17 de fevereiro de 2010

A garota de quatro pálpebras tinha razão: é sentar o cu e escrever.
É uma coisa que quando acontece me comove: uma garota bonita, no meio de um monte de falação, nem faz ideia do que foi que ela disse e que você guardou.
E o que você guarda quase nunca é o que ela disse para ser guardado.
Mas o que importa é um senso prático feminino que sempre me surpreende.
E também, e como não, e talvez até sobretudo, pelo fato de eu ter conseguido, num trabalho acadêmico, colocar os seguintes textos:

  • Assim como o palhaço que, dentro da sua máscara de ternura, é um ser trágico e perigoso que escancará sua bocarra para todas as coisas sérias. Mas não por não as levar à sério. Justamente o contrário. A boca imensa do palhaço é causada por seu eterno espanto.
  • Não sei determinar as razões ou os motivos disso. Talvez o hábito de fazer teatro a qualquer custo – usando cada oportunidade como se fosse a última. Talvez pelo desejo, quase infantil, de descobrir outras formas e outros métodos. Como uma criança que num quarto cheio de brinquedos novos acaba por não brincar com nenhum.

Pra ver e pra ouvir. Meus números.

1 -
Pra lembrar de nostalgias antigas e chorar.
Porque sempre choro com os filmes americanos, mesmo quando não consigo soltar as lágrimas.
Tenho que confessar que acho os filmes americanos uma coisa impressionante.
O último eram dois irmãos: ela com um filho de 8 anos e ele sem ninguém e se aventurando pela vida afora.
A história do filme é o tempo que ele fica com ela.
E é bonito à beça. E triste também. Triste e cheio de beleza, eu diria.
2 -
Mas nem é disso que eu quero falar.
Quero falar dessa coisinha chamada mundo e do qual, as vezes, eu sinto falta.
Porque tenho uma capacidade pra me isolar que é quase incrível. Mas minha mãe diz que não é saudável e eu confio nela.
Mãe, a gente sabe, mesmo quando faz merda, quer o bem da gente. E é por essas que mãe é imbatível.
3 -
Mas volto?
A atual foto dela tá bem mais bonita do que ela era. Me pergunto porque. Tento entender o que faz com que ela seja mais atraente hoje do que era a 2 anos atrás. E o mistério é quase misterioso até eu lembrar que agora ela namora.
E, como namora, agora ela é mais segura e calma - coisa que não era. A ironia é que na época em que em que ela era minha, eu pensava: ela precisa namorar alguém para saber que pode ser amada.
E ela soube e tá mais bonita.
Faz sentido, mesmo que eu não seja mais o cara que tem direito à suas carnes. Uma pena.
4 -
Devo dizer:
Mania de escrever é terrível. Pensa bem. É só ver eu aqui. Estou quase tarado e quase doente. Escrevo apenas por compulsão, como é com o álcool e com o cigarro. Jesuisolhosazuis, onde vamos parar?, é a minha pergunta engraçadinha, mas sincera.
5 -
Na verdade queria escrever sobre a guria de 4 pálpebras, mas acho melhor não.
É que ela me disse que lê menos o meu blogue agora pra me deixar mais a vontade.
Eu entendo. Eu acho até bonito.
Mas, na verdade, eu nem entendo e nem acho bonito.
É que eu prefiro mulheres obcecadas por mim. Eu funciono melhor assim. Simpatizo quando as loucas gostam de mim por motivos que eu desconheço.
Como se o milagre só existisse em territórios estranhos.
6 -
Sei que, em última análise, é uma pulsão boba e infantil, mas fazer o que?
Ainda não me contradisse nesse aspecto, pelo menos.
Repito que prefiro assim.
É como posso marcar meu território já que eu não sou o cão-macho-fodedor que mija nas paredes e reza pra que o cheiro do próprio mijo seja reconhecido pelas fêmeas quase, e apenas quase, perfeitas.
7 -
A saudades é um tapete de grama verde num domingo de sol.
Isso não quer dizer que eu lembre de um dia, ou de uma grama, assim.
Quer dizer que eu acho que saudades é isso.
É como eu tento entender a saudades.
E veja, saudades mesmo, só sinto de uma coisa.
E essa coisa tem um nome que não digo, mas que era a coisa mais estranha e louca que eu sentia por ter certeza que essa coisa existia.
8 -
Independente de tudo:
as simpatias ainda são feitas por pretas feias e cheias de espírito.
A conta de 2 mais 2 só funciona no primário e ainda
prefiro choros do que sorrisos.
Por motivos que mesmo eu, pleno e arrogante, desconheço.