhas todos os sábados. "Mesmo em baixo de chuva, bro."
Ela, na verdade, gosta disso. Gosta de ter um marido que faz Trilha aos sábados. Isso desperta certa melancolia nela. Ela não sabe explicar. Acorda junto com ele apenas para dar tchau na porta. Ela tem essas delicadezas. Depois que ele vai, ela pensa no que fará para o almoço e liga o computador com uma xícara cheia de café. "Adoro xícara grande pra beber café."
Ela vê suas coisas e deixa recados para as amigas. Ela anda satisfeita. Tem aquilo que queria e vive em paz. Olha pra própria casa e sente um orgulho besta e legítimo. "Minha casa, minha casinha."
Então ela lembra. Vai no google. Não resiste. Nem há porque resistir. Fica 10 ou 15 min. assim. Depois lembra umas coisas, mas abana a cabeça e esquece. "Era divertido, mas não era pra ser."
Olha pro relógio. Seu marido deve estar no topo da montanha agora. Com boné, chimarrão e macheza. A casinha é uma beleza. Se fosse mais quente seria perfeito. "Mas perfeição não existe..."
Lembra de novo e abana a cabeça. Franguinho temperado com cerveja. Delícia. Em meia horinha fica tudo pronto. Olha o relógio e vê que dá tempo prum cigarrinho escondido. "Tão bom fazer fumacinha."
Lava bem as mãos e deixa tudo preparadinho. Põe até flor na mesa. Daqui a pouco ele volta. "De boné, mas volta".

28 de abril de 2010

O sonho virou pesadelo. Meu anjo virou minha diaba. (Eu chamava ela de anjo). No meio do próprio sonho noto que estou sonhando e digo pra mim mesmo: - de novo não.
Sempre o mesmo registro estranho e sinistro: o tempo presente. Porque 'no tempo presente fica parecendo possível', disse a Fá. Minha punheta com sonhos faz eu querer que eles tenham sentido. Pergunto pra mim mesmo como carneiro bem treinado: - o que o seu subconsciênte quer dizer pra você?
E, sejamos francos, é impossível viver bem pensando esse tipo de merda. Então tomo uma dose antes do almoço e rezo pra não sonhar mais. Ou então pro sonho virar realidade. Ou ainda pra eu não me impressionar. E há também a possibilidade de não dormir.

whatever


Não houve fodas fantásticas,
não houve café na cama,
não houve beijos de boa noite.
Não houve boquetes sem pressa,
não houve dedos no cu,
não houve olhos abertos.
Foi video-game,
foi mini-game,
foi joystick
e foi gamão.
Não houve jornal aos domingos,
não houve piquiniques no sol,
não houve sexo como cantos da morte.
Foi mi-mi-mi,
foi fuque-fuque,
foi tédio
e foi repetição.

27 de abril de 2010

2 cervejas.

Se inveja matasse, eu morria.

Era um casal de adolescentes. Ele, óbvio que ulula, era bem pior que ela. Ela era linda, usava óculos de gatinhas e vestia um vestido amarelo. Seios pequenos, piercings, pulseiras e tornozeleiras. Ele, sem jeito e meio bicha, usava aparelho nos dentes e tinha, pra minha glória e desgraça, aquele cabelo raspado que deixa só o topete.
Ele parecia um cara legal, mas tinha esse jeito de idiota imperdoável. Ela, ao contrário, parecia mais velha e muito descolada - jovem hippie, mas esperta. No máximo 18 anos.
Eles conversavam muito e bebiam pouco e com jeito de amadores. Eu via. Eu sempre vejo. Eu gosto de ver. Eu toco punhetinhas vendo.
O "clima" entre eles era claro. Ele, como era de se esperar, travado e sem jeito. Ela tranquila e quase radiante. Foi no ápice desse "clima" que vi o mais invejável de tudo: ela sacou de sua bolsa moderna um caderno e uma caneta.
Meu Deus! Eu já sabia de tudo! Eu era ele! Ela era elas! E o mundo era uma pinóia por excesso de repetição! Foi óbvio e fatal: eu era o idiota imperdoável e ela era elas! Doze anos voam! Meu Deus! Era eu! Era elas! Eu já tinha participado da mesma coisa há doze anos atrás!
Não deu outra: um começou a escrever pro outro. Conversavam através do caderno. Um escrevia e o outro lia. E vice-versa. Ele, o idiota imbatível que era eu, colocou as mãos nas coxas dela enquanto ela lia seu 4° ou 5° escrito. Eu torcia. Eu era o Galvão Bueno do casal adolescente. Mais duas ou três escritas no caderno e o beijo viria.
O beijo veio. Um beijo que foi o mesmo que eu dei há doze anos atrás. Elas fazendo gracinhas e fingindo resistência e eu, o idiota imperdoável, querendo que aquele beijo fosse O Beijo.
Foi demais pra mim. Eu paguei a conta e voltei pra casa. Eu era ele e éramos parte de uma farsa eterna: o mundo se repete e a gente (eu/você) faz parte desse vídeo-game canhestro e sem surpresa.
Foi um tiro no peito. Foi a tristeza mais velha e mais bonita.
Senti saudades da inocência tremenda. De achar que O Beijo existe. De trocar escritos em cadernos como forma de novas conquistas. De usar o que se leu como estratégia de fodas. De não se incomodar com o jogo das fêmeas. De achar que as coisas aconteceriam puras e simplesmente porque deviam acontecer.
Doze anos atrás.
Doze anos agora.
Não posso nem reclamar.

26 de abril de 2010

de cá pra lá


  • A gente inventa nossas fugas e por isso somos adultos. Sim, mentir pra si mesmo é decente e maduro. M-a-d-u-r-o, eu disse. E o grau de maturidade é definido por duas coisas: a elaboração da mentira e a consciência de quem mente. É isso: o adulto ideal é um mentiroso convicto. (Nota. Convicção: capacidade de elaborar uma crença, um modelo, um ideal.)

  • A merda tá ali e é velha. Não dá pra não notar. A merda fede e é marrom. Você conhece a merda. Não há novidades, mas, mesmo assim, você fica puto quando pisa na merda. A merda melando seu sapato. A chatice de limpar a merda do próprio sapato. E o inevitável sempre e sempre: a merda fede.

  • O erro da psicologia é a busca pela verdade. É em nome da verdade que as grandes cagadas são feitas. Aquele que diz "sou sincero" acha que "ser sincero" o legitima a dizer o que quer que seja. O Sincero esquece que nem todos querem ouvir o que ele diz. O Sincero é uma besta que se julga esperta, um egoísta que fala mal dos egoístas.

  • Pra ser Sincero, eu digo: - queria ser o Mandrake. Fazer flexões pela manhã, desvendar casos, ganhar dinheiro, comer todas as sobrinhas-Mader e beber vinho toda à noite. Ter nome e pica enorme. Esquecer das fulanas com as quais se trepou por mais gostosas que sejam. Ser Mandrake e ser invenção: o mundo correto e preciso de um roteiro bem escrito.

  • Os cretinos sempre sentem saudades. Sempre dizem: "muitas saudades". Os cretinos são os cretinos e também falam: "eu te amo" e " Deus te abençoe". Eles acreditam em Deus e no amor. Os cretinos são simpáticos e generosos. Eles são convincentes, os cretinos. Entendem tudo, são um poço de compreensão. Os cretinos são os melhores amigos de uma dúzia. São perigosos, os cretinos.

  • Negar uma mulher bonita sempre será uma tristeza profunda. Só as feias não entendem o apelo que a beleza tem. Mas há as contas matemáticas: lindas e tristes, normais e radiantes, feias e sem jeito mesmo. A mulher ideal é bela e radiante. O homem ideal não existe: é, no máximo, lindo e burro. Mulheres são exigentes. Exigentes e tristes, eu insisto.

  • Cagar regras é um prazer sem fim. Sentir o cuspe na cara não chega a ser uma surpresa. Meu engano e minha mentira: eu mesmo - com mais ou menos tolerância. Eu me acho, claro está.

  • O telefone toca, mas eu não atendo. Vai que eu sei quem é que me liga. Eu me protejo e tenho as minhas fugas. O Aldir Blanc entende. Melhor o álcool do que o erro. Um versinho bem feito e o milagre tá na mesa. Só assim só. Eu mesmo até o fim.

24 de abril de 2010

relatinho.

Quero comer franguinhos como D. João VI. Invisto pesado e faço o circuíto: acordar, banho com direito à alongamento, roupa limpa, mercado e hortifruti. Hoje é sábado e o dia deu em cinza.
A promoção do whiskey vale a pena. Minha garrafa de bourbon tem apenas duas doses e minha pança cresceu com as cervejinhas novamente. Quanto mais longamente inspiro, mais minha pança estica e brilha à luz do luar. Luz do Luar, eu disse.
O mercado é sempre feio. Gente feia adora promoções. Eu estou entre eles e me sinto péssimo. Arranco o whiskey-promoção da prateleira e me dou por satisfeito. Eu quero é o Hortifruti.
Hortifruti sábado é o paraiso na terra. Ou, pelo menos, em Botafogo. Mulheres lindas, ar condicionado na medida e um tédio que é quase poético. Tomo meu suco-almoço e vou pra batalha: alface, tomates, ovos e coxinhas de frango. Coxinha de frango light, diz a embalagem. Na verdade é apenas frango sem pele. Deus abençoe o Hortifruti.
Estou precavido e com sorte. Trago rosbife, empadão e ainda descolo um livro do J. Genet por 5 pilas. Deus abençoe o Hortifruti, eu repito.
Já em casa eu organizo as coisas. Deixo o franguinho Dom João VI temperado e vedado no saquinho do Hortifruti roubado especialmente pra isso. A casa é minha e moro sozinho. O telefone decido se atendo ou não. As músicas são as mesmas e o whiskey é novo. Tenho meus arquivos abertos e também meu blogue. Até amendoim, eu tenho. Eu sei sobreviver, ó pá. Eu vivo até que bem, ó pá.
O whiskey desce delícia e azeitado na garganta. Minha reza anti pança em formato de lua. Lembro do outro dia e coloco o corpo pro lado, solto um peido longo e fedorento. Sou um pequeno rei, ou buda - se pensar na pança. Tudo certo.
O franguinho estala no forno e, rapaz, o cheiro tá que é uma beleza. Comerei com a mão que é o jeito certo de comer franguinhos. A Glórinha Kalil que disse...a Glórinha Kalil...bem que comia ela. Coroa, Milf, Mature. A pornografia na internet é uma benção. Pra você, Glorinha.
Lavo minha mãos e desligo o forno. Agora é só deixar o franguinho dourar. Sabadão na cabeça e tudo se arranja pelo telefone: drogas, prostitutas e até amor de mãe.
Mais um motivo pra não usar o telefone.
Eu sinto o cheiro. É desses que nos ativam a memória. Como o cheiro salgado da casa da minha avó ou como o cheiro de cachorro da casa do meu primo. Não é um cheiro bom. É, antes de tudo, um cheiro estranho. Nem ruim é.
É como se fosse possível fazer adivinhações. Não por milagres ou misticismos, mas por cálculos. Euforia velha. Em dois ou três minutos há o vislumbre enorme. Alimentar vislumbres é o cheiro do cachorro molhado.

23 de abril de 2010

Meu puta-merda é minha oração.

Hoje senti raiva o dia inteiro. Cariocas malditos e folgados. O cretino não faz o que a loja dele diz fazer porque está sem saco. O cretino 2, indicado pelo cretino 1, erra quando diz "tá tudo resolvido, e-mail encaminhado".
Rio de Janeiro do caralho. Por um lado a glória de ter um povo que tá se fudendo pra realidade e suas funções. Por outro, a merda de ver algo simples e rápido se tornar complicado e lento.
E quem explica? A outra opção é a eficiência Paulista...
Deus! Mundo de merda e meu ódio, graças, é real e palpável. Eu odeio. Eu não me sinto mal por odiar.
Então eu leio. Organizo a merda pela leitura. Mas, por ironia, me toco que to lendo o que tenho e não o que quero. Encomendei um livro pela net que não chegou. E ler obrigado é ler obrigado. E quase viro vítima de mim mesmo. Mas, graças again, me toco: com um mau humor ancestral e não devo me levar à sério.
Tudo certo. Eu bebo, mas o whiskey tá no fim. O idiota do Coimbra diz que "A Grande Família" é mau escrito. Eu protesto e digo "tá falando merda". To de mau humor e idiotices não passam impunes. O mau humor é a falta de tolerância, é meu caga-regra.
Então foda-se. Crianças sempre serão crianças independente da idade que tenham. Burros reclamaram da falta de sentido como se sentido houvesse. Mulheres serão sempre melhores no meu pensamento do que no mundo real. O whiskey sempre acaba na hora errada e Nova Iorque é uma cidade e não uma solução.
A merda do mau humor é isso. Nada de nada. Sem piedade pra mim ou pros outros. Somos tristes e falhos. Procuramos soluções que não existem e inventamos sofrimentos pra se sentir vivos. Circo bizarro e ódio.
E eu também. Eu existo, não? E, por isso, eu reajo e causo reações. Circo bizarro e triste, melhor dizendo. Meu saco tá na lua e crianças idiotas querem que eu brinque de roda. Mas eu to de mau humor e sei que não sou minha melhor companhia.
"dia sim
dia não
idiotas com alma
e coração.
dia sim
dia não
topar tudo
é não ter culhão."

21 de abril de 2010

Perdi.

Aquele imbecil de sorriso largo era antes de tudo um simpático. Falava bem, o canalha. Enrolava as gurias com champanhe e as comia todas. O cu, principalmente. O imbecil preferia o cu à xotas. Era como ele se sentia exclusivo. Buceta pra todos e cus pra ele. Vai entender?
Eu pensava "foda-se". Cus e bucetas, foda -se. Sou um tipo de viadinho peculiar. Meu lance são almas. Isso: almas. Futuco bucetas e, eventualmente, traço cus. Mas, cá comigo, penso como o bom católico que sou: quero almas.
A verdade é que há muito que as evangélicas superaram às católicas. Elas são mais intensas e mais culpadas. Uma evangélica gozando é o próprio inferno, até de demônio lhe chamam. As católicas, Deus, as católicas. Eu tive uma boa católica. Surpreendente, eu confesso. A gente gozava junto como se gozar junto fosse simples. Eu até achava que era. Foi só com evangélicas e loucas em geral que eu vi que não. Gozar junto é coisa de santa. E santa só sendo Católica - uma pena já que elas andam perdendo espaço pras evangélicas.
Devo admitir que o imbecil era um especialista. Entupia as gurias de álcool e fingia que tinha bebido bastante. Daí tentava umas coisas gratuitas que, pra minha surpresa, davam certo.
- você pegou na minha bunda antes de me beijar, é isso mesmo?
- desculpe, eu tô muito bêbado e sou m-u-i-t-o louco...
Canalha, eu disse. Canalha e competente. Deus! Eu não posso competir com essa gente! Eles são fortes! Eles não se importam! Eles preferem cus à xotas e eu quero almas! Deus! Me ajuda, Deusão! Sou Católico, poxa...
Mas Deus tem lá suas coisas pra resolver e o imbecil era um gênio, confesso. Não é simples ser imbecil. Há que mentir muito pra si e pros outros. Há, até, que acreditar em Deus e transcendências em geral: as evangélicas que gostam de champanhe lhe oferecem o cu como recompensa. Puta jogada invejável.
Então acabei voltando pra casa sozinho. Perdi, eu assumo. O imbecil é mais apto pra essas coisas. Deixa elas falarem e responde sempre e sempre: "eu entendo, eu entendo".
E o imbecil, a gente sabe, é sempre sincero.

20 de abril de 2010

meses atrás

(do arquivo - Maio de 2009)
Inferno quente. Olho pros lados e nada vejo. E eu sei lá qual é o sentido dessa merda toda.
Queria uma estátua. Eu e minha pança feitos de bronze. Ficaria debaixo do sol e da chuva com a mesma indiferença impassível: o sorriso torto na boca e um copo cheio de mijo frio.
*
Lá fora minhas sobrinhas correm pra cá e pra lá. Elas sentem um tipo de desespero que já senti: fazer o que for, aproveitar ao máximo o tempo que existe. Sinto uma saudade tremenda desse desespero extravasado, dessa busca cega, dessa loucura inocente. Porque hoje eu não acredito em nada disso e desconfio da inocência e do desespero.
*
Suborne fracos, feios e pobres. Todos os solitários numa ciranda belíssima e inútil. Aquele coletivo de tristes cantando a música mais feliz do mundo. E todos sóbrios e cheios de si, dizendo que o nunca não existe e que o pra sempre acontece em todas esquinas para quem tem olhos pra ver e ouvidos pra ouvir. Como se pros homens existir bastasse.

18 de abril de 2010

Domingo de sol, casa vazia e solidão satisfeita.

Sou eu mesmo e meu peito urge. Estalo a cerveja antes das duas da tarde. Piano na vitrola e Aldir Blanc cheio de dor cantando coisas que eu sempre entendi e entenderei.
Eu estou aqui. Eu sou eu. Eu e minhas repetições. Nelsão faz cada vez mais sentido.
Ostento o arroto, acendo o cigarro e vejo meu pau mucho dentro da cueca. Não há lamentos porque não houve enganações, me diz o anjo bom que fica no meu ombro esquerdo. (E o anjo mau onde foi parar? Tão melhor companhia que o anjo bom...)
Domingo na cabeça e cerveja gelada. 3/4 de uma garrafa de whiskey e o desejo vaidoso de despertar meus demônios - amigos fiéis e imprescindíveis que sempre me lembram da existência do sangue. Ah, o sangue... Estar vivo é ter demônios.
Meus arquivos estão abertos e minha pança está inchada. A cerveja, a maldita cerveja, tirando minha fome e estufando meu abdômen. Nessas horas, quando olho a bola que é minha barriga, penso: nem se precisa de muito pra viver. Cervejinhas e delírios de grandeza. Só os milagres interessam.
No prédio há cheiro de comida. Carne assada e macarrão seria o prato perfeito. Talvez um frango de padaria lentamente distrinchado pela mulher amada. Ela reclamaria que eu nunca saio e eu lhe diria eu te amo. (A vida boa e simples também é um delírio de grandeza, Maria...)
E eu aqui. Ouvindo música alta e bebendo. Lembro da minha infância. Meu pai fazia isso. A gente acordava com a música alta e ele semi-embriagado. Minha mãe na função almoço ouvindo as histórias e palpites do meu pai. (A vida boa e simples de novo, Maria.) E eu e minha irmã, adolescentes e burros, achando tudo aquilo besta - como se tudo aquilo fosse só um domingo qualquer. E não era um domingo qualquer. Era, na verdade, o único domingo que existe. O domingo da infância e do passado, ancestral e bom e simples. Como se bom e simples fosse realmente simples.
Até porque nessa época eu não sabia da tristeza velada que existe em todo ser humano. A vida fatal, o tempo fatal, as dores que se acumulam com mais ou menos sabedoria. Eu não sabia que o tempo agia e que o vigor diminuía. Que perdemos vitalidade, mas ficamos mais espertos. A inocência não volta. Inocente aos 30 é estupidez.
É pela perda da inocência que criamos utopias e romantismos. É nossa resistência formulada, racional e articulada. Repito: não há lamento porque não houve engano. Meu pai, minha mãe, minha irmã e os domingos: nós temos o tempo, nós somos o tempo.
Repito o disco do Aldir e preparo a 2° dose de whiskey. Meus demônios estão em paz. Para minha glória e desgraça meus demônios estão em paz. Lembro do Beckett falando do tempo. Era bonito pacas e é uma pena eu não ter isso de cor.
Domingão, álcool e música alta. Eu gosto do que eu posso ter. A vida boa e simples, passa por aí, não é Maria?
Gostar do que se tem é, às vezes, um milagre.
Por tristes ironias e gracinhas do mundo, o post abaixo ganha novos sentidos.
Foi um post programado e agora que está aí não há motivos pra tirar.
Porque é isso mesmo: não há motivos.

Atriz de Infantil.

Ela é loira e grande. Tem as ancas largas e é levemente estrábica. Olhos claros. Desde a primeira vez que que a vi a achei tesuda. Tem sardas no rosto e as ancas são realmente muito largas, quase - eu disse quase - desproporcional ao conjunto. Se eu não me engano, ela tem 33 anos - o que, enfim, só a torna mais interessante.
Desde que nos conhecemos, nos cumprimentamos. Quer dizer, na verdade não nos conhecemos. Já estivemos na mesma mesa de bar 3 ou 4 vezes. E nos encontramos por aí: em filas, bancos, ruas e mercados. E sempre nos cumprimentamos. Somos muito educados.
Uma vez, numa mesa de bar, ela gostou da minha piada. Um treco besta que falei sobre a areia de Ipanema. Ela mora em Ipanema. Riu das minhas piadas que falam mal do mar sujo do Rio de Janeiro, disse até que nunca ia à praia no Rio de Janeiro.
Ela sempre está acompanhada por amigos gays e modernos. Sempre tenho a impressão de que ela se sente meio deslocada. Não por estar com amigos gays e modernos, mas porque ela faz menos barulho do que eles. Nas mesas de bar que partilhamos foi assim: amigos gays e modernos e falantes, e ela - que eu nunca paro de olhar - várias vezes com o pensamento longe e a cabeça baixa. Um charme, uma coisa. E também as ancas enormes.
Ela é uma dessas mulheres que eu acho que me dariam. Não sei explicar por que. Mas acho que ela me daria. Tenho essa impressão com algumas mulheres. Penso em segredo quando as vejo: essa mulher me daria.
(E isso não quer dizer que essas mulheres realmente me dariam. Quer dizer apenas que eu acho que elas me dariam. E como eu não acho que todas as mulheres me dariam, tá tudo certo.)
Na última mesa de bar que dividimos fiquei olhando pra ela ostensivamente. Estava na vibe-vaidosa queroqueelavejaqueeuaestouolhando. De modo que ostentei e ostentei. Mirei as ancas, o decote, a cruzada de pernas e até a boca. Ela notou e eu me dei por satisfeito.
Pensei em segredo novamente: essa mulher me daria.

17 de abril de 2010

blogueiro, não escritor.

essa coisa sem fim e essa ternura. escrevo por hábito e mania. ah, seu eu tivesse culhão de bater no peito e dizer: sou um escritor. como o Mirisola. Mirisola rocks e Deus o proteja. ter culhão é pros poucos que devem ser preservados. mas deixa pra lá.
atualizo e subo meu blogue. coisas pra dizer, mas sem a coisa-verve que faz escrever parecer um milagre. mas teimo mesmo assim. tenho blogue. sou blogueiro. não tenho culhão de ser escritor. não tenho culhão de dizer: sou escritor. culhão e talento, fique claro. como o já citado e deixa de novo pra lá.
então digo. assim: a água bate na bunda. é assim. uma mulher esperta faz isso com ele. ele outro, não eu. ele sabe. a fêmea fatal lhe dá letra precisa e ele sente o arrepio inteiro: da fêmea, da novidade, do fim, do desafio, do risco, da possibilidade do mal, etc. essas coisas. ele sofre. do jeito dele que conheço e posso afirmar: ele sofre. sai rápido e sente o peso da vida. me abandona no meio da cerveja. ele tá certo. ele frita e deve fritar. que frite em paz, eu insisto.
outra: no dia seguinte vi que meu pau sangrou. isso mesmo: sangrou. após 28 anos de convivência duras e moles, ele sangrou pela primeira vez. notei depois. pela cueca manchada de marrom claro. pensei: essa moça me faz o pau sangrar. questionei: o que isso significa? quem é a fêmea que sangra teu pau pela primeira vez? é rainha? é diaba? é louca? é xota-rainha? é o quê? a mulher que sangra meu pau devia ser um título de um belo conto de um puta escritor da pesada. meu pau sangrando. a água do chuveiro causa uma ardência mais dolorida que as ardências passadas.
eu e meu amigo. roupas diferentes, danças diferentes e fêmeas diferentes. elas sempre. terríveis. cheias de coisas que nem eu nem ele ativamos. elas loucas. elas sempre loucas. loucas porque é difícil entender e fácil se encantar. elas lindas. choros e desesperos em peito seu. eu e meu amigo e nossas dores. não se fala sempre, mas nunca deixa de ser entendido. ternura, casamentos, filhos e outros troços.
a vida arreganhada e estranha. sem medo e cheio de medo. porque é o que é, porque reconhecemos as grandiosidades, porque somos dois e, mesmo sem falar, entendemos que há dores intranponiveis.
cada um na sua e um zelo comum e cristão: desejar o bem do próximo.

15 de abril de 2010

quando ela me deixou.

Era um soco na barriga e um beijo na boca. Uma delicadeza de outra vida. Ela me falava: - sou Kardecista, sabia? Eu não sabia, mas dizia "claro, claro".
- Nosso amor é de outra vida, bonitão.
Eu concordava, falava '"pode crer" e coisas do tipo. Ela era radiante, admito. Há beleza na burrice. Tão fácil amar assim. Com uma burrinha gostosa como ela eu casava e seria feliz. Até concurso pro Banco do Brasil eu faria. Talvez me mudasse com ela pro interior do Paraná.
Ah, o amor. Além de me chamar de "bonitão" ela me fazia massagem nas batatas da perna. Dizia que eu trabalhar em pé era ruim pra minha circulação.
Kardecista, fitoterápica e mais duas religiões que eu esqueci o nome. Tão burrinha e perfeita: os peitos bicudinhos eram praticamente rosas, embora um pouco gastos.
É difícil entender porque o amor acaba. Acho que a culpa é do mundo. O mundo é cruel. Ou então é culpa dos espíritos obsessores de que ela tanto falava.
- O álcool deixa teu canal aberto pra esse tipo de espírito, sabia?
- É mesmo?
- Lógico!!!!
Quando a gente terminou ela me disse "Deus te abençoe". Fiquei triste, sofri, gastei dinheiro que não tinha e até cogitei ir trabalhar nos EUA. Ganhar em dólar e mudar de ares. Mas desisti porque minha mãe ficou doente e fez chantagem emocional. Mãe é fogo, a gente sabe.
Ontem, no meu aniversário, ela me telefonou e disse que era uma pena a gente não ter dado certo. Eu concordei. Uma pena. Tão gostosa e safadinha. Até chorava quando a gente transava, veja só.

14 de abril de 2010

lamento

Risinhos na boca. Sem nada demais. Ela mulata. Ela maravilha. Eu invento e berro. E chato e chatinho. E também o tédio como monstro. Prefiro outras coisas. Os parques, as maçãs carameladas e a ternura torta. Sincera. Dia azul e longo no Rio de Janeiro. Dia bonito. Mas. Quem de quê? Chatice e coisas velhas. Meus amigos me acalmam. Falar bem e ser participativo. Sentir ânimo com fantasmas. Ai, Deus. Ai, eu. Ai, o tempo passando pra sempre e sempre. E até depois da minha morte. Tempo mau.

13 de abril de 2010

relatinho, afinal.



Sou influenciado por uma porrada de coisas. E isso é o que é. Nem bom nem ruim. Coisa plana e ululante. No avião penso que vou morrer. Sempre imagino que o avião vai cair. Voar é errado, eu repito.


Em casa e com foie-gras. Whiskey também. Deus abençoe papai e mamãe. E as sobrinhas, a irmã e o cunhado. Os amigos também, como não? Afinal, Deus é Deus.

Voltar pra suas origens é sempre um treco.

Me pego pensando...Me pego com cálculos loucos pra minha vida e minhas coisas...Sou um tipo que me ilude, eu sei. Gosto do delírio e embarco.

Penso no caga regra que diz não perca tempo. Lembro que em Inglês é não desperdice tempo.

Faz mais sentido em Inglês, não faz? Até porque tempo só se perde.

Então volto, então isso: quero meu pau reto como seta que indica o caminho. Deus! É muita jogada aí! Eu jogo também, mas confundir as coisas é o tal desperdício de tempo. E, bem, mesmo sendo eu mesmo, eu digo: há limites para crianças tristes.

(Ah, o mal do trocadalho. Aramico me entende, eu garanto. E Bill também.)

Mas volto. Nem nada de novo e nem nada de velho. Eu mesmo após 4 dias em família. As loucuras de onde vim. Origem e caixão. Família: a grande invenção para o bem e para o mal. E claro está que tenho sorte: minha família é legal.

(Minha sobrinha perguntou pra minha irmã se nossa família é normal - o que prova pra Fernandinho que minha família é legal.)

E óbvio que isso não quer dizer muito. Até porque há chatices profundas e antigas ali dentro. Mas como moro longe aproveito o privilégio e deixo as chatices de lado. Foie- gras e Whiskey, vejam só.

"Família que fuma unida permanece unida", disse pra San que concordou e entendeu. Até riu, mesmo eu achando que ela anda triste. E minha mãe achou também. Até porque faz sentido ela estar triste.

E meu pai, canalha e mentiroso profissional, falou pra minha sobrinha mais nova que a Preta vinha também. A Preta, veja só. Ela mesma, A Preta. E, buscando as crianças na escola, tomo um choque com a Kauana que pergunta: - Cadê a Preta?, olhando pros lados. Eu pergunto: - que Preta? e ela diz: - A Preta!, como se só existisse uma Preta no mundo. Meu pai ri e lembra da mentira que havia contado e esquecido. É fato: meu pai tem humor.

Piada boa pacas, admito.

Até comento com ele: - A Preta casou, sabia? / - É mesmo? / - É, vi em foto de orkut amigo comum / - Rs, esqueci que tinha dito isso pra ela / - Bela piada, bela piada.

Em piadas como essa eu entendo quem eu sou e por que eu gosto do meu pai. Meu pai, grande cara - mesmo que mais bundão depois da diabete.

(ok, ok, eu confesso: ele deve ler isso e não resisti. é o tipo de piada que faz com que sejamos pai e filho. e apenas isso: pai e filho. nada de amiguinhos: pai e filho, eu repito)

E houve Pernil no sábado e Feijoada no domingo. Isso sem contar a sexta feira regada à lanches, pizzas e crianças.

Minha mãe discretamente satisfeita por ser a matriarca da casa. A Xota-Rainha do seu reino na Vila Hauer - digo sabendo que ela deve ler e ficar 'chocadinha' por eu a chamar de Xota-Rainha.

Tudo certo. Mãe e Filho. Pai e Filho. Irmã e Irmão. Cunhado e Cunhado. Sobrinhas e Tio.

É esse meu esforço: não perverter as relações de sangue por intimidades bestas como minha mãe saber que eu já fumei maconha e meu pai saber que já cheirei cocaína.

Tudo certo, eu repito.

Meu sangue correndo e lembrando de onde veio. É apenas disso que se trata. E nem quero pensar nos imbecis que acham que vinculo de sangue não quer dizer nada. Imbecis, eu disse.

Minha alegria promovida por foie-gras e whiskey. Que seja. Não é o que parece. Foie-gras e whiskey é apenas modo de falar. Símbolo para imbecis. Para imbecis.

E imbecis, definitivamente, não me interessam.

12 de abril de 2010

fosse ressaca.

A feijoada provoca peidos longos e prazerosos. Há precisão nesses peidos. Me pergunto se é da precisão que surgem os grandes prazeres. Seja nos peidos longos, nas caminhadas por montanhas ou no sexo em sintonia perfeita. A precisão e a faca afiada, as mãos que não tremem, as apostas enormes e os delírios que não são relativizados.
Meu saco são duas bolas que se arrastam ao ouvir as coisas velhas de sempre. Discursos articulados e cheios de termos rebuscados. Impressiona-se idiotas e se dança como se a noite não tivesse fim. Mas a noite tem fim.
Então despejo minhas raivas aqui. Blogue-Terapia é o nome da jogada. E apenas porque vejo o que vejo: mentiras antigas promovendo encontros mofados. Pega bem sofrer por aí. Pega bem gritar no escuro. Espantar o terror e achar a vida muito vibrante. Como quem perfuma as merdas e nega fedores. O nariz limitado por achar tudo muito agradável.

11 de abril de 2010

apenas três.

  • As crianças não param de correr. Têm pernas e correm. Aquela vitalidade que quando não irrita, encanta. Até os cachorros fogem delas. Energia excessiva e explosiva. Amor e ódio em segundos. Vitalidade, eu repito. Capacidade de reagir à tudo. Falta de filtro: infância. É uma pena não poder voltar à ser criança.
  • O ar gelado de Curitiba entra mais compassado. A ponta do nariz, fora das cobertas, começa a gelar. Enfio o nariz dentro das cobertas. Lembro de uma coisa e meu pau endurece desafiando o frio. Mexo nele, mas não insisto. Melhor dormir.
  • Sexta Feira de Sanduiches e Pizza. Eu, meu pai e as crianças. Elas de uniforme da escola. Elas falam, elas não param de falar. Crianças, shopping, fila e sanduiches. Todos dormem à tarde. É um tipo de paz. É um tipo de mistério.

8 de abril de 2010

ela disse mais ou menos assim:

- eu não quero ser feliz. felicidade é um saco, um tédio. eu não. feliz fico chata, sabe? achando que tudo é como deve ser. vê se pode? prefiro bem mais a tristeza. ah, a tristeza. ela sim, cheia de coisa que me faz pensar. fico triste e contemplativa, sabe? entro numas, faço anotações e até telefono pros meus parentes do sul. tristeza é mais divertido, não é? faz a gente andar e pensar. eu ando um bocado quando tô triste, sabia? dô um monte de voltas, vou na praia e até na lagoa. até de noite eu ando. mas isso só quando tô triste. porque feliz, ah, feliz, é um saco, eu fico só me amando e roendo as unhas, achando que tudo tá bom como tá. um absurdo, não acha?

7 de abril de 2010

aquela beleza toda.

meus delírios são meus
Então existe um inferno onde é possível dormir. Torturas lentas e agonias profundas. Sem motivos para reclamar. O inferno às vezes é apenas o inferno. O desenho na parede é cheio de imagens e cores - como os azulejos do banheiro da casa da minha vó que formava rostos sinistros e íntimos.
O sangue também forma desenhos. Esparramado e facilmente confundido com sujeira por olhos mais desatentos. O sangue-ninho e colo. O sangue que esteve no primeiro e também no último dia. Coincidências infernais e delicadas, gracinhas do mundo e flores no asfalto.
O som começa a sair. Mais claro e mais próximo. Um som que quero conhecer e que é mais velho que o mundo. Um trovão que treme entre os lábios ainda fechados.

6 de abril de 2010

Dia de chuva e caos no Rio de Janeiro. Acordei, sai com pressa e perdi a viagem. Tudo certo, assumo minha inocência. Algum ódio matinal pela perda de tempo, e pior - quando acordei tava tendo um desses putas sonhos fodões. Essa noite foi toda de sonhos fodões. E às 3:34 me ligaram perguntando se era o telefone da Cleide. Cleide, acho. Resmunguei apenas: tá maluco? Agora, informado do caos, penso na Cleide e espero que já esteja em casa.
No maldito facebook pululam os clichês: "a culpa é do povo e dos lixos nas ruas", "galera, vamos refletir e assumir que somos co-responsáveis" e "isso que dá jogar lixo nas ruas". As explicações bestas e velhas. Automáticas. As pessoas falando a mesma coisa que o prefeito fala pra justificar sua omissão. É um circo. Uma bizarrice. Gente transmitindo consciência pelo facebook é quase um abraço na Lagoa: inútil, porém chamativo. E o que mais me impressiona é o como isso é repetido de boca cheia, como se fosse uma descoberta, uma eureca, uma verdade. Queria ter culhão pra responder à todos que escrevem essas baboseiras. Seria cínico: "olha que engraçado, o E. Paes falou a mesma coisa." ou "realmente, o único culpado é o lixo nas ruas. Sem lixo nas ruas o mundo seria perfeito e feliz."
Mas não tenho esse culhão e sou discreto.
Na cbn a merda velha e gente mandando 30 mil mensagens que dizem exatamente a mesma coisa. O inferno, mas o inferno conhecido e sem surpresas. O inferno flat, o inferno lounge. O diabo não existe e é apenas um boi vermelho de patas invertidas num desenho animado na TV Xuxa. Nem medo dá pra ter.

Blogue, é?

A fêmea ideal é a única que importa. Todo o resto é arremedo e tentativa de conserto. Ela não existe, mas quem precisa da realidade?

  • Uma vez por semana ela te acorda com uma pequena xícara de café. Sem pão, sem frutas. Apenas ela sentada na beira da cama com uma xícara de café, dizendo: “- ta na hora, meu amor”.
  • Pelo menos a cada 6 meses há um boquete do nada. Ela começa a te chupar sem explicação. Você pode estar dormindo, vendo o sagrado futebol ou apenas distraído. Quando você pergunta “Que isso?”, ela apenas diz “Aproveita”. Você goza e ela ri cínica e poderosa.
  • Em uma noite fria e de chuva, ela lhe oferece uma sopa. Diz: “caprichei no bacon que sei que você adora”.
  • De manhã, você cheio de mal humor nota que ela quer falar ALGUMA COISA. Você pergunta “o quê?” e ela apenas fala “Depois te conto”.
  • Após uma briga triste e destrutiva, ela confessa: “ Eu tava de TPM, desculpa.”
  • Ela manda uma mensagem por celular. Escreve “saudades”, você não responde e ela nunca mais comenta sobre isso.
  • A cada 3 meses ela elogia seu pau. Fala que ele é o do tamanho ideal. Nem grande nem pequeno. Perfeito pra vagina dela. “ A curvatura perfeita”, ela ressalta.
  • Depois do restaurante, ela diz que você tinha razão ao discutir com o garçom.
  • Ela consegue te chamar de “meu homem” sem ser piegas.
  • Acha que todas suas amigas lhe dariam apenas porque ela te dá.
  • Ela diz “eu te amo” como quem conta um segredo.
  • No meio da mais fantástica foda, ela te xinga e sente raiva. Você entende o elogio.
  • Uma noite, depois de gozar muito alto e com muitos gritos, ela diz: “ ai, não sei o que aconteceu comigo”.
  • Ela lê seu blogue e nunca comenta. Deixa você escrever o que quiser sem se sentir afetada.
  • Ela fala em filhos e casamento antes da hora e nem nota que falou disso.
  • À tarde ela te liga e pergunta se você ta ocupado. Conta um monte de coisa sem sentido e, antes de desligar, solta: “- que bom que eu posso desabafar com você”.

5 de abril de 2010

outro coelho.

Almoço de Domingo. Casal de amigos e as respectivas mães. E eu. Me sinto muito bem, obrigado. Bacalhau de mãe é sempre bom. Mesmo de mãe alheia. A gente come e bebe. Bebe mais do que come e fala mais do que bebe. É um tipo de equilíbrio se se pensar bem.
Eu estou lá e me sinto ótimo. Lembro dos cretinos que me acusaram de não saber lidar com o mundo e, secretamente, me sinto vingado. Eu lido com o mundo, mesmo sem gostar de tudo ou todos eu lido com o mundo.
Conversamos sobre tudo. Quase impossível dizer sobre o que. As mulheres têm mil assuntos e eu nem ligo pra futebol. Fico com elas. E assuntos e histórias se multiplicam. Lembro dessa coisa de 'contar causos' e chego a conclusão que tudo é mesmo muito antigo. Gente se reúne pra comer, pra beber, pra falar. Bichos que precisam de bichos - nosso zoológico diário.
Fico mais tempo do que pensei e volto com uma bela quentinha pra casa - delicadeza empacotada. Ganho, de brinde, uma caixa de chocolate. Domingo besta e lento - papos que não teria entre os chatos cults de teatro ou não. Bem mais humano e simples. Sem forçar barras e sem TER que ser interessante.
A tristeza e a beleza do mundo diante dos meus olhos. Os dois: a beleza e a tristeza. Sem achar um mais importante, ou melhor, do que o outro. A gente conversa e se entende. Todo resto, agora, não faz sentido. Novamente a paz possível e suas vozes tranquilas.

4 de abril de 2010

Via Sacra - Sexta Feira da Paixão.

Tudo certo. Com o tempo vou entendendo o óbvio: o que não é dito e o que escapa é mais importante do que todos os discursos. Os meus e os dela. Uma sintonia mais fina sendo descoberta. Com mais gargalhadas, menos ataques e pecadinhos confessados.
Então atacamos em dupla: noite quente, álcool no sangue e ela quer se mexer. Eu topo.
Sexta Feira Santa: da Figueiredo até à Prado Júnior.

- vamos num inferninho?
- vamos num inferninho!
Os seguranças explicam tudo. Quanto, como e deixam entrar pra dar uma olhadinha. Ver as meninas, como a casa tá, essas coisas. É justo.
Um esclarece quando pergunto se haverá shows: "- sabe como é, feriado religioso, as meninas pedem pra não vir".
Faz sentido. Putas são católicas. É uma das coisas que as tornam atraentes: peitos enormes, tangas que mostram a bunda, saltos fatais e o indefectível crucifixo pendurado no pescoço.
Decidimos por um que ela gostou mais. Achei que ela gostaria daquele. O charme de ser subterrâneo, mais gente do que os outros e o preço de sempre: 30 pratas com direito à 2 drinks ou 3 cervejas. Vários Strips e a Drag Paulette às 2:30.
Havíamos combinado:
"- tu vê lá, hein? Aqui somos um casal. De anos. Nessa noite somos noivos. Dá a mão e fica do meu lado. Não vai entrar numas de dançar que eu vou embora."
"- e você não fica gritando u-hu e olhando com cara de cachorro pra elas. Me respeita."
"- bater palmas pode?"
"- pode."
Quando acaba o 1° show ela me sai pra fumar um cigarrinho. Diz pra eu ficar ali guardando nosso lugar de frente pro palco xadrez. Rosno baixinho.
Vejo as meninas, as pessoas, penso que fim de semana em puteiro é coisa de amador: muitos punheteiros de 18 anos. E também gente como nós: um casal seríssimo e noivos. Noivos, eu repito.
Ela volta e bebemos. Minha vez de fumar um cigarrinho.
"- vê lá, hein?"
Fumo tranquilo. Minha noiva é uma garota legal, eu penso. Tá aqui comigo aqui e tem uma bunda que nem comento. Minha noiva é uma garota legal e gostosa, eu concluo enquanto desço as escadas.
A gente sabe: o mundo é cheio de gracinhas. Uma puta-sapatão tá na nossa mesa conversando com a minha noiva. Até faço minha cena, mas a puta-sapatão é puta-sapatão mesmo e nem me dá trela. A puta-sapatão é pegajosa e minha noiva tá se divertindo. Paciência: me molho na chuva.
Milagres acontecem e estamos só nós 2 na mesa novamente. Ela deve ter notado as gotas no meu rosto:
"- falei pra Suellen que eu tava aqui com meu marido, viu?".
Recebo sua ternura e ficamos por ali. Ela bebe gin-tônica agora e tá mais carinhosa. A noite está ficando perfeita - lenta e progressiva. O show da Drag Paulette é verdadeiramente divertido. Standy Up Comedy de cu é rola. Paulette sim entende de humor: piadas que não fazem concessão à ninguém, nem à ela própria, traveca velha e decadente que toda madrugada tira a maquiagem e pega o ônibus pra S. João de Miriti.
No show com 2 meninas minha ex noiva e atual esposa sai pra fumar outro cigarrinho. Depois entendo que era pra me deixar mais à vontade. O Strip delas é bem estranho. Uma chupa e outra é chupada em variadas posições: sentada na cara, pernas pra cima, enrolada no "pole", sentada na cadeira, etc. Ela chupa mal e a outra finge mal. É estranho e quase triste.
Volta minha ex noiva e Paulette senta conosco. Conta histórias e diz que no aniversário dela há um show bem mais elaborado: convida amigos e organiza as entradas e intervenções. 15 de maio se não me engano. Ficamos de voltar.
Minha esposa dá sinal de vamos. Eu entendo, nos despedimos da Paulette e, sei lá como ou porque, vamos parar na areia de Copacabana. Temos um latão de Antartica. Eu sento e ela se deita. Falamos e penso que agora ela gargalha bem mais - um dia de cada vez.
Voltamos pra casa e a noite continua melhorando.
Mas sobre isso não falo.
Continuo elegante e discreto.

1 de abril de 2010

O peito aberto pro infinito.

É quase impossível resistir. As palavrinhas me chamando.
A organização do meu mundinho e da minha confusão na tela brilhante do computador.
Escreve-se para se salvar. Escreve-se para ser mais bonito, mais triste, mais doente, mais louco. Escreve-se para ser mais: para cometer pecadinhos infantis e para forjar controle nas coisas incontroláveis.
(Escrever, pra mim, é a tortinha de limão lambuzando sua boca e te deixando risonha.)
A escrita como fuga e salvação. É diferente do cara que diz cheio de culhão - como um Mirisola: eu sou um escritor.
Eu sou bundão pra isso. Me peguei emocionado, veja só, em ver virar papel 45 págs que eu tinha escrito. E fiquei tão feliz. E sabia que aquela felicidade era tão besta, mesquinha e infantil. E tava alí, orgulhoso de ver as 45 págs escritas transformadas em papel.
Olhei aquilo e disse pra mim mesmo: bonito!
E morri de medo ao pensar em dizer: eu sou escritor. Sou bundão, eu repito.
Ser blogueiro de alguma maneira me satisafaz. Vez em quando um comenta e penso: que ótimo, nem tinha essa intenção.
Talvez seja meu apego ao controle, talvez seja meu medo dos que leêm, talvez seja só mais uma pretensão que tenha receio de se arriscar.
Então, pelo sim pelo não, eu escrevo: cartas, arquivos secretos, contos e peças inacabadas. Tanto faz. Minha fuga-escrita e meu tédio ansioso. Eu sou minha merda sendo eu mesmo, Mirisola me ensina. Que seja.
Cada um tem a terapia que merece. Mais ou menos eficaz é apenas uma tentativa de se salvar.
Seja pela escrita, pela foda ou pelo especialista que te diz o que fazer. Desespero materializado em formas diversas: a mesma jogada.
Por isso rôo meu osso sem tentar me afobar. O mundo tá rodando e, pra minha infelicidade, eu tô nele.
Sou triste e sou feliz e sei que triste/feliz não é importante. A mesma moeda e o cara e coroa da mesma moeda: acho bom assim, aprendi assim e me sinto mais esperto por saber disso assim.
As palavrinhas escritas e brilhantes: minha satisfação secreta e minha ambição velada.
Sou discreto, eu insisto. Sou bundão, eu novamente repito.
"30 vezes em 1 dia e nenhuma comoção. 30 x 1 é 30 e 30 é o que será. Confundir 30 com 300 é tão idiota quanto ver 3 e pensar em 30. E que fique claro que ninguém falou de 1.000."