22 de dezembro de 2010

Dezembrão.

E todo calor e toda loucura.
E um tipo de fim que se aproxima
e o inevitável
que é pensar no ano que passou
e no ano que virá.
Que existimos no tempo e morremos no tempo,
que somos o tempo.
E o tempo passa mesmo que se fale sobre a importância do "agora" -
como se o agora fosse real...
como se ao dizer "agora" o "agora" ainda fosse o que não mais é.
E tem Natal
e Ano Novo.
E as datas todas.
E o fato de serem inventadas não quer dizer nada.
Que tudo que importa foi inventado: o amor, os laços, a arte, o sexo como descoberta, a ficção, os livros, a família, o espirito, Deus...
E daí que vejo meus amigos e tenho vontade de falar
e falo e lembro que somos amigos e vejo a fraternidade do planeta
sendo concentrada numa data inventada e bela e humana.
E lembrei dessa música.
Que tem a ver com tempo,
com coisas que existem no tempo,
que fala de gente que se vê
e se pensa e não se conhece
e, mesmo assim, se consome.
Que é Dezembrão e o sol é como um punhado de agulhas à entrar em nossa pele.

a música. pra quem tiver saco. e nem é uma boa versão.

20 de dezembro de 2010

o que se vê, o que se pensa, o que se lembra.

  1. Gor-delícia dentro do trem a caminho de Campo Grande. Entra depois da Central. Usa microshorts, blusa colorida que amarra sem sutiã e os malditos óculos escuros enormes que estão na moda. Mama um LATÃO de Bramha. Tesão. Gor-delícia, meu amor. Puxa papo com o coroa que vai pr'onde eu vou. LATÃO de Bramha substituído por LATÃO de Antárctica. Nariz fino, coxas brancas e exibição discreta. LATÃO mamado com calma e dignidade. Coisa fina. TESÃO.
  2. (Pau Duro e imagens infernais. Culpa da pornografia internética e do balanço do trem. Sem fumaça, sem piuí, sem belas paisagens. Pau Duro imbecil. Duro agora justo agora. Meu Pau, uma criança. Inocência por culpa de trilhos de trem.)
  3. Morena-Toda-De-Branco. Vestido ou vestidinho, não sei. Livro grosso de Biologia na mão e os mesmo óculos escuros da moda e enormes. O dela era marrom. Levanta os braços e vejo as axilas. Axilas são sem graça é a minha conclusão. Olho pra ela com ostentação. Quase idiota e quase santo. Ela nota e fico satisfeito. Quase santo e quase idiota. Ela limpa os óculos no vestido-vestidinho branco. É pra mim. Sobe o vetido-vestidinho e faz que nem nota. É pra mim 2. TESÃO. Livro de Biologia. O vestido-vestidinho subiu muito, muito mesmo e ela fez que nem notou que eu a olhava ostensivamente. É pra mim 3.
  4. (TESÃO. Pau Duro cheio de inocência infantil. Maldito trem. Há que se culpar alguém. Pau Duro, meu amor, a estação tá chegando e minha bermuda explana).
  5. Trem ainda. O puto - meio bicha, meio imbecil - comprou um sorvete de côco e jogou o papel de embrulho no chão. Fiz minha cena mais fraternal. Curitiba e menino-folha. Se-pa-re. Olho pra ele e pro papel. Mexo a cabeça mais do que o necessário. Ele se toca e empurra o papel com o pé pra baixo do banco. Sinto-me desafiado. Olho agora com a boca aberta e ele vira o rosto. Vitória é uma idéia estúpida que agora fez sentido.
  6. 60 questões que podem mudar sua vida. É estranho e sem sentido. Mudanças de vida são sempre suspeitas. Vejo velhos e muita gente conhecida. É triste. Decadente. Estamos todos ali. A tristeza se manifesta com "você por aqui?" ou "fez para o município?"
  7. Carona pra volta e carro de desconhecidos. Sou simpático e descolado. Os desconhecidos são fáceis de lidar. Dureza são aqueles que se conhece pouco ou que já se viu. O desconhecido absoluto não causa temor.
  8. Casais são tudo aquilo que entendemos por coerência interna. Tenho andando com casais. Eu e um casal, no caso. Lembro que segurar vela era terrível há uns 15 atrás. Agora não. Ser adolescente é mesmo terrível.
  9. Na VAN da Lapa o cara que cobra e berra é super descolado. Tenho delírios. Imagino-me milionário e o chamando para uma conversa. Eu diria: tu é esperto pacas, vou te montar um negócio próprio, pensa bem o quê pode ser. E ele se tornaria um homem de confiança do fernandinho-milionário.
  10. Entre o Rio-Sul e minha casa há esse mobiliário urbano que anuncia que o Planetário faz 40 anos. Lembro da Branca - a mais doce, a mais eterna. Ela queria que eu a levasse ao Planetário e eu não a levei. Ela nunca havia ido em um e dizia que poderia ser um ótimo passeio de sábado à tarde ou domingo de manhã. Eu era burro e não entendia. Reclamava das crianças estúpidas que lá estariam. Eu era burro e me achava esperto.
  11. Culpa, culpa, culpa. E lembro de todos idiotas que supõe culpa ser uma mera invenção da Igreja.

18 de dezembro de 2010

Eles são bonitos e jovens. Vestem-se bem e têm um estilo que eu desconheço por pura ignorância. Tênis com temas de grafite, mochilas com alças flutuantes, cabelos calculadamente desgrenhados. Eles sorriem e conversam com facilidade. Têm planos, são otimistas e têm desenvoltura para fazer elogios. Pra meu constrangimento eles não falsos ou coisa do tipo. Olho pra eles e tento desvendar algo que não existe. É que eles são o que são e, creio, vivem em paz. Consideram-se pessoas de sorte - e nem importa se a sorte é real ou não, importa que eles crêem nela e vivem bem.
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Despeço-me com o máximo de educação e volto pra casa. No bar da esquina tomo cerveja e, ao saber que pegam cartão, invisto num gurjão de peixe. 2 cervejas e quentinha.

15 de dezembro de 2010

óvulo e espermatozóide.

papai e mamãe se matam em doses homeopáticas. é estúpido e pouco eficiente. há que se morrer com elegância: um ato suicida, uma queda no banheiro, uma cãibra de riso que chegue ao cérebro.

os demônios existem e é um fato. as possibilidades são poucas: enfrenta-se o demônio com suas garras e sede de sangue ou ignora-se o demônio como se fosse um brinquedo quebrado. o dêmonio, enfrentado ou ignorado, continuará existindo. o que fazer com o demônio é, nesse caso, a grande questão.

deve-se também tomar cuidado com ameaças que não existem. culpar os outros por mal próprio é tão natural quanto estúpido. se sua vida é ruim, a culpa - se culpa há - é sua. e digo isso sem nenhuma alegria. (adoraria culpar o mundo e os que nele vivem por minhas desgraças. mas o mundo apenas existe e os outros, como nós mesmos, vivem como conseguem e podem).

de forma que dou meu recado: pra mim mesmo, pra atualizar o blogue e também para a família e amigos. a vida é uma tortura lenta e, segundo o marcelino freire, o tempo é longo demais e daí o problema. que se fosse mais curta a vida, as dúvidas e as dores seriam menores. como um namorico que durou três meses e nem chega a afetar a existência.
fica a dica e o desabafo indireto fica também.
o tempo urge e, infelizmente, não há culpados. somos nós, nós mesmos, e toda nossa agonia de ser humano que existe ao longo do Tempo.
os problemas e os inimigos sempre existirão. e, por sempre existirem, devem ser renovados. porque há muita confusão e falta de foco por parte de quem encara os próprios demônios.
via de regra eles são vermelhos, chifrudos e carregam tridentes. também costumam espetar quando você está no caldeirão do diabo.
mas, em defesa dos demônios, eu afirmo: eles são o que são e obedecem ordens que não controlam. a exitência dos demônios nunca impediu que as coisas sigam e surjam, em outras palavras.
há que se parar de viadagem, frescura, demônios, previdências privadas e sonhos de se aposentar a beira mar. como se todos velhinhos fossem felizes, como se demônios pudessem ser eliminados, como se dinheiro fosse o único problema e não apenas um dos problemas.
tenho blogue, escrevo livros rejeitados e faço teatro sem patrocínio. e meus velhinhos? o que andam fazendo?

13 de dezembro de 2010

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Mãozinhas para o alto
e danças desconhecidas.
Viver e se divertir
como o bom bichinho que sou.

Ao mesmo tempo as conclusões estúpidas:
- não gosto de Dezembro.
- sonhar cansa.
- animais são melhores quando são capazes de lamber a própria genitália.
- saber o que importa nem sempre é solução.
- o impossível seduz pelas impossibilidade.
- envelhecer não produz sabedoria.
- viciados em analgésicos são pessoas que tentam combater a dor.

E logo mais o natal e seu amor,
o ano novo e seu otimismo,
o Carnaval e sua alegria.
Bichinho sazonal eu também sou.
Antes disso:
- o conta gotas fatal.
- as rugas adquiridas.
- a pança que cresce.
- as cartas a serem escritas.
- os sonhos somados para o ano que virá.
- as tarefas de tédio e hipocrisia.
E mais um ano que vai
e um outro que vem.
E tudo que pensamos pralá e praqui:
bichinhos competentes
criando afetos, ternuras e derrotas.
Bichinhos que se salvam.

11 de dezembro de 2010

Machismo, idiotas diriam.

O problema das bucetas são as mulheres em volta.
Não que não haja mulheres cujas bucetas nem importariam muito,
não que apenas de entra-e-sai viva uma alma.
Mas a buceta - ela apenas e sem contexto -
parece melhor do que todo o resto.
Buceta-solução
como uma caixinha
que guarda mil encantamentos.
Uns bons e outros ruins
que nem dá pra ser/ter tudo depois do jardim de infância.
Mas tem que conversar antes,
desenrolar e fazer charmes dementes
que seduzem por mais estereotipados que sejam.
(somo animais, meu amor.
precisamos de carne e de sangue e de sal.
somos "parte da natureza" como você adora dizer.
e natureza, a gente sabe, não tolera as diferenças.)
Lembro da guria que disse: - minha especialidade.
E engoliu minha porra com tanto profissionalismo
que até esqueci que eu gozava.
Depois, bem depois, pensei sobre isso:
dedicação é diferente de especialidade,
uma alma dedicada ainda causa mais espanto.
É que fui batizado e sou católico,
à mim impressiona o sacrifício e o suor.
Gosto de ter tudo que todos têm,
mas, confesso, ainda prefiro o que é só meu.
(são limites, benzinho.
eu avisei que eu era limitado.
mas você errou ao me por no pacote.
não que eu não saiba que sou parte do pacote,
mas sim que não precisava berrar isso tão alto.
sou um machista 'bichinha', lembra?
gosto de me enganar.)
Concentro-me no bom triângulo
e me esforço pra ignorar o que é dito.
Como me dou mal
sempre repito pra mim mesmo:
- sou tão fraquinho, sou tão fraquinho.

8 de dezembro de 2010

minha vaidade se supõe elegante.

Tem o telefone e os gritos. E também a super valorização da Internet e uma idéia toda errada sobre 'democratização da informação'. As repetições são um resquício daquilo que, um dia, e com sorte, poderia virar alma. Repete-se mal, em outras palavras. As repetições que poderiam, por fim, mostrar algum traço ou mesmo um jeito de ser não rola. Repete-se na burrice e na voz, na simpatia sem noção e nos discursos de quem se julga muito sincero.
Erros, tudo certo. Erros chatos, Deus me poupe.
Tem o correio também. E os discursos contra o Lula e o uso partidário da máquina pública. A seta que vai pro lugar certo sem nunca acertar o alvo. Como se o alvo fosse tudo em volta e não apenas o centro negro e minúsculo pra onde sempre apontamos. O alvo é real. O alvo não está na Internet ou nos telefones ou no Lula partidário... O alvo: ver o alvo e mirar o alvo. Errar o alvo é normal, mas não é bom ou positivo. Valorizar o erro é uma coisa bem estúpida e que está na moda: seja no teatro, no cinema ou no academicismo que sempre supõe que tudo pode ser. Tudo? Sim, tudo. Quem aguenta?(É a retórica ganhando estatus de verdade. Os imbecis, entre uma consulta ou outra na cartomante, adoram, a-d-o-r-a-m, a retórica sem mira).
De modo que fico com o meu blogue. Minto pra mim mesmo e afirmo: eu minto. Essa é minha vaidade e minha retórica e também meu alvo que se esquece da mira. Como o amigo viado que me disse ontem: se você não é viado e eu sou viado, você não entende nada de mim.
O amigo viado, claro está, sabe das coisas.

Minha belezinha cheia de tesão me faz sentir tédio.

É que sou fresquinho
e fraco também.
Ela insiste em papos gastos, mas fala como se novidade fosse:
- e o sexo, cara?
- e as menininha? buceta nova na parada?
E sou elegante
e bocejo
e digo:
- nem te importa.
- nem quero falar disso contigo.
E ela diz que somos amigos
e meu tesãozinho cheio de tédio
vai pro ralo enquanto miro seu decote
com peitos deliciosamente imensos.
É uma despedida:
meus olhos mirando seus peitos
até sua barriga é como um sinal de adeus.
-
No caminho chuto pedras
e penso que nem sempre o álcool deixa as coisas melhores.
Em casa ordeno uma pizza e fico de cuecas e tênis allstar.
Sou ridículo, mas a pizzaria aqui perto
aceita meu cartão
e funciona até meia noite.
-
Lamento baixinho entre o bacon e o catupiry.
A TV à cabo e o azeite me deixam
surpreendetemente satisfeito.
Em outras palavras: acho que amadureci.

6 de dezembro de 2010

SE VOCÊ EXISTISSE
SERIA A MULHER MAIS BELA.
COMO NÃO EXISTE
É, DE TODAS, A MELHOR CADELA.

5 de dezembro de 2010

Mi-Mariazinha.

Mariazinha tinha as mãos frias. E finas também. Chamarem ela de Mariazinha a irritava. Mas fazer o quê? 1 metro e meio dá nisso. Era bem branquinha e já que era chamada por todos de Mariazinha tratou de estudar. Gosta do estatus que os estudos dão: especialização, mestrado, doutorado e pós-doc.
Mariazinha estava em Nova Iorque e era um luxo. Ótima atriz e pesquisadora de mão cheia. Teatro-Educação, a especialidade dela. Inglês impecável, salto alto e Mariazinha era a única aluna terceiro-mundista que tinha respeito de todos. Se ela fosse negra seria imbatível. Mariazinha, 1 metro e meio, terceiro mundo e pós-doc. Terceiro Mundo... uma bênção... ah... seu eu fosse pretinha, ela delirava.
Descobriu que o lance era ficar sentada. Os homens gostavam dela e ela gostava dos homens. 1 metro e meio é uma bênção. Tanta agilidade. Faz-se o que quiser. Ela sorria e era vaidosa: salto alto, gestos delicados e sorrisos que fingiam timidez.
Gostava de homens enormes. Paus imensos, pra ela, eram uma libertação. Sentia-se bem, sentia-se grande, imaginava sua vagina surpreendentemente funda e ria sozinha: Mariazinha é os cambau.
Daí conheci Mariazinha. Em pé. Com salto tinha 1 metro e 58 cm. Usava uma saia preta e uma blusa colada verde. Tesão. Peitos pequenos sem sutiã me dão tesão desde sempre. Acho que é culpa da minha mãe. Mariazinha me maltratava. Ignorava meus convites enquanto eu a seguia e via ela saindo dos bares da rua 43 com aqueles homens enormes.
Pensei em usar um sapato masculino com salto, mas desisti. Mariazinha, além de pós-doc, era sagaz.
Um dia, após a seguir, entrei no bar da 43 e sentei na mesa dela. Antes que ela dissesse qualquer coisa, segurei o rosto dela e enfiei minha língua na sua boca pequena e de lábios finos. Ela se ofendeu um pouco, mas expliquei que já a seguia a 2 meses. Ela sorriu.
- eu sei.
- sabe?
- claro. vamos embora daqui?
- onde?
- ué... me faz o convite.
Casei com Mariazinha. A gente tem três filhos. Ele são pelo menos 5 centímetros maiores do que eu e ela tem um orgulho danado. Às vezes ela reclama deles não serem negros ou mulatos.
- Eu queria tanto ter um filho pretinho.
- Bobagem...
- Bobagem nada, em Nova Iorque faz mó sucesso.
- Deixa pra lá, amor.
- Eu deixo, eu deixo.
E ela ri e a gente faz amor.
Nossa filha mais velha apareceu com um namorado mulato e a Maria o adorou, disse que eles têm que estudar bastante e ir pra América com alguma bolsa. Há muitas bolsas pra isso, sabiam?
Ontem mesmo conhecemos nosso primeiro neto. A mais velha engravidou sem querer para a revolta da mãe que havia a ensinado sobre todos os anti conceptivos.
É um menino. Não é negro, mas é quase. A Maria tá mais satisfeita do que nunca. Voltamos a fazer sexo e ela até cogitou que é hora de parar de estudar.
O nome do nosso primeiro neto é José. A Maria que escolheu. A gente tá bem feliz. Ela parou de usar salto alto e eu acabei de terminar meu Doutorado.
Ao que tudo indica, ano que vem nós passamos o Natal e o Revelion em Manhatam. A Maria têm o convite para uma banca de mestrado lá e a oportunidade parece única.
Vamos em família. O caçula talvez não vá porque ele faz competições de Judô e, segundo seu técnico, é um grande judoca.
Mas isso ainda não sabemos. Essa coisa de filho atleta é muito confuso.

sábadu.

  1. Não gosto de conversas que mantêm um único assunto por mais de uma hora.
  2. Não acredito em gente que fala de si como se estivesse se descobrindo. Ou pior: em processo de auto descobrimento.
  3. Desconfio de seguidores de blogues e também de quem faz confissões em twitter ou coisas do gênero.
  4. Duvido de todo mundo que acha que está evoluindo e que - inevitavelmente - faz questão de tornar público a tal da evolução.
  5. Curtir comida JAPA e ser budista é antiquado e sintoma de afetação. Quem que você conhece que é budista sem divulgar à sua crença?
  6. Príncipes encantados são o fetiche mais antigo que existe. Tanto faz se o princípe é princesa ou se ele tem particularidades que o tornam único. Ser ÚNICO é um desejo decente e óbvio na mesma proporção.
  7. Valorizar os erros é o sintoma mais gritante da Estupidez. Errar é parte da jogada, mas não é virtude. Errar é igual respirar - coisas que todos fazem e que não têm importância real.
  8. (Insisto: ainda sobre erros.) Não repetir erros é a função da natureza. Não há sabedoria alguma em quem, após errar que 2 e 2 são quatro, começa a chutar números aleatórios. Gato escaldado tem medo de água fria é o óbvio ululado sem nunca ter a atenção merecida.
  9. Pra dizer fim: sou eu mesmo e repito: tesão todo mundo tem, sonhos também. Sonhar e ter tesão é como estar vivo: algo que se faz mesmo sem se pensar sobre a vida, o tesão ou os sonhos.

4 de dezembro de 2010

  1. Dar tchau me parece bom. Dar até logo me soa bastante estúpido.
  2. Os imbecis gostam de girar sobre si mesmos. Eu giro sobre mim mesmo, mas não me acho imbecil. Vaidade, em outras palavras. É que não peço à ninguém pra ver eu girando sobre mim mesmo e descobri que o nome disso é elegância.
  3. Eu faço planos e você faz planos. Todos nós fazemos planos. Planos... parece importante, mas não é. Fazer planos é como viver: você está fazendo mesmo sem saber.
  4. Gosto de mentir. E de cagar. E de dizer coisas sem pensar. E também gosto de mim. Mas gostar de si não precisa ser aprendido em lições espirituais, precisa? Sou arrogante e digo que não.
  5. Ela, um dia, me falou de uma árvore. Essa árvore tinha sido muito importante na infância dela. Ela disse que subia na árvore, via o mundo lá de cima e ficava por horas lá em cima. A árvore era sua casa, ela disse. Perguntei da casa de verdade dela e ela me chamou de estúpido, disso que eu só gostava do que não existia. Mesmo sem ela imaginar porquê, eu concordei.
  6. Dou dois beijinhos e digo OI. Chacoalho as mãos e dou TCHAU. Tenho charme e cinismo. Equilibro-me entre o idiota que fui e o idiota que serei. Parece profundo, mas não é. Acusar à si próprio tá na moda e pega bem. O erro é acreditar que você é quem você imagina ser.
  7. O faz de conta é uma grama verde. O Leminskão sabia disso e achou graça. O Tio Caetano cantou e também achou graça. Eu não posso falar dos outros, tenho limitações graves e nem sempre sou capaz de amarrar meus cadarços. Mas, mesmo assim, me considero bastante engraçadinho.

3 de dezembro de 2010

Olhos abertos e futuro indeciso.

Apenas mulheres tristes têm me abraçado.
Talvez o falso conforto que todo gordo aparenta, talvez a falta de habilidade de sair para caçar piranhas em noites de néon e brilhos e drogas.
Lembro de garotas nuas, lembro da primeira vez que vi M nua e fiquei surpreso com sua brancura e também que achei lindo ela não ter marcas de biquíni. Os mamilos rosas e empinados, o rosto confuso que ela fazia quando me masturbava apenas para me agradar.
(M que um dia me disse eu te amo e aquilo não tinha nenhum sentido, e ela repetia eu te amo, eu te amo, mas a única coisa visível era seu próprio sofrimento e sua própria agonia de amor.)
E cada vez essas mulheres ficam mais loucas e mais tristes e mais problemáticas. E eu sou o elo de ligação entre elas. O óbvio sussurra no meu ouvido que de alguma maneira eu as atraio e por elas sou atraído - de forma que dei para chorar ao assistir Comédias Românticas onde o destino parece existir e juntar casais impossíveis.
Então sinto saudades de coisas que não existiram e de coisas que eu inventava para produzir poemas melosos e mal escritos..."eu era o tempo".
A realidade não importa ou importa pouco.
A invenção é mais poderosa, a ficção mais agradável e a beleza... bem, a beleza... vale como ideia, mas não como ponto de chegada.

2 de dezembro de 2010

Cartas para desconhecidas
nunca têm resposta.
Talvez seja o lixo eletrônico,
talvez um monte de bosta.
  1. Compro carpaccio e me sinto ótimo. Carpaccio é a bola da vez, a obsessão do momento. Carne crua, pimenta, alcaparra e azeite. Deus até parece me dar uma piscadela. Faz sinais pra mim como se fossemos velhos amigos.
  2. No som um preto canta com aquele jeito de preto. Deve ser do caralho ser preto e cantar como preto. Os pretos quando sabem cantar têm essa voz estranha e antiga que deixa tudo que se vê parecendo cenas de filme do Win Wenders. E a vantagem é que na voz preta do preto bom quem me dá uma piscadela não é Deus.
  3. Há a rúcula e a carne crua. A NET liberou uns canais e a TV é uma idiotia agradável. Os cigarros continuam bons, mesmo fazendo mal. A ironia, a NET liberada e o boi que, generosamente, morreu para me salvar.

29 de novembro de 2010

Era sexta, mas poderia ser quinta.

- tesão é coisa pra criança. É simples: basta roçar o pau (ou a buceta, tanto faz) em uma quina de mesa.
Mas ela não me entendia. Dizia que eu nunca tinha tido tesão na vida. Que tesão é foda, que tem tesão que surge do nada e vira paixão, amor e sei lá mais o quê. Ela falava que havia vários graus de tesão. Tesão de amigo, tesão de amor, tesão de primo, tesão de cuca, tesão de... Era infinito os graus de tesão, ela me explicou:
- tipo os céus do Chico Xavier, tá ligado?
Eu não tava ligado. Eu tava bêbado. Eu tava satisfeito de estar ali. Eu queria conversar. Apenas conversar. Eu não queria discutir tesão ou Chico Xavier ou filmes de arte.
Conversar. Tão decente conversar. Um fala e o outro fala. Ninguém prova nada pra ninguém e as horas passam agradáveis entre uma cerveja e outra.
- quero ficar bêbada, cara! quero tomar vodka, cara!
- bebe aí.
- me acompanha?
- nem...
- chatinho você, hein?
Sorri balançando a cabeça. Não entendi nada de nada. Por que alguém que quer ficar bêbado precisa anunciar isso? Por que não querer vodka faz de mim chatinho? O mundo é complicado. Vodka deve ser mais legal pra ela do que pra mim. Vai ver eu sou chatinho. Vai ver eu deveria ter dito:
- pode crer, vodka-bayb.
As cervejinhas me bastavam. Eu não me incomodava dela beber vodka, cachaça ou o que fosse. Eu só não queria beber vodka, cachaça ou o que fosse. Era simples. Deveria ser simples.
- mó caído você não me acompanhar na vodka.
Minha cabeça balançava e eu sorria. Eu pensava que devia sumir, cair fora. Que é melhor ficar só do que ficar numa mesa com um mulher que acha que discussão é o maior barato.
Ela também falava "questões", "contemporaneidade", "geração Y" (ou "X", tanto faz) e, como não podia faltar, "transcendência" e "atitude zen".
Conversar. Apenas conversar. Parece tão decente. Não precisamos foder, não precisamos sentir tesão, não precisamos de questões. Conversar é uma coisa simples, não é?
- o que você não entende é que tudo, tudo mesmo, têm um significado. Não há acaso, há destino. Tudo fala. Seu corpo fala, sua respiração fala. Tá tudo conectado, cara... não há coincidência.
Eu fazia contas. Deveria ir embora assim que a vodka acabasse. Talvez pagar a conta direto no balcão e desaparecer. Talvez dar tchau e levantar. Eu precisava sair. Eu estava satisfeito, já disse. Mas precisava sair, sumir, etc. A saideira e a conta pedida direto pro garçom foram a solução. Sem consultas, sem histórias, sem "caras" e sem "caído" isso ou aquilo.
Vem a conta. Há um milagre no ar, mas ela se esqueceu que coincidências não existem. Ela tá no telefone e é a minha brecha. Deixo a metade do dinheiro, engulo meu copo e faço sinal pra ela de que "vou nessa". Antes dela falar me levanto e me despeço. Sou simpático e digo "até a próxima".
Na rua a vida volta a ficar boa, ter dinheiro pro táxi é outro milagre que ela não percebeu. Tenho whisky em casa e um maço cheio no bolso. Finalmente converso. O taxista é um cara bacana que gosta de música boa e têm uma foto da patroa no carro. Selma, o nome da patroa. Casado há 8 anos e continua apaixonado, ele diz.
- minha mulher é linda, tá vendo? Claro que é difícil, mas eu sou apaixonado por ela até hoje. Amanhã é dia da gente sair. Todo sábado saímos. A gente vai prum barzinho perto da área e fica bebendo e conversando. No domingo a gente almoça na casa dos irmãos dela.
- mas vocês nunca brigam?
- claro que a gente briga, pô... mas olha pra ela... ela linda ou não é?
Mexo minnha cabeça dizendo sim enquanto reparo nas belas sardas que a mulher dele tem. Digo que mulher sardenta é um charme e ele retruca sem nem pensar no que diz:
- não é? E nos peitos então...nossa senhora!!!!
Ele ri e eu também. Saindo do táxi eu solto um "bom passeio com a patroa amanhã". Ele diz que amanhã a coisa é séria, que vão num baile aí e que ele terá que dançar. Ele nem gosta de dançar, mas dança com ela, ele explica.
- as mulheres gostam de dançar, você sabe.
Resmungo um "sei, sei" e dou boa noite.
É sexta. É quase uma da manhã. Subo pra casa e lembro da Selma Sardenta.
Se ela tivesse falado sobre "tesão em sardas" eu teria entendido o que ela disse. Mas ela não falou sobre isso e eu não entendi.
É... devo ser mesmo chatinho.

27 de novembro de 2010

O-l-í-v-i-a.

Mirar o pau como quem vê um abismo.
E gosta do abismo e é amigo do abismo.
Mirar o pau porque assim se carrega a alma.
Diante do abismo há a buceta perfeita,
com flores e cheiros e orgasmos verdadeiramente violentos,
desses que na contração quase lhe arrancam o pau.
Abismos e mulheres que podem lhe arrancar o pau são como o próprio sentido da vida - e isso supondo que tal sentido que não existe, exista.
As flores aprecem sempre depois.
É decente.
Primeiro existir e só depois adquirir alma.
Porque sem alma não há abismo nem altura nem...
Alma.
Fetiche por almas retraídas ou por almas que têm medo de ser almas ficou pra trás.
Liberdade é outra bobagem que só se pode acreditar após certas coisas.
Como abismos, como bucetas floridas, como ataques de ternura quando a ternura ainda estava fora de moda.
Suportar-se à si
e dizer que o idiota diante do espelho
é você mesmo.
E sofrer um pouquinho,
e lembrar de nomes lindos,
e sonhar com as mulheres lindas que inventa
e que nem precisam existir.
Como um treinador de cães
que adora os cachorros
após muito treino.

25 de novembro de 2010

fifiti/fifiti.

Quiçá que seja
ou não seja.
E isso faz tempo
que tempo faz,
mas nunca me acostumo.
Culpa dessa vaidade
de querer mais.

Quem sabe com raiva,
quem sabe sem jeito,
quem sabe a palavra certa
acerte e seja nunca.
Ou sempre.

Quem sabe quiçá de repente?
Que também gosto de festa
e também sinto tédio.
Que há bucetas boas
e fumos de qualidade
e as noites lentas
onde mesmo o durante
provoca saudades.

Quiçá num dia cinza,
onde uma garota estrangeira
que não fale a minha língua
diga algo que eu não entenda
para dizer que a chance
é sempre igual:
erra-se bem
ou
acerta-se mal.

24 de novembro de 2010

o cretino com asas.

ele voa. e a cada três meses se manifesta. nesse caso, a cretinice é não saber morrer.
morrer decente, de terno, como foi o Seu Batata, pai do Tél. a vida inteira um bebum de chinelos.
mas no caixão a morte decente e formal: terno, algodão no nariz e mãos sobre o peito.
mas o cretino não. o cretino não entende nem mesmo que morreu e que, como morto, deve estar num caixão, desfrutando a paz gelada e inevitável de quem está embaixo da terra.
mesmo lá de baixo o cretino põe suas mãozinhas pra fora. é como um filme de terror b que se esquece do humor que ser 'b' deveria ter. mãozinhas em agonia que se levam à sério.
o cretino é isso. leva-se à sério e nem desconfia da estupidez que lhe é própria e percebida por todos. o cretino é puro e cheio de boas intenções.
ele dança, ele ressuscita, ele multiplica peixes e faz ressalvas sobre suas ações estúpidas. o cretino é sempre sincero e, ainda pior, sensível. ele sempre faz questão de dizer: sou muiito sensível.
quando ele tira férias, ele anuncia: vou tirar férias.
quando ele come sushi, ele diz: comi sushi.
quando ele participa de uma promoção, ele põe o site no facebook para os amigos desfrutarem: www.cretinofeliz.com e, na mesma hora, ele curti a si mesmo.
o cretino sempre curti a si mesmo, além, claro está, de compartilhar qualquer coisa com qualquer um.
quando o cretino morre, ele não morre. porque o cretino é eterno e sempre será. a cada aniversário de morte do cretino haverá uma festa. se há uma chance do defunto-cretino aparecer, ele aparecerá.
o cretino sempre aparece.
além de curtir à si próprio, ele é coerente: nasceu cretino, viveu cretino e morrerá cretino.
e... bem... para o cretino...a morte... - até ela - ... é apenas uma passagem.

22 de novembro de 2010

Os infernos são particulares e assim devem ser.

O mínimo de dignidade é isso: levar à sério os próprios infernos: sem excesso de simpatia e sem sorrisos abertos que não dizem nada.
Minha desconfiança com gente simpática demais é uma tônica.
Quem, que possua alma, confia nesse eterno otimismo TUDO LEGAL?
Prefiro o tio Buk que, como diz o Bortolotto (tio também), "descobre a pérola no fundo do copo".
E isso é gosto. E gosto, a gente sabe, não se discute. Só os chatos discutem tudo - incluso gostos.
Seja como for, peido alto e sinto o cheiro fabricado nas minhas entranhas. E isso é real e patético.
Cada um se protege como pode e vive como dá.
Eu entre idiotas é meu bordão da vez.
Participar do mundo não é virtude, é apenas (e apenas!) uma necessidade.

21 de novembro de 2010

Tesão por aí, né??

Todas as crianças me dizendo: como vai? como tá?
E sou educadinho e imagino que satisfação seria apontar a guria do bar e dizer: Tô comendo.
Igual a criança que fica satisfeita por ter o pai mais forte.
(Se isso existisse... se eu fosse criança... se as crianças fossem apenas fofas e nunca chatas... como se 'fofo(a)' fosse um adjetivo decente para adultos que já têm pêlos nas genitálias.)
De modo que confesso: orgulho mesmo era comer a Maiara. Não que ela seja a mais tesuda ou mais surpreendente. Apenas porque se a comesse sentiria esse orgulho de macho que aponta o dedo e a pica na mesma direção.
Maiara, meu amor. Você me dá? Fica de quatro apenas pra eu ver? Nem ligo pros seus ex e seus filhos.
Maiara de quatro, Maiara eu te amo.
Sou um tipo bem comum, afinal.
Idiota entre iditotas: nós dançamos forró, gostamos de sambinhas e preparamos feijoadas para o casal de amigos que nos visitam aos domingos.
Mentira.
Nós vivemos bem, não é benzinho?
E Maiara iria sorrir e dizer que é a mulher mais feliz do mundo.
Ela acreditaria nisso e eu também. A gente morreria juntos. Um ao lado do outro sem nunca querer saber como as coisas seriam se não tivessem sido como foram.
A paz. A paz dos idiotas satisfeitos. Desses que acreditam em destino, Deus e coisas do tipo.
Como se viver e nascer fosse o mesmo. Como se não houvesse opção.
E, ao morrer, a família estaria próxima e o céu seria uma imagem do céu do Chico Xavier.
Como se tudo fosse eterno, como se não vivêssemos no Tempo.
Como se o Tempo fosse uma idéia e não um fato.
Como se viver fosse apenas mais uma brincadeira.
Como crianças, afinal.

20 de novembro de 2010

Tesãozinho de ocasião.
Sente-se aqui e sente-se ali.
Há que se tomar cuidado:
não levar esse tesãozinho tão à sério,
não ignorar o tesãozinho que há.
-
Assim até eu.
Eu vejo as criancinhas e eu gosto delas.
Converso, sou simpático e sou legal.
As criancinhas com peitos minúsculos
e promessas de amor incondicional.
As criancinhas que fazem promessas
porque não acreditam em promessas.
-
Nem só de belas tetas vive um homem.
Ouvir as tristezas dela é como
ouvir um relógio que reclama
por ser obrigado a contar
cada segundo que passa.
Um relógio que reclama por ser o que é:
um relógio.
-
Pede-se pouco.
Fosse só burra ou só gostosa.
Fosse o que fosse,
mas que fosse apenas o que é.
Ah... Assim pedia luz pra Jesus
e lhe alimentava todas as noites:
leite morno para os bons sonhos.

19 de novembro de 2010

Show dos coleguinhas.

Eu estou lá. Táxi, entrada, bebidas e táxi: tudo é dinheiro e tudo é bobagem.
Gosto de estar lá. Nunca estou lá e por isso gosto.
Os coleguinhas, a banda, o rock.
Rock, eu repito.
São três. Eles tocam e às vezes cantam. Meus amigos de maneira geral. Estou lá por isso, pra ver o trabalho dos meus amigos.
E eu gosto.
O simples fato de eles não tocarem sambinhas-na-lapa me acalma porque isso é menos normal do que eu gostaria que fosse.
Me divirto. Há gente. Eu estou lá e não aqui. Há gente. Eu gosto.
Agora, confesso, eu gosto de tudo.
Sou um cara legal e generoso, mesmo que me provem o contrário.
E vivo, nénem, vivo.
E vejo. E imagino. E estou aí - mesmo que nem sempre eu emplaque.
Decência, eu diria.
Céu e inferno, em outras palavras.
Satisfação, e me recuso a dar explicações.

18 de novembro de 2010

Vai, Fernandinho.

A porra da vida bate na bunda. Então se sobe e então se desce. Montanha russa de caralhos e bucetas - e, pra que fique claro, digo isso da perspectiva de quem tem uma preferência entre os caralhos e as bucetas.
E na quarta eu era um imbecil suicida, na segunda um cretino satisfeito, na terça um deus discreto e por aí vai.
Até quando? Pra sempre, neném, pra sempre.
Sobe e desce filho da puta. E a puta pare. E a puta goza. E a puta apanha do seu grande amor.
E o leite derramado está lá. Faz um belo mapa no chão. Parece o sul da América do Sul, parece a ponta da bota que é a Itália. E os imbecis do mundo se reúnem num coro pra cantar: "não adianta chorar pelo leite derramado". Mas o coro esquece que "não adianta sorrir sobre o leite derramado" nem "fazer de conta que o leite derramado não existe".
Então segue-se. E velhas têm cataratas, crianças novos colégios, adultos novos empregos e jovens têm Internet e outras bobagens - como o show de rock-amigo que vou daqui a pouco.
Seja como for sempre confirmo que:
- não tenho vocação pra suicida.
- não acho a MTV super legal.
- sou católico porque fui batizado.
- os americanos fazem seriados como ninguém.
- a Internet é uma ferramenta de solidão.
- o álcool é uma terapia mais eficiente.
- toda merda é generalizada.
- um dia após o outro é o bom senso mais classe média da porra do mundo.
- há 6 anos atrás eu era 20 kg mais mais magro.
E vem dia e vai dia. E aqui estamos. E eu continuo. E você. E o blogue. E também tudo isso que chamamos de 'esperança', mas que, afinal, quer dizer mesmo é: ESTAMOS AÍ.

14 de novembro de 2010

Porque ao pensar "ela é bonita, mas é chata" haverá, querendo ou não, o lapso entre a carne e o espírito (e digo espírito por falta de palavras).
E se a beleza é óbvia, o espírito não é bem assim. Há que se ter paciência e dedicação. O espírito é qualquer coisa que surge com o tempo e com a generosidade.
Vê-se belos espíritos com olhos otimistas. E vice-versa.
Achar chifres em cavalos é uma habilidade humana. Somos, de maneira geral, generosos e bons.
E, quando tudo dá certo, gostamos de alimentar as pessoas que amamos.
O amor, seguindo essa lógica, é o sentimento que torna possível a generosidade. A mulher amada sempre será linda, mesmo quando vomitar ou cagar nas próprias calças. A beleza da mulher amada está na generosidade que o amor traz.
E apenas por isso acredito em amor. Amor é o que faz com que a gente tolere o intolerável. Um tipo de cegueira convicta, um modo de crença que nunca dá valor aos fatos.
E, infelizmente, os fatos existem.
Amores de vínculo sanguíneo são mais fáceis de lidar: mãe, pai, irmão(a), filhos(as), mães ou pais de filhos nossos, etc.
Amores de ocasião também: amor da minha vida antes de se mudar pra Manaus, antes de voltar ao seu país, antes de descobrir que é gay, etc. O prazo de validade pode ser uma bênção. Como a Cameron, d0 House, que casou com um moribundo.
Seja como for, há a carne e há o espírito. Não acho que equilíbrio seja a solução. Há a carne e há o espírito. A balança equilibrada é indecente. O lançe (penso agora) é quase cair um dos lados. Mas quase.
-
A balança em equilíbrio precário me parece uma boa imagem:
de um lado o coração cru, do outro a fumaça chamada espírito.
Um lado quase cai, mas não cai.
A balança nunca está no meio,
mas tá equilibrada lá do jeito dela,
mesmo que torta.
meu amor


é uma criança triste


quando pensa bem


sempre desiste.

11 de novembro de 2010

existe

a paz, o gozo,
o tempo desperdiçado sem ser perdido.
gosto do que gosto.
melhor assim.
e nem posso reclamar.
pai e mãe vivos,
sobrinhas sem doenças
e esperanças que brigam com o tempo.
-
o dinheiro aumenta meu pau
e gente quer me dar.
isso passa, eu sei.
mas passando, eu fico.
porque é melhor lembrar disso
do que lembrar
da puta burra que
me cobrou 150 pratas.
-
contas de mais
e contas de sim e não.
o corpo comprido ficou caro,
o corpo magro não ficou.
-
a gente mente
e a gente se diverte.
a gente se resolve.

10 de novembro de 2010

Teimodinho, eu aprendi.

Não gosto dessas metáforas mal usadas e tenho raiva de tudo que se diz em nome da sinceridade. Como se sinceridade fosse desculpa pra idiotez.
(Ela diz: sou muito sincera por isso digo merda)
E vejo sua burrice cheia de brilho que crê, como burra que é, que em nome da sinceridade todas as imbecilidades podem ser toleradas.
Há que se pensar o que se fala. Ou então viver falando tudo que se pensa como uma criança que ainda chama a mãe após cada merda no vaso.
(Um clássico: manhêêêê... acabei.)
Estou velho e estou intolerante. Minha solidão é sincera e, portanto, estúpida. Não topo tudo e nem gosto de jogadas. Pago meu preço, mas o preço que eu pago eu rôo sozinho. Minhas invenções são gloriosas porque são minhas e porque são invenções. Não posso - nem acho importante - cobrar invenções de gente alheia.
(Que cada um com seus problemas, mesmo que a dor seja coletiva)
Tenho meus cigarros, meu tédio e eu mesmo para suportar.
E esse papo de se amar ser importante nunca me convenceu.
Simplesmente porque conheço muita gente que diz 'eu me amo '.
-
mais um post na caixinha
e mais uma dose de própolis
a vida
é cheia de picuinha.

9 de novembro de 2010

listinha

  1. As queridinhas. Elas me amam quando estou no metrô e leio meu livro. No metrô as queridinhas me amam e ignoram minha pança branca e redonda. Mas dar pra mim que é bom, nada. As queridinhas me desejam apenas entre a Glória e Botafogo.
  2. Faço julgamentos. É arriscado. Julga-se mal, julga-se bem ou simplesmente se faz um julgamento equivocado. Seja como for, meu julgamento me diz: D é carente. Apenas isso. D. é profundamente carente. Freud deve explicar. Coisas sobre papai mau. Freud, com certeza, explica.
  3. J sem soutien é meu delírio. Peitos pequenos e atentos sem soutien. Mulheres de peitos pequenos deveriam ser proibidas de usar soutien. A gravidade age menos em peitos pequenos(taí mamãe que não me deixa mentir). É como uma vingança retroativa: a peituda da 7° série segura canetas bics com seus peitos enquanto a peito pequeno precisa apenas de uma camiseta branca e de um ar condicionado. Tesão. Tesão em J. E também tesão generalizado. Prefiro os peitinhos de J. Tesão, tesão.
  4. Gostar de si é tão necessário quanto não gostar de si. É o erro fatal de todas as auto ajudas. A vida não é tão simples. E esse sobe-desce nosso de cada dia é, mesmo que inevitável, uma bobagem. Somos crianças diante do doce. Somos crianças diante do quiabo. Mas, pra amenizar nossa culpa, afirmo: ser criança não é um ideal, é apenas o que ocorre.
  5. Fazer planos. É normal e idiota. Meu plano agora é assim. Queria um escritório. Isso mesmo: um escritório. Faria a mesma coisa que faço aqui. Mas em outro lugar, com contas a serem pagas e, principalmente, com bancos de horas. É uma mentalidade de macaco: cria-se a circunstância para depois se criar a necessidade. Como a frase-punhetinha para atores: você corre de um urso / pode imaginar o urso e o medo que ele te dá pra depois correr / ou pode correr e depois ter medo do urso / você que sabe. (é quase isso. o original sempre é melhor).
  6. punhetinhas jogadas. Escrever mensagens no facebook é soltar pólen. Aleatório, sincero e virtual. Uma nuvem de talco. Primeiro derramar o leite. Depois chorar sobre ele. Como se só isso fosse, como se não houvesse ceú e inferno, como se no xadrez os peões não fossem menos importantes que a rainha. Coisas jogadas. Jogos de maneira geral. Eu me divirto e ela também. Quem sabe nos divertiremos juntos.

8 de novembro de 2010

here-me.

Nada mais solitário do que: tenho meus amigos.
Solidão partilhada entre solitários. É justo. É justíssimo. Mas, ainda assim, é triste. E só.
Estou no mundo e vejo toda tristeza. Tristeza que é minha também, mas que só noto quando ocorre com os outros. Divide-se comidas e tardes de domingo por pura falta do que fazer. E há sempre uma leve frustração no ar. Aquela coisa estranha, estúpida e comum: fiz comida pra mais gente. Esperava mais gente.
Mas estamos calejados e velhos. Não podemos reclamar, não é o caso. A gente sabe: dez dizem que vêm e dois estão aqui. Um equilíbrio errado entre intenção e realidade. E a gente entende. E eu estou lá. Sou um dos dois que foram onde disseram que iriam. E estar lá é legal. Pra mim, pra ele, pra nós. Nossa solidão é amiga.
Depois: pequenas obrigações que satisfazem. Fazer algo por muito tempo faz com que a satisfação ocorra. E, bem, há dinheiro na jogada. Ganho pra fazer minha obrigação e me sinto bem. Sou um macaco. À cada nova banana, um novo truque. Novamente afirmo: é justo, justíssimo. E, claro está, a justiça é apenas uma ideia de equilíbrio. Que seja.
Pego táxi, pego cervejas, chego em casa. É madrugada. É domingo e amanhã é segunda. Tenho minhas horas e minhas obrigações. Eu faço as coisas. E não sei o que isso quer dizer. Estou aí e, às vezes, emplaco. Fase boa de maneira geral. De maneira geral, eu repito.
Tenho meu blogue. Tenho minha cerveja. Tenho minha casa. Meus cigarros e meus CDS eu tenho também. É bom - e isso não quer dizer que seja perfeito.
Mas quem, cargas d'água, acredita em perfeições?

6 de novembro de 2010

Eu que vi eu que sei.

Toda tortura que é minha. E vaidade também, como não? A tortura é, em última análise, a vaidade mais brutal que há: sofrer só, sem dizer pra ninguém, sem ter ninguém, sem se quer reclamar da vida. Sofrer como se fosse uma sina. Como se o destino estivesse traçado e como se apenas a dor enobrecesse o homem. Sofrer pode ser um estilo.
Então, pra ser do contra, afirmo: não falo de mim. Não mesmo. Sofro também, mas nem me engano. Eu mesmo com meus dedos em meus buracos. Só sofre quem acredita e eu, infelizmente, não acredito. Acho tudo velho e malfadado. A ilusão é a mesma. Minha vaidade é ter a ilusão de que sei da ilusão que há.
Mas não importa. É um belo sábado de chuva e meu Dom Quixote de lata (presente de uma amiga) está na minha estante desafiando a parede azul que ele supõe ser o ceú. Por incrível que pareça não falo de mim ou do meu umbigo. Ainda tenho cartas na manga e a alegria de mentir deliberadamente. Inclusive pra si próprio.
É o paradoxo da mentira que tá no seu Aurélio de maneira mais elaborada: se eu afirmo 'eu minto' e o que estou dizendo é verdade, a mentira está em fazer tal afirmação.
De modo que me faço entender. Para os que têm dicionários e para os que gostam de pôr chifres em cavalo. Os que acreditam em unicórnios, em outras palavras.

5 de novembro de 2010

Toda Sexta às Duas da Tarde.

Uma tarada de botas que olha o meu blogue.
Que não existe, mas eu invento.
E ela dança (Sem roupa, mas com botas.)
enquanto escrevo isso e reparo no seu tufo de pêlos.
Ela gosta de reggae e fuma maconha.
Ela tem ataques de riso quando fuma maconha
e isso quase irrita, mas eu bebo álcool
como um recurso simples de amortecimento.
Fala da natureza, fala do ceú azul, fala do Cristo Redentor que vê da minha janela.
Fala sobre coisas que só mulheres falam
e isso me agrada.
Tenho tesão,
tenho pau duro,
tenho um blogue
e uma mulher de botas
que dança sem roupa
enquanto publico uma nova postagem.

3 de novembro de 2010

Põe a rodinha pra mexer e se satisfaz

Fazer.
Fazer como um macaco faz. E macaco faz que faz. E bate palmas. E vê os humanos que o vêem preso na jaula.
E, mesmo assim, não se pode dizer que o macaco está triste. Assim como não dá pra dizer que o macaco está alegre.
O macaco, bicho do bom, nem pensa se está triste ou feliz. O macaco faz macaquices.
E isso é bem decente. E civilizado.
Mas o macaco não pensa nisso. Ele pensa em macaquices, em sexo oposto, em castanhas escondidas em cascas e em banhos de mangueira.
Macacos adoram banhos de mangueira. Porque a água é corrente e macacos sabem que nem existem muitas fontes de águas correntes.
Por isso o macaco não liga pra jaula. Ele não sabe que está numa jaula. Por isso ele adora banho de mangueira. Porque ele nem desconfia que existem torneiras, água encanada e tubos de borracha que se chamam mangueiras.
Macaco vive bem, mas ele não pensa nisso porque macaco não pensa.
Então ele faz. Com as castanhas que cutuca, com o sexo oposto e com a água abundante que vem de fonte desconhecida.
Macaco bate palma e se vicia facilmente com os cigarros que a galera do zoológico joga pra ele.¹
Ele fuma. Ele recebe pipocas. Ele copula com o sexo oposto. O macaco tá vivo e faz parte do planeta - ou seria biosfera ? - mesmo estando dentro da jaula.
Macaco bom.
Macaco vacinado.
Macaco fazendo participação na novela da Globo.

31 de outubro de 2010

Omelete de claras, ela explica.

Seis ovos e apenas uma gema. Sal, pimenta e muita cebolinha. Tem que ser fresca e tinha na sua geladeira, ela sorri.
A camista branca é minha. Vi primeiro de costas: um lado da calcinha enfiado num dos lados da bunda. Achei bonito. Um tipo de imagem infernal: mulher com sua camiseta e calcinha semi-enfiada sem querer. O chinelo, claro, era meu.
Senta. Quer café?
Eu quero o mundo. Quero meu chinelo também. Ele é parte do mundo, sabe?
Ela lhe acha engraçadíssimo. Deus, no alto de seu trono, deve saber o motivo. Ela tá feliz e prepara o tal omelete. Faz explicações que você nem queria, mas ouve:
- só depois de um minuto que se põe a cebolinha. tem que estar quase desgrudando, mas com a parte de cima ainda mole. daí põe a cebolinha, dá mais um minuto e vira.
Você ri e reclama do seu chinelo de novo. Ela ri. A calcinha é cor de pele. Não deveria ser sexy, mas é. Mas o que sabem as revistas femininas?
- manteiga é o certo. gostei de ver manteiga na sua geladeira. e com sal... eu não entendo que tipo de gente compra manteiga sem sal...
O café é forte e com pouco açúcar. Lembro da minha mãe. Lembro do diabo à quatro. Ela prepara o omelete e parece não lembrar de nada. Ela está calma e sorridente: como sua bunda com metade da calcinha enfiada. Ela fala.
- nunca imaginava cebolinha aqui. ainda mais assim, fresquinha. foi só deixar na água um pouquinho que ela inchou. já reparou como cebolinha incha depois de você deixar de molho?
Eu falo pouco de manhã e ela não. Talvez seja nossa primeira diferença.
A calcinha tá lá e meio que me pisca um olho.
- delícia, né?
- hum, u-hum...
- nem precisa escovar os dentes, né?
Ela gargalha. Acha tudo engraçadíssimo. Come narrando os sabores e eu nem me incomodo. Comenta o curry, a pimenta, a clara que predomina, a cebolinha semi-azeda e a manteiga... fala horas sobre manteiga. Manteigas caseiras, temperadas, trufadas, com queijo, com lascas de sal, de garrafa, líquidas, misturadas, etc.
Manteiga parece ser uma especialidade.
Ela toma um banho e anuncia que vai embora. Adora domingos, ela diz.
Eu fico. Tomo banho depois dela sair.
- estranho isso, bem estranho.
Nem parece ser verdade. Ela sorri mais uma vez.

29 de outubro de 2010

Sundae de caramelo. Há o ar condicionado e as lojas. Passeio aqui e ali. Lembro que preciso de tênis e vejo os preços. Não consigo perceber a diferença entre o de 130 e o de 250. Meu pai(ou seria minha mãe?) diria: calça eles.
Prefiro o sundae à 3 reais. Caramelo. O que, afinal, é caramelo? Existe uma fruta chamada caramelo? Ou uma planta, tipo baunilha que é aquele cabinho fino e preto?
Passeio.
Na livraria sinto calma. Fazia tempo que não zanzava ali, o sólo do Solar, a música do Caetano que eu achava legal quando cheguei aqui. Rio de Janeiro, Deus abençoe o ar condicionado. Saio com 2 produtos.
Planos vem e vão. Isso apenas em uma tarde. Dormir, telefonar, escrever, procurar, decidir, goolgar passagens pra Argentina, preparar qualificações, etc. Nenhum plano é consumado: hortifruti aí vou eu, quero é carpaccio!
Mulheres lindas. Várias mulheres lindas: de salto, de saia, de tênis, de casaco, etc. Uma comprava doces - ja na loja Americanas - enquanto eu reparava nela. Loira séria de aliança e bico fino. Parecia estar triste e eu queria que ela me visse. Ela meu viu e disse SEXTA FEIRA. Eu disse ÉÉÉÉ... e paguei minhas cervejas.

28 de outubro de 2010

quanta belezinha.

eu meio que sinto tesão. mas é mentira. gosto de falar sobre tesão. e sobre peitos e decotes. sobre bucetas também. eu falo. eu gosto de falar. eu falo aqui. se fosse uma pergunta eu responderia que sou tímido. mas gostaria de dizer outra coisa. eu diria discreto. discreto é legal, tímido não. mas não sei se sou legal. têm 3, talvez 4, que acham. eles me acham sempre legal. tem uns outros. eles acham legal quando a gente se encontra. a gente se encontra pouco. é legal a gente se encontrar assim. e se encontrando pouco é fácil ser legal. é um mundo justo, nesse sentido. eu gosto de trocadilhos. o aramis gosta mais. mas quem manda nos trocadilhos - no sentido de deixar claro o humor dos trocadilhos - é o seu bill. ele é pai do aramis. não é meu pai. o bill é legal. e bebe. meu pai também bebe. mas meu pai nem é fã de trocadilhos. é um mundo justo e confuso, pensando bem.
por excesso de punhetas tenho pensado que o consumo excessivo de pornografia não é saudável. veja só. é fácil se desdizer. e mais fácil ainda se confundir. não acho que se confundir seja bom, mesmo que eu me confunda. tem gente que gosta da confusão, eu não. gosto do quê? de beber, ler, escrever. de foder eu gosto também. mas faz tempo que eu não fodo e nem sei se isso é ruim ou bom. teve uma adolescente que me acusou de super valorizar a foda. ela era idiota, mas acertou nisso. quer dizer, ela me abalou com isso. eu me abalo. eu sou fraco. eu tenho blogue, por exemplo. fraqueza, né? hoje mesmo eu pensei. de novo, eu pensei. pensar é errado. pensar faz mal. ter amigos é mais importante e saudável. vive-se melhor sem pensar. minha avó morta. ela tinha a coisa de ser curandeira e acreditar em deus. ela não pensava. era bicho. era triste e feliz. mas o que acho legal é que era triste e feliz sem pensar. não pensar é bom. é burro, mas é bom. c não pensava, g pensava torto, d pensava sempre com dor, c2 pensava, mas só sofria. quem entende? eu não entendo. mas agora eu to legal. agora eu sou legal. eu gosto da música que tá tocando e tenho dinheiro. dinheiro é legal. eu também sou legal, né? lembra? teve sua mão. eu adorei sua mão. amei mais sua mão do que você. eu falhei nisso, né? amar é dureza, a j disse. a j é linda e a m também. as duas se reconheceram como mulheres lindas e me emocionei. eu sou fraco. acontece. meu pai mora em brasília e minha mãe em curitiba. eles sofrem. eles são sós. eles não conseguem conversar muito bem entre eles. eu consigo. me dou bem com os dois, mas moro no rio de janeiro. é um mundo estranho. tem muita tristeza no mundo. mas o que importa nem é isso.
digo: o problema é a tristeza daqueles importantes pra você. o mundo em si nem é o mundo. a não ser que o mundo pense sobre o mundo. mas ele não faz isso. o mundo gira. eu não giro. até tem gente que gira. mas ninguém gira como o mundo. acho.

25 de outubro de 2010

depois dos rastafáris.

Não gosto de escândalo,

não gosto de piti.
Estou velho,
estou acabado
e - por ironia - me sinto bem com nunca.
Não gosto do grito que você dá,

e acho que você deveria deixar o corpo resolver.
(as bucetas falam, sabia?)
Mas você tem cadência,
você tem dicção,
você geme como se estivesse sendo filmada.
(as bucetas, além de boca, têm língua, sabia?)
Quero uma mulher

que ande de Ceci rosa
pela orla do Rio
enquanto toma um sorvete.
Não me interessa sua habilidade em ser do contra.

E muito menos seu ex namorado zen e Indiana Jones - ao mesmo tempo.
Eu quero a orla como paisagem,

um sorvete chicabom
e um bifo frito.
Não

me parece
que
eu queira
muito...

24 de outubro de 2010

Domingão na cabeça

Música alta. Penso em falar sobre papai triste e mamãe melancólica. Penso. Tem minha irmã em seus labirintos, minhas sobrinhas. Tem eu mesmo. Cheio de queixas e dores velhas. Tem os planos também. Tem, é bom não esquecer, as órfãs e órfãos que sofrem sempre culpando a orfandade. E os cachorros... como se esquecer dos cachorros? Abanam o rabo, latem e choram com a mesma convicção. Ah, os cachorros...
Por ora, nada disso. Eu mesmo e minha teimosia. Escrevo por tédio, confesso. E também porque ta aí o domingão e ninguém aguenta o Gugu ou o Raul Gil. Até os porres de domingo perdem sentido. Ah... bom era ter a namorada que tive: adorava trepar de porre aos domingos. Era católica e tinha coerência. Trepávamos aos domingos como o dia sagrado que ele é.
Mas falar de si é facilitar. Fale dos outros ou do mundo. Fale. Ou tenha um blogue, um twitter, um facebook, um caderno de capa dura... essas coisas. E repetimos. Repetimos com eficiência e tecnologia: somos nós mesmos.
Fronhas sem travesseiros e meias sem pares. A matemática que era pra dar certo, mas não deu. A confusão de achar que a tragédia é isso, uma algebra sem exatidão.
A boca sem dentes e o detalhe das dentaduras e jaquetas. A raivinha, o tesãozinho, a vidinha.
A sobrevivência, em outras palavras.

22 de outubro de 2010

-

aqui eu mesmo. minha bela pança berrando vaidades que não existem e nem procedem. ser mal, ser bacana, ser a farsa, ser o que se inventa. a liberdade como uma moeda de 50 centavos no chão: a gente se abaixa pra pegar. e nem percebe que os 50 centavos custaram o cofrinho e, junto com ele, toda a dignidade.
dignidade... legal... bela palavra, reconheço... mas lembro o meu avô dizendo dignidade e ele dizia absurdos, mesmo sendo o homem mais digno que conheci. ele dizia: 'nordestino é vagabundo' - ele era nordestino. fazia sentido. ter ódio do que se é e não se pode fazer nada. uma fraqueza e uma tolerância. fraqueza dele. solidão minha porque repito: ele era digno.
nasceu em 1918, mas foi registrado em 19. era teimoso e, pra sua época, era inusitado: achava que suas irmãs mulheres também deveriam ler e escrever como os homens. o pai dele, meu bisavô, não entendia. achava que suas filhas iriam escrever pros machos e virar prostitutas. a ignorância é um tipo de paraíso: nada se sabe e tudo se condena.
meu avô teimava em relação a escrever e ler, mas, mesmo assim, achava que mulheres desquitadas era uma coisa errada. ou os homens eram canalhas ou as mulheres eram putas. sempre assim: ou um ou outro. o sistema binário mais coerente que já vi.
e ele agonizava. câncer. câncer no estômago comendo sua velhice e sua satisfação. ele mantinha sua dignidade e me dava seus toques. ele tinha ido pra guerra e não tinha morrido. era um pracinha. foi quando as coisas melhoraram... a aposentadoria, essas coisas.
-
estamos em 2010. você me dá lições de vida post morten. o diabo sorri. nem deus nem diabo existem. a garota me disse que vivo do passado. ela nem me ama nem me odeia. ela também tem avô morto e entende sobre dignidade. ela imagina ser livre. eu também. nossos avôs, os verdadeiros portadores da dignidade, estão mortos e rezam no caixão. eles ainda nos amam e também nos influenciam, mesmo mortos há muito tempo atrás.
dignidade... essas palavras terríveis.

21 de outubro de 2010

duas cervejas.

A mulata está acompanhada, mas talvez seja seu irmão. Ela passa por mim: peituda e cochuda.
Mulata tipo prata. Em outras palavras, ela brilha.
"Poxa, que coxa", eu penso bestialmente. Estou bêbado, confesso. "Poxa, que coxa" é engraçado e estar bêbado é bom.
Ela amarra o cabelo. Lança o pescoço pra trás e se apoia na cadeira. Faz um nó no cabelo. O pescoço brilha e eu me emociono... essa coisa de beber deixa a gente um bocado suscetível. As lembranças me invadem... "Meu Deus, por que que essa mulata não é minha?".
Seu irmão (ou seria seu namorado?) vai até o balcão e paga a conta. Não gosto dele. Usa brinco. Tão antiquado usar brinco... coisa de índio. Ela já tá com a bolsa no gatilho e levanta. "Bunduda também", eu penso.
Os dois saem e os perco de vista. Uma pena. Ela era linda e farta. Ele tinha brinco, era mulato, mas sem brilhar. Eu ficaria horas olhando pra ela - apenas olhando pra ela - e me sentiria ótimo.
A minha cerveja acaba. Eu volto pra casa.

18 de outubro de 2010

A chuva parece acalmar.

Há quem não goste de chuva, há quem não goste de sol. Há o mundo inteiro. E o mundo inteiro é enorme e perturbador. Muita gente espalhada, muita ideia solta, muitos lugares pra conhecer, muitos dias, muitos anos (antes e depois de nós). O mundo imenso, a cabeça como um balão de gás hélio e nós todos que, por ora, somos/participamos do/o mundo.
Existe uma gente que está na batalha, querendo conquistar isso ou aquilo. Existe a galera do bar, sempre bêbada e festiva. Existe o namorado da amiga, cheio de sonhos decentes e bonitos. Existe as crianças que crescem e que agora têm peitos e lhe desafiam no elevador. Existem as senhoras elegantes que estão surdas. Os cachorros que rosnam, as mulheres que amam, as traças do banheiro, os acadêmicos de palavras difíceis, as crianças órfãs, o Tom Jobim bêbado e risonho, o García Márquez desconfiado por estar na moda, os pernilongos que chegam no 6° andar, os homens que insistem em mijar na via pública, os casais que não se entendem, a dona da padaria da Rua da Passagem, a Solange comemorando aniversário com salsichas empanadas, a Branca com vestido de noiva e magra demais, o primo que lhe fornece viagras, a vizinha chata e falsa pra quem se diz bom dia, boa tarde e boa noite.
O mundo inteiro, o mundo todo.
A síntese bonita e sem frescura:
MUNDO VASTO, VASTO MUNDO
SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO
SERIA UMA RIMA
NÃO SERIA UMA SOLUÇÃO.*
*(clica no título, clica)

escreva no muro:

SEJA
FELIZ
COM
A
SUA
TRISTEZA.

15 de outubro de 2010

de 17:30 às 18:23 - relatinho.

No meu sonho ela dançava. E também me fazia dançar. Era um tipo de valsa. Eu demorava a entender como a coisa funcionava, mas pegava o jeito e dançava também. Eu gostava de dançar. Era bom dançar com ela. Era tesudo e bom dançar com ela.
Ela usava uma saia branca. E a gente dançava essa valsinha e ela também era um tipo de cantora. Eu a acompanhava. Era meio que um show. Nós dois estávamos no centro da roda. Mas não era bem uma roda. Era mais show mesmo. Inclusive ela cantava. Acho que primeiro rolou a valsinha, depois ela cantar e só depois essa dança mais tesuda.
Nessa dança mais tesuda a coisa começou com ela cantanto. Como se ela dançasse comigo enquanto cantava. Tinha até um microfone na jogada. E lembro bem disso porque o microfone tinha fio. Depois era como se ela tivesse deixado o microfone e a gente continuasse dançando. Era uma roda, mas não era bem uma roda. A gente tinha certo destaque, meio que ficava no centro da coisa - como se fosse casamento. Poderia ser casamento, mas não tenho certeza. Lembro bem da saia branca e também de uma blusinha que era azul claro e colada no corpo. Não lembro como eu estava vestido.
Lembro que a dança ficou tesuda e que a gente enroscou nossas pernas e meio que descíamos rebolando até o chão - como tem nas danças nordestinas. E a coisa era cada vez mais tesuda e eu sentia o elástico da sua calcinha e investia por ali.
Nessa hora era como se já não tivesse tanta gente. E a gente se bolia e se bolia. E dançava esse troço que era meio nordestino.
Quando acordei queria que ela tivesse um rosto. Quero dizer, um rosto conhecido. Mas ela não tinha. Era um rosto próximo à um rosto, mas mesmo assim sem nome ou clareza. Uma pena.
Meu pau tava à meio mastro e encostei nele. Era uma pena não ter um rosto definido pra me punhetar. Seja como for, eu sou teimoso. Em outras palavras: me punhetei mesmo assim.