30 de julho de 2010

Infelizmente não havia polenta frita. Mas o cachorro passeia pra lá e pra cá e enfia seu foçinho gelado nas minhas pernas. Passo minho mão em sua cabeça e ele fecha os olhos. Lá fora há um belo céu azul de inverno e a mendiga que toca a campainha pede uma caixa de leite. É impossível negar uma caixa de leite. Daqui à pouco haverá crianças falantes e histórias repetidas. Talvez queijo e cerveja, talvez o último gole de whiskey. A mesa estará cheia e os rostos serão conhecidos. Será estranho e familiar.

28 de julho de 2010

nove.

  1. Aquela língua que se enfiava na minha boca durante a noite me fazia bem. A conveniência mais sincera e mais tola. Lamber. Lamber como os cachorros lambem, igual eu escutava na infância: sabia que cachorro lambe porque não sabe beijar?
  2. Tinha o pau duro. O riso era travado e o corpo era aberto. Sempre o sr. Álcool forjando intimidade e desculpas. Eu me desculpava e ela também. Dois desculpadores lado à lado...parecia tão perfeito, mas nem era.
  3. Falava da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dizia que só lá havia o mundo real. Eu não sabia o que era o mundo real. Eu pensava: por que, então, na mora no tal mundo real?
  4. A boca pintada de batom parecia um coração. Uma coisa muito linda: eu sendo chupado por uma mulher que nunca havia tomado sol em toda sua vida. Parecia uma grande coisa, mas era bobagem.
  5. Vampiros soltos e amigos que dizem ter parado de usar cocaína. Deus abençoou o RJ, segundo a mãe de um grande amigo. A mãe desse meu amigo, numa foto que vi, tinha, por coincidência, a boca em forma de coração.
  6. Quero a glória, entendeu? Eu disse sim e menti. Ela mentia também. Não queria a glória. Queria era que eu me masturbasse pensando dela. Eu me masturbava pensando nela. Depois entendi: ela se sente mulher quando algum idiota lhe dedica uma punheta.
  7. Essa coisa de reparar com quem fulano anda é bíblico. Por um lado, parece apenas mais um preconceito cristão. Por outro, é o óbvio sendo ululado por um Jesus pintado pelo A. Warhol.
  8. A louca de rua berrava, como quem diz uma pérola: "depois que fechar os olhos, acabou. aproveitem enquanto estão vivos". Até tentei encarar o que ela dizia como algo fodão por ela ser uma autêntica louca de rua. Mas nem deu: ser maluca não a impedia de falar merda.
  9. Arrancar os cabelos e comer a raiz do couro cabeludo. Há uma grande explicação psicológica pra essa patologia. Algo como: no oculto há a ideia de essência. É bacana de pensar isso, mas, cá comigo, penso que só mesmo um cretino arranca os próprios cabelos. Ainda mais se faz isso pra achar o que quer que seja.

27 de julho de 2010

Eu ia escrever um monte de coisas.
Mas, daí, por motivos que não conto, mas que sei quais são, desisti.
Vou apenas preparar meu sanduíche e deitar - assim, como quem confessa um desejo do qual sente medo.

25 de julho de 2010

O incrível carrossel com cavalinhos gigantes.


É a vida/vidinha e toda a jogada. Hoje, com medinho de que o teatro não enchesse, descobri que sou uma putinha. Foi só os clientes chegarem que a maquiagem foi retocada e a paz renovada. Putinhas. Putinhas tristes que se satisfazem com excesso de picas em uma mesma noite.
Tudo certo.
Então a gente faz nossa peça e ela é o que é. Não é um sucesso, não é um fenômeno e, definitivamente, não agrada aos nossos pares. É um fato: nossos pares - gente de teatro - torce o nariz praquilo, com o papinho conhecido: "parabéns, é divertido" ou "parabéns, me diverti".
E, na verdade, to pouco me fodendo. Quando lembro das coisas que os nossos pares gostam e admiram, concluo: melhor assim.
Porque há esse fetiche pela arte, a arte como uma sabedoria superior e dona de um conhecimento 'especial'. Então prefiro que os meus pares apenas se divirtam e torçam os narizes. Eles gostam da arte séria e sagrada, a arte-salvação que é muito limpa e bem feita, mas que renega o desbunde e o prazer puro e simples que é assistir uma peça de teatro.
E, nessas, como boa putinha, desejo apenas que o público continue vindo. As velhinhas de Copa, os casais que bebem e berram durante a peça, a mãe separada e a filha adolescente com as amigas.
Agora sou mais uma putinha satisfeita e, como tal, desconfio das mulheres que super valorizam o tesão que dizem sentir. Elas entendem tudo de tesão, mas o sentem pouco. Elas gostam mesmo é da cara de tesão que elas fazem diante do espelho.
Eu entendo, eu até topo, mas, cá comigo, prefiro quando uma putinha faz a cara mais feia e estranha durante o orgasmo. Isso, pra mim, é o que parece real.

síntese

Tesão
em mulheres
desconhecidas.
Não,
isso não
é vida.

23 de julho de 2010

Ela gosta de fugir.

Cria fugas em noite de chuva

e muda de ideia subitamente.
Gosta de ser volúvel,
gosta de se dizer líquida.
Usa palavras como "pós-modernidade"
e "vicissitudes".
Vê um céu roxo e descolado que ninguém mais vê.
Gosta de comentar sobre o tamanho da lua
e se supõe muito sexual por trepar sem critério algum.
Adora rebeldias antigas,
mas diz nunca sentir saudades ou arrependimentos.
Considera toda culpa uma bobagem
e não usa sacolas plásticas para o bem do planeta.
Ela roda de táxi pela cidade
e faz visitas norturnas
aos malditos colegas que têm nextel.
(A Trupe-Nextel que fala sem parar
ocupando o vazio pelas ondas do rádio)
Na última jogada
ela pisou na calçada molhada
com uma expressão
que demonstrava uma raiva sem sentido.
O táxi parou e ela se sentiu ótima
com o seu esforço de não-tô-nem-aí.
Ela, não resta dúvidas,
é uma garota muito bem sucedida:
vive o seu tempo e
não se importa com nada.

Apenas dormir.

ver os olhos e, principalmente, as veias dos olhos.
pensar na loucurinha e sentir a velha cócega.
ter tesão nas anãs e sorrir sem se pertubar.
cervejinha lenta e gelada escorrendo pela garganta. não se precisa de esperanças. precisa-se de cerveja gelada e noite calma. um copo, dois copinhos. a cerveja como pretexto e o papo que segue: sem jogadas, sem idiotias e sem precipitações.
a cerveja gelada desce lenta e é melhor assim.
há o tempo. o tempo que passa e faz os outros passarem. tudo certo: o mundo velho invadindo os acontecimentos. riscos tão velhos que nem riscos são.
era pra ser o que era pra ser. não precisava de nenhuma virada. apenas o que era. seria. mas não foi.
por uma vaidade besta, concluo calmo: a culpa não foi minha.
FIM.

21 de julho de 2010

Perdi o que escrevi! meu puta merda! coisinha que nem dá pra repetir porque era um grito e nem importa se bom ou ruim! perdi! e nem tenho ninguém pra culpar! é a única solidão que existe! perdi meu textinho do blogue e nem houve um terremoto!

20 de julho de 2010

"Pronto. Perdi a aposta." *

Adorava dizer 'foda-se' de boca cheia. Era a satisfação. O 'foda-se' amigo como prancha pra uma possível liberdade.
Eu dançava e você dançava. Dançávamos junto e éramos cúmplices. Uma maravilha falsa e honesta no sol mais lindo do Arpoador.
Todas as revoluções e todas as crianças. A gente gostava de crianças e elas gostavam de nós. Nôs sentíamos bem entre os brinquedos. O sorriso amarelo era o passado de um brinquedo morto.
Toda ternura era minha e você era minha musa. Dizia pornografias no meu ouvido durante todo o percurso da roda gigante. Desprezava o uso de animais em circos.
Eu topava. Eu estava apaixonado e defendia suas teorias anti mal trato de animais com a cegueira mais bonita do Sudeste Brasileiro. Paixão.
Havia a tristeza da vida e os dias cinzas onde a chuva não era motivo de pipocas e risadas. Era patético: crianças velhas querendo sugar alegrias da infância. Não dava certo e a gente estava desesperado.
O sol, a areia e a praia. Todos os passeios para sair de si mesmo e tentar descobrir o que quer que fosse. Mas as descobertas não chegavam e precisávamos da velha solidão para poder pensar em paz.
Pensávamos. E a paz nem aparecia.
Era o abismo ganhando cores de Mangá Japonês. Sorriso amarelo virando laranja. O desejo disputando força com o dia à dia.
Nossa boca, finalmente, sangrou. E a gente se beijou ainda, cheios de sangue na língua e pus na garganta. Repetimos "não quero te perder'' sem muita convicção e dormimos, achando que o sono sararia a realidade e o sol do próximo dia.
Perdemos.
Perdemos a mão e a cabeça. Viramos idéias e não pessoas. Perdemos.
De noite ainda nos frequentávamos. Como vampiros que desejam virgens que não existem. Mas, de noite, os vampiros se enganavam e chupavam sangue velho enquanto imaginavam sangue de mocinhas inocentes. Foi a despedida.
Depois todo o resto.
O resto: a cabeça dizendo não quando devia dizer sim, as mãos crispadas na hora de estarem abertas, o grito que achou que seria ouvido, o mar cinza ao invés de azul, as tardes sem pipoca durante o inverno... o resto.
A virada veio. Veio sem sonho, a virada. Tudo era simpatia agora. Éramos simpáticos e velhos amigos. Dizia eu e você: você é muita es-pe-ci-al.
Foi o fim. A cabeça tranquila e o sangue lento dentro das veias. Tínhamos a relação civilizada e amigável que desejávamos ter.
Tínhamos paz, mas quem, afinal, se importava com a paz?
Amigos para sempre e amantes nunca mais. Civilizados e decentes. A grande idéia que, após materializada, se torna a maior bobagem do universo.
A tristeza travestida em palavras que tentam substituir a solidão.
A falta, a Leila, as mulheres que te salvam - o inferno, o inferno mais quentinho de toda a existência... o milagre...o milagre...
*e viva o domingos oliveira e seu imbatível todas mulheres do mundo.

19 de julho de 2010

nossos dadinhos.

Ela fala sobre "sexozinho inofensivo".
Eu me choco e não aguento.
Fico pensando na minha formação religiosa e no amor representado nas ótimas comédias românticas do cinema americano.
Eu choro ao final desses filmes. Eu choro porque acontece o que eu queria que acontecesse. Eu sou fraco, já disse. É verdade.
Mas ela fala "sexozinho bom e rápido, tu e eu no banheiro, sacou?"
Eu saco. Eu sempre saco. Mas, meu bom Jesus, cadê o sexo cheio de amor louco que era o certo na minha cabeça?
"Sexo é sexo, amor é amor", ela diz. É verdade. Mas ser verdade não me consola. Eu queria amor, amorzinho. Eu queria a foda-milagre e o orgasmo-deus. Eu erro. E eu sofro.
A gente joga dadinhos juntos. Estamos mentindo e mentir é legal. "Sexo é sexo, amor é amor." Sou vítima do Nelsão que me disse: sexo é para vira-latas.
Faço meu acampamento e preparo meu miojo. Tenho preconceito com mulheres que valorizam a marca do vinho e o raio da lua.
Digo "bye-bye" para parecer POP e solto ''até logo'' sem nenhuma convicção.
Ó sim! Ó Deus! Eu adoro jogar banco imobilário!

18 de julho de 2010

Amor de verdade só dura 13 dias, ela disse.

Ela me disse coisas bonitas. Como: - de quatro eu dou pra idiotas, quando eu gosto de alguém, eu quero é papai e mamãe.
Ela tinha essas frases de efeito e me impressionava. Eu podia amar ela pra sempre, eu podia a achar perfeita. Ela gostava de mentir pra mim e eu gostava de acreditar nas mentiras dela. Éramos perfeitos.
No dia 2 de Julho de 2009 ela falou sobre o ex-namorado. Achei chato, mas achei normal. Em algum momento os/as ex viram assunto. É normal. Chato e normal, enfim.
De quatro, mas com muito orgulho. Me senti mal. Eu enfiava porque era esse o meu papel. O enfiador. De quatro. Poderia ter sido um milagre. Mas nem. De quatro. O espelho do quarto foi o grande privilegiado.
Outra frase bonita foi: - nunca me diga eu te amo. Deus! Quantas frases! Quantas coisas! Essas mulheres querem me impressionar! Eu me impressiono!
Era 10 de Julho ou menos. Eu queria fazer amor. Não falei pra não oprimir. Fazer amor é opressivo, havia me dito uma ex que adorava dar de quatro.
Então fui discreto, mas desejava: fazer amor, fazer amor...
Dois meses depois, ela me chamou prum café. Queria conversar. Eu topei. Era merda que viria, mas, bem, o que fazer? As merdas estão por aí e, cedo ou tarde, elas serão ditas pra você durante um café. Eu disse, não disse?
Ela: - meu ex me perturba e não estou livre pra você. Desculpe.
Eu desculpei. Ficar com raiva nem fazia sentido. Ela era apenas a garota com ótimas frase e ótimo corpo. A garota que eu poderia mil coisas, mesmo sem nada. Acontece.
Hoje - 17 Julho de 2010 - o que me impressionou foi a barriga. Imaginava quase tudo, mas fiquei surpreso com a gravidez. Ela até me agradeceu. Disse ser eu o responsável por ter despertado seu instinto maternal. Disse que isso? e ela se foi.
Agora fumo meus cigarros tentando achar sentido nas coisas. Não consigo. Não há sentido nas coisas. Ela está grávida de outro e, infelizmente, eu nem me importo. Acho uma pena eu não me importar, mas acontece. TUDO acontece. E TUDO, a gente sabe, não importa.
Nunca importou.

16 de julho de 2010

originalidade é bobagem.

Tomo vinho vagabundo e me sinto bem. Comprei duas garrafas: um seco e outro suave. Vinho vagabundo, eu disse. Ambos brancos.
Enfio as rolhas pra dentro (meu saca-rolha quebrou na primeira tentativa) e misturo os dois em um jarro. Bebo em uma caneca branca.
Concluo que eu tenho estilo.
Bobagem.
Ouço uma música bonita da Tiê em blogue alheio e penso que, se a música fosse pra mim, eu poderia me apaixonar.
Apaixonar.
Paixonar.
Faz tempo que não tenho uma paixão da boa. Com paixão da boa quero dizer: eu estar apaixonado e ela não. Paixão livre, onde só um apaixonado dá conta da coisa toda. No caso, eu.
A última, com essa pegada, foi há mais 2 anos atrás - ou 3? Eu apaixonado declarado e ela não. Eu lutava. Eu queria a conquistar. Eu dizia coisas lindas pra ela e tentava a agradar com presentinhos e exageros. Comprava bilhetinhos da loto pra ela...
A gente conversava de madrugada pelo telefone e eu sempre, sempre mesmo, me declarava. Era bom pra ela e pra mim. Uma paixãozinha da fina e generosa, onde um alimentava o outro.
Durou três meses e nem houve carne. Por orgulho meu e teimosia dela. Mas não importa. Eu tava paixonado e queria a conquistar. Era bom, falso e vital.
Uma portuguesinha me tirou da rota. E ela saiu da rota também: um novo namorado que, se não me engano, dura até hoje.
Resta a saudade e a boa lembrança.
Agora, semi-bêbado, penso nessas paixões cheias de paz, onde se expor apaixonado nem doía nem nada.
Paixonites cheias de milagres, delírios e ternuras.
Minha última paixão, por exemplo, me deu muita ternura. Assim como guardo da Fran-Fran uma boa lembrança até hoje. E isso apenas porque foi o que foi: uma paixonite cheia de paz.
Bem diferente o amor e/ou o envolvimento real. Paixão é mais simples, sejamos francos.
Sinto saudades. Mas, sendo honesto, eu sempre sinto saudades.
O passado, na minha cabeça, é quase sempre melhor. Ta aí a Preta e o início do Rj ou Sp com 19 anos. Em 2001 eu era o cara. É fácil ser o cara em 2001.
Agora, 2010, me acho muito mais inteligente, mas isso é besta. Como besta sempre é. Agora tenho mais deboche e nem me engano com tanta facilidade.
Vantagem e desvantagem em tudo. É o que sempre digo: o conta gotas fatal e a administração do tédio, da glória e do terrível.
Enquanto eu estiver vivo, vou me repetir. Só quando estiver morto - e que demore bastante - serei original.
Ser original... outra bobagem.

15 de julho de 2010

A solidão volta a afagar.

Talvez sejam os dias de chuva e o sono pesado. Talvez a distância e o esquecimento. Alimento-me quase sempre em casa e assisto TV por horas: Houses antigos e Lei e Ordem. Quase não bebo.
Meu edredon faz meu pau ficar duro. Mexo nele, converso com ele: - segura as pontas, garotão. Eu e meu pau, velhos conhecidos.
Depois da mania de fritar bifes, veio a de comer cenoura ralada com sal e limão. Agora me dedico à omeletes. Penso que os ovos são um presente de Deus - mentira. Lembro da minha mãe me aconselhando quando falo que nem sempre sei o que cozinhar: faz um omeletinho. meu filho...tão fácil...
Nos omeletes de agora crio experimentos: Curry nos ovos e coisas do tipo. Até omelete doce eu fiz. Claro que não deu certo.
Olho pro relógio e penso que tenho que ir ao banco. Missão de merda conversar com o gerente. Devia ter aparado a barba e cortado o cabelo pra isso. Gerentes de banco levam à sério essa coisa de aparência.

14 de julho de 2010

o eterno sorriso.

Vem pelo calcanhar como uma cobra. Enrola-se na minha perna e aperta. Mantém-se apertada até doer os músculos. A dor não é causada pela pressão em si. É causada por pressionar há muito tempo. O pé vai ficando roxinho e a circulação interrompida faz com que a dor deixe de ser sentida. É uma gracinha do mundo: por excesso de dor, a dor parece não existir.
Agora o pé já tá preto e os dedos caem um à um. Quem precisa de um pé? Quem liga pra um pé? A perna, toda roxinha, começa a desmanchar também. Vai-se a perna junto com a cobra. O problema está solucionado e não há mais cobras. Agora, finalmente, posso viver sem me preocupar. Mas, às vezes, parece faltar algo.
Sinto falta da perna ou sinto falta da cobra?

13 de julho de 2010

pós - parto?

os cachorros estão rosnando, dentro e fora de mim. eu vou fazer de conta que eu não me importo. meu desejo é não me importar. ser um velho canalha que trata mal todos tirando proveito da velhice. velho que rouba lugares sentados em ônibus. por agora deixo os cachorros rosnarem e ofereço carne. carne velha e podre. que eles ocupem seus caninos com essas carnes. eu tô fora. eu sou chato e acho tudo uma chatice. ouvi parabéns demais pra acreditar em parabéns. eu não quero nada ou quero a glória. exercer simpatia me cansa, como se assim eu antecipasse a morte. não quero conversar com ninguém. quero apenas saber como termina a batalha do velho com o peixe no livro da vez. quero dormir enquanto eu leio e não quero sonhar com boquetes, bucetas ou mortas que ressuscitam. quero uma casa de onde possa ver o mar e um emprego público e medíocre. não quero mais desejar grandezas e sonhar. foi só que fiz sempre. eu mesmo. meus dedos querendo apontar pra frente e meu maxilar travado. o mundo, meu velho inimigo. provando que ser legal é mais importante que competência, mostrando que todo bem sucedido é apenas dono de uma rede de amizades influentes. eu desejei grandezas por tempo demais. estraguei minha vida assim, perdi tempo assim. quero apenas um jogo de cartas e carne assada aos sábados. entrar na merda profundamente. a ponto de se confundir com ela e parar de pensar. quero dormir. quero dormir 19 horas por dia e não ter sonhos ou pesadelos. 5 horas acordado com talvez 5 min. que valham a pena. impossível suportar a vida real. impossível ter esse blogue tacanho que tenta, em vão, substituir a terapia e os calmantes tarja preta. quero sumir e não dar nenhuma satisfação. ser aquele que desapareceu e que nunca mais foi visto até o esquecimento completo. como se eu pudesse morrer sem ter nascido. como se num estalo eu pudesse desaparecer. só importa o velho e o peixe. a luta real. a única luta real. que só sobra a repetição. minha, do mundo e de todos. repetição que perdeu a graça quando fiz 25. repetição que insistirá até o dia fatídico. é fácil reconhecer a merda espalhada. raro é perceber a merda que não vale a pena durante a cagada.

12 de julho de 2010

sobreviver não importa.

No meio do mundo percebo que eu sou um cara doce. Isso mesmo: d-o-c-e. É claro que é estúpido isso. Se sentir doce é idiota. Mas é o que é. Me vejo no mundo e, depois de muito pensar, concluo: sou um cara doce.
Essa conclusão não quer dizer nada. Não é boa nem ruim. Conclusão morna, honesta e quase contra mim. Meu putaquepariu chora baixinho. Porque há uma bela vitalidade no ódio, porque há grande prazer na raiva e na loucura.
(e devo admitir que uma coisa não impede a outra)
Talvez esteja mais velho, talvez mais tolerante, talvez mais besta e mais conformado. Tanto faz. As coisas mudam. E as coisas mudarem é um treco bacana - mesmo que as mudanças não sejam as revoluções que secretamente desejávamos.
Mais velho, mais esperto e menos passional. E, veja, eu gosto da passionalidade, eu admiro o sangue da passionalidade. Atitudes passionais são sempre encantadoras - para o bem e para o mal.
Mas a gente tem que viver e vive. Há que se ter alguma proteção contra a merda toda. A maturidade é uma proteção - e apenas isso.
Eu sorrio e sou quase sincero. Queria que algumas pessoas vissem minhas peças e lessem meus escritos. Eu gosto da vida, mesmo não achando tudo uma maravilha. É decente isso. Eu acho.
Pela frente a nova semana e meus 3 pontos de atenção. Sou eu mesmo. Mais velho e menos passional. Algum método para aproveitar o tempo e as esperanças mais lindas que sempre alimento com enorme carinho - como, afinal, faz todo cara doce.

11 de julho de 2010

Anti Cia de Teatro.


Há muita ternura no sentimento de posse. Há quem não entenda isso. Há quem ache que todo sentimento de posse é opressivo. Acho isso um jeito estranho de entender a liberdade. Como se só fosse livre aquele que não tem nada ou ninguém. Minha liberdade é escolher os meus e me dedicar à eles. Minha ternura se expressa assim. Gosto de julgar as pessoas para que elas se tornarem únicas. Desprezo, com toda a minha força, esse papo de que 'somos todos iguais'.

1107

As coisas são lentas e sinistras. Eu gosto. Eu em uma versão que topo.
Crianças dançam enquanto eu fico na cabine. Sou justo e generoso, na medida do possível.
Imagino bucetas de ouro e aperto botões cheios de incrível tecnologia. São milagres esses botões. Cada cor é uma coisa. Cores obedientes e submissas. Eu aperto, eu aperto.
Olho pra fora e desconfio de tudo. Somos simpáticos e dizemos parabéns! Lembro das minhas sobrinhas e resolvo dançar também. Sim-pa-tia.
Eu rio. Eu me divirto. Eu não acredito em nada do que eu vejo. Eu sou egoísta. Melhor: eu sou melhor quando eu sou egoísta. Eu sou cínico também. Eu disfarço.
Os dentes muitos brancos me lembram novas pastas de dentes.
Os olhos amarelos são problemas de fígado. Ou rins. Ou rins!

9 de julho de 2010

relatinho.

A calma vem como uma decisão. Era de manhã e tive sonhos verdadeiramente terríveis. Eu me perdia dentro de uma festa onde apresentaria meu teatrinho. Pesadelo sem saída é quase um clássico.
Demoro pra acordar e desisto da visita. Telefono pra saber das coisas e me programo pra terça visitar o gringo convalescente. É um mundo estranho e cheio de gracinhas. Pessoas ficam doentes sem razão ou explicação.
O café é meu amigo e me proporciona uma cagada divina. Cago com precisão e prazer. A bosta que sai de mim é uma dádiva e um orgulho. Tudo meu.
Faço circuitos idiotas pelas internet. Não quero atacar meu problema. Olho pro puto e digo "daqui à pouco". Meu problema sorri e diz "estou te esperando, gatinho".
Telefonemas estranhos vêm me perturbar. Decido que nada me abalará hoje. Apenas hoje. Troco uma nota de cem reais no almoço por kilo e me sinto preparado para tudo. Uma bobagem séria que me alimenta.
Ataco meu problema pelas beiradas. Faço contas precisas. Não tenho tempo e falta de tempo, agora, é vantagem. Uma coisa de cada vez. Visões infernais: glória e fracasso de mãos dadas. Não me importo. Bunda na janela e cara à tapa. Eu sou eu. Eu faço o que eu faço. Eu também sei ser simpático com os imbecis.
Meu problema tá quase resolvido. Preciso achar as palavras. Aquilo que posso dizer e mudar através das palavras. Sem frescura, sem mentira e sem desespero. Invisto na calma e no controle. Sem ilusão sobre esse sexo fudido de ejaculações precoces. É a clareza que encanta. Um tesão antigo de repetir o que se sabe fazer.
Eu entre os outros. Tudo certo. Cada um faz o que pode, o que acredita, o que deseja, o que consegue. Estamos no planeta e entendemos bem mal a vida. Sou um Cristão e compreendo a dor do mundo. Sou irmão de todos na dor que sentimos. Cogito até fundar uma igreja.
Uma voz doce se destaca e me imagino tendo filhos com ela. O tesão do delírio. O delírio e suas coisas. Uma voz e meu delírio. Só faz sentido fazer teatro se esse teatro dialogar com o delírio, é o meu caga regra.
A casa, a música, a cerveja e o blogue. Nostalgia é um treco bacana. Cansaço é uma satisfação natural e estúpida. Tô no mundo e vivo. Morro de medo e sinto grandes alegrias. Acredito em milagres e ainda sinto tesão em mulheres sem sutiã.
Paz, acho, passa por aí.

até 7.

  1. É cruel e fatal. De repente vira pó. É como a música infantil. Era vidro e se quebrou. E fico quase chocado. Porque de tão claro e óbvio não poderia ser claro e óbvio. Como explicar? Impossível explicar. O tempo mais preciso do mundo, a coincidência mais surpreendente do planeta. O óbvio ulula e choca. Como um piano que só cairia na sua cabeça naquele exato segundo. Quase um desenho animado.
  2. Ele chorou, mas eu desconfiei. Ele chorou grosso demais. Ele até queria chorar, mas não conseguiu. Eu, alí, pra ele, era seu terapeuta cheio de consolos e soluções. Mas eu não sou seu terapeuta e desconfiei do choro com razão. Tentar chorar é legítimo. Chorar de verdade é outra história. Querer um cúmplice pro próprio choro é ainda mais em baixo. Eu entendi seu desespero, mas dizer pra ele que eu havia entendido isso seria um erro tremendo.
  3. Às vezes me sinto muito hábil. Há o mundo e há eu. A gente se estranha faz tempo. Mas estou no meio da turma e converso com todos. Fico surpreso e me sinto idiota. "É simples porque é besta", é a minha conclusão.
  4. Dançar com garotas lindas e pedir perdão. As mulheres do Século XXI adoram perdões. Elas se sentem femininas ao maltratarem homens. Elas dizem que são livres e mostram os dois dedos que usam para tocar siriricas.
  5. Contra tudo e contra todos, eu resolverei as merdas que eu tenho que resolver. A merda é o aspecto coletivo do maldito teatrinho que eu faço. Minhas migalhas eu garanto. Mas até aí.
  6. Cada vez mais penso em mulatas e negras. Mulatas e negras me parecem perfeitas. Deliro que suas bucetas rosas me trarão a glória da grande trepada que não tenho há a algum tempo. Claro está que todo sexo casual e tacanho é feito em busca cega pela grande trepada. A velha ilusão, afinal.
  7. A bicha gorda berra que precisa se expressar. A bicha gorda se sente estranha e capaz. Diz que gosta de tocar punheta pensando em mulheres mortas. A bicha gorda é um cavalo na minha coluna. Ela - a bicha gorda - me manda um torpedo onde diz eu te amo.

7 de julho de 2010

Teatro Irresponsável.

Mais um sonho na caixinha.

Ser especialista em coisas inúteis tem seu tesão e sua glória.

Migalhas gordas que alimentam um tipo de gente.

A tosse e a costela fraturada não é o que importa.

Pouca coisa importa.

Muito pouca coisa importa.

6 de julho de 2010

beiradinha.

dizer eu te amo e depois até logo. contar vantagens pra idiotas e entregar cartões com nome, número e e-mail. bater palmas e sorrir. espremer cravos em coxas bonitas e ir ao cinema sempre aos mesmos horários. cultivar paixões. inventar amores. ver a morte e oferecer um chocolate. ser descolado e simpático. criar um blogue. alimentar um blogue. usar o blogue pra punhetas antigas. eu te amo e até logo. cortar o cabelo e aparar a barba. falar sobre as mulatas fantásticas que adoraria comer. ligar a TV e ver a TV. perceber a eficiência americana. punheta. punhetas pras milfs. as milfs. freudinho caolho sussurrando vai lá, garotão. os fuzis pra fora do carro dos policiais cariocas. a jogoda. a passagem comprada. nova iorque, bayb, nova iorque! festivais que elogiam seu períneo. festivais sem festas em bela escala industrial. a boca seca e o elogio mais imbecil do mundo fazendo você se sentir muiiitoo bem. a punheta. o pau mole. a buceta. o desejo achando que é mais que desejo. a punheta. a foda fantástica. o blogue, o blogue, o blogue. a desculpa recalcada em atitudes generosas. a mentira, a punheta, o blogue e as paixões sazonais. o jogo. a alemanha fudendo o maradona. a tristeza. a tristeza e a fuga. o equilíbrio. o buda-gordão de costas pra rua: clássico, clichê e eterno. o budão.

4 de julho de 2010

)(

Vejo uma garota de bicicleta. Penso que poderia ser você. Estou atravessando a rua e estou sem óculos. Espremo meus olhos em frente a padaria pra tentar distinguir alguma coisa, mas sem sucesso. Acho que não era você. Concluo que achei que poderia ser pelo jeito que a garota pedalava - com força na parte da frente das pernas. E também por ser uma garota grande em uma bela roupa florida.
Volto pra casa com as cervejinhas e o cigarro e penso que beleza seria:
Você me atropelando com sua bike como numa comédia romântica americana.
Câmera lenta: meu passo na rua, o pneu da bicicleta batendo na minha perna e nós dois caindo atrapalhadamente (comédia, lembra?).
Daí a gente se levantava e se via. Agora teria aquele maravilhoso clichê do tempo que pára quando os dois amantes se olham no olho um do outro. Câmera lenta abruptamente interrompida. Os amantes se reconhecem:
- não acredito.
- nem eu.
- você não olha por onde anda, não?
- você não sabe andar de bicicleta?
- você sempre me atrapalha!
- você que me atrapalha! Quem mandou passar de bicicleta em frente à minha casa?
- ah...a culpa é minha, né? A rua é sua, né?
- que idiota...olha só o que você fez...
- e você...olha aqui, olha aqui!
- machucou?
- um pouco...
- deixa eu ver.
- ai!
- tá doendo?
- claro, né?
- deixa eu dar um beijinho que passa...(beija)
- que nojo!
- o quê?
- beijar meu joelho esfolado! que nojo! é bem a sua cara isso! se mete na minha frente, faz eu cair e machucar o joelho e depois acha que um beijinho resolve...você se acha, né? aposto que acha que eu passei aqui de propósito, né? cara, sério...você é muito...
- (ele interrompe a fala dela com um beijo na boca)
- você é louco!
- você é linda!
- cara...você não pode fazer isso não...acha que eu sou o quê? você se mete na minha frente, faz eu cair e agora vem e faz de conta que...
- (interrompe a fala e a beija)
- que mania, cara!
- você é linda!
- olha, para com isso...acha que eu sou criança, é? acha que falando isso, você vai...
- (interrompe a fala e a beija. beijo mais longos que os anteriores)
- cara, você é muito idiota, sabia?
- sabia.
Ele se levanta e a ajuda se levantar. A câmera se afasta. Vão pro canto da rua. Não ouvimos mais o que eles dizem, mas o padrão se repete: ela falando e ele a interrompendo com beijos. A câmera se afasta cada vez mais. Os dois viram apenas dois pontinhos distantes no meio da Rua da Passagem.
---FIM---

3 de julho de 2010

du bar.

Vejo garotas lindas que passam de cabelo molhado pelas ruas de Botafogo.
Agradeço a distância imaginando que seus cabelos estãos cheios de creme pós-lavagem.
Penso nas vantagens da distância e lembro da garota mais linda do Sul e Sudeste do país:
gostosa, tesuda, impossível e casada.
Perfeita, em outras palavras.

1 de julho de 2010

"eu ligo o rádio e bláblá..."

Reviro meu caderno porque desejo atualizar o meu blogue. Não acho nada e venho aqui. Vaidade velha de guerra pondo as manguinhas de fora. Tanta bobagem, meu Deus, tanta bobagem!

Se minha vaidade fosse mais eficaz, se, além de desejar atualizar meu blogue, eu quisesse, por exemplo, conquistar uma fortuna... sei lá...me soaria mais decente.

É estranho admitir que a minha punheta me satisfaz. Se, além de ambicioso, eu não julgasse minha ambição seria melhor, é minha conclusão.

Mas fazer o quê? Tenho tesão em enfiar o dedo na minha cara e me acusar. Gosto disso em mim e gosto disso nos outros. Auto acusação é algo que aprecio.

Então olho meu umbigo e penso em mim. É bacana ser eu mesmo. Mas não porque eu me adore. É porque, acho mesmo, falta humor e deboche nos outros.

E humor e deboche, a gente já aprendeu, precisa de um mínimo de auto crítica - como o Kaufman notando a farça de um curandeiro.