12 de fevereiro de 2010

Por motivos que não conto fico na minha. Porque conheço meus delírios e pavores. Porque o pavor mora ao lado.
São coisas que rondam a minha cabeça e que finjo ignorar.
E finjo mal. E ignoro menos ainda.
(O diabo tem asas, a gente sabe.
Ele dança bem e sai, literalmente, voado.
Como só um ser com asas pode fazer.)
E nessas seguro meu rojão sem deixar de admirar as belas asas do capeta: um branco quase transparente, as penas bem distribuídas e uma envergadura que surpreende e encanta.
Seja como for há a minha casinha e minha doce solidão. Prefiro ver do que participar. E isso acho que desde criança. Porque minha mãe disse que eu sumia nas festinhas e que quando me procurava eu estava no meu quarto, brincando sozinho.
Faz sentido. Faz sentido até hoje, acho.
Brincar sozinho pode ser fuga ou auto conhecimento, tanto faz.
O fato é que não consigo confiar em quem sempre precisa de alguém pra brincar. É uma limitação que não quero ter.
O diabo sempre existe e é sempre os outros - como o inferno do vesgo.
Ter medo dele é um tipo de decência na minha cabeça.
Achá-lo bonito, também.

querer é pouco.

Queria ser exato e escrever as palavrinhas certas. Mas não tenho conseguido escrever. Não como gostaria, pelo menos. Talvez porque eu TENHA que escrever. Um trabalho chatinho assim que me dá nó nas tripas. É o desafio de exercitar o meu próprio cinismo. Coisa difícil pra um cara mimado, gordo e romântico como eu.
Queria falar do meu pau. Falar de como ele age por conta própria em horas inconvenientes.
Queria falar da guria de quatro pálpebras. Da guria que surgiu como um milagre de natal e que tem a boca pequena, bem desenhada e grossa. Da guria que quero e não quero desvendar.
Mas nem sempre dá certo. Então começo 30 posts e não acabo nenhum. Arranho 1 ou 2 paragrafos na minha obrigação e lembro das belas imagens que agora fazem parte da minha memória.
A vida voltando lenta a ser como é: no bafo do Rio, numa solidão introspectiva, numa noite de porre e ternura, na casa azul com belas marcas de sangue, no ler pra ter sono, no rádio ligado na cbn, nos cinzeiros entupidos, na piada machista do Coimbra, nos copos com muito gelo, no andar pelado pela casa, no Cristo solitário de braços abertos, nos banhos com o pau esfolado, na cama sem lençol, nos telefonemas da minha mãe e, finalmente, nos delírios de grandeza e no desejo de profundidade.
Como se tudo fosse menos.
Como se tudo pudesse ser mais.