A calma vem como uma decisão. Era de manhã e tive sonhos verdadeiramente terríveis. Eu me perdia dentro de uma festa onde apresentaria meu teatrinho. Pesadelo sem saída é quase um clássico.
Demoro pra acordar e desisto da visita. Telefono pra saber das coisas e me programo pra terça visitar o gringo convalescente. É um mundo estranho e cheio de gracinhas. Pessoas ficam doentes sem razão ou explicação.
O café é meu amigo e me proporciona uma cagada divina. Cago com precisão e prazer. A bosta que sai de mim é uma dádiva e um orgulho. Tudo meu.
Faço circuitos idiotas pelas internet. Não quero atacar meu problema. Olho pro puto e digo "daqui à pouco". Meu problema sorri e diz "estou te esperando, gatinho".
Telefonemas estranhos vêm me perturbar. Decido que nada me abalará hoje. Apenas hoje. Troco uma nota de cem reais no almoço por kilo e me sinto preparado para tudo. Uma bobagem séria que me alimenta.
Ataco meu problema pelas beiradas. Faço contas precisas. Não tenho tempo e falta de tempo, agora, é vantagem. Uma coisa de cada vez. Visões infernais: glória e fracasso de mãos dadas. Não me importo. Bunda na janela e cara à tapa. Eu sou eu. Eu faço o que eu faço. Eu também sei ser simpático com os imbecis.
Meu problema tá quase resolvido. Preciso achar as palavras. Aquilo que posso dizer e mudar através das palavras. Sem frescura, sem mentira e sem desespero. Invisto na calma e no controle. Sem ilusão sobre esse sexo fudido de ejaculações precoces. É a clareza que encanta. Um tesão antigo de repetir o que se sabe fazer.
Eu entre os outros. Tudo certo. Cada um faz o que pode, o que acredita, o que deseja, o que consegue. Estamos no planeta e entendemos bem mal a vida. Sou um Cristão e compreendo a dor do mundo. Sou irmão de todos na dor que sentimos. Cogito até fundar uma igreja.
Uma voz doce se destaca e me imagino tendo filhos com ela. O tesão do delírio. O delírio e suas coisas. Uma voz e meu delírio. Só faz sentido fazer teatro se esse teatro dialogar com o delírio, é o meu caga regra.
A casa, a música, a cerveja e o blogue. Nostalgia é um treco bacana. Cansaço é uma satisfação natural e estúpida. Tô no mundo e vivo. Morro de medo e sinto grandes alegrias. Acredito em milagres e ainda sinto tesão em mulheres sem sutiã.
Paz, acho, passa por aí.
9 de julho de 2010
até 7.
- É cruel e fatal. De repente vira pó. É como a música infantil. Era vidro e se quebrou. E fico quase chocado. Porque de tão claro e óbvio não poderia ser claro e óbvio. Como explicar? Impossível explicar. O tempo mais preciso do mundo, a coincidência mais surpreendente do planeta. O óbvio ulula e choca. Como um piano que só cairia na sua cabeça naquele exato segundo. Quase um desenho animado.
- Ele chorou, mas eu desconfiei. Ele chorou grosso demais. Ele até queria chorar, mas não conseguiu. Eu, alí, pra ele, era seu terapeuta cheio de consolos e soluções. Mas eu não sou seu terapeuta e desconfiei do choro com razão. Tentar chorar é legítimo. Chorar de verdade é outra história. Querer um cúmplice pro próprio choro é ainda mais em baixo. Eu entendi seu desespero, mas dizer pra ele que eu havia entendido isso seria um erro tremendo.
- Às vezes me sinto muito hábil. Há o mundo e há eu. A gente se estranha faz tempo. Mas estou no meio da turma e converso com todos. Fico surpreso e me sinto idiota. "É simples porque é besta", é a minha conclusão.
- Dançar com garotas lindas e pedir perdão. As mulheres do Século XXI adoram perdões. Elas se sentem femininas ao maltratarem homens. Elas dizem que são livres e mostram os dois dedos que usam para tocar siriricas.
- Contra tudo e contra todos, eu resolverei as merdas que eu tenho que resolver. A merda é o aspecto coletivo do maldito teatrinho que eu faço. Minhas migalhas eu garanto. Mas até aí.
- Cada vez mais penso em mulatas e negras. Mulatas e negras me parecem perfeitas. Deliro que suas bucetas rosas me trarão a glória da grande trepada que não tenho há a algum tempo. Claro está que todo sexo casual e tacanho é feito em busca cega pela grande trepada. A velha ilusão, afinal.
- A bicha gorda berra que precisa se expressar. A bicha gorda se sente estranha e capaz. Diz que gosta de tocar punheta pensando em mulheres mortas. A bicha gorda é um cavalo na minha coluna. Ela - a bicha gorda - me manda um torpedo onde diz eu te amo.
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