20 de julho de 2008

Sabe como é?


Essa gente se reúne aos sábados pra beber vinho e jogar cartas.
Eles se sentam em volta da mesa e tiram fotos.
Milhares de fotos onde todos sorriem.
Gente que tem abajures e sutilezas.
Gente que se interessa por arte e cultura.
Na foto que vejo todos aparentam estar muito à vontade e satisfeitos.
Eu sinto meu velho ódio e penso que devo escrever sobre isso.

1-
A luz indireta é onde começa toda a desgraça. Todos ficam bonitos porque não se pode ver direito. A mesa é grande o suficiente pra que não haja cabeceira. Mesa redonda da época do velho Arthur. Justiça derramada em coisas que se lê. Eu também li esses livros e tenho orgulho de os ter lido quando era jovem e afetado. As Brumas de Avalom, Sidharta, A Erva do Diabo. Coisas que parecem ser algo quando se tem 22 anos.
2-
Reparo melhor na foto e meu ego tem um tilte de tanta satisfação: a única lésbica presente na mesa-foto faz questão de não sorrir. Sorrir pra que, não é? Sorrir é coisa de fêmeazinha ou de otário. A lésbica carrancuda é que tá com a razão. Quem sorri em fotos é perdedor, quem sorri é apenas porque não sabe como é bom um belo dedo em sua buceta...
3-
Tudo certo. Tudo realmente muito perfeito.
Quem sou eu pra discordar de uma mulher que não têm pau apenas por acaso da maldita natureza? Quem sou eu pra dizer que um dedo na buceta é melhor que um pau? Quem sou eu que despreza as lésbicas apenas por acreditar que todas elas são mulheres maus comidas?
Eu sou o que tem dedos e o que tem pau. E que usa língua também com a graça do bom Deus. E viva minha vaidade sem fim.
4-
E ufa-lá-lá e vamos que vamos que não é agora que vou revelar toda minha revolta contra o mundo gay. Um mundo que leva à sério a aparência e que se acha muito ousado e moderninho. Um mundo que é tão preconceituoso quanto os pretos americanos. Um mundo que gosta de lounge e talheres e pratos bonitos e sem gosto. Um mundo que exige sua fatia de mercado.
4a-
E que fique claro que fatia de mercado é o termo mais escroto que existe. E também que esteja claro que toda regra tem exceção e que é a exceção que faz a regra ser uma regra. Há gente que é gay sem pertencer à esse mundo. Há esperança mesmo quando tudo é colorido e alegre demais.
5-
Volto à foto porque o preconceito é bom e rende na escrita: os quadros são de muito bom gosto, mas não têm alma. Sou antigo e acredito em alma. Eles posam pra foto com uma facilidade que me choca. Sou fresquinho o suficiente pra me chocar com coisas que eu mesmo faria, mas como não estou na tal foto fico aqui e falo mal de quem está lá.
(Conveniência de quem sonha nunca depender de nada ou de ninguém. Conveniência de quem crê que dá pra ser anjo nesse mundo mau. Eu não estou lá e tenho frieza e inteligência pra analisar essa gente da pior maneira possível. Gente que joga cartas aos sábados sem se quer apostar dinheiro. Gente que não entende que o barato do jogo é a vitória. Uma pena).
6-
Volto a mim mesmo e esqueço tudo. Meu barato é ter o meu blogue e lamber meu próprio cu. Ela tá distante e hoje dormirei sozinho, ela tá lá e eu poderia estar com ela. Poderia ser mais sensível, poderia ser mais esperto, mas não sou. Uma pena também. Mas a gente se adora e tá tudo certo, só reclamo por prazer ou por falta do que falar. É o caso agora.
O mundo é perfeito e nem me importo com nada. As 10:00 da manhã estarei preparado pra tudo.