27 de abril de 2009

voar é algo errado e toda pessoa decente sabe disso. só idiotas voam com indiferença. ou melhor: só idiotas que não pensam voam como se voar fosse normal. voar só é normal pros pássaros e olhe lá. a pomba desconfia do próprio vôo, o besouro voa por otimismo segundo o b. de itararé e por aí vai. nada mais clichê do que a garota que depois da primeira foda lhe fala: - eu queria ser uma pássaro e voar. e você, com o pau pingando, pensando sozinho: - se isso acontecesse, eu queria ter um estilingue.
então quando faço esse absurdo que se chama voar, eu me concentro em ser idiota e não pensar. olho pras imbecis que me dão instruções mecânicas e que se maquiam como as mais tristes e decadentes vadias. e elas escorrem em suas instruções com suas maquiagens roxas e morrem de uma maneira estúpida e lenta de quem brinca com a vida e acha que voar é normal.
quando já estou alto e reto, interrompo minha leitura e olho pra todos a minha volta. penso que todos disfarçam como eu. que todos alí fingem, e apenas fingem, que voar é normal, mas que alí, no fundo da alma de todos nós, sabemos que estamos voando e que isso é uma ousadia sem tamanho e arriscada. (lembro do grande f dizendo: - eu sei que tem mais acidente de ônibus do que de avião, mas em acidente de avião todo mundo morre. grande f é um gênio subaproveitado por ele mesmo, eu penso.)
em terra firme sinto a paz possível e fumo meu cigarro sem pressa. no carro que voa em cima de 4 rodas mando uma mensagem pra minha mãe: Rj. 27 graus. A vida pela frente. Fique bem.