8 de outubro de 2010

sambinha

- Que tipo de idiota usa a palavra burguês hoje em dia?
Eu não queria concordar com ela. Mas era uma grande pergunta a ser feita. Eu soltava sons idiotas, tipo: ahan, humhum, pssss, pssss.
Às vezes ousava um pode crer.
Garotinha tesuda me dizendo pra eu mandar à merda essa gente toda - inclusas as que usavam a palavra burguês. Eu me sentia eufórico. Imaginava que amor passava por aí. Só te ama quem te defende, ela disse.
Guria frasista do cacete. Eu tava onde nunca estou: na balada. Ela era simpática e falava merda de um jeito encantador e... por que não dizer?... profundo... isso mesmo... profundo. Enchia a boca pra dizer merda. Um sotaque sem endereço e uma boca vermelha de batom e também um riso exagerado.
Eu me conhecia e dizia pra mim mesmo: Se ela não me irrita com o riso exagerado é porque eu a amo. Eu estava bêbado, é verdade. Mas meu raciocínio tinha sentido, não tinha? E quando você está bêbado, você não inventa nada, você apenas fala o que já pensou em falar, mas que não teve coragem por não estar bêbado. (Estar bêbado é, antes de tudo, uma desculpa).
Fumava com elegância. Dava tragadas longas em cada cigarro... a bituca vermelha sendo pisada pelo salto... quase um inferno... e as sombrancelhas que eram finas, muito finas, e vulgares. A gengiva grande, os dentes de cavalo e os peitos pequenos... Meu Deus... quase uma adolescente. 24 anos. Chamava-me de cara como se eu fosse seu bródinho.
Queria trepar com ela.
- você é o tipo que se envolve com sexo, cara.
- então me dá, porra.
- hoje não, mas te dou... quer dizer... eu daria pra um cara como você.
Devia ser um elogio já que ela soltou mais uma estúpida gargalhada que não me irritou. As gengivas rosas opacas e os dentes brancos. Tesão...
Garotinha de cinema. Estudante de cinema, quero dizer. Se eu tivesse máquina fotográfica tiraria uma foto dela igual à Lolita: deitada na cama, vestidinho, barriga pra baixo e canelas pra cima. Ela toparia se eu falasse da Lolita. Diria: - sempre quis ser musa, cara.
Mas estávamos na balada e a coisa anda mais rápido do que imaginava. Segunda bituca borrada de batom sendo pisada no salto e ela diz, quase condencendente: - daqui meia hora devo estar aqui, cara... daí você me passa seus contatos... puta prazer.
Eu soltei meu pode crer e ela saiu. Área de fumantes é uma benção pensando bem... voltei meia hora depois e ela não estava lá.
Balada, cara, balada.