30 de abril de 2012

língua roxa de syrah

O prazer de ler as próprias coisas e gostar. E pensar em projetos gráficos audaciosos. E, por que não?, em ser o vendedor das próprias lástimas.
Em outras palavras: o prazer de sonhar. E de entender que sonho ou realidade tem mais a ver com estilo do que com conteúdo, com fim.
Tipo: o junk da realidade acha que sua realização é fruto de um trabalho árduo; o junk do sonho acha que sua realização é fruto de seu talento.
Seja como for, os dois gostam das próprias realizações.
E tanto faz. E pouco importa. E é questão de estilo.
Estilo, essa coisa-palavra que tão bem o velho Buk definiu.
Então ouço as canções do Leonard Cohen e sinto-me doce, otimista e imagino que conversar comigo hoje seria muito chato.
E tomo vinho barato e me preparo pra ir à uma peça e digo pra mim mesmo:
- sim, sim, continue.   

29 de abril de 2012

É domingo, molho minha boca com malbec e baixo discos.

=
Ouço a Gal-Fatal e tento entender o que diabos aconteceu. Nos dois shows que vi dela não havia alma ou grito. Era uma voz. Não era uma pessoa que cantava, era uma voz que cantava: só uma boca vermelha e iluminada que mostrava uma refinada técnica.
E tem o bom do Caetano-Compositor nesse disco. E, diabos, o que foi que aconteceu com o Caetano? Tentei ouvir o penúltimo disco dele e nem e nada. E desisti porque queria manter o bom do Caetano no meu imaginário.
Penso se é o tempo, a ação do tempo. Se é inevitável que as pessoas piorem com o tempo. Tentei ouvir as músicas do último disco do Chico Buarque. E achei ruim. E tinha uma muito, muito chata. Que tinha uma pegada de blues e umas rimas que, meu Deus, onde estava o C. Buarque, afinal?
Há também a possibilidade de que a ação do tempo ocorra em mim: mais chato, mais implicante. E que seja só isso e que eu tenha perdido a inocência daqueles que acreditam em gênios e seres extraordinários.
O bigodon diz que a necessidade de acreditar em gênios é parecida com a necessidade de acreditar em Deus. Ele diz bem melhor e de um jeito bem mais convincente. El bigadon tem verve e escreve bem, eu repito.
E lembro do belo texto do Skylab sobre a nova mpb. E acho que ele acerta bem, que ele é bem preciso. E que você pode até discordar do que ele diz, mas, vá lá, tem sentido pra caralho aquela idéia. Inclusive no lance de faltar pau e buceta.
De forma que me pergunto: - onde foi parar a buceta da G. Costa? O pau do Chico? O cu do Caetano?
=
Meto a mão no meu livro jamais lido pelos meus melhores amigos. E penso que merda de melhores amigos são esses. E tento entender por que não cobro deles isso e por que, enfim, isso me dá tanto prazer. Quero dizer: meter a mão no livro que nem sei se pode ser publicado e nem sei avaliar. E, vá lá, por que diabos se publica? Por mil motivos abstratos, eu sei. Mas como faz? Porque eu, eu mesmo, sou o travadinho da estrela e definitivamente não sei vender meu peixe. E isso me fode. E el bigadon também fala disso. Digo: dessa capacidade de vender o próprio peixe. E ele, como sempre, fala de um jeito fodão.
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Devo confessar que te amei - se te amei - porque você era triste. E sua tristeza, é bom saber, é toda a sua beleza. Você alegre jamais será linda. Porque sua tristeza é real e comove gente fraca e cristã como eu. E seus gemidos eram essa canção triste que faz a gente lembrar da infância. E sua alegria me deixava contente porque mostrava o quanto o abismo é profundo. E teve duas ou três tardes em que acho que te amei. Porque foram as raras vezes em que você não pensou se era feliz ou triste.
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Lembro da escritora hermética que um dia me disse que não escrevia muito no seu blogue porque temia ser roubada. E quando ela postava algo novo, apagava o antigo. De modo que seu blogue tinha sempre uma só página. Um dia li um texto que ela tinha escrito e pensei: - por que ela acha que será roubada?
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Tesão: dizer pra Japa Teen que ela deve trair seu namorado. Bobagem: dizer pra Japa Teen que ela deve trair namorado. Mistério: por que, sendo tão vaidosa, ela não faz o buço?
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A beleza do adeus cheio de choro na rodoviária.
Nunca mais uma mulher tão chorosa.
Nunca mais um amor tão decente.  

24 de abril de 2012

A gente faz o que faz, a gente é o que é. Cagar regra é prazer, não é talento.

Agora tomo vinho. Não pela recomendação da mamãe que dizia: - bem melhor do que cerveja, assim até perde essa sua pancinha gorda.
"Pancinha gorda" é coisa de mamãe - que me ama e me adora e me quer bem.
Mas não é por isso. Que tenho minhas rebeldias e algum senso prático.
O frio aumenta e a cervejinha gela os corações. De forma que tomo vinho.
Vinho barato, vinho de quem não conhece vinho. Vinho barato de quem não conhece vinho e que acha que há muitos vinhos caros que nem são tão bons assim.
Tive uma namorada que acreditava que caro era bom. Tive uma namorada que não era lá muito esperta. Tive uma namorada que, enfim, depõe contra mim.
Mas to falando de vinho. E de mamãe.
E, bem, vá lá, gente é um bicho muito circunstâncial.
Eu sou.
De forma que:
- beber vinho no frio é normal, não é virtude nem estilo.
- a oferta de vinho é maior porque a demanda é maior.
- vinho no calor carioca sempre será afetação.
- p.s. a afetação é legítima. A merda é a afetação mal resolvida.
Então vou nos chinos, saco meu 50 pesos e volto com dois vinhos pra casa.
E lembro de mamãe, de ex namorada, de cerveja e de Rio de Janeiro - uma cidade muito, mas muito, sedutora.
E há diabos para lustrar os chifres.
E uma fuga dentro da fuga bastante irresistível.
E o blogue-monstro querendo letrinhas.
E cumpro funções e estudo pra provas e acordo cedo e tenho popularidade em feeds estúpidos e gosto de filmes e de pessoas e também sou a favor da legalização do aborto e da discriminalização das drogas e acho que os gays devem casar e adotar/ter filhos e penso em Deus e tenho angustias e imagino que a felicidade pode sim morar numa vagina e gosto de sorvetes e filmes no fim de semana e vejo filmes de ladyboys e compro livros em sebos e leio menos do que gostaria e concordo com programas assistencialistas e admiro o Fidel Castro e acho a vida bacana e fico triste quando certos namoros/casamentos acabam e estou vivo e penso na vida e o infinito e eu e aquilo que tá certo ou errado e os prazos e os desejos ignorados e a falta de culhão e as almas tristes e eu e isso e aquilo e a coisa toda e a sensação antiga e idiota e espírita e arrogante que diz: sim, sim, eu entendo tudo; e tudo está muito bem. E nem importa que esteja. Que sim é bobagem, que não é bobagem. Que feliz é bobagem, que triste é bobagem.
E lembro da amiga. DA GRANDE AMIGA que um dia disse: - as únicas palavras que importam são aquelas: sim, sim, continue.


20 de abril de 2012

-=-

- o talento estúpido e vulgar que rola por aí.
- os indiferentes que passeiam com ares de superioridade.
- o namorado ciumento usando sua cultura como justificativa para sua possessividade.
- a tristeza que me comove e que me desperta sentimentos cristãos.
- aquela japonesa que olhava pra minha boca e, depois, concluí que era por ter barba e bigode.
- o gringo metido a esperto que acha se drogar uma grande aventura.
- aquela japonesa de quatro. Um jeito de ficar de quatro que era muito... japonês.
- as pessoas de 21 anos me falando sobre suas passeatas.
- os feeds do facebook cheios de lugar comum e preconceito invertido.
- os músicos que cantam no seu ouvido enquanto está sentado no bar e que acham que merecem dinheiro.
- a holandesa que não entende a passionalidade e acha que tudo pode ser mais contido.
- a cerveja de litros.
- os dedos amarelos.
- o dia depois de um dia depois de outro dia.

18 de abril de 2012

small little truths from pleasure

  1. Inveja-Branca, Foda-Amiga, Raiva-Boa. A culpa pela metade, a culpa sem força. Coisa de gente indecisa. Que acha indecisão=reflexão. A verdade ainda passeia no bosque: "OU DÁ OU DESCE".
  2. A moça simpática de nariz adunco postou uma bela música no Facebook. Infelizmente o pedaço da letra que ela destaca prova que ela gosta da bela música pelos motivos errados.
  3. - Estou falando de verdades!/ - Verdades não existem! / - Então não quero falar com você.
  4. Infantil: a)superestimar o sexo, b) superestimar o prazer, c) superestimar a ausência de dor, d) superestimar o mundo, e)superestimar.
  5. Estúpido: achar que ser natural é ser verdadeiro.
  6. Entre japas que ficam de 4 e gringos que se chocam com pedintes de rua, eu descubro: - o reino da dinamarca continua podre.
  7. Coleguinhas mandam beijos, escrevem saudades e dizem você faz muita falta. Acreditar nessas demonstrações de afeto faz com que você tenha muitos amigos.
  8. Não é pessimismo achar o mundo uma merda, eu aprendi. Achar o mundo uma merda é o mínimo que se espera de quem utiliza o intelecto. E seu bigodon me disse de um jeito mais elegante: ou a felicidade ou o intelecto.
  9. Felicidade, se bem entendi, tem a ver com sua capacidade de acreditar nas próprias ilusões. Artista, se bem entendi, tem a ver com saber alimentar as grandes ilusões alheias. Só um artista não-artista fala do real. Artista elabora.
  10. O tesão, como dizem por aí, é um supermercado. Sente-se tesão entre gôndolas infinitas e parece absurdo a variadade de marcas e produtos. O tesão, como prática, está reduzido à dona de casa que compra sabão em pó OMO há 30 anos.
  11. Todo erro será meu. Sou cristão, acredito no livre-arbítrio e Jesus morreu para nos salvar. Mas se Jesus morreu para me salvar e eu não estou salvo a culpa é de quem? Minha, de Jesus ou da Japa fanhosa, com quem tenho que tentar uma besteira?
  12. Uma carta sem reposta é sinal de ingratidão?/ Não. / Um pedido sem retorno é sinal de indiferença? / Talvez. / O silêncio sem posição é normal. / Não, é o erro, a indiferença, é o adeus disfarçado de 'quem sabe'. 

15 de abril de 2012

Relatinho

  • O que deixará mais saudades, o que me parece mais decente, de tudo, é voltar caminhando tranquilo para a casa à 01 ou 02 da madrugada. 3 kms que são como caminhar na praia. E há pessoas pelas ruas, e as ruas são bem iluminadas e na sorveteria da esquina há um enorme grupo que toma sorvete alegremente.
  • Ontem saí com a grigolândia do curso. Uma inglesa, um sueco e uma japonesa (os dois são casados). Incrível como ainda percebem nossa realidade como seus antepassados colonizadores. Estranham o uso da buzina no trânsito, estranham os beijos, estranham o barulho que nós, os de cá, os latinos, fazemos. O sueco, que já morou em diversos lugares do mundo, comentou que a Argentina poderia ser muito mais rica, mas que ela dificultava a exploração de minérios. Não resisti e soltei pra ele no meu inglês macarrônico: os países ricos são os que exploram os minérios nos países pobres. E ele riu, e disse 'verdade', e espero que tenha entendido a minha provocação.
  • Não é preconceito nem nada. É que eles ainda nos vêem como exóticos. E isso, muitas vezes, dá uma raiva danada.
  • Teatro bom, caminhada lenta e quase entrei no que pensei ser um puteiro. Mas não descobri se era puteiro ou um bar gay, pois vi apenas homens entrando. Todavia, ir a um puteiro me parece uma boa maneira de conhecer melhor a Argentina.    

13 de abril de 2012

o encanto dos números e o Brasil como moral à ser seguida.

  1. Nunca gostei de amor indiscriminado e sempre impliquei com o excesso do uso da palavra SAUDADES nos feeds do facebook. 
  2. O bom amor, o grande amor, é, e sempre será, um enorme preconceito. Ama-se à alguém que é superior ao resto da humanidade. Só o imbecil ama alguém comum e acha que isso é normal, que isso é amor.
  3. Os portugueses me ensinaram: saudades é uma palavra chorosa. Eles me explicaram: os brasileiros abrem muito as vogais para falar SAUDADES. E isso faz com que a palavra perca sua beleza de lamento. Os portugueses dizem SuD'Des.
  4. Se entendi bem é assim: não se pode ser tolo e avaliar uma moral fora do local onde aquela moral é prática. Tipo: se um homem matou outro homem na guerra ele pode ser chamado de assassino?
  5. Ler o bigodon tem a ver: a) com vaidade, como não? ele mesmo, o bigodon, é bem claro em quanto a vaidade determina nossas ações. b) com tesão, porque há algo de fodão nas afirmações ditas sem medo, porque aquilo que temos, e que muitos acusam ser intolerância, são, em última instância, nossa capacidade de reconhecer que a moral que rege a humanidade não é uma moral voltada ao 'espírito livre'. c) existe uma sensualidade em ler algo que você acha que é capaz de te transformar. não é que você vai, de fato, mudar. é que durante a leitura, ou melhor, durante a experiência da leitura, você acha que entendeu tudo, porque, enfim, o bigodon escreve bem e com verve. d) a idéia de que o bigodon é pessimista me parece bastante errada. tem a ver com pau na mesa, com assumir o pau na mesa, o 'espirito livre', o não concordar com o resto da humanidade, mesmo que o resto da humanidade seja essa enorme e maioria absoluta. e) ler é, de forma geral, prazeroso. ler um desses caras que são fundamentais para nossa compreensão do mundo é mais tesudo ainda. e repito: el bigodon escreve bem, com verve. é diferente da Bíblia, por exemplo, esse livro tão importante, mas que, sejamos francos, não é lá muito bem escrito - o que, segundo el bigodon, só contribuí para que tantas mentiras tenham sido elaboradas a partir dele. 
  6. O Café tem elegância e afetação. Creio que parte do preconceito brasileiro com os argentinos tem a ver com isso. O Café, esse lugar, é afetado. Mas não há afetação em frequentar os Cafés aqui. Não sei se me fiz entender. É o tipo de justificativa vaga que sempre damos: é da cultura deles. Seria como condenar um índio que trepa com a tia. Índios trepam com suas tias porque não existem tias como nós entendemos. Ah, vá lá, é dolorido prum brasileiro perceber o quanto a idéia de civilidade está à frente na Argentina.
  7. Tipo umbigão: fazendo o curso de espanhol com os diversos gringos fiquei contente por pertencer ao 3° mundo (principalmente ao Brasil) e, por isso, não acreditar no mundo ordenado que eles têm. Porque são limpos, educados, brancos e não entendem muito bem o fato de sermos essa bagunça que dá certo. E no caso do Brasil ainda mais. Porque nós trepamos com pretos, portugueses, alemães e criamos um país que choca por ser tão grande e não ter movimentos separatistas. O colega da Escócia ficou admirado ao saber que eu descendia de tanta gente. Porque ele nunca se misturou, porque ele é o colonizador que não se apaixonou por um bela preta com buceta dourada, porque ele pertence ao mundo que mantêm a idéia de raça, enquanto nós, brasileiros, sabemos que o grande barato é ser vira-lata - como o cachorrinho que tínhamos na infância e nunca precisava das vacinas que os podlles precisavam.         

12 de abril de 2012

A culpa é da revista Claúdia.

Não era amor e nem era pra ser.
Acertar o lugar do clitóris não é ser bom amante,
eu pensava.
Mas estava só e era triste, muito triste.
-
Perdi a mulher da minha vida
porque o alvo era o clitóris
e eu nunca dei muita bola pra ele.
-
O clitóris, eu aprendi na Argentina,
é a conquista
da fêmea antecipada.
-
Em outras palavras:
um alvo,
uma tristeza,
um botão de controle remoto.

9 de abril de 2012

Sabia que seu coração é seu pulso de mão fechada, sabia?

  • "Fugir das paranóias e dar tiros nas cabeças dos idiotas." Seria um título, uma invocação à felicidade. Mas não agora, não ainda. É que as paranóias me alimentam e os idiotas são meus amigos. Ou seja: instinto de auto preservação.
  • Deveria escrever outro e-mail? Não deveria escrever outro e-mail. Mas, confesso, conferi pela 3° vez se o e-mail estava correto. É que tenho tendência a me culpar e o silêncio me mata. Imagino ter escrito algo que não devia, ter ofendido sem saber, essas coisas. Sou um bichinha, confesso. E o silêncio não me deixa atento, me maltrata.
  • O óbvio pode ser cruel. E foi o que ocorreu: o óbvio berrou na minha cara e roubou o picolé de chicabon que eu tinha na mão. O óbvio é alto, altivo e está calmo porque estar calmo é uma maneira de não se afetar por essa coisa insignificante chamada mundo. O óbvio é óbvio e, por isso, já imaginávamos que agiria assim. De qualquer modo, não consigo deixar de me sentir triste ao constatar o óbvio.
  • Não sou da turma e nem turmas tenho. Talvez dois bons amigos e, vá lá, uma família bacana. Penso no que fazer e, pra ser sincero - e lembro que sinceridade só é mérito para imbecis -, não creio que haja tanta coisa a ser feita. Ou pior: não creio que haja coisas que valham a pena serem feitas.
  • Um diz: - talvez ela não te ame mais. Outro diz: - talvez ela precise repensar as coisas. O terceiro diz: - talvez ela nunca tenha te amado. É o pessimista, o otimista e o sincero falando. Quem duvida que o sincero é sempre o pior? É simples: o sincero adora tudo o que ele, o sincero, fala. É um egoísta. Um egoísta burro, é fato, mas um egoísta.
  • A garota de muito amores caiu no golpe. O golpe é infantil: peço informações desnecessárias para que meu sotaque seja percebido. Dou um tempo e pergunto coisas sobre teatro. Daí que todos, no mundo inteiro, podem falar sobre teatro - porque, de alguma maneira, todos têm opinião sobre teatro. Hoje elevei o golpe e emplaquei um café. Nariguda típica, tesão simples e café é tão inofensivo, né? Descobri a morte. O café mais caro da minha vida. Nada inofensivo. Muitos amores pra pouco nariz, concluí. Quem, sendo relativamente decente, fala sobre tudo e todos em um simples café? Fugi. Expliquei que estava atrasado para um peça e quando ela perguntou qual, menti que tinha conseguido um ingresso de última hora, pois a peça estava esgotada. Ela lamentou. Eu lamentei também. Lamentamos por motivos diferentes e, por isso, não era amor.
  • Esse sexo culpadinho que nos dá tanto tesão. Penso nas prostitutas de antigamente, que eram cortesãs e, supõe-se, guardavam segredos terríveis. Agora não. Toda garota triste leu na revista Nova as artimanhas do sexo e as aplicam, devo confessar, com surpreendente habilidade. Estou delirando, eu sei. Mas no delírio, digo: o papai-mamãe se tornou a grande ousadia, o último fetiche. - Cara, acredita que ela topou um papai e mamãe durante toda a transa? - Duvido, mulheres como ela jamais fazem isso!

7 de abril de 2012

A bicha gorda e seu caderno.

Tá assim:
Buenos Aires > 1° dia em minha casa em Palermo. (março/2012)
- Quando se está só, fica-se no balcão. É um belo jeito de se estar só, de se beber só. Lembro de amigos que dizem achar deprimente beber sozinho. Eles não sabem de nada, não entendem de solidão. Não desconfiam que deprimente mesmo é estar sozinho e não beber. Porque a bebida é companhia. E esquenta. E nos deixa tolerante, com as nossas dores, com as dores dos outros.
A bebida amiga fazendo com que menos pessoas se matem, com que menos pessoas matem outras pessoas, com que menos pessoas soquem outras pessoas.
Isso eles não entendem. Talvez jamais entendam.
Tem a ver com solidão.
Com saber que solidão existe.
Tem a ver com não achar que solidão seja um grande problema.
[o cagaregra, o mundinho me abala]
(mesmo dia)
l
-> hum. Será que saí? hum é mó coisa de viado.
Gostar de Fernet é fácil. É amargo, tem gelo e desce bem. Aqui eles insistem em misturar com coca. Deve ter outra mistura. Porque Fernet não foi feito para se beber apenas ele. É bebida de gosto forte e pede algo que suavize. Fernet é, agora, um macho argentino.

6 de abril de 2012

de todo o resto.

Falava de amor e novidades. Falava de tudo. Dizia que tudo mudava, que o mundo era enorme, que a intensidade doía. Explicava os astros e dizia que, mesmo sem saber, eu era uma pérola, um deus, um escolhido.
Me mostrou suas mãos e me explicou porque era assim, porque vivia assim, porque acreditava assim.
Gostava de homens, de mulheres, de flores, de cidades, de passarinhos, de ricos, de gente, de bairros pavimentados com árvores, de praias, de cinemas, de bares. Gostava de tudo.
Me explicou sobre saúde, sobre alimentação, sobre os índios esquecidos da Austrália. Disse não ter país, não ter lugar, não ter plano de saúde. Riu. Achou tudo que disse engraçado e riu.
Eu ri também.
E nos sarramos, e nos beijamos, e íamos trepar, mas meu pau não entendeu e ela disse seus clichês de mulher descolada: "não me importo", "super normal", "acontece".
Disse meu clichês: "nunca me ocorreu", "que merda", "a culpa não foi sua".
Mas a culpa - se culpa havia - era dela e eu sabia.
Mania de fêmea por cima, mania de fêmea 'levanta que eu corto', mania de fêmea de mil posições. Mania de fêmea meio macho antigo, que acha que estar no controle é estar bem.
(Lembro de um bom papo de bar, onde, ouvindo os outros, homens e/ou mulheres, cheguei a conclusão que toda brochada é culpa do outro, uma vez que mulheres também brocham, e que sempre, e sempre e sempre, antes da brochada em si, há um erro claro e transparente que, como sempre, jamais é percebido pelo 'errador')
Nosso hasta, nosso quem sabe, nosso eu te ligo. A discrição é uma arte e os travestis são confundidos com mulheres em lojas de sapatos femininos.
Meu amorzinho / meu tesão
eu não te espero
mas finjo que sim.
Aprendi:
é conveniente viver assim.

2 de abril de 2012

Faculdade de Medicina, se bem lembro.

Fazer o que não se faz e descobrir que as coisas são boas e inofensivas. Porque é bobagem, mas sei: muito dificilmente faria isso estando no RJ. E não é nada demais; e é saudável. E a decência passeia tranquila em casas pequenas e aconchegantes.
Ver as gurias, ouvir as gurias. Reparar em suas histórias, em um senso de nação e solidariedade que surge pelo fato de ser outro, de ser estrangeiro. Tentar não olhar muito os peitos, muito as coxas. Ou melhor: tentar olhar com discrição. Ou melhor ainda: tentar olhar apenas para a própria satisfação, sem o desejo de 'olhe como te olho.'
Ser calmo, beber lento, comer pizza e ouvir o caminhão de lixo e seu barulho universal.
Os panos das gurias, os urigâmes das gurias, a história da prenda que era caipira, da roubada com porteños escrotos, dos paus moles, do cigarro sem nicotina que diz que a fumaça alheia é prejudicial.
Voltar, pegar o ônibus, pensar que a pé era só mais 20 ou 30 min...
O Fernet, a beleza que é a mistura de doce com amargo na medida exata.
A satisfação simples, a vida besta, o sentido de estar onde estou.

1 de abril de 2012

Travando o m-ped.

Descubro meu bar, descubro meu número: uma cerveja de um litro, dois Jack Daniel's e uma água. Ainda não sei como o Fernet entra na jogada, mas chego lá. Questão de tempo, de experiência, de informação de bêbados argentinos. (Ainda não conheci nenhum bêbado argentino, desses que cagam regra e explicam porque o mundo é assim.)
Três semanas amanhã. A cidade está mais domesticada e a maioria das direções eu acerto. Andar ainda é um prazer. Se fosse atleta, se tivesse vocação para atleta, diria: se não andar, meu corpo reclama.
Tenho que resolver minha rotina porque estou acordando muito tarde e porque acordar tarde só vale a pena quando acordar cedo não é bom. Até porque dormir é sempre bom, mas a gente faz em qualquer lugar. Quero dizer: andar com luz solar é bem mais conveniente.
Então: pra tocar punheta e dizer u-hu, fica assim: rotina inventada, neném. Das 10 às 12 andar, das 12 às 13 comer, das 13 às 17 escola ou biblioteca, das 17 às 01 a vida, as coisas que importam.
É, o tesão passeia. É, confirmar que você é você mesmo dói mais do que agrada. É, sobreviver não é viver em função da sobrevivência. É, melhor gordo-mole do que magra-dura. É, ser cruel consigo próprio é a única decência possível.
Meus dedinhos em direção ao ceú / meu ventre me puxando pra baixo / uma vontade de subir / e, Deus, bem do alto, dizendo que tudo é besteira.