28 de fevereiro de 2008

4 pães e 2 bocas

De frente pro crime e com a cabeça reta. Olho pros lados e faço de conta que nem é comigo. Milhares de pessoas alvoroçadas indo pro trabalho catando formigas no ar. Meu amiguinho babaca é previsível, minha mulherzinha de gesso tem dentes enormes, mas nunca morde. Tudo no mais santa paz.
( E lembro de Papai me dizendo: amor se compra, felicidade se compra. Só paz não se compra. Papai tem lá os seus momentos).
Mas escrevo mesmo pelo impulso e pelo desejo de escrever. É assim: vem a primeira frase e na segunda tento dar conta e na terceira invento um manejo e ponho uma imagem bacana. Vaidades repetidas e pensadas a cada dia. Dia após dia. Cada dia. Um dia de cada vez diz o texto do Buk que a gente tá fazendo. E é por aí e vamos embora porque não há mesmo muito opção. Só se eu considerasse o suicídio, mas já disse que suicídio é uma vaidade tão grande que mesmo eu, com meu umbigo idiota e auto suficiente, desprezo. O suicida sempre pensa em si mesmo no caixão com todas as flores do mundo.
E seja como for eu brinco de mim mesmo e repito: mocinha que passa e me olha. Por que me olha tanto assim? Olha por que gosta ou olha por que despreza? Não entendo nada sobre intenções, apenas, e mesmo isso porcamente, sobre ações.
( E lembro de Madame Suspiro me dizendo: é óbvio que é ela que te liga. Liga e desliga. Coisa de mulher. Jura mesmo que nunca desconfiou? - Juro. - Você é tão inocente!)
Depois de 10 dias de entusiasmo a queda é inevitável. Essa é uma compreensão que sempre tento ter. Nada é tão bom assim nem tão ruim também. A tristeza do mundo é que na média tudo é morno e insosso. 1000 anos à 10 ou 10 anos à 1000? A gente sempre fica no meio termo. Sempre negociamos com nossa própria covardia e coragem, como se entre Deus e o Diabo houvesse um terceiro. Maldita mania de administrar as próprias sensações! Uma medida de sal e outra medida de açúcar: soro sem gosto que mesmo assim alimenta!
E tem também o prédio que constroem do meu lado e que me tirou a lua. Nem ligo tanto pra lua, mas gosto de olhar pra ela e dizer em voz alta: não ligo pra você! Mas agora que me tiraram a maldita da lua eu olho pro prédio e nem digo nada. A solidão se manifesta de formas absurdas.
No Coimbra tinha um cara com duas crianças. Não fazia nada, além de estar com duas crianças. Devia ser algum conhecido do Coimbra, já que o Coimbra fazia piadinhas idiotas pras crianças que olhavam pra ele com tédio. A minha conclusão disso foi óbvia e feliz: as crianças sabem das coisas.
( Na minha cabeça surge que quem tem que definir se essa senhora presta ou não presta são minhas sobrinhas. Será um tipo de teste. Duas horas com elas e depois relatório das crianças. Minhas sobrinhas não são bobas e não se deixam enganar facilmente. A {sem h, não é?} não ser que essa senhora as suborne com chocolates e doces em geral. O que também será revelador, já que, nesse caso, essa senhora terá feito uma manobra inteligente e eficaz. Bem, depois tenho que pensar nisso com mais calma. Eu também sou capaz de enganar crianças, afinal).
Agora 22:34 e meu impulso é pra que eu termine essa bosta toda. Penso isso e penso que devo inventar um novo marcador pra esse caso. Penso se essa merda de beringela tá boa ou se exagerei no sal: minha memória tá uma merda e é bem possível que eu tenha posto sal antes e depois. Mas que se dane isso. São 22:36 e tenho que terminar.