4 de janeiro de 2010

Fico te bolindo na minha imaginação.
3.
Veja só, ontem você ficou brava comigo porque falei obscenidades durante nosso sexo de bons sonhos. Você me disse que não era assim, que hoje não tava com esse clima e que eu devia ter notado. Me acusou de insensível e machista e dormiu brava e sem deixar eu te encoxar.
2.
Semana passada foi você que me procurou. Acho que foi a primeira vez que me ligou tão decidida. Vou praí, tá? Levo bebinha pra gente. Chegou com uma carinha triste, de moleton e chinelo de dedo. Achei tão engraçado. Disse que beberia vinho, mas que tinha me trazido uma cerveja importada, pois sabia que de vinho eu não era lá muito fã. Mas bebi vinho e foi sua vez de achar graça. Nunca imaginei. Depois fizemos sexo lento, longo e numa sincronia quase assustadora. Dormimos melados, como você diz. O som ligado, a janela aberta e os moletons engruvinhados na beira da cama.
1.
Você disse que não dava no primeiro encontro, mas que faria uma exceção. Abriu as pernas compridas e me deixou ficar alí, naquela pequena batalha contra a morte. Uma ou outra arrumação prum encaixe melhor e sua vergonha em manter os olhos abertos. O orgasmo fatal, o grito surpreendentemente agudo e a velha história de culpar o álcool pelos excessos.
Desencana.
Não tô encanada.
Dorme aqui?
Não.
Por que?
Você não merece duas exceções.
Mereço.
Mas mesmo assim nada feito, vou pra casa.
E foi se arrumar escondida no banheiro e demorou horas e horas e horas.
Quando acordei vi o bilhete na mesa: nos falamos.
Concordei baixinho e voltei à dormir.
A rebeldia de mostrar a bunda.
Como se mostrar a bunda fosse sinal de liberdade, como se liberdade fosse feita por atos e atitudes.
Nenhum piercing em nenhuma teta prova o que quer que seja.
Mas há algo que precisa ser provado por alguém que eu não conheço.
-
ou:
-
Ela anda de patins e usa uma sombra azul, e também dança com bichas e sapatões em festas eletrônicas que tentam imitar os sons que os índios faziam.
E ela dançando se sente bem e livre porque ela gosta de esquecer. Beija desconhecidos no meio das festas e pega em paus que nem duro ficam. E ela roda e roda e roda. E diz que todas mulheres querem dançar e que ninguém aproveita os momentos como ela.
Mantém todos os piercings lustrados e toma drogas que lhe deixam em pura-potência.
Sorri a toa e se sente bem.
De noite, bem tarde, seus fantasmas lhe visitam.
Mas ela não liga porque acreditar em fantasmas é antiquado e careta.