31 de março de 2014

MiBranquinha

Madama White:
=
=
Diz: eu aqui.
Ou então escreve em mensagem de celular:
esperando, porra!
Quer fazer surpresa?
, do tipo:
sem botas e sem calcinha.
(claro que eu também te amo,
claro que é uma excrecência
a gente ficar tímido
por falar 'eu te amo')
Diz:
tudo certo,
estou esperando a mensagem.
Ou Algo como:
cavalinhos,
hoje,
à partir das 15 hrs.
Imperdível.

28 de março de 2014

Se não fosse tímido no facebook, preenchia no meu feed:
-
A pior bobagem, dita e repetida pelos piores bobos: acaso não existe.
-

EX


  1. Tive uma vizinha que só percebi que era linda depois de muito tempo. Moramos 4 ou 5 anos porta à porta. Tratávamos-nos de maneira educada, mas jamais éramos esfuziantes. Vendo agora cogito sermos pessoas que correm o risco de serem parecidas demais; e, por tanto, jamais arriscam alguma intimidade. Preferem um estranho à um parecido demais. 
  2. Ela era bonita de modo geral, mas era o tipo que se incomoda com barulho de criança e que acha divertido discutir com vizinhos de coluna. Bebia e fumava, tinha bunda, peitos e era Fêmea no F maiúsculo da coisa. Uma vez, por acaso, encontrei com ela que acabara de deixar o namorado no elevador. Ela estava feliz e apaixonada. Gemeu um ahhh longo pra mim e disse: tão bom estar amando. Nunca esqueci daquilo. Ela fugia do seu próprio esteriótipo.
  3. Não lembro como, mas ela disse que não queria ter filhos. Antes mesmo de poder reagir, ela disse: odeio esse desprezo que pessoas como você tem de quem não quer ter filhos.
  4. Nunca houve um papo que durasse meia hora. Então nem posso dizer que a conheço, embora saiba quem ela é, qual o seu nome e onde mora atualmente. Temos amigos comum e também um ou outro mesmo interesse. Mas nunca nos conhecemos. A loucura é que provavelmente nunca nos conheceremos.   

25 de março de 2014

A cabeça estava no pescoço. E todo medo sentido vinha de algo humano, muito humano: quem tem cu, tem medo.
De modo que, apesar de tudo e toda dor, tudo estava certo.
Não era perfeito, não era bom, não irradiava energia positiva pelo planeta.
Mas estava tudo certo; e era como era.
(Dois anos antes, talvez pouco menos, havia interrompido a superstição de dizer-se alegre ou triste, pessimista ou otimista.)
Então seguia. As tarefas, os desesperos, as vontades. Estava tudo certo.
Sentia-se só e, às vezes, lamentava sua solidão. Mas mesmo isso estava certo. Não porque a solidão era certa, mas porque conhecia boas companhias bem acompanhadas que também não se sentiam lá muito bem.
Acalmava-se quando dizia pra si mesmo: estou vivo, sou um ser pensante e tenho colhões. Era simples. Não porque era mesmo simples. Mas porque estava vivo e era pensante e tinha colhões. Tinha cu, tinha medo e, às vezes, acordava com um bruta vontade de chorar.
Com todos os erros e loucuras não negava a vida. Ela tava lá, sempre lá; até quando não a alcançava, a vida tava lá.
Era real, era bonita, era triste, era um milagre.
Ele estava vivo e sabia disso. Não sentia-se especialmente bem, mas sabia dessas coisas.
Estava tudo certo.

19 de março de 2014

Dias de inferno.

-
Talvez passe, talvez vire a história glamorosa de uma vida editada.
Talvez apenas afirme o conhecimento: viver repete a única questão original: por que, diabos, existimos ao invés de simplesmente nunca ter existido?
Então busco saídas. Mesmo sabendo que a merda é geral e que saídas reais não existem.
No meu caso, saídas são: livros, poemas, arquivos abertos e um ou outro delírio sobre super-mulheres.
A gente coça, mata a pulga e continua a coceira.
Há 7 ou 8 anos atrás uma enxada ou uma buceta me dariam sentido.
Não mais, acho eu.
(e reconheço que enxada e buceta são instrumentos úteis, verdadeiramente úteis)
Ontem descobri que insônia não tem nada a ver com não conseguir dormir. Insônia diz respeito a não querer acordar e começar um novo dia. Pode parecer bobagem, mas não é. O sono está lá, o desejo de dormir está lá. Mas não se dorme. Porque dormir, dando tudo certo, é acordar pra um novo dia novamente. E isso sucessivamente. Até o dia em que, bem velho, se pensará que não acordar pode ser uma morte interessante. Ó a merda. É real. Eu pensei. E pior: fez sentido.
E ontem, ainda nessa bobagem chamada insônia supervalorizada no feed do fb em 2014, descobri que ver bons filmes é sempre vantagem: não dormi, mas vi um bom filme; não fudi, mas vi um bom filme; não escrevi nada, mas vi um bom filme.
O bom filme, lição aprendida, sempre valerá a pena.
(claro que bons filmes são raros de achar e que 'bons filmes', vá lá, é um juízo de merda. de modo que minha dica de médico do sono e intelectual da década de 60 é: veja filmes clássicos. filmes clássicos, mesmo quando a gente não gosta, nos faz pensar em porquê diabos tal filme tornou-se um clássico. [ no caso do cinema, que, comparativamente, é uma arte nova, isso é ainda mais curioso. clássicos, via de regra, tem a ver com tempo de permanência, tipo Shakespeare, Ésquilo e a Bíblia e Cervantes ou Gargântua e Pantagruel; no caso do cinema o tempo de permanência também pesa, mas, enfim, cinema mesmo, como entendemos existe a 100 ou 110 anos no máximo])
-
Deixar estar.
É um dia após o outro, a gente sabe.
É uma merda, a gente sabe.
É complicado, a gente sabe.
Matar-se é pra poucos. E com pais ou filhos, é quase indecente.
Rôo meu osso: deixa estar.



18 de março de 2014


O inferno sou eu mesmo, meus arquivos e meus planos.

O céu também: eu mesmo, meus arquivos e meus planos.
A merda é a existência comezinha e distraída que faz eu pensar:
nos outros, nos planos dos outros, nos arquivos dos outros.



Tudo que não sou eu é distração e faz perder tempo.



Não interessa um povo forte e inteligente,
interessa, se interesse há, indivíduos fortes e inteligentes
que compõem o que chamamos de povo.
Não quero favores,
não quero favorecer,
não quero ser o povo,
não quero pensar no povo.



Tudo que fala 'povo' usa 'povo' pra explicação; e fede.



Então meu osso,
só meu,
osso que se chupa
e que sussurra quando bem soprado:
não há culpa e não existe ninguém
que se torne melhor por alguém
que é cheio de boas intenções.
Jesus morreu mal e não vale acreditar 

que sacrifícios melhoram colheitas 

no século XXI.

16 de março de 2014

Quer comer kiwi comigo?
Quer que eu faça um suco?
Quer que eu descasque maçãs pra você?
Pode ligar, pode perguntar, logo depois do alô:
- e os cavalinhos? e os cavalinhos? você prometeu cavalinhos.
Quer ficar sentada na areia, reclamar da sujeira e comentar sobre como às vezes a vida dói?


15 de março de 2014

Sempre fumando demais, sempre com aquela agonia nos bolsos. 
Costumava, há não muito tempo, sentar-se à mesa com as crianças e usar talhares e pratos pequenos de brinquedo. 
Sempre reparava que as crianças com 4 anos achavam aquilo divertido e o imitavam; já as de 6 anos apenas riam e diziam 'você é louco, né tio?' 
Gostava mesmo era das crianças de 3. Elas reagiam apenas entendendo que aquilo era errado, profundamente errado, mesmo que não entendessem o porquê. 
  
- eu acho Tourada uma coisa sensacional.
- Tourada?
- é.
- mas é tão primitivo.
- mesmo assim.
- pra mim é primitivo demais.
- sexo também é primitivo.
- mas isso não é argumentação.
- eu não to argumentando. só falei que acho Tourada uma coisa sensacional.

14 de março de 2014

Morder. 
E ver séria.
(e, com sorte, assustada)
Morder e ver sardas que nunca vi.
(com sorte, ver gozar)
(com mais sorte, ver gozar de olhos abertos e unhas que arranham)
Interessa-me a fêmea;
a garota easygoing só é boa em quadrinhos.   

12 de março de 2014

s.r

de delírio e invenção. (trilha sonora: renato corosone)
-

  • com L aprendi que pressa come mal e cru. e L tinha ótimas ideias, mas falava mal e puxava o s. vendo agora, distância estabelecida, digo: duas crianças que desejam mamãe e papai não formam uma boa dupla. L me disse algo que levo: esse papo de nostalgia é uma tremenda tonteria. 
  • P ensinou a vida real. quase confundi. quase cogitei a normalidade como sentido de vida. claro que bem mais P ensinou. mas seria covardia: o primeiro amor ensina tudo, para o bem e para o mal. 
  • D foi a mais generosa de todas. a única cristã que conheci, por assim dizer. tolerava tudo. D tinha essa capacidade de abnegação que pode virar amor. ela se sacrifica por você. você começa a admirar o sacrifício feito em sua honra. 
  • C foi bem e belo tesão. mas aprendi apenas depois, bem depois: tudo morre; morrer na hora certa foi o que faltou. morremos mal. a má morte, depois da hora certa, estragou muita coisa. a arte de ter mortos precisos e preciosos foi o que entendi depois, bem depois. pena.
  • M me lembrou apenas o que era ruim. ela trazia o peso que eu já tinha. peso 1 mais 1 e 2 quem aguenta? M me confundiu com o primeiro e eu não tinha generosidade alguma na época. fui mau. e, mesmo agora, parece-me decente ter sido mau. ela precisava de mim mau. mas não foi por isso que fui mau. foi por prazer vulgar: ser mau porque podia ser mau. 
  • N teve vantagens imensas. buceta grande, mentira na ponta da língua e eu um garoto de 17 ou 16 anos. N era uma anta que me educou e deu coragem. N mentia pra mim e eu acreditava feliz: teu pau é imeeennssooooo, ela dizia. 
  • H nem existiu, mas existiu. é parte de um ideal e de uma percepção de solidão e desejo. H é como a possibilidade perfeita. importa mais a possibilidade que a perfeição. H nunca entenderá muito bem o fato de eu ter um blogue e ter nascido no primeiro ano da década de 80. cogito H ter sinistras semelhanças com M. 
  • D foi a criança que não mimei. tinha lindos dentes de cavalo e um corpo magro e uma maquiagem que lembrava uma puta dos filmes da década de 80. cogito que D sumiu por um único motivo: descobriu meu ronco. 
(make me sway)