22 de setembro de 2009

cachorro, gato, galinha.

Estou idiota e insuportável.
Mais do que tudo, insuportável.
Sinto-me bem e tudo parece doce e estúpido.
Sinto-me a milhas daqui e bato palmas pra todos que não sou eu.
Estou distante e com os olhos abertos. Tenho, hoje, aquela arrogância plena de cuspir pra cima, aquele 'tanto faz' que berra foda-se em todas as ruas.
Deus é um cara quase real em dias assim.
Então lambo a mim mesmo e me preparo: compro whisky, faço gelo e, de quebra, compro uns cigarros bem finos que é só pra me lembrar, a cada tragada, que hoje, hoje sim.
É que há todo esse mundo, entende? Toda essa coisa louca da vida, de sofrer, de resmungar, de ver os dêmonios e se assustar. E isso, essa coisa toda, é a vida acontecendo. E a 'vida acontecendo' não é, e nunca foi, o ponto da existência.
E é por essas que, em dias assim, eu faço a minha cena: compro livros e álcool do bom, e até mudo prum cigarro meio viado, mas saboroso. (Isso porque estou só, pois caso tivesse uma buceta verdadeiramente doce ao meu lado, seria o caso de telefonar e dizer: vamos jantar, vamos fazer coisas, vamos gastar 300 reais em meia hora, combinado? E ela me chamaria de maluco e nos divertíramos a beça).
Porque tenho lá meus momentos e, bem, gosto de gastar minha carnezinha querida nesse planetinha imbecil que vivemos.
E isso não tem nada a ver com felicidade, mas sim de ir até o fundo dos poços. Sejam eles bons ou maus. O caso é que agora, hoje, é bom, e quando é bom, e nem sempre é bom, eu reconheço e chafurdo nessa glória que é e será tão passageira quanto são as tragédias.
É por essas que eu acho que aprendi viver e que me acho esperto. Até o fim e até a última gota. Seja de doença ou seja de cura. No fundo, no fundo, isso tanto faz.
O grande prazer ainda é sorver a última gota. E a garrafa, por sorte, ainda está cheia.
Acabou
o luto:
me sinto
pronto
pra
próxima
xota.

Não forçar a barra e ver os mortos.
-
Era eu e mais uns milhões. Nem era o caso de competir e, no fundo, eu nem queria. Gosto de entrar na briga pra ganhar - ou achando que posso ganhar. Somos macacos valentes, ora pois.
Só que aí eu cismo, sou um cara de cismas, invento um treco e esqueço que aquele treco fui eu que inventei. É difícil explicar. É estúpido explicar.
Fiquei de braços abertos e bico calado, fazendo uma puta força pra entender algo que eu mesmo havia inventado. A cabeça é um risco, estar vivo, quando se pensa no mundo, é um risco ainda maior.
E sou um tipo que pensa. Por prazer ou por tédio, tanto faz.
E cada coisa que passa. E vejo umas e em outras decido enfiar o dedo. Tem uns que mordem, outros que esquentam, etc ao infinito. Sempre um risco.
E a coisa do risco é boa. O risco, quando real, envolve sangue e queda. A gente caiu, ora pois. Somos os caras pós queda. É o risco da escolha, lembram? A coisa do éden: quando provar do fruto daquela árvore terá o conhecimento do bem e do mal, coisa que até agora, só Deus topou. Topa mesmo?
Nós topamos e, bem, temos inventado um bocado de coisa bacana e feito umas merdas também. É parte da jogada e nem há protesto pra isso.
Mas o lance é que depois de comer merda você não vai repetir a dose.
E vai, por algum tempo, se lamentar de ter comido aquilo, já que a merda tem, enfim, aspecto de merda.