7 de julho de 2008

Relatinho:

Sento no balcão e sorvo meu veneno. O prazer louco de uma solidão inventada. Tudo bem lento e agradável. Olho pros lados e vejo essa gente sem cara e sem alma que me agrada. Me sinto muito bem acompanhado.
Termino mais uma nova histórinha do meu escritor bêbado e lembro como é bom o ler assim: as palavras mal iluminadas pela luz fria, uma olhada ao redor a cada parágrafo, essa gente feia e suja que me agrada. Me pergunto porquê, mas sem realmente pensar numa resposta.
A história é boa e o veneno faz o meu sangue circular mais lento e constante. Lentidão e constância, uma trepada perfeita.
Penso em tudo que me aborrece e porquê, afinal, sinto tanta raiva. Minha vida é boa na média. Dinheiro que não é meu, mas que me facilita, algum reconhecimento aqui ou ali e uma buceta que você ama fuder como puta.
O veneno sempre facilita as coisas. É um preço que se paga. Os milagres mais bonitos sempre foram os mais inacreditáveis. Explicações que parecem brilhantes no meio da merda no fundo do rabo.
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Quando atravesso a rua tem uma criança que está de mãos dadas com a mãe. A mãe a arrasta dois passos à frente, mas, mesmo assim, a criança parece muito feliz e satisfeita e fala o que só uma criança de três anos pode falar. A mãe não dá bola, pois está acostumada com isso.
E eu insisto em achar o mundo bonito e triste. Como deve ser.