26 de abril de 2011

antes que.


A cabeça é uma pipa e está tudo certo. A vida besta me seduzindo com suas garras e a velha brincadeira de "eu não sou eu". E tudo está ótimo. E há paz e indiferença. Que sem indiferença, paz não haveria no encantado mundo de Fernandinho, eu mesmo, muito prazer.

Por ora ouço o Ramones e concluo que os Strokes são uma versão saxônica dos Los Hermanos. Ou seja: pode ser bom e/ou legal, mas nem tenho saco de ouvir. O desejo de ser sedado dos Ramones é mais fodão no mundo encantado de Fernandinho, eu mesmo. E também o "hey, ho, let's go" - que isso é sim tem o tal poder de síntese ufanado geralmente em coisas zen e blablablas orientais.

Daí que imponho minha rotina indo ao Coimbra. Levo meu livro e beberico entre uma ou outra olhada na TV. E na TV tinha esse Japa tarado por estatísticas que faz um jornal com curiosidades estatísticas nos jogos. E o Japa tarado disse que o ideograma Japa pra sorte também quer dizer felicidade. E pensei que acredito em sorte, mas não em felicidade. E agradeci muito, muito mesmo, por ser brasileiro e não japônes.

Descobri uma mulher histérica. Com "mulher histérica" quero dizer a histeria que o Freudinho explicou e que era bastante comum no fim do séc. XIX. Ou seja: é uma histeria clássica, dessas que vem da incapacidade de obter qualquer satisfação sexual. Algo que mudou muito de lá pra cá já que que a prática masturbatória perdeu o status de tabu. O caso da mulher histérica que descobri é bem raro: não é que falte a satisfação sexual real durante o ato sexual; é que a idéia de satisfação sexual é desconhecida - já que ela considera indecente (anti higiênico) uma mulher que mexe na própria buceta. Por exemplo: ela assume ter feito sexo anal, mas renega qualquer chance de tocar a própria buceta. Um mistério, no mundo de Fernandinho.

Eu não sou eu, a vida besta e nada importa. É a santíssima trindade do que posso chamar de felicidade. De forma que não confundir felicidade com sorte se torna fundamental. E além de Strokes e Ramones, tem o Chuck Berry que nos tira todas as dúvidas. A ausência de dúvidas poderia ser chamada de paz (como a morte que é a "paz eterna"), mas isso, agora, não vem ao caso.

18 de abril de 2011

Entendia o amor como perseguição.

Dizia coisas lindas quando estava de porre. Arranhava-me durante o orgasmo e soltava em voz fina: eu-te-a-do-ro.
Adorar, pela voz que usava, tinha a ver com dor, com sofrimento, com agonia.
Devo confessar que eu gostava e me achava macho. Muito macho. "Macho é ela dizer que me adora com essa voz".
Inventei regras pro jogo. Disse de dor, de sofrimento e de agonia. Era um campo de pesquisa... falava as palavras e reparava como ela reagia. Como ela sempre ria e/ou gargalhava, eu achava que sabia onde estava indo.
Fui pra São Paulo sem avisar. A viagem mudou de repente e durou mais do que eu pensei. Telefonei de Curitiba. Tinha dor, sofrimento e agonia na voz. Quase gostei. Expliquei que ía ficar 2 dias fora, mas que tinham virado 6.
A voz veio com mágoa:

- Eu só adoro quem me persegue.
Ri porque a frase era boa e denotava humor. Errei. Errei feio. Era uma frase séria e que exigia respostas. Fiquei quieto.
- Quem me ama, me persegue, tá ligado?
Disse que ligava assim que estivesse no Rio. Mas ela nem riu nem gargalhou.
Disse:
- Até logo.
Ela disse:
- É.

16 de abril de 2011

a alegria suspeita.

Meu pau duro tinha condições:
ou raiva,
ou desprezo,
ou amor.
A merda é que foder é oscilar.
Em outra palavras: fode-se mais com outras coisas do que com essas três.
Eu sofria,
eu sofro.
Tinha raiva por força,
fodia por tédio
e dormia muito muito mal após a foda.
Mas dormia abraçado quando abraçar era o caso.
Era legal,
sou legal.
Contentei-me:
as pequenas fodas,
os orgasmos eufóricos,
o sexo oral como substituto da penetração:
sêmem desperdiçado em tetas ou bocas...
Lamentava,
lamentei e lamentaria.
#
Vieram as estrelas,
vieram os gritos,
vieram as velhas histórias sobre ser ou não ser feliz.
Adeus.
#
À merda a felicidade
e o otimismo dentro da gaveta
que só espera a abertura da gaveta.
À merda o entusiasmo de três noites
e os amores por doentes terminais.
#
Eu,
cá comigo,
acho
a
solidão
bem
decente.

declaração:


Eu gosto tanto
de você,
mas tanto,

que se

você

morresse

agora,

eu

ia

te

amar

pra

sempre.

15 de abril de 2011

mmc -

minha raivinha me maltratava e eu estava só. não podia fazer nada, não podia reclamar de nada. caçava culpados e ria por não achar nenhum. pensei que prefiro dinheiro. não gosto de gente fina e não me impressiono com prêmios. di-nhei-ro. que todo resto é pélasaquismo e um gostar de todo mundo que é impossível. quem, tendo alma, pode gostar de todo mundo?
minha raiva era discreta e eu tinha duas vantagens: saber sorrir e ser discreto. mostrava meus dentes e alisava minha pança. estava delirante e murmurava pra mim mesmo no mictório: o único afeto que quero é de quem vê minha peça, porque quem vê minha peça pode falar de mim, porque afeto é ver a minha peça porque me conhece. o xixi era um amarelo escuro e encorpado, sentia-me macho com aquele mijo. lembrava dos videos de "chuva dourada" na internet.
então eu voltava e virava mais um copinho. coisa de criança, eu pensei. beber, fuder, cheirar, fumar, falar palavrão... tudo coisa de criança. eu era uma criança estranha, minha mãe me disse. coisa de criança... quem entende? é como ontem: vi a moça e reparei no quanto seus olhos eram apáticos. ela exalava apatia, mas só eu notava. por isso estava só.
meus cigarrinhos se multiplicavam e eles são meus brinquedos. mesmo com tosse, mesmo com catarro. soltei minha última fumaçinha e me despedi educadamente. o ônibus chegou rápido e eu sentei na janela. olhei a orla e fechei os olhos pra sentir o vento que vinha. sorri e balançei a cabeça. coisa de criança.

12 de abril de 2011

Abano a mão para o cachorro que me abana o rabo. Sinto-me bem e tenho sete histórias pra contar. Lá fora não há ameaça de chuva ou de sol. É um dia comum, muito embora a coxinha da padaria estivesse com uma aparência especialmente apetitosa. Eu chacoalho as minhas mãos e não dou dinheiro pros pedintes. Me nego a dar dinheiro pra quem me desafia a dar dinheiro. Sou um homem antiquado, é minha conclusão. Seja como for, meu vizinho ouve ópera e as pombas não cagam mais no parapeito da minha janela. Lembro do que se diz sobre liberdade e resolvo: liberdade é um mundo sem pombos.

11 de abril de 2011

Mil é nenhum - há urgência.


  • Os dedos crispados. Aquele tesão que não sabia o que fazer e arranhava. Era coisa de criança, resposta de bicho: dois adolescentes que, repentinamente, descobrem o inferno que burramente se chama de orgasmo. Eram dois animais juntos fazendo o que os animais treinam separados. Orgasmo vinha com dor. Tesão era pavor. E amor era compartilhar essas loucuras.

  • Nenhuma paciência para desentendimento. Que estou velho e gosto de quem me entende e de quem por mim é entendido. Distrair-se é legal, mas nem é o caso. Graças ao bom Deus inexistente eu não gosto de tensão sexual. E graças ao bom inimigo de Deus, o Diabo, eu desconfio de quem gosta de tensão sexual. É meu preconceito velho: quem valoriza a tensão tende a preferir a tensão. E, cá comigo e meus Lowens, a tensão deve ser esvaziada e não acumulada à ponto de nunca se esvaziar.

  • Ver bundas me acalma. Se eu estivesse com a Branca e dissesse isso ela teria raiva e/ou ciúmes. E eu gostaria do ciúmes e/ou raiva dela. Porque a raiva/ciúme tinha sentido de ser e a recíproca seria a mesma. Porque ciúmes não precisa ter sentido ou porquê. É parte do lance do amar. Lembro quando Sônia teve ciúmes. Ela me disse que seu desejo era escrever com batom no meu computador. Nesse dia entendi que Sônia gostava da cena do ciúmes. Sônia não tinha ciúmes. Era o bafo do óbvio: a gente não se amava.

  • Casais são terríveis e sofrem. Estar só é bem mais simples, garanto. Digo isso porque recebi um telefonema no qual mais um casal sente sua agonia de casamento. Porque estar só é mais fácil mesmo que mais triste. Confesso que gosto de telefonemas como esse: sinto-me útil, sinto-me preparado pra compartilhar dores que já senti. E isso é mesquinho e verdadeiro ao mesmo tempo... não sei explicar...

  • Então dou meu tchauzinho. Porque terá gente em casa e devo ser útil. Há utilidade no mundo, mesmo sem sabermos qual é. Estar vivo é essa mumunha mesmo: um dia de cada vez. E seja lá o que for. Que venham os milagres, os grandes acontecimentos. Que o roer ossos é toda minha especialidade.

9 de abril de 2011

como tudo fosse a mesma coisa.


Tusso igual um filho da puta


e assôo do meu nariz


o que parecem litros de ranho.


E meus cigarrinhos ganham ares de vilão


quando abro um novo maço.


Mas baixo séries americanas


e preparo tortas de palmito no forno.


De modo que espero o fim da tosse,


do rânho e da torta.


8 de abril de 2011

Ver o oceano e se acalmar.

Eu, eu mesmo, muito prazer: o animal mais pacífico do planeta. Que tenho raiva, mas dura pouco. Que legítimo o ódio, mas esqueço rápido. -
Lembro do pouso do avião no Santos Dumont. O Rio de Janeiro constrange a gente, é uma cidade linda, com morros, praias e uma gente folgada que é só aparência. O Rio é um lugar que deixa saudades. Não é Curitiba e todas as soluções, não é São Paulo e as mil oportunidades... É um lugar que índio, preto e português se misturam sem fazer da mistura uma virtude. -
E, por isso, amanhã vou ver oceano. E vou ficar triste e vou ficar feliz e vou achar que a vida é boa de maneira geral. Porque sou um otimista mesmo que não aparente, porque me acalmo vendo o oceano e porque, de vez em quando, uma música do Chico Buarque volta a me comover como me comovia quando eu tinhas 16 anos de idade. -
E penso: No meu pai e na minha mãe, o amor capengo que eles aceitaram. Na minha irmã e meu cunhado, um casal que tantas vezes parece adolescente. Na minha avó que se anima e divulga suas viagens. Nos atores e suas inseguranças eternas. E penso em mim: eu mesmo, muito prazer, a pessoa mais calma do planeta.

7 de abril de 2011

do ônibus.

( foi mais ou menos isso que eu ouvi. a idéia era essa. a primeira frase é uma reprodução exata. em outras palavras: diversão de nerd.)


O tesão é tipo uma criança triste, tá ligado? Se você dá atenção, te ama pra sempre. E, de repente, aquela criança esquece que era triste e que foi por ser triste que ela te amou. Daí ela vai continuar te amando pra caralho, mas vai achar que não é feliz. E pior: vai achar que tem que buscar a felicidade. E ela vai buscar a felicidade, ainda te amando e tudo e não vai achar. É quando chega a hora em que ela te culpa por ser infeliz... aí tu tá fudido. Todo dia uma cobrança, todo dia uma tristeza que agora é sua culpa. Então chega a hora de falar sério. Ela vai falar de insatisfação, de falta de liberdade, de como antes ela era feliz. Mas ela nunca foi feliz. Só que disso ela não se lembra e se você a lembrar, tá na merda. É a hora em que você vira o algoz, tá ligado? Porque todo mundo precisa de um algoz e porque foi você que teve tesão. Pinto duro vira ofensa, vontade de não fazer nada vira indiferença e a raiva vira culpa. Ela voltou a ser uma criança triste, mas se esqueceu que sempre foi uma criança triste... nessa hora... amigo... é melhor nem estar perto.


E é por isso que eu me separei, tá ligado?

6 de abril de 2011

Teatro Irresponsável.



É tipo um vício, um recalque.

E como todo bom vício é algo sério, bem sério.

(ou alguém nega que os vícios revelam pessoas?)

Porque a gente se fode um bocado, sofre um bocado, mas sempre, e sempre tímidos, teremos um puta tesão se tudo der certo.

É que há migalhas que alimentam um batalhão: uma frase bem escrita, uma foda com risco de morte, um bêbe que sorri num berço ou uma boa apresentação na reestréia de uma peça teatral.

Porque uma BOA apresentação é toda resposta que quero dar ao mundo. Porque o sentido está em 3 ou 4 segundos de silêncio ou então no aplauso que costuma vir após uma tampa que encaixa numa panela.

E tem a vida real... que nem importa muito e que é sempre menos intensa.

Que sobre 'intensidade' só faz sentido em falar em termos artísticos ou atléticos: as mulheres do Picasso, a revolta de Arturo Bandini ou a insistência da maratonista que está torta na linha de chegada.

Particularmente prefiro os artísticos. Questão de gosto.

Só isso e tudo isso.

E isso mesmo.

5 de abril de 2011

É Tudo Sobre Mim e Minhas Mentiras.

Eu não entendo o que eles falam, eu não entendo o que eles fazem, eu não entendo quando eles sorriem para mim como se eu entendesse.
Então assumo: o problema sou eu.
Eu me impressiono com a facilidade que garotas novas praticam sexo anal, com o sucesso dos cantores omissos, com a peça cult que ninguém entende, mas é super recomendada.
Então simplifico: o mundo é uma merda.
Eu gosto de ver a senhora que alimenta pombos, as crianças que brincam no corredor do meu prédio, o bêbado que conversa sozinho em sua anônima decadência.
Então deliro: há que se ter uma camêra para tudo filmar.

3 de abril de 2011

Fui Assim.

Rio de Janeiro, 08 de Fevereiro de 2004.

A tarde esteve abafada, amor. Lembrei de ti enquanto suava e quase te liguei, mas não liguei. É que eu sou durão, né? Como era domingo imaginei você acordando cedo e comprando Abacaxis. Daí me acordava pra minha irritação e dizia que conversou com o cara do caminhão e que, na verdade, é Ananás e não Abacaxis. E falaria que ficou conversando meia hora com ele e que ele é do Espirito Santo e que têm 3 filhos e que sua esposa tem muito ciúmes de quando ele pega a estrada.
Porque você adora falar, né mô? E porque você me irrita, mas eu te adoro.
Fiz, pra almoçar, aquele risoto que você adora. Sei que já tá achando que eu bebi cervejinhas antes do almoço, mas eu não bebi. Comi apenas um prato e muita salada.
Já sabe quando vem? Fiquei pensando que páscoa é muito legal e que vou esconder o seu ovo no prédio. Daí você terá que encontrar ele de noite e só de pijama. O que acha? Mas não pode ser pijama transparente... que sua bundinha é minha e só minha e nem comento sobre a peitaria porque sou elegante. rá.
Sabia que a mulher do André tá grávida? Eu falei com a tia dele e ela me disse que os dois tão super animados... Lembra que ele acha Robson um nome bonito? A mulher dele me disse aquele dia que odiava esse nome e que só não comentou nada porque ficou com vergonha de você... quando você tiver aqui a gente pode ir visitar eles, né?
Bem. Vou dizer beijinho, vou dizer até logo, vou dizer eu te amo e vou me deliciar com um pouco de risoto.
E seu concurso? Saiu a data? Bem que podia antecipar, né? Daí a gente brincava de casinha por 4 meses e você me falava mais sobre o cara do caminhão de Abacaxi que é Ananás e não Abacaxi... (hoje, as 10 e meia, ele já não tava lá...)
Beijos na boquinha que me chupa... rá... (e imagino você dizendo "ai, seu fernando") falamos falamos amo amo e PÉQUENTECABEÇAFRIA. Fê.

1 de abril de 2011

blopunheta



  • a falta de solução. os sorrisos que eram bonitos e tristes. a guria que me faz sonhar e prova que nem larguei o osso como gostaria.


  • as bancas de livros do metrô de botafogo. os achados à 1 real, 5 reais. o livro da Ana Cristina César que não consigo ler sem esquecer que ela se suicidou. o livro de uma suicida é um preconceito, né? e os anos 80 berrando em sua escrita: love, baby, essas coisas... um americanismo quase virginal para nossos tempos de facebook.


  • o Rio de Janeiro como problema: como deixar essa cidade? gente calma e folgada, botecos a cada meia esquina e o descompromisso que parece tão natural aqui. largar o osso é largar o Rio de Janeiro.


  • meu prédio da perspectiva do Coimbra é como um milagre. penso: por que nunca pego elevador com essas bundinhas que vejo entrando no prédio daqui? e lembro da injustiça do planeta e das gracinhas do mundo.


  • a merda do mundo, a merda do povo. o cretino que diz que o tsunami veio pra provar a força da natureza e a força de Deus. porque, ele explicou, os japas não acreditam em Deus, mas em Budas de ouro. e ele, o cretino, acha que Deus é mais cretino do que ele. à ponto de promover tsunamis para quem Nele não acredita. e ele dizia aos berros: alguém aqui conhece um japa que acredita em Deus? e ficava radiante diante da negativa generalizada.


  • pizzas com broa é a mania da vez. deveria chamar de brusquetas, mas não tenho estilo ou saco. pizza de pão, minha mãe falava. minha mãe sabe das coisas. e não chamar pizza de pão de brusquetas prova isso.