14 de novembro de 2010

Porque ao pensar "ela é bonita, mas é chata" haverá, querendo ou não, o lapso entre a carne e o espírito (e digo espírito por falta de palavras).
E se a beleza é óbvia, o espírito não é bem assim. Há que se ter paciência e dedicação. O espírito é qualquer coisa que surge com o tempo e com a generosidade.
Vê-se belos espíritos com olhos otimistas. E vice-versa.
Achar chifres em cavalos é uma habilidade humana. Somos, de maneira geral, generosos e bons.
E, quando tudo dá certo, gostamos de alimentar as pessoas que amamos.
O amor, seguindo essa lógica, é o sentimento que torna possível a generosidade. A mulher amada sempre será linda, mesmo quando vomitar ou cagar nas próprias calças. A beleza da mulher amada está na generosidade que o amor traz.
E apenas por isso acredito em amor. Amor é o que faz com que a gente tolere o intolerável. Um tipo de cegueira convicta, um modo de crença que nunca dá valor aos fatos.
E, infelizmente, os fatos existem.
Amores de vínculo sanguíneo são mais fáceis de lidar: mãe, pai, irmão(a), filhos(as), mães ou pais de filhos nossos, etc.
Amores de ocasião também: amor da minha vida antes de se mudar pra Manaus, antes de voltar ao seu país, antes de descobrir que é gay, etc. O prazo de validade pode ser uma bênção. Como a Cameron, d0 House, que casou com um moribundo.
Seja como for, há a carne e há o espírito. Não acho que equilíbrio seja a solução. Há a carne e há o espírito. A balança equilibrada é indecente. O lançe (penso agora) é quase cair um dos lados. Mas quase.
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A balança em equilíbrio precário me parece uma boa imagem:
de um lado o coração cru, do outro a fumaça chamada espírito.
Um lado quase cai, mas não cai.
A balança nunca está no meio,
mas tá equilibrada lá do jeito dela,
mesmo que torta.
meu amor


é uma criança triste


quando pensa bem


sempre desiste.