30 de setembro de 2010

merda.*

Acho viver bem estranho
e isso já faz tempo.
Mas agora apenas digo:
eu nada entendo.
* há quem chame isso de serenidade... credo.

28 de setembro de 2010

Mulheres podem te acalmar.
Ou então te levarem para o inferno.
Mulheres são loucas e perigosas.
(Talvez seja
apenas por isso
que elas gostem tanto
de Budismo e religiões
que pregam
o caminho do meio
e a ponderância)

25 de setembro de 2010

"A memória é uma prisão"

Lembro dela exaltando a dor,
falando de como suas tragédias tinham a deixado forte.
Lembro dela em um dia de chuva,
reclamando e dizendo que a vida era uma merda,
que não havia justiça e que eu era um idiota machista.
Lembro de uma cãibra durante uma foda
e do desprezo que ela sentia por mim e
de como isso me dava um tesão estranho e doentio.
Lembro das tardes de inverno,
sempre lembro das tardes de inverno,
mesmo quando elas não existiram
e eu as inventava
bebendo whisky durante tardes de domingo.
Lembro dela exaltando a poesia do Renato Russo,
dizendo literalmente a poesia do Renato Russo
e eu sentia esse ódio cheio de tesão
e nós fazíamos amor,
mas só falávamos eu te amo quando
trepávamos de quatro.
Lembro dela colhendo flores e dizendo
que queria morar numa casa ensolarada,
onde teria um cachorro e dois filhos machinhos.
(Ela ria quando falava machinhos...)
Lembro dela preocupada com a feridinha que apareceu em sua buceta
e lembro da pomada que o médico recomendou
e que eu passava nela e ela em mim.
E o nome disso era Amor.
Lembro até da gente fazendo planos:
cachorros, gatos, filhos machinhos
e jardim com cebolinha, salsinha e manjericão.
Lembro de tudo ou quase tudo.
Lembro da noite fria em que ela teve pressão baixa
e peguei sal do cara que vendia milho cozido
e a gente sentou no meio fio
e ficamos beijando por horas.
Lembro do seu cabelo pintado de loiro
e das confusões que arranjávamos para espantar o tédio.
Lembro que, mesmo assim,
a gente não conseguiu espantar o tédio.

23 de setembro de 2010

quinta feira no rio de janeiro.

Está um dia bonito e ontem (ou anteontem?) começou a primavera. Lavei roupas, comprei verduras, toquei 6 punhetas e agora fumo um cigarrinho enquanto mamo uma cerveja em lata.
Tenho coisas para fazer e para pensar. Todo imbecil na terra tem coisas para fazer e para pensar. Eu entre eles. É quase uma tristeza, mas apenas quase. A vida besta e bonita, em outras palavras.
Quero falar sobre São Paulo. Sobre beijos em calçadas e sobre porres cheios de vitalidade. Mas agora não. É como disse: tenho coisas pra pensar.
Então faço contas e programo grande textos a serem escritos. É o que os chatos chamam, com emissão afetada e sibilante, de processo. Ou melhor: proccessso.
Fico remoendo a imagem. No caso, beijos em calçadas. A partir daí vou inventando umas coisas e juntando outras, incluo delírios e deduções baratas, aumento mentiras, crio verdades e, quando for escrever, eu mesmo estarei confuso sobre o que pensei na hora e o que pensei depois quando já me imaginava escrevendo sobre. Uma confusão que me agrada e me dá tesão: deturpar a realidade que, enfim, nem existe assim tão real e absoluta. Uma merda velha.
(sempre lembro da pesquisa de alguma revista científica que li que dizia que pro cérebro não havia diferença entre o vivido e o imaginado, que no cérebro tudo [ verdade ou mentira ] era processado na mesma área)
Penso no risco e nas confusões. Lembro da louca que achou que eu tinha escrito pra ela e também da outra louca que me cobrou por coisas que eu nem pensava, mas tinha escrito.
A confusão que me agrada e me dá tesão.
Minha doença mais terna e gratuita.
Minha diversão de nerd.

22 de setembro de 2010

mulheres lindas do meu lado.

Elas falam sobre seus maridos e namorados.
Mexem as bocas vermelhas com delicadeza e precisão,
têm gestos elegantes e piscam de maneira belíssima:
as pálpebras descem lentas e
se apertam por um milagroso segundo.
Então os olhos surgem imensos, úmidos e pretos - e também profundos e abissais -
e revelam aquela coisa terrível que a gente chama de alma.

21 de setembro de 2010

meu a-ha, u-hu.

É tudo um golpe ou um tipo de golpe. Tanto faz. Estilo é a parada, né Tio Buk? Golpe com estilo e eu acredito porque sou fácil de enganar. Porque a realidade é essa bobagem que a gente toca adiante enquanto pensamos nas coisas importantes. Por essas os políticos são a corja que são. Eles fingem se importar com a realidade. Mas eu não estou falando de políticos. Estou falando de teatro. De milhares e milhares de teatro que fazem sucesso sem mérito algum. É isso.
Mas mérito é coisa de fracos, assim como decência, amor, competência e inteligência. É o Peréio quando diz: "não precisa ter pau grande, precisa ter cara de quem tem pau grande." Mas o Peréio tem o mérito e a inteligência do humor. Ele ri. Ele sabe rir. E quem realmente sabe rir? Eu não estou falando de rir com o Jô ou com Stand-Up. Estou falando do riso que brota a partir da visão da merda. Vê-se a bela bosta e ri. O deboche do capeta, tá escrito no livro. O riso é a máscara que o diabo deu aos humanos, tá em outro livro.
Mas quem ri? Quem ri mesmo? Rir e se enganar é possível? Deus! O Jô é apenas engraçado. Tô falando de riso e também de delírio. Sem concessão. Rir quando não pega bem e quando há sangue nas gengivas sem dentes. Rir sem dente, rir pela ausência de dentes.
Não dá para crer no sucesso das peças de teatro que fazem sucesso. Porque na grande média o sucesso é um engano. Ta aí o P. Coelho, o valor cultural do Funk Carioca, a consciência ecológica do J. Serra e a aceitação da diferença como estratégia de omissão.
Há que se ver a merda. Há que se ver a merda e rir. E só assim. Sem desculpas, sem sacadinhas, sem verdades da moda.
Só o hipócrita salva, só ele, só ele. Porque ele é cínico e sabe da farsa. Ele não acredita na farsa. Ele usa a farsa. Ele é hipócrita e mente em benefício próprio. Ele é bom por isso. Ele é o cretino que sabe que a mentira e a verdade são apenas convenientes ou não. O Hipócrita é o que eu quero ser, claro está.
Tirando isso há a curtição do facebook, os comentários em blogues e os seguidores de twitters. A farsa como instituição e o aumento da confusão: seja nas estátisticas eleitorais, nos imortais da ABL ou na criança que ganha prêmio por imitar adultos no programa do R. Gil.
São gracinhas e jogadas. A gente participa querendo ou não. Por inconsciência ou cinismo.
Cá comigo ainda prefiro o cinismo.

20 de setembro de 2010

#

Cheiro meus próprios dedos pra me reconhecer. É uma tática antiga, estúpida e quase eficiente. Voltar demora, chegar em casa demora, sentir a doce e produtiva solidão demora também. Tento pensar pra frente, mas não consigo. O futuro é sempre um tipo de abstração. Faço minhas obrigações, cago no meu banheiro e, no hortifruti, compro legumes e saladas como se eu fosse o cara mais saudável do Oeste. O rádio tá ligado na cbn e tenho que lavar camisetas e cuecas. A vida parece besta, mas mesmo assim é agradável. Há coisas à fazer, sempre há coisas a fazer. Parece indecente esse fazer-fazer sem fim. E é.

11 de setembro de 2010

Deve rolar em Sampa/Capital no dia 18 de Setembro - se tudo der certo na Dona Roosevelt.

9 de setembro de 2010

essa euforia é todo um tesãozinho.

Ter paz na tarde chuvosa do Rio de Janeiro e ver que o cinza do dia nem é nada tão sério.
Porque tem essa gente que se deprime por causa do tempo e desse mal eu não sofro.
E tenho muita merda, sofrimento e revolta, mas besta eu não sou.
Que, cá comigo, acho bem patético e vaidoso essa coisa de se deprimir em feeds de facebook.
(meu limite de patético e vaidoso é meu blogue - essa coisinha aqui que até punhetinhas me rende)
Então mexo no meu pau sem foda e penso que tudo é uma grande bobagem. A euforia é uma grande bobagem. A depressão também.
No espelho do elevador reparei na minha pança. Ela é grande, branca e parece crescer. Mas o pior é: nem me importo.
Lembro do meu pai falando da diabetes que virá via gene, da ex que me queria saudável e da boa amiga que diz, quase suave: Fernando, você sabe que engordou demais nos últimos anos.
E, contra mim mesmo, reflito bêbado e falsamente profundo: melhor ter pança do que não ter alma.
Lembro de todo mundo e da última louca. Tento entender porque eu e as loucas nos aproximamos e tentamos, sempre com muita incompetência, nos envolver. E fico apavorado ao cogitar a coisa triste e óbvia: era claro que não daria certo.
E insistir no que não dá certo é a sabotagem mais clássica de toda auto-ajuda.
Agora ouço bebop e concluo que trompete é bem mais tesudo que violões, pianos e sambinhas tradicionais tocados por garotos da zona sul.
Eu já falei sobre alma nesse post, não falei?
-
Mais um cigarro pra dentro e a infelicidade de imaginar que a vida longa parece ser a vida saudável.
É que preferia morrer velhobemvelho e fumante e bebendo e sem exercícios.
Mas quem sabe o que?
E o que seria da regra sem a exceção?
A cerveja é gelada, o cigarro é mais prazeroso do que imaginam os não-fumantes e meu pau, bem... meu pau ainda impressiona as adolescentes de Botafogo.

7 de setembro de 2010

queria bem enfiar-lhe a pica. seria minha maneira mais sincera de lhe dizer saudades.
você igual, você eufórica.
eu dentro e você soltando aquele riso frouxo e dizendo meio idiota "- você por aqui?"
o afeto seria uma linguada no rabo.
depois banhozinho e casa. nada de conchinha, nada de pé gelado, nada de "bom dia, faz café?"
ligaria a TV e acenderia um cigarro. olharia meu pau melado e passaria meu dedo no prepúcio.
o cheiro de látex da camisinha.
a maldita camisinha, a maldita camisinha.

4 de setembro de 2010

Estranho e lento.

  1. Daqui a pouco devo esquentar a pizza. Lembro de J me acusando pelo excesso de pizza.
  2. No som um Nick Cave que é do Renatinho. Ouço, mas nem sei se gosto. Penso, com minha pança branca e mimada, que é le-ê-gal ouvir Nick Cave.
  3. Daí lembro do Bortolotto quando ele fala que ta ouvindo um disco. E sempre parece que ele tá ouvindo o melhor disco do mundo. E várias vezes ouços os discos que ele diz, mas nem é igual. O lance é o jeito como ele diz.
  4. Amanhã, após 2 meses, não haverá peça. Era cansativo a obrigação de todo fim de semana chegar cedo ao teatro e arrumar as coisas. Depois torcer pra que houvesse platéia e que o espetáculo fosse bom - porque teatro (quem faz, sabe) nem sempre é bom.
  5. Matava minhas tardes de sábado e domingo, mas ajudava a dar sentido pra vida. É besta, eu sei. Mas é real: com aquela peça em cartaz eu não tinha nenhuma dúvida de que eu participava do mundo.
  6. Penso que preciso de uma foda. De uma BOA foda. Foda-Fantástica. Aquela coisa de trepar e realmente sentir a plena descarga sexual. Sentir a morte durante o orgasmo e não se importar. Se abandonar praquela buceta que envolve seu pau e, secretamente, pensar: morrer ou viver não é importante.
  7. Imagino M me dando. Ela chega até mim, se apresenta e diz algo fatal. Fico cheio de medo. Entendo que se eu quiser treparemos e me apavoro. Desconfio do porquê M me daria e fico triste ao lembrar que ela lê meu blogue e que, muito provavelmente, quer me dar apenas para ler o que escreverei depois. A vaidade de mão dada com uma enorme bobagem. Como M não mora no RJ, eu me acalmo.
  8. Tem uma foto que vi num blogue aí. A foto era de uma garota. Esse blogue aí é de uma garota que é mãe de uma garota de uns 12, 14 anos. E achei que a foto era da filha e não da mãe-dona-do-blogue. Por sei lá que motivo, na solidão livre da internet, me senti profundamente constrangido. Até hoje, quando vejo esse blogue aí, lembro disso e me constranjo. Quem explica? Freud não, eu acho.
  9. Delirei com uma resposta. Sempre deliro com essa resposta que nunca veio ou virá. Talvez a cisma católica dos milagres, talvez o gosto pelo impossível ou, talvez, apenas o medo de nunca ter algo como aquilo. Porque o real é constrangedor e estranho. E quando o real é belo é ainda mais estranho e constrangedor.
  10. Coisas existiram. E, quando as vejo à distância, sinto a tristeza mais bonita do mundo. Acho até que sinto paz.

2 de setembro de 2010

A realidade e toda sua merda tacanha.

Comezinho é a palavra. Acho que é assim que escreve.
Então eu mesmo enfio o dedo no meu cu e me pergunto com ares filosóficos:
- é isso mesmo que quer rapaz, é esse mundo comezinho que deseja?
E fico com cara de bundão e faço mil contas loucas e inúteis:
de um lado a aceitação da merda morna que está aí à ser cagada; de outro as grandes diarreias cheias de cólicas.
Troca-troca de misérias e outras jogadas.
(Lembro da adolescente de 14 anos que me olhou no metrô. Ela me dava mole entre Botafogo e Catete. Me dava mole por conveniência: uma garota de 14 anos descobrindo que sua sexualidade é uma maneira legítima de chamar atenção. Eu era seu objeto e topava. Ela fazia caras e bocas e mexia nos cabelos. A mãe notou. Olhou pra mim com desprezo e chamou atenção da filha. Eu continuei olhando pra ela e ela olhando pra mim. Troca-troca de misérias, eu disse - e foi o que me fez lembrar disso.)
Joga-se por tédio ou por diversão. A moeda, que é a mesma, roda no ar e finge ser a portadora da sorte ou do azar.
Quem suporta? Quem entende?
Conta gotas de sim ou não. A humanidade diante do precipício e com apenas duas respostas: sim ou não.
É triste, é triste a beça.
Tantas coisas ditas para chegar à palavras com apenas três letras.
Tédio tem cinco e parece melhor. Assim como raiva, cisma e sumir.
Eu me defendo. Acho normal se defender. E normal não é bom. É o que é. A fatalidade de dizer pra si mesmo: - pois é, bem que comia a garota do metrô com 14 anos.
Porque toda essa patetice e esse sei lá indiferente é a merda sem cólica que chamamos de maturidade.
E nos achamos esperto por isso! E vibramos com nossa constatação imbecil: - estamos velhos...estamos velhos...
E nossa constatação imbecil é mais uma manifestação comezinha do maldito e enorme mundo. Que era melhor não pensar, não saber. Mas é tarde demais:
não somos vira-latas ou crianças, e nem gostamos desse papo.
Então o lance é peidar e criar blogues.
A homeopatia e doses mínimas que saciam.
Sei lá o que e sei lá quem.

1 de setembro de 2010

Nunca consigo falar o que penso naquela hora e praquela pessoa.
Só ela só ela.
E também o manto lindo e azul que a vesti e assim ficou.
E gosto.
Que ela é minha porque a invento.
E é bom.
A única mulher minha será inventada.
Quase bonita a minha limitação.
Como se falar ou escrever pervertesse pureza.
Como se purezas existissem.