29 de junho de 2008

Domingo.

Acordamos devagar e trocamos alguns carinhos, nada demais: aperto no braço, encochada de pau mole, essas coisas.
10 ou 15 min. de preguiça na cama.
Ela levanta num raio e antes de mim. Alguma surpresa, mas nada demais.
Ela liga o computador. Rápida e veloz. Eu resmungo da cama:
- Viciada...
10 ou 15 min. de preguiça na cama.
Faço café e lavo a louça. A porta fechada porque a cbn tá no ar e o radinho não tem lá um volume muito confiável. Tudo bem lento e matinal. O radinho anuncia: 11:32; 11:45, etc. Café pronto e só faltam as panelas pra lavar.
Abro a porta e as cortina e ela na frente da máquina. Está louca e angustiada. Sofre pelo que nem entendo. Ela reclama, ela chora, ela lembra das violências sofridas. Ela é a própria tragédia as 12:32 de uma manhã de domingo. Agradeço ao Bom e Triste Deus por eu ter acordado calmo e suave.
Ouço tudo e a consolo na medida do possível. Ela chora e reclama mais. Ela senta no meu colo e eu conto minhas histórias. Mil bla-blá-blás e também o velho e eficiente:
- Calma...não pensa nisso agora...agora você não tem condições de pensar...
Mil coisas ditas e esquecidas. No meio de tudo a única possibilidade que parece mesmo proceder. Vamos pra praia e o combinado me agrada: bebo uma cervejinha enquanto ela mergulha no mar que tanto adora. Na 1° cervijinha um papo tranqüilo e calmo. Ela bebe água de côco.
- O mar tá meio bravo...
- Fica depois da rebentação...
- Hum...não sei...
- Quando eu era criança sempre ficava depois da rebentação...meus pais ficavam na pousada e eu no mar, mais ou menos a essa distância...
- Eu também ficava. Acho que era porque sabia que minha mãe tava me olhando. Você também só devia ficar por isso...
- É, pode ser...(tempo) Vai lá, eu fico te olhando...
Dois órfãos num domingo. Eu longe dos meus e ela longe dos dela. Fico pensando nessas coisas enquanto a observo andando na areia. A bela bundinha dela rebolando ainda mais. Penso que pode ser a força que a perna faz pra andar na areia ou então o fato dela saber que olho a bundinha dela. Tanto faz.
Acompanho ela até onde posso. Há uma grande área a esquerda onde eu a veria com toda tranqüilidade, mas ela vai pra direita entre as barracas e a muvuca de gente e guarda-sóis e cadeiras. Penso que tipo de rebeldia será essa. Quando ela tem alguém pra a olhar depois da rebentação, ela resolve se esconder.
Outra cervejinha e uma calma boa. No meio das cadeiras eu vejo o cabelo dela. Só o cabelo. Olho a cada parágrafo ou gole. Livrinho bom, cervejinha nem se fala, uma mulher bonita e triste resolvendo sua vida com algo tão besta quanto o oceano.
Vejo uma criança e penso em ter filhos. Lembro da minha mãe querendo saber se nós nos cuidamos.
Ela volta e faço questão de mostrar que a observava esse tempo todo. Reparo nos vagabundos que olham pra sua bundinha, mas nem ligo. A vida é boa porque ela foi no mar e voltou sorrindo.
Ficamos ali e comemos um peixe que nem custou tão caro. 20 reais prum domingo agradável. 20 reais que não são meus, mas que tornam a vida suportável.
Alguns papos e algumas reclamações. Somos 2 tipos que reclamam. Ela imagina nossos filhos reclamando ainda mais e a gente sorri. Falo que talvez eles nem reclamem já que os pais são reclamões e a gente sorri de novo.
A tarde passa lenta e voltamos pra casa.
Uma torta no shopping e outras miudezas que nem vêm ao caso.
Não houve nenhuma perfeição ou milagre, mas foi um dia simples e agradável.
No caminho de volta ela procura minha mão pra que andemos de mão dadas.
O mundo ainda pode ser bom, eu penso.