9 de fevereiro de 2014

Passar a tarde no Jockey
e pensar naquela garota
que ou não entende de convites
ou não está interessada
em cavalos, apostas, cinemas e milagres.

história real

A gente se conheceu em uma festa. Não era bem uma festa. Era um ensaio aberto de um show de uma cantora. O nome da cantora é Vanessa L.
Essa festa (ensaio aberto) foi em Copacabana. Na rua N. Senhora, se bem lembro. E era uma dessas coberturas miúdas que já foram moradias para funcionários do prédio, mas que agora são coberturas cobiçadas e descoladas.
O nome dela é de santa e isso me impressionou. Ela era pequena, usava um belo vestido bordô e tinha um nariz imponente: grande e pra baixo, grande e feminino. Nariz tesudo, de fêmea. 
E reparei: bundinha, peitos, curvas e, meu deus!, ela aparentava ter uma doçura generosa - mulher que sorri largo e acredita no amor. Coisa rara.
Descobri que tinha marido. O casamento meio chato e sem sentido. Excesso de tempo e repetição em dupla. Os velhos problemas profundos e reais: REALMENTE vale a pena estar casada(o) e ter essa calma e paz que um casamento nos dá?
Ela não sabia responder. Eu também não. A gente se deu bem. A gente falava e era bom e leve e generoso; e a gente se conhecia mal. Não havia um passado em comum. Não havia nada. E era bom porque era novo e porque a gente se sentia bem um com o outro e nada mais importava. Era um egoismo livre. A gente usufruía do fato de não se conhecer e poder ser qualquer coisa.
A gente conversou em um tipo de varanda porque era a área de fumante e eu fumo. Ela falou, eu falei. Era simples. Era decente. Era bom.
Duas ou três vezes a gente se encostou. E senti o corpo, a coisa boa. Um pau demi bombê e uma alegria besta por ficar perto e sentir tesão. Eu estava vivo e aquela mulher era real.
Pensei: vou beijá-la. Só isso. Vou dar um beijo na boca da M.
A L. - amiga de M. - chegou e anunciou que iria embora. M disse que iria junto.
Eu fiquei triste.
Eu fiquei bem triste.