28 de maio de 2012

\lista/

  • O amor passeou tanto dentro de você que se perdeu.
  • A alegria dela sempre me pareceu estúpida. Não que não fosse alegre ou verdadeira. Incomodava-me que era alegre demais - como o amigo suicida do Tchékov.
  • Irritar-se com a carioca burra e afetada de 18 anos é normal. Ficar irritado por isso muito tempo não é inteligente. 
  • Tristeza é voltar com a mesma quantidade camisinhas.
  • Meu caráter circunstâncial prova minha fraqueza. Lembro que existem medicamentos para esse tipo de coisa. Não querer drogas químicas é uma burra questão moral.
  • Conversar com gente nova quase sempre me dá mau humor. Os jovens precocemente velhos são, via de regra, mais interessantes.
  • A felicidade nunca será a prova dos nove. Em última estância só o chato é eterno.
  • Ouvir alguém que fala alto me irrita muito. Ouvir um que pergunta a outro algo que poderia descobrir sozinho me irrita muito também. Conclusão: vivo irritado por causa dos outros.
  • A culpa existe sobretudo para aqueles que dizem que ela não existe. E aquele que diz "pra ser sincero" está apenas sendo cretino com mea culpa. Repare: o 'sincero' costuma dizer que a culpa não existe.
  • Sob qualquer circunstância usa a palavra América 'auto-estima' será um ato falho.
 

25 de maio de 2012

A impossibilidade da beleza nunca me incomodou. Assim como também nunca achei ruim o fato do amor não ser um sentimento espontâneo. "Amor à primeira vista" é um discurso bonito, mas pouco verdadeiro. Inclusive por isso a beleza é impossível. A verdade não permite a beleza - essa linda ilusão que alimentamos com alguma consciência. Todavia, a beleza é legítima como invenção: pelo prazer da carne, pelo devaneio dos sentidos. E taí a arte que não me deixa mentir. Um belo quadro muito e tantas vezes não tem nada de beleza. É belo pelo que nos causa e não pelo que é.
E o amor espontâneo é minha sobrinha quando tinha 5 anos e me disse 'eu te amo' após eu ter preparado sua refeição. É coisa de bicho: amamos quem nos alimenta, com comida ou não.
Então olho pra trás e lembro dos meus amores rotos. Verdadeiros enquanto alimentavam e eram alimentados. E penso nos casais que continuam juntos mesmo sem alimentação e me recordo que o hábito é um conforto e que se sentir confortável é se sentir bem e feliz. A felicidade, muitas vezes, é perversa. Por isso, por estar vinculada à idéia de conforto e por se esquecer que tantas vezes o conforto é apenas um costume adquirido.

22 de maio de 2012

(s.r)

Seu amor é uma desculpa para sua mania de amar.
Amar tanto é um jeito de nunca amar muito.
Conta-se as gotas, faz-se as contas
e imagina-se o impossível.
Amar, assim, meu coração,
 é apenas
 levar
 o cachorro
 pra passear.

17 de maio de 2012

relatinho

  • Acordo cedo, mas me enrolo um cadinho. Passear pela cama é um prazer de bicho. Os gatos ensinam suas lições.
  • Há um mal humor sem razão de ser. Explico fácil: coriza e vias aéreas entupidas. Depois de expelir meus mucos, acendo a luz:  um jeito caipira e cristão de não voltar a dormir. Vejo o envelope embaixo da porta.
  • Volto para o quentinho da cama com o envelope na mão. Acendo e leio. É ancestral: entendo tudo, tudo mesmo, que está escrito.
  • O vício pede café e o mal humor se acalma. Cagar depois do 2° café é um tipo de benção. Imagino essa gente que precisa de activia e dou graças por ser um bom cagão.
  • (O cigarro é bom, é sempre bom. O grande erro dos não fumantes e das campanhas anti tabaco é só um: achar que o cigarro não é bom. [ E ser bom e fazer mal são coisas distintas. Como sexo sem camisinha, por exemplo. É mal, mas é sempre melhor do que com camisinha. Até o Papa concorda.] )
  • O mundo é cheio de gracinhas. A professora me dá atenção porque conheço a palavra 'espístola'. Na sequência me junta com a pior americana do mundo e da América: incapaz de olhar pros lados e centrada em si e suas dificuldades. Tento explicar que traduzir ao pé da letra é impossível, mas ela não entende porque nunca entende. Ela tem esse defeito: jamais entende ou entenderá e, muito possivelmente, acha que os outros são muito intolerantes com ela. 
  • Estar em grupo é fácil. É coisa de animal, da natureza. Grupos sólidos impõem indivíduos. Aproveito isso, mas, cá comigo, confirmo meu preconceito: os de mil amigos ainda são os mais solitários.
  • Outra americana, agora a melhor da América e de outra turma, usa meu grupo para falar comigo. Sinto-me bem, falo com ela e lembro da música que representa nossa nação atualmente: delícia, delícia, assim você me mata.
  • Penso em ficar aqui por mais um mês. Sinto a atração irresistivél e concluo: nada a perder, tudo a ganhar. Isso não vale pra dinheiro, mas... Aqui é melhor, simples assim. Porque aqui não é lá - onde meus demônios têm força e não admitem tranquilidade. 
  • Não estar lá melhor do que estar aqui. Quero dizer: o mundo é vasto, enorme, e, a bem da verdade, não o conheço. Veja: conhecer não é fazer turismo de dias em cada capital. É outra coisa: ficar mais de mês e notar que existem outros jeitos de viver. Quiçá tenha começado isso muito velho.
  • A biblioteca é linda e tem a peça que quero ler. Leio um pouco, mas meu nariz entupido me intimida. Sou o tipo de pessoa que tem vergonha de assuar o nariz em público. Volto, volto logo: a biblioteca é linda e tem a peça que quero ler.
  • Ficar mais é ganhar mais tempo. Ganhar mais tempo é brigar com a morte. Morrer é natural e normal. Morrer não é desejo, é fato. Fatos são o que são e nos animalizam. Porque escolha é a lição humana e a briga Trágica. Édipo luta por isso, Antígona também. Até a Eva - mesmo que no caso dela a escolha já venha como erro. Quero dizer: escolher sempre será o prazer - por mais abstrato que seja. 

p.s

Primeira coisa do dia:

- ler a cartinha da Fabiana.

Poderia ter chorado, mas não chorei.

Em outras palavras: - te amo.

14 de maio de 2012

dia de/da lua é melhor do que segunda.

Espalho os livros pela casa e acendo os abajures.
Ler tomando Malbec é o cão que treinei para me dar a pata e que me satisfaz toda vez que faz o que ensinei.
Deixo os arquivos abertos, o blogue aberto. Encaro el bigodon por duas ou três páginas e volto ao primeiro G. Marquez não-traduzido.
Meu cão treinado se satisfaz com a minha satisfação e lambe minha mão e mexe seu rabo.
É cômodo viver assim.
Fumo os malditos Gitanes e lembro que até nisso já houve glamour. Não lembro quem começou, mas acho que foi o Camus.
Eu, agora, sou uma bicha gorda que tem um castelo no deserto e que, em noites frias, se sacia com  eunucos de 13 ou 14 anos.
O frio promove a elegância e estar longe colabora com certezas antigas e desprezos que têm sua razão de ser.
Troco de livro uma ou duas vezes e releio as coisas antigas.
Imagino Deus, velho e barbudo, achando graça de tudo isso.

12 de maio de 2012

Com o carimbo SUGAR en las manos.

  • Entender um mundo que é maior que o seu. É bom. Saudável de modo geral e preciso de modo específico. De modo geral: é grande, é enorme e é impossível de ser compreendido. De modo específico: você não é o que pensa, você não é só aquilo que pensava e você dança com alegria e espontâniedade.
  • Margot da Alemanha poderia ser linda, muito linda. Mas não é. Apresenta-se com sua sexualidade e isso, faz um tempo, não me parece um bom sinal. (Creio que daí vêm minha implicância com gays afetados: muito fêmeas ou muito machos). A sexualidade não é um cartão de visita ou uma máscara social. A sexualidade é parte da jogada. Alguém que se apresenta a partir de sua sexualidade é como um advogado, um ator ou um físico que se apresente a partir de sua profissão. É normal nos identificarmos com o que fazemos. Mas causa desconfiança ouvir - ou notar - "prazer, sou fulano(a), e sou quem sou por ser advogado, ator, físico, gay, etc".
  • Margot poderia ser livre, ser verdadeiramente livre, se não fizesse tanta questão de ostentar sua liberdade.
  • As Japas explicam de um jeito bem japones: é bom e saudável ser submissa. O homem se torna mais gentil e temos muitas vontades atendidas. É estranho e distante da minha realidade. Uma mulher que não questiona e que acha que assim é melhor. Dá pra entender. Mas não sei. O equilíbrio entre os sexos ainda me parece mais fatal: como se um compensasse a loucura do outro.
  • O produto nacional é suspeito. Sou preconceituoso e acho que a idade determina muita coisa. Todavia, é assim: a mais nova é melhor que a mais velha. Talvez seja uma questão de vivência. Meu Deus, estou falando 'questão de vivência...'
  • Seria um bom homem se eu conseguisse acalmar a Margot. Não sou um bom homem.
  • A inglesa parece triste em seu casal. Falta empolgação naquela pareja. Não sei. Casal internacional que se vê a cada 2 ou 5 meses só faz sentido com muita, muita empolgação. Ou então com amor. Mas amor é bem mais complicado.
  • Eu mesmo: com dancinha e desenvolturas perco toda razão que não tenho. É, em síntese, a razão de eu estar aqui. De toda forma, penso: Margot, eu te amo; Japa, pega no meu pau; Nacional, em 10 ou 20 anos; Inglesa, não entendo essa dança, mas dancemos.
  • Não há tristeza e nem há mortos. Para mi triteza, que me gustam la exajeración. Mas, quiçá, assim de passinho, a oração de mamãe seja atendida. E assim, com Deus no sol e o Diabo na lua, eu siga em outra direção que não a esperada. Essa coisa de seguir, assim ao vento, é mesmo muito sedutora.
p.s. falta margot aqui. margot tem muitos mais motivos pra ser exaltada. é um bom personagem, mas não, infelizmente, uma mulher linda. meu diabinho me diz: ' you can't always get what you want'.  

9 de maio de 2012

bigodon de bruços.

  • A idéia de uma verdade (ou verdades) me parece encantadora. Não sei em que momento histórico o discurso de que 'não existem verdades' ganhou força. Sei que hoje esse discurso está em mil bocas mortas que vêem na dúvida uma virtude honesta. A dúvida não é uma virtude. Ela ocorre, ela é normal. Mas não é uma virtude. E raramente é honesta. Via de regra, os que exaltam a dúvida o fazem por preguiça ou, no melhor dos casos, por incompetência.
  • A certeza é um desejo, a dúvida é um caminho. Quem caminha atoa está perdido, quem gosta de estar perdido é burro. Percorrer caminhos é bom, saber que existem vários caminhos é melhor. Decidir por 'não-decidir' não é uma opção, é um medo de optar, uma falacia que usa requintes semânticos.
  • Tem um treco que me ajudou muito. É mais ou menos assim: admiramos alguém pelo esforço que ele faz. Mas isso não quer dizer que o que 'ele' fez seja admirável.
  • De modo geral: as pessoas não querem ser melhores ou mais inteligentes. E muito menos desejam a verdade. As pessoas querem conforto e continuidade. Algo que as faça sentir bem e que as iluda para sempre. Nessas, entende-se o sucesso do P. Coelho, por exemplo. Ele ilude às pessoas com suas próprias ilusões.
  • O erro dos ecológicos é só um: achar que a Natureza é sábia. A natureza não é sábia. E a justiça natural é a mais cruel que conhecemos: olho por olho, dente por dente. A Natureza, defendida pelos ecológicos, é uma ilusão, uma abstração. A natureza, tal como é, é a lei do mais forte. Nesse sentido, os EUA é o país mais coerente de todos - e isso, vale lembrar, não é sábio ou justo.

8 de maio de 2012

__________________

Gostou quando eu disse que só acreditaria em Deus se ele fosse um velho barbudo.
Deu risada, soltou um 'pode crer' e acendeu um cigarro fazendo 'não' com a cabeça.
Falava sobre coisas bestas. Sobre forças transcêndentais. Sobre a pressão social pós redes sociais.
Eu não ligava muito, soltava gemidos de 'ham' e concluía que só importava o que estava na minha cabeça. A realidade era apenas um fundo para nossa fotografia.
Cabelos longos, movimentos calmos e riu de todas minhas bobagens.
Pensei em amor, pensei em tesão, pensei em carências mútuas que se saciam.
Deus estava no céu e alisava sua barba.
Ela tinha coxas e ria. E eu, agora, a amava.
Feliz pra sempre, eu lhe diria se ela me perguntasse.
Mas não foi preciso.




5 de maio de 2012

Essa capacidade de dizer alguma coisa e se divertir.


Se fosse pra procurar alguma coisa, eu procuraria a verdade.
Mas eu não vou procurar nada - e antes que algum imbecil pense, eu me antecipo:
- a verdade existe: não encontrá-la não muda os fatos.
Então vou vagar pelo Facebook,
vou analisar as pessoas por seus feeds,
por suas fotos compartilhadas,
por seus acessos de sinceridade nas madrugadas de segundas-feira.
Os videos inteligentes aqui e ali,
uma sagacidade vulgar
e os trocadilhos que demonstram erudição e vaidade.
*
Ainda gosto mais de ver as gordas nas espreguiçadeiras,
tomando sol à tarde,
com um suco verde do lado,
lendo a revista que revela:
- os passos para conquistar o amor.
- as posições para o ato sexual.
- as técnicas do boquete-milagre.
- as comidas que ajudam os intestinos.
- a Claúdia Leitte dizendo que estar grávida lhe enche de tesão.