24 de março de 2011

Tem enxofre na água, eu aprendi.

Dentro da água eu observava meu pau. Ele flutuava. Mas reparava mesmo na pentelheira. Enorme, preta e quase a esconder meu pobre pau. Pensei que assim não haverá generosidade em possíveis boquetes.
Era uma banheira com água sulfurosa. Eu estava em Águas de São Pedro no Balneário Municipal. 12 reais para 20 min. de uma água escura, melada e com péssimo cheiro. Dizem fazer bem, dizem operar milagres. Eu acredito. Até porque a pessoa que faz o tratamento completo toma um banho todo dia durante 2 semanas. E, inevitável, pensa sobre a própria cura.
Eu pensei sobre minha cura. Sobre milagres. E sobre essa coisa ancestral que é ficar imerso em águas que vêm do fundo da terra para nos curar.
Quem tem câncer não pode ir. Segundo os funcionários do Balneário Municipal, a água sulfurosa acelera o processo. Uma velhinha que estava com a gente não foi por isso e ficou decepcionadíssima. Ela, como todo mundo, queria se curar. Mas a cura dela era mais objetiva: além do câncer, anda torta e de bengala. Pede ajuda pra se levantar. Mas, surpreendentemente, tinha uma gargalhada de Dick Vigarista.
Em Águas de São Pedro as casas são lindas e não têm muros. A cidade é pequena, estúpida e só é conhecida por suas águas. Por essas razões as pessoas de lá pareciam tranquilas: por morarem em uma cidade estúpida, pequena e com águas milagrosas. A paz está nisso: nessa falta de tudo. Vive-se bem bestamente, eis uma verdade. A ambição, por mais divertida que seja, é sempre dolorida. Em Águas de São Pedro a dor não sabe que é dor porque o tédio não sabe que é tédio. Como explicar? Não sei. Somos nós, os urbanos com várias opções, que sofremos de tédio.
Daí que houve parabéns surpresa e uma vela. E, já na varanda, houve a lição de vitalidade que não temos, mas admiramos. E dormimos bem nessa noite. Porque em Águas de São Pedro tudo parecia possível. Inclusive a paz.