31 de outubro de 2009

31102009

Quer sair comigo?
A gente pode andar um ao lado do outro sem falar nada. Podemos apontar o dedo pra uma ou outra coisa apenas pra mostrar aquilo que viu. Comentários, podemos combinar, ficam proibidos.
Se mesmo assim ficarmos constrangidos, a gente deixa de andar e senta num banco. Aí nem apontamos nada e ficamos lado à lado em silêncio. E também podemos evitar olhar muito diretamente um nos olhos do outro porque, as vezes, você sabe, surge um anjinho pelado dentro da pupila. E anjinho pelado é algo assustador, não acha?
Eu prefiro a noitinha, pois o lusco fusco me dá mais segurança. Que sol e areia, desculpe lhe decepcionar, não é comigo. Até porque essa gente de sol e areia é risonha demais e, confesso, que não consigo confiar neles. Quando a pessoa tá alegre ela não fica rindo o tempo inteiro, né? Acho até que quando a pessoa tá alegre ela nem sabe disso. O que que você acha?
Bem, acho que falei demais. Aqui sempre acabo falando demais. Mas aqui é mais fácil. Porque aqui é sozinho e sozinho é bem mais simples. Sexo, amor, família e amigos são coisas ótimas, mas dá um trabalhão que nem sempre vale a pena.
Bom, telefona praquele número que eu te dei escondido ou então, se preferir, me manda um e-mail. Que aí nem a voz um do outro a gente precisa conhecer.
Beijos e bom feriado.
Fernando.

mulher engajada -

A piranha dançava e ia até o chão. Tinha facilidade e conhecimento de causa. Sabia das coisas, sabia como usar seus instrumentos.
Não forçava nenhuma barra e era, na medida do possível, discreta. Os olhos eram azuis como só as lentes permitem. A boca vermelha, as unhas também e o cabelo, com cheiro de creme, balançava loiro e cadenciado.
Quando ostentou, de costas, o salto da sandália prata eu, como bom teimoso, fiz força e torci meu pescoço pra olhar direto na cara dela. Do meio das próprias pernas ela me viu e fechou o rosto.
Virada de novo, e sempre na cadência, ela arrancava suas roupas e as jogava em mim. Com força, com raiva, e sem nenhuma atitude de sedução.
Ela era uma gênia e sabia usar o espaço à seu favor. Depois da última peça, mas ainda com as sandálias, ela se aproximou e me disse baixinho: - escroto de merda.
Saiu pisando forte e com toda razão. Não se deve olhar assim pra uma piranha.