27 de julho de 2012

Faz tempo que não venho aqui.
Os sentidos se perdem. Às vezes para sempre. Às vezes não.
Não sei qual é o caso, mas não importa.
Tava nos meus arquivos catando coisas e caçando sentidos. Daí vi isso, que é bem antigo e sem data. Lembro que comecei em 2.000 ou 99. O alimentei por um tempo e depois parei. Quando tentei retornar, acho que 2006, não consegui.
Na época pensei que era um pedaço da adolescência impossível de ser retomado ou mexido.
A última vez que alterei o arquivo foi em 2009, mas não sei se foi quando escrevi isso.
De toda forma, segue:
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herói e fernando:
 

Fernando: herói me diz uma coisa.

herói: fala.

Fernando: você tem medo da morte.

herói: ...não, acho que não...

Fernando: Faz tempo que eu não venho aqui...

herói: eu sei...

Fernando: você deve Ter mudado muito, deve estar diferente...

herói: não sei...

Fernando: Você me irrita, herói..

herói: Por que?

Fernando: Porque você está aqui há muito tempo. Não caga nem sai da moita(herói o olha) É uma expressão herói(ele o olha) Uma maneira de falar...

Herói: E você? Você faz diferente? Caga e sai da moita?(fernando fica em silêncio) A única coisa que eu posso dizer de mim é que eu faço muita coisa, mesmo que eu não cague e nem saia da moita...

Fernando: Eu odeio isso em você herói...essa mania de repetir as coisas...parece que é uma maneira de você ganhar tempo...Ter volume...

Herói: (revoltado) Volume de quê? Volume...

Fernando: Como de quê? De páginas, meu bem, de páginas.

Herói: Mas isso é coisa sua. Não me diz respeito. Eu apenas sigo suas manias...

Fernando: Então é culpa minha?

Herói: Claro! Claro que sim. Você fala e não chega a nada. Parece até que você foge, sei lá....será que você foge?

Fernando: Como assim? Fugir de que?

Herói: E eu sei lá? Mas as vezes eu penso sozinho, sem ninguém dizer nada, e eu penso que você me usa...assim como sempre as pessoas fazem se fazer de conta que a vida tem algum valor, algum sentido, sei lá.

Fernando: Porra, herói, se você disser isso fudeu de vez.

Herói: Eu to cansado, cara. Eu me repito e você não me ouve. 

Fernando: Mas não é assim, Herói. A gente tenta chegar em algum lugar. Todo mundo tenta. É normal que essas coisas demorem, é normal que essas coisas se confundam...

Herói: Ta, ta. Pode ser, mas vamos combinar que isso cansa, oras. É demais, é tempo demais.

Fernando: Ta, ta. Mas o que você que que eu faça?

Herói: Quero que você decida e pare de me usar. Pare de fazer de conta que ta tudo bem e que as coisas têm que ser assim. Não têm que ser assim. Isso só depende mesmo é de você. Decida aí, cara.

Fernando: Herói, mas você nem fala cara. Por que ta falando ‘cara’?

Herói: você é mesmo muito cínico...

Fernando: ta, ta. Eu admito: sou cínico. Então vai lá e resolve tudo. Eu vou ficar aqui, do mesmo jeito, vou ficar inventando minhas mentiras e vou te usar de novo. Pô, herói, achei que teria jeito, sabe? Quando eu comecei isso aqui eu achei que teria jeito, mas não tem. Sei lá. Mas é como se antes as possibilidades fosse maiores. Agora não. Agora tem eu e você. Você que é meu produto, entende? Uma merda.

Herói: Ta. Mas o que eu faço então?

Fernando: eu não sei, não sei.

Herói: você que manda. Então vou ficar aqui. Esperando.

Fernando: Espera herói, espera.