2 de junho de 2012

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  • A enorme capacidade de amar que ela tinha. Era superior nesse sentido. "Ser amado" é confortável e acalma. Ela não: ela amava e sabia que 'ser amado' não era tão importante assim. Então amava, e amava muito, e, por isso, por poder amar só, era feliz. E por algum tipo de magia sempre ocorria o encanto: ao amar tanto acabava sendo muito amada - e isso, infelizmente, é muito raro.
  • A cocaína nunca foi um problema. Era uma droga recreativa, uma diversão de 4 ou 5 vezes ao ano. Deixou de ser quando vi a merda toda: a compulsão do viciado virando garras e ferindo os outros. Virou tabu, gerou sisma. Hoje, ao ouvir uma história, tive a triste certeza: ele usa cocaína. Mas não falei nada porque não sei de nada e porque apenas supus. Meu achismo comprovou o óbvio: a cocaína virou tabu.
  • A inteligência sempre é admirável - mesmo quando não fala nada ou fala pouco. A inteligência, de forma geral, não é chata. Um chato inteligente não existe, por exemplo. Mesmo que um chato possa ter muito, MUITO conhecimento, ele jamais será inteligente. Ou se é chato ou se é inteligente. E vale lembrar: o chato, na média, faz muito alarde; já o inteligente tende a passar despercebido.
  • Lembrei da frase que escutei e que não lembro o dono: " A ironia é a tristeza do inteligente." Puta frase, né? Eu acho.
  • Eu poderia me apaixonar por aquela guria. Por achá-la gostosa, por acha-lá bonita, por imaginar que conversaria horas com ela. Mas a paixão não depende só disso: tem o tempo, a repetição e a manutenção das primeiras impressões. A paixão se diverte porque deseja ser corriqueira. Mas a paixão, como tal, é bem mais imprevisível. Talvez por isso eu implique com gente que diz: "sempre me apaixono", "vivi várias paixões" ou "sou um apaixonado(a)."
  • Percebo o nó na garganta da amiga. Digo: chora aí, bate aí, grita aí. Ela grita, bate um pouquinho na almofada que lhe mostrei, mas não chora. Tudo certo. O ser humano é essa coisa estranha. Muita dor presa, sobretudo nos mais livres. Doer é existir - e dor, em 99% das vezes, se sente lentamente e sozinho, é inevitável. Então amiga, te digo: põe aquele disco triste e bebe aquele vinho guardado; e não esqueça de estar só, muito só.
  • O tempo apaga as pessoas. Amigos que passam e deixam de existir. Ainda existem, mas não são reais: a amizade que só faz sentido em outras épocas e outros contextos. Lembro do meu pai dizendo: " a gente era muito amigo e viajávamos juntos, mas acabou: os filhos cresceram, os sonhos e trabalhos mudaram e fomos perdendo contato. É assim, é normal. As amizades tem muito a ver com uma época."
  • Nem toda despedida é triste. Perde-se contato, muda-se de idéias e, querendo ou não, as coisas mudam. A mudança, per si, não é boa ou ruim. A mudança ocorre, apenas ocorre, e, de repente, geralmente atrasado, nos perguntamos: nossa, por que tudo mudou tão de repente? Mas nem foi de repente. Foi lento, foi imperceptível. A gente é que só nota depois.
  • Acendo aquilo que deve ser meu último cigarro hoje. Há um silêncio na casa que posso ouvir. Porque sei que em breve, muito breve, não haverão silêncios. E gosto disso também: a casa cheia de gente, as gentes invasivas, o vínculo sanguíneo como um dado real - coisa que órfãos entendem muito mal. Vou ligar meu gravador, vou falar para o mp3. É assim, nessa mistura tímida e involuntária, que eu me torno eu mesmo: e, vá lá, isso nem é tão simples quanto parece.