22 de janeiro de 2013

As crianças choram também por prazer e é isso que sempre esquecemos. Estou falando da gente. Que é bicho e estranho e que, vez ou outra, lembra que um dia vai morrer. É o tesão que minha ex-namorada tinha por insegurança, é minha solidão que disfarça o medo, é a mulher casada que vê meu blogue secretamente. Porque nossa matemática é estranha e não respeita as regras. (Aí é onde a psicologia falha tantas vezes: prever causa e efeito - a mais encantadora e limitada das sabedorias.)
Por isso o encanto com as ações inexplicáveis: o homem-bomba-que-é-bom, os-americanos-armados-em-dias-de-fúria, o-japa-que-comprou-um-quadro-famoso-pra-ser-cremado-com-ele, a-atleta-torta-que-teimou-em-cruzar-a-linha-da-maratona. Etc.
A dúvida apertando os calos. E doendo nos calos. Porque os calos doem. E, repare, a dúvida não é virtude, é condição de ser pensante. (Por isso implico com os exaltadores da dúvida, que julgam mérito serem torturados por suas dúvidas. Como se isso fosse mais do que é: pensar apenas um pouquinho além de viver simplesmente)
É isso que me faz lembrar: desconfiar é quase o mínimo. Porque o Nelsão disse e porque só pode estar muito errado um pensamento que seja aceito por todos. É o risco. Como o povo ser a voz de Deus. O povo não é justo, mas faz justiça; Deus, se existe, tem que pensar além - como um que julga as ações por suas consequências e não por suas intenções. A deturpação que el bigodon me ensinou.
Fica assim: meu blogue, meu problema e meu prazer. Escrever aqui é uma maneira de falar sozinho. Falar sozinho é uma maneira de organizar a vida. Organizar a vida é uma maneira de viver sem ser apenas reação.
E por aí vai.