25 de junho de 2010

No último dia vou na peça do Domingos Oliveira. Gosto da peça porque gosto do Domingos Oliveira. Quero dizer que não tenho nenhum distanciamento e que estou lá para ver o que sei que gostarei. A peça é boa, já tinha lido e tudo. Mas ler teatro é sempre meio chato. Falta o teatro da coisa. E o teatro da coisa tava lá. Com o Domingos e os atores e a direção do Domingos e aquilo que eu sempre entendi e entenderei.
Ele fala da familia dele. Ele fala dele. Ele fala dele do jeito que entendo e aprecio e admiro. Vejo um monte de graça que, secretamente, penso que só eu entendo.
O Domingos tá velho. Infelizmente deve morrer nos próximos 20 anos. Mas ele tem essa coisa positiva/otimista que meio que me constrange. Porque é real. E porque eu não tenho isso, mas me sinto profundamente contemplado quando vejo ele agindo nesse lugar.
No finalzinho da peça, ele aparece como Domingos. Explico: ele sempre é ele - mesmo quando vestido de velha -, mas, nesse momento, ele é ele representando à si próprio. E ele tá falando: do tempo, das pessoas, dele mesmo e da vida. Mas ele é foda. E sabe falar. Causa encanto quando fala.
Finalizou com algo como: "e ele (o personagem dele jovem) tá aqui, vivo e fazendo teatro". E o Domingos, o real, tá super feliz com aquilo. E quem tá na platéia nota isso. É bonito. Bonito pacas. O Domingos, que admiro, felizão com aquilo.
Bato palmas entre os estranhos que não são o Domingos e saio. Vou no banheiro pra mijar e choro. Choro não pela peça, mas pela vitalidade do Domingos - que admiro e invejo. Velho filho da puta me deixando no chinelo.
Volto e bebo cervejinhas. Penso na vida e prefiro o Domingos. A vida parece mais justa ou decente quando penso nisso. Espero que o puto viva mais de 100 anos - como a Dona Moçinha.