6 de outubro de 2010

não é crueldade, é amor.

É algo parecido com a merda e o desespero. Depois de anos ninguém se entende. E, pior, confunde-se. Culpas em pessoas erradas e friezas cheias de medo e loucuras. Eu sinto o cheiro. Eu conheço. Eu sei. Sou eu mesmo mais velho e mais triste. Enroscado nos meus delírios de grandeza.
Pode não parecer, mas estou falando de coisas objetivas. Tristeza, por exemplo. Isolamento também. Digo pra mim mesmo e pra ele que sou eu mais velho: há mulheres chatas, porém generosas. Mais desesperadas que você, mais solitárias que você, mais loucas e absurdas que você. Mulheres sofrem. E se elas te amam, já era. Você tá fudido. O amor de uma mulher é o que há de mais desejado e mais opressivo. Ao mesmo tempo. Ela te ama e isso é um peso terrível - e é o que você espera e deseja.
Mas existe o inferno compartilhado e também aquele que é seu, só seu. Profundamente seu. O inferno compartilhado tem poucas opções: mata-se a paisagem ou os outros que moram nele. O particular, não. O pecado, nesse caso, é confundir os dois infernos e achar que a sua merda veio de um cu alheio. Não culpe o cu alheio. Ele também tem seus próprios infernos.
Quero dizer: lide com seu próprio inferno e não o misture com o inferno compartilhado. No seu inferno faça o diabo: minta, traia, tente fugir, ria, tome porres, escreva diários, toque punhetas para milfs do facesex. O inferno é seu e estará lá, você reagindo ou não. Convenhamos: ser deprimido pega bem e é uma desculpa quase eficiente. Há drogas cheias de ciência que corrigem isso. Há médicos e há dinheiro pra curar isso. A fuga pode ser uma saída, mas apenas se você REALMENTE conseguir fugir. Fugir pela metade é entalar no buraco: a bunda de um lado e os braços viris de outro.
Eu cago regras, eu minto, eu sofro mais do que você. Eu uso o álcool como muleta e a cada gole, eu bato no meu peito: Fernandinho, o álcool é sua muleta, panacão. E isso é uma estupidez. E é o que é. Não há desculpas ou culpados. Há sonho com medo de sonhar e blogues arrogantes, há sexo como prática de alívio precário e há eu diante do espelho. Eu mesmo. Eu, meu inferno e minhas fugas. Estar vivo é também estar deprimido. Apenas imbecis acreditam em felicidade eterna.
A vida é real e acontece mesmo quando somos cegos, tristes, ricos e solitários. A felicidade é a ilusão de que estamos APENAS vivendo. E nunca estamos APENAS vivendo. Viver não é APENAS. É inferno e gozo, loucura e distração, burrice e ignorância também. A vida é a merda da qual não há saída - e mesmo suícidios são manifestações da vida.
Ela mesma, a vida, essa lazarenta que faz a gente passar por tudo que passa - para o bem e para o mal. Sem critério e sem piedade: a vida.