3 de março de 2008

cabeça tronco membros

6 cabeças na minha mão. Eu olho pras 6 e elimino 1.

Uma em cada dedo e no dedo do meio a cabeça mais bonita e mais terrível. A que eu eliminei tá no chão e eu vejo só a nuca marcada por dentes de homens machos. Homens machos mesmo, não como eu. Homens que de tão machos só trepam com mulheres feias. Homens que de tão machos são casados com belas mulheres, mas têm amantes gordas. Homens que eu invejo.
A cabeça que tá no meu dedo mindinho é a mais bonitinha de todas. Ela virou uma cabeça sorrindo. A cabeça é loirinha e delicada e vem com um sorriso quase infantil. As vezes se esforça pra me agradar, é a cabeça mais generosa que eu poderia ter, mas a enfio na minha boca e a engulo com raiva e pressa para que fique nos meus sucos gástricos e logo vire merda.
A que tá no meu anelar, o dedo da aliança, é uma cabeça morena e exagerada. Tem o cabelo ruim, mas sabe o usar a seu favor. Corta rente e tem a testa grande e brilhosa. É a maior cabeça entre os meus dedos e tenta fazer motim. É uma cabeça que precisa de ajuda pra me maltratar. Ela convence outras 2 cabeças que eu não presto e eu arranco ela do meu dedo e a jogo na privada. Ela berra palavras de ordem enquanto eu puxo a descarga.
A cabeça do meu dedão não leva ninguém à sério. Sabe que eu não vou ficar com ela e me deixa brincar com outras mulheres. É a única cabeça realmente independente e segura. É uma cabeça que eu procuro sempre, mas que tem um defeito imperdoável: é a cabeça que me inventou. Ela só sorri e faz cara de quem entende tudo. Tiro ela do meu dedo e a ponho num envelope. Envio ela pra Moscou.
No meu dedo indicador ela é a mais óbvia e a mais adorada. Tem flores no cabelo e os olhos mais sinistros que eu já vi. É a cabeça que eu TENHO que eliminar porque senão terei que cortar a mão. Antes do fim ela me fala coisas lindas e fuma um cigarro. Eu enrolo ela num pano e jogo o pano da janela. Até a queda ela berra que tá tudo bem. Ela some e diz pra eu ficar tranquilo. Eu fico tranquilo.
A cabeça do dedo do meio eu deixo lá. Bem no centro e com todos os problemas que tem por estar no centro: destaque demais, importância demais. A cabeça olha pros lados e vê que está sozinha e se desespera e tenta fugir. Finge que está tudo bem e eu abro a mão. Ela não se mexe, mas reclama por estar ali. Eu deixo ela reclamar e tomo um banho pra dormir.
Amanhã será um outro dia, ela resmunga quase dormindo.

DO GALHARDO FODÃO. CLICA AQUI E PUXE O SACO DELE.


muito café pra pegar no tranco. o cérebro esquentando devagarzinho. voz no fundinho dizendo 'volta, volta'. e na geladeira aqui de casa tem 6 latas intocadas há 10 dias. milagres de uma guria que reaparece. milagres de uma voz incompatível com o corpo. e antes de dormir eu rezei e sonhei com jesus dizendo: outra vez não! outra vez não!