31 de março de 2010

"vem vem vem ver o circo de verdade"

( explico: no meio desse texto, quando saí, essa música voltou da minha infância com o quarteto em cy. não achei com esse grupo no youtube e nara é nara e é narinha. fez sentido, é o que quero dizer. em último caso, digo: leia o post e ouça a música. ou vice versa. uma coisa de cada vez. como, às vezes, deve ser.)

Quando você for me dá. Se você for me dá de novo, eu peço: abra as pernas com ternura como quem oferece uma preciosidade.

Eu sei. Teve muita gente que passou por aí e que passou batido, eu sei.

As camas sãos frias e tristes às vezes. Os porres e os excessos são as velhas desculpas.

A ressaca e o ôco no dia seguinte são, tantas vezes, inevitáveis. É uma pena, eu concordo.

As luzes que brilham tanto na night de orgia e libertação quase não resistem ao nascer do dia.

Entenda: não há julgamento. Todos nós passamos por isso e, de certa forma, é importante ter essas experiências. Inclusive para não confundir as coisas, achando que o giroflex da boate é um mini-sol preso dentro de uma caixa elétrica que roda em 110 v.

Só por isso eu peço: me dê com calma e generosidade. Sem pressa pra gozar ou pra mudar de posição. Deixe que as próprias carnes encontrem o seu ritmo. Talvez nem seja a melhor foda do mundo. Talvez seja péssimo. Talvez haja uma descarga profunda - dessas ancestrais que molham colchões e estouram borrachas.

Quem sabe? A chance de uma ou outra coisa acontecer é exatamente a mesma.

Eu confesso: gosto de sacralizar a buceta. Não sempre, mas às vezes gosto. E, de vez em quando, como no seu caso, faço questão: aquele amontoado de carnes sobrepostas em lábios grandes e pequenos se tornam a Xota-Rainha diante dos meus olhos. O milagre da transformação.

Não porque a água de fato virou vinho, mas porque todos os presentes acreditaram - e acordaram - que a água era vinho. Ou como a hóstia que ao invés de ser simples água e farinha se torna o corpo do Cristo.

Se for pra me dá, eu insisto: esqueça esses paus idiotas que a frequentaram. Por mim prometo o mesmo: deixarei de lado essas bucetas que são apenas carne.

Sexo é fácil. Sexo se faz por aí: pagando drinks ou sendo indiferente - tanto faz. Os drinks não são caros e a indiferença é só um exercício de flexão da própria personalidade.

(E lembro do velho Nelsão berrando: - sexo é para gatos vadios! Nelsão: seu gênio e suas fatalidades.)

Portanto: que as carnes se resolvam e que sejamos inteligentes. Sem jogadas, sem promessas de eternidade e sem o excesso de habilidade que apenas denuncia o auto-controle que teme (e deseja) se perder.

Foder todos fodem, gozar todos gozam, falar todos falam. A diferença, pra mim, é o que se cria já se sabendo criação: o acordo do vinho e o acordo da hóstia em outras medidas. "A interferência do bicho-homem quando levada às últimas consequências".

Sem medo, sem receios e sem dó: os milagres possíveis flertanto com o Impossível. A única saída. A única esperança.

30 de março de 2010

A verdade é que sou cristão.

É uma gente muito chata.
E, pensando bem, não quero fazer novos amigos. Basta o orkut, o facebook e sua horda de solitários. Eu tô ativo lá e, portanto, também sou um solitário. Se não desejo novos amigos é apenas porque não quero e nem acredito.
Ah!, esses amigos intensos de meses. A intensidade cheia de carinhos infinitos porque tem prazo de validade e passagem de volta marcada. Assim é fácil. E fácil nem sempre é bom. Assim como o difícil não garante nada.
O mundo tem mais sutilezas do que o não e o sim - pra minha desgraça.
Seja como for, eu volto. Eu mesmo, meu terror e minha glória, o único que posso ser. O que, infelizmente, jamais me impediu de fazer merda ou de mentir. Eu mesmo - meu egoísmo sem se importar com fidelidades de conveniência.
Repito: é muita gente chata.
Quando decido por mim e meu umbigo é isso: chato por chato, sou mais eu. Convivo há 28 anos comigo e sei da minha própria chatice. Eu driblo, sou goleiro e artilheiro ao mesmo tempo. Bem melhor e bem menos desgastante. Nada de procurar sentido em frases ditas por outrem.
(Ah, a liberdade. A liberdade e sua ilusão. Discursos sobre liberdade que provam o contrário. Ah, o grito. Comovente e frágil como todo grito. A força do grito provando o contrário. O grito de verdade deveria ser mudo. Ah, o amor. O desejo dele e a confusão. Ama à alguém ou ama ao amor? A incapacidade de amar revelada em números 'eu te amo')
-
Tô lendo M.M e acho que ele me faz mal. Entendo toda raiva e desilusão que M.M sente. Como se me soprasse verdades antigas.
A gente é um cuzinho muito medroso. Inventamos desculpas pra enfrentar o tédio, a morte e as dores em geral. Como se houvesse pau - ou buceta - capaz de trazer a redenção. Como se houvesse redenção.
(E vislumbro que os neo-modernos considerarão "redenção" uma simples invenção católica. Garanto que me acusarão de tacanho e moralista. O que os neo-modernos não entendem é que a "invenção católica" não inventou nada que não existia, apenas se aproveitou das loucuras e pavores que já rondavam nossa espécie. Assim como não entendem que, dentro do cérebro, a invenção e a realidade acionam as mesmas áreas.)
Então leio ainda mais o M.M e o acompanho. Seus caminhos tristes e sua falta de auto indulgência. Ele é um cara cruel, é óbvio. Mas também é cruel consigo próprio. Ele cospe na própria cara e sofre com/por seu próprio cuspe. Há qualquer coerência nisso que me encanta.
E sei que me engano aqui também, mas tanto faz. Melhor se enganar do que mudar quem você é por ter medo de se enganar. Que a enganação seja inteira e completa.
Mentira boa é longa e bem elaborada. Tende, inclusive, a ser confundida com a triste verdade.

29 de março de 2010

ausência de título evita confusões, acho.

Não vou gritar daqui. Tenho mais elegância do que isso. Me lambo e me lambo, disse hoje numa conversa por msn. É isso. A solidão simplificada pela rede. Mais um idiota livre graças à internet. Se for metade que seja virtual. Minha dor é minha e meu amor é meu. Eu alimento minhas próprias doenças e não quero precisar de aprovações alheias.
(Que fique claro: esse blogue continua o mesmo, basta revirar meu passado e ver em como eu me repito. A repetição é minha glória. Não tenho medo de saber quem eu sou - mesmo que, muitas vezes, eu erre feio. Eu pago o preço por ser quem eu sou. E não é isso que faz eu me achar esperto. É outra coisa. E essa outra coisa eu não digo aqui. Porque também me preservo quando é conveniente. Tenho lá meus paliativos.)
Domigão berrou suas verdades no meu ouvido e me atingiu. Eu tava lá e ouvia seus gritos. Um pior do que o outro e todos contra mim.
No Coimbra, domingo é o dia da plena decadência: só gente triste e excesso de baratas. Eu tava lá também. Eu era um triste também. Mas meu gatilho tinha J. Fante e eu usava coletes à prova de balas. O Fantástico transmitia as notícias de sempre. Eu entendia, observava as reações, mas não dividia meu J. Fante. Colete à prova de balas, eu repito.
O Sam e o Dean voltaram. Eles têm que enfrentar dêmonios. Foram preparados pra isso e os enfrentam. Mesmo que muitas vezes queiram desistir, eles seguem. É a lição da América. O sonho da América: tudo é possível. Bobagem na vida real, a gente sabe. Mas quem realmente vive pela vida real? Eu não. Eu nunca. A vida real é cagar e comer. Ou vice-versa.
Agora Ray Charles na quarta repetição e o macarrão semi pronto que me espera. Vou caprichar no alho e apenas isso. Alho. A humanidade precisa do sal, mas vive pelo alho é o meu caga regra da noite.

28 de março de 2010

Então me pego chorando por lembrar da coisa mais bonita que me aconteceu. É domingo e tomo café na minúscula xícara com tema natalino. Me deixo envolver pelo choro. Há qualquer cura no choro. O tempo infalível, terrível e perfeito. Agora vejo o que eu não via - porque agora sou mais esperto, e também mais experiente, e, por isso, só agora vejo o tamanho da preciosidade que existiu. São as gracinhas do mundo.
"Foi só quando a bola dourada caiu dentro do poço que Joãozinho viu como ela brilhava."

também

(sem pontos porque a mentira prefere ficar escondida)

eu sei eu sei muitas coisas foram ditas mas quem se importa dizer os idiotas dizem ouvir os idiotas aplaudem eu não e eu nunca eu fico aqui eu estou só como sei estar não agarro guelras de peixes pre-históricos e não uso nenhuma maquiagem eu me acho eu me sinto bem eu cago regras via internet e eu declaro amor antes do amor ser real eu gosto eu falo sobre mim e não gosto das jogadas por isso invento eu mesmo e morro e mato por invenções que brinquedo por brinquedo eu brinco e se não brinco no esquema de lá é porque quero ser dono ser dono ser dono é normal desejar ser dono é ainda mais normal sou dono de mim porque sou arrogante e livre sou de mim porque não minto e porque abro o peito sem pensar que peito aberto é risco de assassínio e é e deve ser e quero que seja participar é bonitinho mas não comove prefiro um matemático que descobre o amor à um que berra sobre o amor sem nunca ter sentido a alma e a morte que o amor envolve gente que se proclama leve e tranquila e ignora o inferno minha vaidade é essa eu não ignoro o inferno eu meto essa eu grito eu erro eu deixo a bunda de fora pra provar que bunda de fora é o milagre que quero e evito ao mesmo tempo de fora os outros as histórias e os passados fazer todos fizeram caçar pérola é o meu barato e erro e peno pelos erros mas nem e daí as crianças se impressionam com passáros mortos e não sou criança mesmo que seja capaz de chorar com morte de coisas com asas eu quero asas sim e sempre mas eu não quero asas que sejam só desespero e tristeza irrustidos é pra ser muito que seja muito é pra ser nada que caia no esquecimento minhas gotas sou eu e meu delírio sou eu não quero provar e não quero cair no convencimento meu desafio é meu e não de quem quer ser desafiado dono de si milagre de encontros e jorros de esperma velocidade e potência é bonito e solitário e solitário é só o que é e não loucura os bois as cabras e as galinhas são mortos pra o natal jesus abençoa isso e tá tudo certo só me desesperarei por o que for realmente desesperador

27 de março de 2010

Escrevi numa carta e gostei.

Claro que generalizo.
É impossível não generalizar.
Sei das exceções e vivo pra que elas confirmem a regra.

26 de março de 2010

Bang-Soul-Bang

Enfiar o pau naquelas carnes e perder a cabeça. Perceber a taquicardia que aumenta e arriscar a morte precoce. A gente morre, você sabe. A maldita borrachinha separando as carnes.
Deus, por que a maldita borrachinha? Não foi teu Filho que morreu para nos salvar? Só Ele não era suficiente? Tinha mesmo que nos obrigar à borrachinha?
Ele sabe que com borrachinha se dificulta o acesso à alma. E alma é coisa rara, a gente sabe. Caçar almas com o pau. É arriscado, eu sei. As vezes um resquício de alma surge e confunde a cabeça da gente.
A alma, bom Deus, a alma. Aquele treco que quando aparece não se duvida. O meu encanto pelo lampejo do olhar após aquele beijo roubado passa por aí. Mas é ali, entre as carnes, que a alma pode se manifestar inteira e perigosa, ameaçadora como um fantasma. A alma armada com mil facas e pistolas no velho oeste. Ela pode te matar. Você sabe que ela pode te matar. Mas ela não te mata e até o contrário.
Sem faca e sem pistola a alma é ainda mais perigosa.
As agonias que habitam o corpo e a mente sendo concentradas ao longo da espinha numa fila de formigas, borboletas, lagartos e joaninhas.
O orgasmo, bom Deus, o orgasmo.

voltas e voltinhas.

Tem hora que é a hora de não dizer nada. Como se palavras pudessem perverter as coisas.
O sentido nunca tá no discurso, embora o discurso tente dar sentido pras coisas. Esse papo sobre discurso também é velho e não vem ao caso. É quase a prova da incompetência inevitável do discurso.
A gente não é aquilo que a gente fala e a gente não é aquilo que a gente deseja. A conclusão é só uma: estamos na merda. Mas estar na merda não é necessariamente ruim. Estar na merda, agora, é ter tranquilidade. O tempo fatal e sua ação. Pro bem ou pra mal, tanto faz e faz tempo. Tranquilidade não é deixar que tudo aconteça por si só ou esperar que o destino se realize. Tranquilidade é saber, com alguma honesta tristeza, que nem tudo se controla. E aceitar o descontrole é apenas aceitar o descontrole. Não é o considerar virtude ou única opção. Uma coisa de cada vez, um dia após o outro e coragem sempre que possível.
Falo por minha própria loucura e minha própria euforia. Sinto, com uma clareza quase trágica, o tic-tac que estoura minha bomba de ansiedade. Porque eu também quero mil coisas. Porque eu também quero a vida perfeita. Porque eu também desejo a posse de coisas que me parecem ser minhas. Porque o destino faz sentido no meio da falta de sentido generalizada. Porque o destino é fazer parte de um treco-fodão que não o joguete diário dos desejos equivocados e confusos que transformam gato em lebre e merda em ouro.
Quero a merda, merda. E o ouro, ouro. E isso é apenas o que posso querer. Porque felicidade eterna é perda de tempo e porque o mundo corre solto no vácuo com suas gracinhas e coisas inexplicáveis.
A paz pra mim, agora, é justamente não tentar explicar o inexplicável. É, de novo, o velho esperto que eu quero ser me sussurrando descobertas.
Não dá pra bancar a criança pra sempre. Estar vivo é mais complicado do que seguir o instinto ou premeditar os acontecimentos.
A margem de erro e equívoco não é o que se ambiciona, mas é real.
Assim como a flor do asfalto e a doença da ostra que, às vezes, e só às vezes, cria pérolas.

25 de março de 2010

Durmo pouco, mas durmo bem. Sonhos estranhos e entre cortados. Tinha um caminhão baú num deles. Havia um tipo de despedida também. Às vezes acordo e olho. Meio sim meio não. Quase sonho. A boquinha faz um minúsculo bico pra dormir. Beijo o bico e ouço um hum desajeitado. Finjo que durmo. Durmo. Umas palavras que voltam na cabeça. Eles falam comigo. Eu to quase lá. A mulher gato aparece com chifres pretos. Nem tem rosto. Acordo de novo. Assim encaixado ela parece pequena. Hum. Boa Noite. Hum. Durma bem. Hum. Eu não quero. Hum. Até nunca mais. Hum. Bom dia. Lembro do ratinho: ele sambava nas minhas calcinhas que tavam de molho. Perdi 10 calcinhas. Sorte que a MaryJoe tava lá. Sorte mesmo. MaryJoe e seu marido que inventou o apelido MaryJoe são uma história de amor. Na casa deles não tem ratos, ela disse.

23 de março de 2010

Quem sabe a beleza vinha em potes?

Eu te desejava boa sorte e até prometia amor eterno.
Talvez te ligasse para tomar sorvete numa segunda à tarde.
Seria uma grande jogada, não seria?
Você diria que estava no trabalho,
eu pegava o endereço
e punha o sorvete dentro de uma caixa
com adesivo frágil.
Pedia para ser entregue com urgência.

quando beijo minhas mãos.

Gosto de quando minha cabeça funciona de um jeito lento. Explico: minha tendência é ficar eufórico ou puto. Ouço e reajo como um bicho burro. Mas não agora. E não por isso e esses que estão acontecendo.
Tenho esperança de ser um velho esperto, já disse isso por aqui. Toda essa euforia, essa passionalidade, esse amo/odeio, essas paixões súbitas e esses ódios de picuinha me parecem, mesmo que ainda sofra com eles, coisas de criança. E criança eu sei que não sou.
O tempo passa e é real. O tempo não é relativo fora das formulas matemáticas. É concreto e altera nosso corpo, pele e cérebro. Negar a ação do tempo é negar que a vida real existe.
E claro está que não gosto da vida real.
E claro está que mesmo sem eu gostar, a vida real continua existindo.
Saber disso me parece, as vezes, toda liberdade possível.
Então leio minhas coisas. Distribuo meus livros e os leio em doses homeopáticas. Meus livros acabarão um de cada vez, eu sei. Por isso leio mais de um ao mesmo tempo. Pra regular o fim que fatalmente virá.
(Meu J. Fante passou da metade e já sinto saudades. Nessas horas ouso dizer que tenho 82 anos).
E há esses movimentos estranhos do mundo cheio de gracinhas: pessoas que voltam, lembranças que revivem, desespero infantil com insetos, músicas que não se ouvia há anos, mortes e nascimentos de crianças bonitas e feias.
Tudo certo. Minha cabeça não tá com pressa, eu disse. Apenas vejo daqui.
Minha pança é redonda e brilha com a luz da lua por ser muito branca. Não quero dançar sempre pra agradar moças tristes e também não quero nunca dançar pra agradar moças tristes. Tenho lá minhas contradições e ser contraditório não é mérito, é apenas parte da coisa.
(Talvez por isso me irrite tanto com quem acha a contradição uma grande coisa. Contradição é apenas outra falta de opção. Ainda prefiro as escolhas que acarretam em perdas conscientes.)
Seja como for, ainda tenho essa paz e sei que paz não dura. Aproveito agora e me sinto bem. É o que posso fazer e o que faço. Não sou criança pra tentar parecer inocente aos olhos de adultos.
Carrego minhas dores com o máximo de elegância possível e me esforço pra não as negar. É apenas parte da jogada de novo. E eu ainda quero as escolhas e os erros dos quais serei o único responsável. Cada um com sua própria merda me parece uma boa sabedoria.
O velho esperto que quero ser passa por aí.

22 de março de 2010

Olhos enormes para me afogar. Abismos imensos que me puxam. São coisas de outras épocas. Ancestrais. Mensagens repetidas por minha mãe. Fui educado assim. Preparado para abismos e labirintos. A insistência é a lição velada. A eternidade é a ambição do tempo.
Então percebo. Como um que vê os próprios olhos. Aqueço minhas mãos esfregando uma na outra. Tática antiga. Igual quando era pequeno e desenhava com fósforos. Ou então comia pasta de dente escondido. Parecia tão ousado. Era simples ser ousado. Se pensar bem ainda é simples ser ousado. Mas não é mais o caso. Não to escondido com a pasta de dente.

21 de março de 2010

loucas e adoráveis, eu digo.

Pensam e falam muito.

Meu Deus! Quem é que entende?
Nem e nunca. Mistérios.
Deve permanecer isso: mistério.
Querem ter controle de tudo,
querem saber de tudo.
Querem entender o que não se entende.
Tímido e minoritário, arrisco:
- é impossível entender um homem e uma mulher quando decidem ficar juntos.
É o meu máximo,
é o que posso falar.
Elas tão em bando e elas têm razão.
Mulheres do século XXI são muito articuladas
e conscientes
quando falam sobre seus problemas.
Arrisco de novo:
- tão fácil nos manipular. Se sabem disso pra quê fazer de conta que não sabem?
Mas quem sou eu ali?
Meu pau duro não vale 6 clitóris acordados.
Ouço e ouço.
Não me arrisco mais.
Mas, cá comigo,
ainda me pergunto:
- por que sendo tão espertas elas não fazem aquilo que caso fizessem resolveria todos os seu problemas?
Mistério, mistério e mistério,
eu concluo e desisto:
é melhor assim.

20 de março de 2010

não agora.

Como dar conta de tudo aquilo que se vê? É impossível. Até me esforcei. Tentei reparar em tudo no tédio inicial da festa. Não uma simples festa. Não uma festa qualquer. Uma Festa do pai de um bom amigo que comemora seus 60 anos no planetinha. Uma festa que eu nem iria e que eu quase não fui. Porque tendo a ficar em casa. Eu, meus livros e minha pança. Mas fui e lá estava. Senti o tédio e o deslocamento inevitável. Mas é apenas parte da jogada. Não há queixas. Eu sabia onde estava e sei, para surpresa de idiotas que me acham idiota, quem eu sou.
Ao ver aquilo tudo tive a certeza que não dava pra escrever sobre aquilo. Porque não teria sentido. Seria besta. Diminuiria uma coisa que era o que era: uma festa de 60 anos do pai de um bom amigo. E era só isso. E foi só isso. E foi bom estar lá mesmo tendo pensado umas 30 vezes: o que to fazendo aqui? Simplesmente porque isso é uma coisa que eu sempre penso. No Coimbra, numa aula de mestrado e até numa buceta quente que se pretende muito generosa.
Podia falar do tombo da mulher, do velho que dançava pra escapar da morte e também da bela criança que dormia em paz como só uma criança dorme.
Mas nem. E menos agora. Há qualquer delírio de álcool que me berra: é o que é e nem é bom nem é ruim é apenas o que é.
Então me basto e vejo o relógio. É tarde. Há sono e cigarros em excesso. O Sérgio Sampaio sofre com suas canções e eu entendo de tudo que ele fala. E entendo porque sempre entendi e sempre entenderei. E isso não se explica. Assim como a bela festa que fui. Uma festa que não é minha e que nem é a que eu faria. Mas uma festa que era o que era e que não precisava de nenhuma aprovação de um gordo deslumbrado ou da turma do teatro pra existir.
Era uma festa e isso eu entendi. É o que basta.

19 de março de 2010

Ela não gostou quando eu lhe chamei de bonita.


Quando eu lhe falei da suavidade das garotas de 19 anos, ela me arranhou e falou que nem aos 16 tinha sido assim.
Então, por falta de assunto,
eu lhe falei sobre minha mãe e minha vó.
Comentei que gostava muito delas e
que achava bom ter morado por 2 anos em São Paulo com a minha avó.
Ela riu, acendeu o cigarro, jogou a cabeça pra trás e gargalhou.
- você é mesmo o típico gordinho da mamãe, ela disse.
- aposto que sua avó cortava frutas pra você, ela insistiu.
Mudei de assunto e lhe falei dos meus escritores americanos
e das incríveis paisagens dos filmes do Win Wenders.
Isso pareceu a acalmar então continuei falando
sobre essas coisas que sempre se falam:
arte, sociedade, ecologia responsável e misticismos em geral.
Mais animada ela me contou sobre sua grande aventura no México
e sobre os 2 anos em que trabalhou como garçonete bilíngue em Transatlânticos pelo Pacífico.
Falou dos gringos que a comeram,
dos passageiros que a comeram,
dos marujos que a comeram.
Descreveu pênis de várias nacionalidades
e comentou que japoneses podiam ser surpreendentes.
Me perguntou seu eu era bi ou careta.
Eu disse careta e como um cowboy americano ela soltou com voz anasalada:
- como saber se não gosta se nunca experimentou, nénem?
Eu não disse nada e ela continuou.
Parecia se sentir muito livre quando disse:
- eu quero experimentar tudo e todos, nénem
e me tacou um estranho beijo na boca.
Língua dura e boca imensa.
- curto sua barba, nénem. Faz eu me lembrar que estou com um homem.
- você é homem mesmo, num é néé-nem?
Eu sorri. Era o que eu podia fazer.
Pensei na minha vó e na minha mãe.
Pensei em frutas cortadas.
Pensei em salas de cinema vazias.
Pensei nos churrascos da minha adolescência em Curitiba.
Pensei no dia em que tirei minha carta de motorista.
Pensei em domigos chuvosos.
Pensei em alugar 5 filmes na promoção e não sair de casa.
Pensei que na Ilha do Mel eu gostava de boiar no mar calmo.
Pensei nos namorados das minha primas.
Pensei nos sanduiches do Cervantes.
- já tá tarde, nénem. Vai me arrastar pra sua casa ou não vai?
Pensei nos animais do Zoológico.
Pensei nas crianças adotadas.
Pensei na dor de corno do Tim Maia.
Pensei no meu pai falando do dia em que o homem pisou na lua.
Pensei no desenho que ganhei da Fran e que foi rasgado.
Pensei nas gordas que jogam bingo.
Pensei na vida rural dos meus antepassados.
- então tá certo, nénem. Eu não sou mulher pra você num é?
Pensei nas 4 farmácias da Rua da Passagem.
Pensei na minha irmã querendo casar na igreja depois de toda rebeldia.
Pensei na Negona que elogiava meu pau.
Pensei nas corujas do Parque Iguaçu.
Pensei no bolo de cenoura que a Iza faz.
- tá aqui o dinheiro de 4 cervejas. Eu divido a conta, né nénem?
Pensei nas tatuagens da estilista paulista.
Pensei na maternidade da Andrea.
Pensei no casamento da Anna e do Vaccari.
Pensei no lençol que mais gosto e tá rasgado.
Pensei no pessoal que tem tartaruga como animal de estimação.
- mÓ prazer te conhecer, nénem. A gente se vê por aí.
Pensei no "Além do Horizonte" do Roberto e do Erasmo.
Pensei em calendários de mulheres nuas.
Pensei em cinzeiros cheios e xícaras de café.
Pensei na Urca e sua beleza.
Pensei nas manhãs de inverno de Curitiba.
O Miguel trouxe a conta e eu incluí a saideira.
Bebi devagar olhando a rua quase vazia.
Uma criança, preta e bonita,
pediu pra eu ajudar comprando amendoim.
Comprei e voltei pra casa.
Eu me sentia muito bem, na verdade.

18 de março de 2010

Uma tristeza vaidosa que me abate. Saudades dos melhores momentos editados. Lembranças de uma vida que foi minha e que agora não é mais - embora sempre vá ser já que pertencem a minha memória seletiva. Porque havia aquela ternura toda e também as certezas todas que quase constrangiam. Braços e pernas enormes que se acordavam pela manhã num abraço que quase sufocava.
Eram planos e planos. Toda uma delícia matinal de brincar de Deus e programar a própria vida. Como se a programação garantisse a execução. Era inocente e singelo. 20 ou 21 anos. Até fazer café era divertido: parecia muito maduro por a água pra ferver e preparar o pó no coador.
Havia divisão de tarefas e escrita à 4 ou 6 mãos. Em tardes quentes, as vezes, havia um sexo brincalhão: mim putinha tu cafetão. Muita exibição do próprio corpo e sons altos que pareciam desafiar o mundo e provar nossa terna liberdade. Éramos crianças, acho.
O mundo ainda se revelava aos poucos. Não tínhamos sacado as jogadas, as loucuras, o troca-troca, o bem e o mal.
Eram filhotes que corriam porque tinham pernas e não porque queriam ou precisavam correr.

16 de março de 2010

sobre a paz possível.

Ouço meu blues lento e profundo que vem da TV que serve de som. O nome do cara que ouço agora é T. Bone Walker. Nome de macho de preto americano. Decorei o nome dele pra escrever aqui. Infelizmente não sou desses que sabem os nomes dos caras de Blues que se ouve por aí. Até queria ser. É sempre bom saber os nomes daqueles que se consome.
Dos livros que leio até gravo os nomes dos autores. Nem sempre dos livros, mas dos autores. E do autor que li mais de 2 livros confundo facilmente um livro com outro. Até porque eu não leio um livro. Geralmente eu leio um cara. Seja homem, seja mulher.
Penso em 30 coisas e não penso em nada. Estou satisfeito e idiota. Há qualquer bem estar estranho no ar. Como se eu pudesse ter a paz que eu divulgo por aí. Hoje disse prum bom amigo: frita em paz. E ele riu, mas entendeu.
Acho que é disso que se trata: fritar em paz é a paz possível.
Esse chamado desse meu amigo me deu um toque. Ouço muito por aí sobre meu isolamento e esquisitice.
Agora tem uma - e não qualquer uma ou toda uma - que me perturba falando sobre isso.
E falar sobre isso é uma das coisas que mostra a esperteza que ela tem e desconhece, mas deixa pra lá.
O fato é que com esse chamado do meu bom amigo, percebi, vaidoso e feliz, que eu sou o amigo que pelo menos 3 dos que importam no RJ procuram quando é o caso de dar pitacos sobre suas profundas angustias.
E o mais incrível é que concluí que de fato sei o que falar pra esses poucos: coisas que os ajudam a pensar melhor e ter a tal paz possível. Essa mesma, cuja a síntese máxima é: frita em paz.
(Por o mundo ser estranho e cheio de loucas coincidências esse mesmo amigo me mandou um e-mail agora. Perguntei a frase que tinha lhe dito e, logo depois, lembrei por mim mesmo. Acho que essa é a grande sacanagem do mundo: age por meios estranhos para chegar naquilo à que se chegaria de qualquer jeito).
Saber que você é o bunker de alguns faz você se sentir bem. É loucura, eu sei. Mas mais do que a loucura há a sombra da imensa vaidade. Porém me defendo, concluindo pra mim mesmo que, como as recíprocas são verdadeiras, a paz possível ainda pode existir.
Sem consolar ninguém e sem bater nos ombros. Apenas mostrando saídas possíveis que só se vê por não estar perto e por querer o melhor praqueles que te procuram quando acham que você pode ajudar.
Desses 3 que importam sei segredos verdadeiramente secretos que nunca contei pra ninguém. Guardo comigo como uma prova de fidelidade incondicional e amor velado. São revelações e mesquinharias à que tive a honra de ser o sabedor. Sei disso e, por isso, guardo.
Pra mim só importa o que me é exclusivo. Exclusivo no sentido do bom da coisa: eles quiseram me dar o que eles não oferecem por aí. Eu entendo a generosidade deles e retribuo: cumplicidade em coisas profundas é toda intimidade que desejo. Seja com amigos, seja com super-mulheres.
E nesse estranho bem estar que me ronda agora, recebo um e-mail dum maluco da Espanha que visita meu blogue e que gostou de uma coisa que escrevi e resolveu traduzir. É uma dessas gratuídades que dão sentido pras coisas que penso: pessoas que não se conhecem e criam empatias espontâneas.
É por aí que tento levar minha vida. Sem fazer força pra ser simpático com todos porque todos, enfim, não importam nem nunca importaram. Busco apenas manter minha capacidade de entender que ter sangue acarreta em certos excessos. E nem sempre se acerta nos excessos, mas ter sangue, pra mim, é achar que há coisas que realmente valem a pena. E são por essas coisas que topo, e sempre toparei, sangrar.

PARA LER A TRADUÇÃO ESPONTÂNEA DO MALUCO DA ESPANHA CLIQUE AQUI.

15 de março de 2010

quando o possível basta.

Há dias que são exatos. Hoje foi assim. Meu cérebro era meu e eu tinha calma pra pensar nas coisas que tenho que pensar. Quando digo coisas que tenho que pensar quero dizer coisas do mundo prático e real - que é chatinho, mas inevitável.
Resolvi minhas mumunhas e fiquei satisfeito. Conversei com o Tio da Kombi de S. Tereza e vi que meus preconceitos são amparados pelos antigos moradores de lá.
Hoje, se não fosse estupidez, eu diria: sou um cara livre.
E sentado no bar o mundo desfila e eu vejo:
  1. Mulheres com mais de 30 e poucos carregando sacolas de supermercado após o horário de expediente é algo deslumbrante. Há quase um padrão: poucas sacolas, tailleurs e um rosto calmo de cansaço satisfeito. Há qualquer vaidade bonita nessas mulheres: vaidade bíblica do comprará seu pão com o suor do seu rosto. Sempre as imagino morando sozinhas, chegando em casa e tirando as compras da sacola. Daí tomam banho, arrumam a jantinha e se preparam pra dormir. Os lençóis lindos e cheirosos com 13.000 fios.
  2. Elegância é um treco realmente difícil de explicar. Não tem a ver com roupa e não tem a ver com beleza. Elegância é dessas coisas veladas e misteriosas. Quando você se depara com uma elegância, você tem certeza da sua existência. Quando não há elegância você nem lembra que elegância existe.
  3. A Maria é uma bêbada antiga que eu sempre cumprimento com um movimento de cabeça. Já tá velha e bebe na mesa das mulheres bêbadas. Há nessa mesa uma bêbada muito bonitinha. Você só nota que ela é uma bêbada profissional quando repara no cabelo: muito ralo e apagado. O engraçado é que não lembro de ouvir sobre os cabelos quando se fala dos malefícios do álcool. Acho que só os bêbados poderiam falar com propriedade dos malefícios do álcool. Os médicos são limitados nesse sentido: só notam o óbvio.
  4. Há casais surpreendentes que provam que o amor existe. Assim: por que aqueles dois estão juntos? E como não é possível nem uma explicação razoável, você conclui: eles se amam.
  5. Um dos caras que tá envolvido no churrasquinho muda a mesa das carnes de lugar. Ele é chato. Seus companheiros de churrasquinho o acham chato, mas preferem deixar a mesa no lugar que ele diz ser perfeito. O mundo dá suas liçõeszinhas: o chato tem muita força.
  6. É impressionante a força do movimento hippie. Ainda agora, 2010, ele se manifesta. Sou preconceituoso. Só baixei minha guarda quando li o Domingos Oliveira falando do Movimento Hippie, explicando a Contra Cultura e como aquelas idéias eram belas por acreditar que o homem, enquanto espécie, poderia evoluir e melhorar. Mas mesmo assim me incomodo com o garoto fantasiado de hippie que compra crédito pro seu celular na banca de jornal. Ele está fantasiado, eu repito. Não há como ser espontâneo aquilo. Ele tenta reproduzir uma coisa que já passou. É o anti desapego hippie. É o blablabla hype que falam por aí. A ironia é que ele deve ser um garoto cheio de boas intenções e até legal. Mas ele é consciente demais pra ser sincero. Não sei explicar...
  7. As mulatas do Rio são uma coisa. Vejo 2, 3, 4, 5 e todas são uma coisa. Lembro dos Novos Baianos que ouvia na época em que me mudei pra cá: "Pela Morena eu passo o ano olhando o Rio".
  8. A satisfação dos que voltam pra casa depois de uma segunda feira estafante de trabalho quase me dá vontade de ter um emprego como o da maioria. Lembro da Bíblia novamente. Mas mudo de idéia: quero fazer o que já faço com o plus de ganhar um salário decente. Me parece justo mesmo sem achar que o mundo seja justo.
  9. Nas calçadas eu gosto de me impor. É besta. É assim: não dou passagem pra carro quando eu estou na calçada. Calçada é lugar de pedestre e eles que se fodam. As vezes, por pirraça, até ralento o passo. Lembro da única explicação eco-chata anti carros que ouvi e que fez uma puta sentido: 600 kg que transportam 60 kg não parece nada inteligente.

14 de março de 2010

BwanaBwana ou ninguém - quando a cobra morde o rabo.



Mulheres são loucas.
E perigosas.
No primeiro Poderoso Chefão há essa fala-fatal: "mulheres são mais perigosas que espingardas".
Quem ouve isso é o Michael Corleone. Ouve após ver a mulher com quem ele se casará e que morrerá no lugar dele no carro sabotado que explode quando ela vira a chave de ignição.
O Michael sacou a merda segundos antes. Ele berra pra ela que não entende e sorri. Ela vira a ignição e BUM. É ali, segundo Fernandinho, que o Michael decide virar O Poderoso Chefão.
Seja como for, insisto: as mulheres são loucas e perigosas. Perigosas porque são capazes de se meter na minha vida. E loucas porque são mesmo.
As minhas boas amigas mulheres me confessam a realidade da loucura feminina. Homens, de modo geral, são mais óbvios: nós nos repetimos dentro de uma certa lógica previsível.
Isso tudo porque deixei uma nova louca se meter na minha vida.
E fui óbvio como sou e cheguei a conclusão que nem topo e nem quero.
Não preciso de mulheres. Preciso de super-mulheres.
E nesse pacote de tédio que é chegar à alguma conclusão e pensar o que fazer agora que descobri que a louca da vez nem é uma super-mulher, procurei no google pelo nome do meu blogue e descobri, no meu blogue antigo, um texto que faz muito sentido pra hoje.
É um texto que antecipa o nome desse blogue de agora e que também me comoveu por isso.

DO BLOGUE ANTIGO:(com modificação formal e só.)
Sexta-feira, Julho 20, 2007
Eu ando por aí contando meu passos.
Eu me faço de tonto no meio da multidão.
As vezes eu reconheço um rosto e me afasto.
Eu só preciso de mim e dos cigarros e das cervejas.
Eu nem me interesso por aquilo que eu gosto: eu passo distante.
Eu faço contas pra explicar minha vida: matemáticas loucas pra não ver o vulcão. Nunca entendi as pessoas que pregam a necessidade de se viver intensamente, como se realmente isso ajudasse a chegar à algum lugar.
Eu prefiro as mulheres fúteis e vazias que me chupam por 15 reais.
São moças de família que caíram na vida e que são tão generosas que quase me comovem.
Mas elas se vestem tão mal...Elas se pintam tão mal...Elas choram tão alto.

Eu prefiro chutar as latas pelas ruas.
As minhas mãos dentro dos bolsos e minha cara gorda olhando de cima o mundo sujo.
Eu só me relaciono comigo mesmo. Eu sou sempre o meu umbigo sujo.
Não vou insistir pra ver seios ou bucetas:
as dançarinas de Copa mostram tudo por 5 reais que as fazem dançar como odaliscas negras no meio do turbilhão.
Elas entendem como a vulgaridade pode ser excitante.
Elas sabem o que representam e se jogam nos mini-palcos arrastando o corpo pelo chão imundo.
Elas sabem das coisas.

Depois de um porre há sempre uma chupada que passa batida.
Uma chupada sem rosto num pau meia bomba que ejacula pingando um liquido ressecado e farinhento.
Uma chupada barata que me ajuda a contar os meus passos,
que me faz não querer muito, que me deixa inerte, que me salva das passionalidades imbecilizadas das pulsões.
Uma chupada que é própria prova da existência.
Uma chupada que é o próprio Cristo na cruz.

posted by fmaatz @
Sexta-feira, Julho 20, 2007 0 comments links to this post

13 de março de 2010

relatinho sem fazer a barba.

Estalo uma cerveja às cinco da tarde. Preguiça de se barbear e recolher os pêlos que caem na pia e no chão do banheiro.
Meu arquivão tá aberto desde que acordei, mas há pouco o encarei e fiquei satisfeito. Escrevi, reli, gostei e senti que era o caso de estalar uma lata.
Tenho que ir almoçar. Só cigarro e cevada não dá certo. Mas sei que não vou beber muito. 4 latas no máximo do máximo. É um sábado calmo e quem sabe, daqui a pouco, eu beba um chá.
Nos últimos dias tenho lido com compulsão. Espalho os da vez na cama e fico lá, pelado e com o ventilador na fuça lendo 3 ou 4 páginas por vez de cada livro. Sou quase um monge.
A Ro Ro me acompanhou nesse sábado. É uma descoberta ouvir ela gemendo suas coisas. Assim como o Erasmão, que é um dos da vez mesmo sem ter tocado hoje.
No sabadão há uma quantidade enorme de punheteiros que vêm parar no meu blogue. Fico impressionado com o que eles perguntam ao google, coisas como "vejo orkut me masturbando punheta", "adolescente de 15 anos se masturbando" e "buceta miúda" os fazem parar por aqui. Peço a bênção ao sitemeter e concluo que ter filhos em tempos de Internet acarreta em preocupações que meus pais não tiveram.
Agora o fim do cigarro e a 4° lata. Uma sincronia quase perfeita.
Hoje é sábado e há belas mulatas pelas ruas cariocas.
Tomar banho, almoçar e ver o mundo.
Quem sabe até beber um chá em boa companhia.

nenhuma ameaça lá fora.

Saquei os movimentos daqui de fora. Pensei por que fiz distinção entre o último e o penúltimo. As coisas que interessam são sempre poucas sempre poucas. E olhei pela janela e vi o rapaz: ululava o óbvio com uma cara simpática e semi suja. O legal descolado visto nas festas alternativas e nos cinemas do unibanco trajando casacos listrados e retrôs. Lembrei do lance da persona que li esses dias. O risco de se confundir com a imagem que se projeta.
Me lambi mais um pouco e fiquei olhando as paisagens: casas de hippies, ladeiras de Santa Tereza, móveis rústicos herdados pelo avós italianos e garotas lindas que imitam pin ups. A flora repetida do popcultmoderninho. Gente parecida demais.
Como explicar?
Minha vaidade é ser amigo de A, por exemplo. Ele usa camisas de gola, calças vermelhas e dança nos sambinhas da Lapa. E a gente se encontra pra beber e falamos por horas. Eu volto bêbado pra casa e ele vai pro seu sambinha. Nôs damos bem, mas não somos cópias um do outro.
Nas paisagens que vi era tudo muito colorido e encantador. Belos sorrisos, euforias imensas e amigos íntimos feitos há duas horas atrás. Todos, sem exceção, com casacos listrados e retrôs.
Por isso me acalmei. Prefiro outras paisagens. Com mais decadência é certo, mas também com mais mistura e resquícios daquilo que chamo de alma.
Alma é um treco que se inventa e se desenvolve. Alma não nasce com a gente. Como diz o Tio Jung: ter alma é a ousadia da vida.

12 de março de 2010

amor no tempo do clitóris.

(esse texto é de um arquivo que tenho com o estúpido e singelo nome de 'mini-pensamentos'. reli e resolvi publicar aqui: minha tara de atualizar diariamente.)
Venha até aqui e me declare amor eterno. É só isso que me interessa. Não quero saber das variações limitadas, das paixões circunstanciais e dos dedos que já te fizeram gozar. Amor eterno é o que importa. E se não é eterno, não é amor, diz o Nelsão com seu gênio de excessos e repetições.

É o pra sempre que faz algo mexer. Nenhuma administração de prazeres ou euforias. A inconseqüência do amor eterno é tudo que pode dar sentido. E só isso. E nada mais.

Não quero o corpo tacanho, regulando a alma pra não se perder. Acreditaram que devem ser fortes, as desgraçadas. As mulheres com clitóris enormes e dedos frenéticos a dispensarem seu pau. Seu pau que aprecia e precisa do velho vai e vem, Do entra e sai, do Don Pilar, do tentar atravessar uma carne com outra carne. Sem auxílio do clitóris-tamborim. Sem cadência de gozo de filme pornô.

Queimem os clitóris dessas garotas, repitam a crueldade de outras épocas. Reprimam esse micro-pênis auto suficiente e arrogante. Queremos a buceta, meu Deus! É pedir muito?

Deixem o clitóris ali, como um brinquedo a ser usado. Um brinquedo, um brinquedinho. Um pequeno botãozinho que pode, as vezes, ser acionado. Mas que nunca será o prato principal. Se o clitóris estivesse no colo do útero aí sim poderia ser o grande banquete.

Ele é apenas um mamilo mais poderoso e melhor localizado. Não é o óconcur das suas partes, ó fêmeas fissuradas! Ele é, no máximo, a campainha para a única entrada realmente santa que vocês trazem no corpo. A entrada, a fenda, a racha, a japonesa peluda, a caverna, o abismo, a buceta, a buceta, a buceta.

Então repito: venha até aqui e me declare amor eterno. Amor eterno e buceta. Buceta que gosta do Don Pilar. Que prefere pau à dedo ou língua. Só assim o amor eterno poderá ser consolidado.

O amor eterno precisa de profundidades.

E coisas profundas nunca ficam nas partes visíveis.

11 de março de 2010

no meio da noite.

O ROSTO ERA IMENSO E TERRÍVEL. EU SENTIA QUE PODIA ME MATAR. ELAS PODIAM ME MATAR. EU VIRAVA A CABEÇA E A PUTA RIA. DENTES BRANCOS REFLETINDO UMA LUZ QUE EU NÃO SEI DE ONDE VINHA. EU REZAVA. A MORTE ERA UMA AMEAÇA NOVAMENTE. QUANDO TENHO MEDO DA MORTE É PORQUE TÔ APAIXONADO, EU DIZIA PRA MIM MESMO. ME CHAMAVA DE 'FERNANDINHO'. ISSO MESMO, 'FERNANDINHO'. EU ESTALAVA UM TAPA NA CARA DA PUTA QUE RIA. EU A JOGAVA NO CHÃO E CHUTAVA ELA QUE FICAVA TRISTE, CADA VEZ MAIS TRISTE. QUASE BONITA DE TÃO TRISTE. ELA TAVA NO CHÃO E DIZIA QUE EU NÃO ENTENDIA NADA, QUE EU ERA MALUCO. EU DIZIA QUE NÃO QUERIA ELA ACHANDO QUE PODIA ME CHAMAR DE 'FERNANDINHO' IMPUNEMENTE. ELA RIA E EU CHUTAVA DE NOVO E ELA DE NOVO FICAVA TRISTE E BONITA. BERRAVA: "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA". EU DIZIA QUE ELA ERA BURRA E BEIJAVA ELA. BEIJO ESTRANHO E DESESPERADO. DIZIA "SEI QUE VOU MORRER, SEI QUE VOU MORRER", MAS ELA NÃO OUVIA E ACHAVA BOM EU A TRATAR MAL. EU ACHAVA ESTRANHO, MAS SABIA QUE ELA QUERIA O MAL TRATO, QUE ELA NÃO CONFIAVA EM NINGUÉM, QUE ELA NÃO PRECISAVA DE NADA. BERRAVA "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA". E RIA E GARGALHAVA E MORDIA MINHA BOCA. EU SENTIA A DOR DO LÁBIO CORTADO E VI QUE SANGRAVA. O LÁBIO SANGRAVA MUITO, MUITO MESMO. EU PASSAVA A BOCA NELA E ELA ÍA FICANDO VERMELHA E, DE REPENTE, ELA ERA TODA VERMELHA COMO ALGUÉM É PRETO OU BRANCO. DAÍ ELA DIZIA "EU TE AMO" E EU ACHAVA QUE ELA ERA LOUCA E SAÍA. ELA FICAVA BERRANDO "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA" ENQUANTO EU ÍA EMBORA. LÁ FORA EU VIA UMA OUTRA, UMA EX, E ÍA ATRÁS DELA, MAS ESSA, A LOUCA VERMELHA, APARECIA E DIZIA: "DEIXA DISSO, FICA AQUI, TÁ TUDO CERTO, EU ENTENDI, VAMOS DORMIR JUNTOS, A GENTE TREPA E DORME, EU GOSTO DE VOCÊ, EU SEI QUE EU GOSTO DE VOCÊ, VAMOS DORMIR JUNTOS, TÁ? DORME AQUI, ASSIM. NOS MEUS PEITOS VOCÊ DORME BEM, NÃO É?" E EU DORMIA E ELA ME AFAGAVA. OS OLHOS DELA TAVAM ARREGALADOS E PRETOS MUITO PRETOS E EU SENTIA MUITO MEDO, MAS EU TAVA COM MUITO SONO E DORMIA MESMO ASSIM.

9 de março de 2010

sobre a felicidade.

Felicidade é um treco tacanho e mesquinho. Não tem nada de nobre. É um treco estúpido e sem sentido. Por isso me irrita quando alguém fala: o que eu quero é ser feliz / o importante é ser feliz / felicidade é meu objetivo de vida.
Digo isso porque estou feliz.
Estou feliz e radiante.
Também estou eufórico.
Até tremulo minha mão ao escrever e nem vou comentar como os cigarrinhos seguem um atrás do outro numa ciranda de fumaça azul e cancerígena.
E tudo isso porque O vinho da juventude, do John Fante foi relançado pela José Olympio Editora.
É como a cereja do bolo, mas nesse caso a cereja é bem superior ao bolo, mas bbeemm superior.
Tava até animadinho. Entreguei meu último trabalho chatinho e tinha o mundo aos meus pés.
Fiz o caminho que mais fiz na minha vida e encontrei milhares e milhares de pessoas que conheço ou que sei quem são. Muitas mãozinhas de olá e quanto tempo.
No shopping tomo suco e passeio no ar condicionado.
Como bom gordo nerd que sou, vou até a livraria e então o milagre ocorre:
na estúpida estante de 'lançamentos' eu vejo: O vinho da juventude. Até gritinho eu soltei. Gordo nerd e agora bichinha que solta de maneira aguda e escandalosa: não acredito.
Pego o livro e vou ver o preço, mas sei que vou comprar. Quase empurro a gorda panaca que tava na frente da máquina dos preços.
42 pratas, mas Jesus, que bobagem, eu já havia pensado em comprar esse livro por 100 pratas num sebo paulista...
Dane-se. É meu.
Estou feliz porque tenho aquilo que desejava.
E aquilo não é nobre tipo amor ou saúde.
Aquilo é um objeto real e palpável. E é meu. Só meu.
E tá aqui agora, do meu lado e ao lado do telefone.
É meu. Eu o possuo.
Nosso flerte já começou. Abri ele, dei uma olhadela nos nomes dos contos, li 1/3 da orelha e anunciei sua presença no estúpido facebook.
Daqui a pouco termino a orelha e dou mais uma olhadela como quem não quer nada.
Sinto quase medo. O último do Fante em português.
Vou ler devagar. Talvez até compre um vinho pra ocasião. Quem sabe acenda velas.
Deus, o mundo é bom. Deus, eu sou feliz.
Feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz.

8 de março de 2010

Minha cara ôca (?) olha pra frente.

A certeza insuportável de que o mundo inventado é melhor do que o real.
Não quero quase nada do que eu vejo.
Viveria em paz se num isolamento máximo eu descobrisse uma única coisa real por dia.
Voltei a ler Jung. Os livros de psicologia que li chamo de auto ajuda. São auto ajuda mesmo. Ainda que sem o filtro da convenção editorial.
Ler aquilo me acalma. Me faz me sentir menos maluco. Tudo que leio nesses auto ajuda eu sinto que de alguma forma eu já sabia.
No filme que vi tem um diálogo mais ou menos assim:
- conhece essa música?
- não, mas parece que já ouvi.
- é assim com as grandes músicas.
- como assim?
- eu to fazendo essa música agora, ela ainda não existe.
E os meus auto ajuda passam por aí. Como o filme que vi. Fui ver porque sabia que eu ia gostar. E gostei. Gosto desse tipo de filme e gosto de ver e confirmar que gosto desse tipo de filme:
As grandes paisagens da América, algum delírio de pureza e uma decadência que mesmo depois de superada não resolve nada...Deus abençoe a América e mais não digo.
(E nem defendo esse filme como uma puta obra de arte. Nem é o caso. "O Lutador" talvez fosse o caso. É apenas porque é um filme que me deu aquilo que eu queria que ele desse. É outra falinha do filme: - eu vou dar o que vocês querem, ok?)
No mais: livrinhos na fita e obrigações sendo feitas.
É uma maneira boa de viver, acho. Embora fique muito decepcionado por hoje não ter rendido no meu arquivão. Render no meu arquivão é o milagre que quero.
De resto são garotas tristes e gente entediada. Ainda prefiro, infelizmente, viver no meu próprio inferno sozinho.
É como eu me protejo.
E já que tô lendo Kerouac e tendo devaneios místicos, fecho essa postagem com
Lao Tse, na ótima tradução de A. Centurião de Carvalho, Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado:
As Afinidades Opostas (trecho):
Por tabela,
quem sabe das coisas
negocia sem barganhar.
Doutrina sem falar.
E tudo vai em frente,
acontece como vai acontecer,
de qualquer jeito,
a menos que você se esforce pra piorar.
O Simples Governar(trecho):
É que não se pode tapar o sol do sofrimento
com a peneira da felicidade.
Brincando de queimar etapas
um povo acaba botando fogo em seu destino.
e
Por Dentro do Grande Bem(trecho):
Quem conhece os outros é esperto,
mas se conhece a si mesmo despertou.
Quem vence os outros empata,
mas se empata consigo mesmo já ganhou.

Dia internacional das mulheres.

Penso nas suecas e suas tetas,
Penso em Silvia Saint e sua buceta incrivelmente bem desenhada – mesmo com tantos e tão grandes caralhos que a freqüentam.
Penso que há bucetas esculpidas por mãos de anjos.
Penso se a mulher merece um dia,
ou melhor, se toda mulher do mundo merece um dia.
Tanta mulher ruim, tanta mulher nojenta, tanta mulher vampira querendo seu sangue pra troféu.

No restaurante onde almoço eles dão flores para cada fêmea da espécie,
Na televisão, grandes empresas internacionais mostram comercias de exaltação à mulher,
Na agência de telemarketing, cada uma ganhou um cartão e uma pequena barra de chocolate.
Todos os cartões diziam: VOCÊ É ÚNICA.
Penso nas mulheres que tive e nas que quis ter.
Uma ou duas que sobrevivem. Três seu eu for generoso com os meus critérios.
Mas eu não sou generoso.
Eu sou chato, eu sou exigente e mesquinho. Não sou, definitivamente, o cara divertido que elas gostam.
Nem bonito eu sou. Sou gordo, sou suarento, sou possessivo e dado à ataques de loucura.
Bebo demais, fumo demais e desejo demais as coisas impossíveis.
Lembro que esse dia existe porque mulheres foram torradas dentro de uma fábrica –
queriam seus direitos, reclamavam por justiça e foram incendiadas por um patrão que deveria ser gordo e suarento como eu sou.
Mas eu jamais poria fogo em mulheres
e também jamais criaria uma data pra todas elas.
Todas elas não me interessam e nunca me interessaram.
Talvez um dia eu compre uma rosa, um chocolate e um cartão.
Talvez eu escreva VOCÊ É ÚNICA com meu próprio punho.
Talvez isso até ocorra num dia 8 de Março. Talvez não.
Talvez, nesse dia, eu tenha descoberto a minha melhor companhia
ou talvez, quem sabe, eu tenha virado um empresário

e aberto uma fábrica de tecidos
em alguma cidade pobre da América do Sul.

7 de março de 2010

relatinho.

Meu saco são duas bolas inchadas e doloridas. Muita gente na merda do mundo. Sai de casa pra ver, pra participar, pra tentar ter alguma relação com a merda do mundo. Andei um bucado, fiquei sem fumar por 2 horas e encontrei com 2 conhecidos. Somos simpáticos e elegantes. Até nos abraçamos.
Precisava andar, mexer as pernas. Meu apartamento é pequeno e sinto falta do sangue circulando. Minhas pernas começam a ficar frias, ter cãibras e estalar. Dores de gordo sedentário. Tomo banho e me alongo. Vou pra merda do mundo.
Ando a esmo em direção ao cinema. É domingo. Todos idiotas e entediados estão lá. Eu sabia, mas arrisquei. Vejo a hora, vejo o filme que pensei em ver e saco a fila. Enorme, ancestral, curvas e curvas. Meu Deus. Se eu sabia por que vim?
Na verdade nessa hora eu nem tava de mal humor. Estava tranquilo, passeando e vendo os rostos humanos. Fiquei impressionado com a quantidade de casais adolescentes na praia de Botofogo. Casais de 16, 15 anos. Andam de mão dadas e mais pulam do que andam: sempre empurram bastante as pontas dos pés. Casais emos, lésbicos, pátricinhos, engajados, roqueiros, etc. A fina fauna dos 16, 15 anos. Tento lembrar de mim nessa idade, mas não consigo.
Desisto do cinema ou volto depois. Ou amanhã. Ou nunca.
Ando a esmo por Botafogo. Ruas sem luz, lugares ermos e vagabundos me pedindo dinheiro. Sou grosso com eles, não quero dar margem pra nenhuma tentativa de convencimento.
Um cretino faz questão de andar do meu lado e no mesmo ritmo que eu. Aquilo me irrita. Ou ultrapassa ou fica pra trás, se decida. Ele mexe no celular. Hoje em dia todos mexem no celular. Eu mexo no celular. Lerdo meu passo e ele vai na frente. Mantenho uma distância confortável, mas ele resolve lerdar de novo. Merda. Cara chato.
Preciso de um restaurante. Álcool e pizza são ótimos no dia anterior, mas tenho um buraco no meio da minha barriga que implora por salada ou qualquer coisa menos junk.
Cadê a vida saudável e calma? Cadê a mulher linda com o vestido branco de algodão cru que passeia comigo aos domingos? Cadê os parques e as crianças? Cadê os amigos e a feijoada? Cadê a soneca pós almoço de domingo? Cadê a vida? Cadê a vida?
Não gostei do restaurante que eu tinha pensado. Tá vazio e parece sujo. Há ruas pra andar. Botofogo se desmembra na minha frente. Achei que logo estaria na S. Clemente, mas não. Ruas escuras se multiplicam. Mais pedintes no caminho.
Agora sim. Desço a rua e sei onde estou. Falta luz num pedaço da quadra. Merda. A raiva cresce, mas o bar do Miguel tá logo alí. Devo ou não devo? Devo.
Sento, peço uma. Do meu lado uma mesa cheia de gente jovem, bonita e tatuada. Ou são músicos/músicas ou são cineastas. É um tipo de gente: esforço para parecer largado, cabelos penteados de maneira a aparentar não ter sido penteado, barbas e óculos.
Meu Deus! Eu devo parecer esses filhos da puta!
Mas penso que eu sou gordo e não tenho tchurma. Me sinto melhor. Não quero parecer com eles. Eu tenho preconceitos. E não sou tão sorridente também.
Perto de mim uma guria pediu um PF de boteco. Reparo nela. Bife, arroz, feijão e batata frita. É loira ainda por cima. Tá com a pele queimada de sol. Deve ser gringa. Devora seu bife de um jeito vital e voraz. Penso que poderia passear com ela aos domingos.
Tomo a segunda, mas meu ódio só aumenta. Tenho que sair daqui. A mesa dos músicos/cineastas só cresce. Vou comer o resto da pizza, meu estômago que se vire. Eu mando nele. Pago e termino a cerveja.
Reparo que devo estar falando sozinho (mexendo a boca) porque os que passam me olham com cara de desconfiados.
Levanto e ando. A guria comeu o PF inteiro. Tem estilo. Até palita os dentes.
Decido entrar no restaurante caro. Gasto 20 pratas. Saladas variadas, peixe e um pouco de massa pra dar sustança.
É domingo e reparo nas famílias entediadas. Mulheres que falam de mais, homens que falam de menos, crianças gordas e velhas avós cheias de bijouteria brilhante e de mau gosto. Há também mesas de adolescentes por conta do rodízio de pizza.
Tem um casal de vinte e poucos na minha frente. Ela faz o charminho da irritadinha e ele o do namorado brincalhão. Meu Deus! Quanta jogada! Tudo parece velho e chato.
Agora minha casa e eu. As pernas estão satisfeitas e bebo mate com gelo. Nada de whisky hoje. Mesmo as cervejinhas devia ter passado sem, mas paciência.
To com o velho Kerouac e terei vislumbres místicos de pureza e vida selvagem. Há uma luminária eficiente ao lado da cama e o sono virá lento e implacável.
Amanhã é segunda e, quem sabe, eu descubra a vida calma e saudável.

6 de março de 2010

a carne santa e outras coisas que as mulheres não entendem


AQUELA buceta não qualquer buceta AQUELA buceta buceta-cova e caixão de tremores de morte e outras agonias AQUELA buceta e meu pau uma história de amor buceta que de tão intima se roçava na minha nuca como um novo experimento eu de costas deitado ela melando meu pescoço falando que queria gozar ali que nunca tinha gozado ali que perguntava entre gemidos se tava doendo se tava doendo e até tava doendo mas eu também queria que ela gozasse ali AQUELA buceta que saia sozinha porque eu não gosto mesmo de sair e voltava bêbada e tesuda e meio que me estuprava que eu só acordava quando ela já tava forçando a entrada cheia de pressa sem a lubrificação adequada e já era quatro ou cinco da manhã e eu tava com vontade de mijar e tava duro e ela forçando a entrada e eu meio dormindo meio acordado achando que se AQUELA buceta quisesse poderia decepar meu pau porque ela fez que fez e enfiou ele até o talo e falou um monte de sacanagem bêbada porque quando tava bêbada AQUELA buceta era sacana pacas e exigia tudo de tudo mil chupadas dedo no cu na boca estrangulamentos leves tapas babas e salívas suor na cara mordida unhada AQUELA buceta que gozava de um jeito nunca superado com movimentos violentos de contração e rios e cheiros que vazavam e uns sons de plofplaf AQUELA buceta e meu pau uma história de amor que gozavam sempre juntos numa sintonia maluca mesmo que em rapidinhas frenéticas e juvenis no meio da tarde com a casa cheia de gente e a porta só encostada com a calça arreada e o pau através da braguilha AQUELA buceta que numa festa de natal numa chácara muita gente e muita dança abre minha mão e põe a calcinha que havia tirado e a gente meio que dança com ela de vestido sem calcinha e ela chama e eu vou e de repente a gente tá num quartinho e faltam cinco minutos pro natal e minha família começa chamar todo mundo porque a gente sempre faz uma roda e as tias beatas falam de Jesus e puxam o Pai Nosso AQUELA buceta cheia de pressa pra rezar também porque ela na verdade é muito católica e até vai a igreja mesmo fazendo todas as sacanagens porque AQUELA buceta me ama e no amor AQUELA buceta sabe que pode tudo até sexo dentro da igreja ou no mesmo quarto em que crianças dormem mas daí faz de ladinho e discreto usando a mão pra tapar os sons humhum que tentam sair AQUELA buceta-milagre-cova e fonte que acordava cedo no domingo e voltava com o jornal e o abacaxi e cortava o abacaxi em pequenos cubos que me dava ainda na cama e eu comia e era genial o azedo do abacaxi tirando o bafo matinal AQUELA buceta que cismava em beber antes do almoço com o almoço já pronto e ela mesma descia e pegava as garrafas e bebíamos lendo o jornal e ela ficava tesuda e a gente trepava e voltava a dormir as comidas todas nas panelas a gente acordava e finalmente almoçava e já eram seis da tarde e ficávamos diante da tv sem precisar falar vendo o fantástico que ela gostava de ver AQUELA buceta que gostava de um monte de músicas que eu odiava e que nuns dias falava hoje vamos fazer amor e insistia no amor amor amor e era uma coisa muito bonita um sexo lento e demorado cheio de carinhos calmos e gestos de afeto e a gente gozava junto e sentia que era pra sempre porque nem tinha morte dúvida ou medo e era perfeito e eterno e a gente ficava pelado conversando e fumando combinando nomes pros filhos que viriam e também como faríamos quando eles começassem a fumar maconha porque eu achava que tinha que deixar fumar em casa e ela não AQUELA buceta-túnel de luz me abrindo pra eternidade das coisas sem nem saber que me abria AQUELA buceta-vida-morte-vida que é a única buceta que importa e que eu sempre procuro quando eu escrevo ou quando desejo que AQUELA buceta seja a única e eterna buceta

Muitas coisas e muitas jogadas.


É difícil julgar de supetão.
Gosto de julgar,
acho decente julgar
e acho que o tempo é fator determinante pra um bom julgamento.
Sim, eu acredito em julgamentos.
Não nos oficiais e institucionalizados. Mas acredito.
Não gosto de gente que nunca julga, por exemplo.
Julgar não é definir uma posição eterna.
Julgar, acho, é o mínimo de decência possível:
o que você pensa, você diz. Sem fazer média e sem ser simpático.
Sua opinião é livre porque é apenas uma opinião,
não quer, obrigatoriamente, convencer ninguém.
Parece justo pra mim.
-
Por isso eu prefiro os que julgam, mesmo que equivocados.
Parte da jogada de julgar é errar.
Erro a mais ou a menos não importa e nunca importou.
-
Basta estar aí
de olhos mais ou menos abertos.
Basta estar alí
e não se sentir mal
por ter pensado a coisa errada.
-
O erro existe, a gente sabe.
Ter medo do erro
é,
muitas vezes,
apenas estar vivo.

5 de março de 2010

3, 2, 1.

1 -
Os caras tão atrás do seu pózinho. Tudo certo. A gente tenta se divertir como pode. Se não consumo pó é apenas por falta de habilidade pra lidar com traficantes. Acho eles chatos e pegajosos. Não é uma gente direta, que faz negócio e pronto. É uma gente que sempre te supõe como amigo de infância. Um inferno.
2 -
O carro é pequeno e cheio de vidros fumê. Impossível perceber quem está dentro. Para, confere e anda. Depois da uma ré e liga o pisca alerta na frente do prédio. Sai um e põe um tipo de papelão no porta malas. Playboy perfeito. Cabelo, roupa, o estereótipo quase irreal. O amigo sai e o ajuda. Playboy perfeito também. Dois playboys perfeitos, uma dupla e tanto: um preto e outro branco.
Demoram horas. Conversam sem entusiasmo. Entram e saem do carro.
A piranha 1 desce. Não lembro de ter visto a fuça dela no prédio. Usa uma blusa que brilha e mantém o sorriso estúpido das piranhas tristes. Papos e papinhos sem nenhum entusiasmo à vista. A piranha 1 usa seu celular cor de rosa e está de saia jeans - mal tesudo que me excita nesse tipo de piranha.
A amiga, piranha 2, surge. Não sei se do prédio ou da rua. O modelo é parecido. As duas são uma, ainda que os cabelos sejam diferentes. Mais papos e papinhos sem entusiasmo e entram no carro.
Uma-atrás-outra-na-frente. Esquema armado e sei lá pra onde essa gente vai.
Boate? Sambinha? Bar com música ao vivo?
Tento pensar onde eu levaria uma mulher que usa blusas que brilham. Se fosse só ela, levava num restaurante Japônes - um tiro certo e óbvio, mas que sempre cola. Comer Japa tá na moda.
Mas nessa coisa de duplinhas eu estaria fudido. Não sairia nesse esquema, é a minha conclusão. Mesmo que me custasse uma buceta a menos eu não saia.
Será que me falta o carro com os vidros fumê?
3 -
Em um só dia o inferno e o céu.
Acho que isso acontece com todos, mas não consigo achar normal.
É um intervalo muito curto pra pensar tantas e tão diferentes coisas.
Picos de euforia plena com picos de confusão extrema. E tudo misturado e permeado com a mesma frase-refrão que digo a mim mesmo: te acalma, te acalma, te acalma.
E passa e volta. Como um diabo de estimação por quem se tem muito apreço.
O céu e o inferno, eu repito. E pobre daqueles que não acreditam nem em céu e nem em inferno.
Tanto um quanto o outro estão logo ali. São ideias-potência que merecem ser frequentadas.
O céu ou o inferno não são ruins ou bons, mas existem. Basta ir até um deles e perceber o quanto eles te atingem. Para o bem ou para mal. E tanto faz. Tanto faz mesmo.
O céu e o inferno são apenas dois lugares.
Não são quem você é ou o que você quer. São lugares que recebem visitas. Como a boate, o sambinha e os carros com vidro fumê.
E, os visitando ou não, eles não deixarão de existir.

4 de março de 2010

Era nós e nos sentiamos bem.

-
A saudades é discreta e a falação imensa. Sempre e sempre.
As esperanças são tão claras quanto as coincidências.
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Os milagres, a gente sabe, se escondem com as baratas na curva do balcão.
Eu sou o cara que procura baratas, que gosta ou não de um bar pela média numérica de baratas.
-
Não sou esperto e nem quero ser. A esperteza, a habilidade, o saber quantas baratas devem ser mortas me soam, sempre e sempre, como o cálculo frio que antecede a surpresa.
-
Não quero e não me interessa.
Invento liberdades.
Sou arrogante e sou livre.
Ou melhor: só sou livre quando sou arrogante.
É assim. E nem importa. E tanto faz.
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Prefiro eu mesmo e o que só eu noto.
Meu júbilo é nem notar que o cuspe pra cima caiu na minha cara.
Ser discreto tem disso: limpar o escarro sem ser notado.
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Prefiro o escândalo e o dêmonio. São coisas que cismo e se repetem. A soma das minhas sombras são eu mesmo, é o grito.
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Solidão é a saída pra trouxas e cismados.
Havia sol antes disso, mas quem acha que o sol se basta?
A bola de fogo pode até preservar a vida, mas caga pra vida.
A bola de fogo mantêm sua própia auto regulação.
É por isso que o sol é bonito e fatal: ele só se importa com ele mesmo.
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13 e 30. 12 e 90. Faço gracinhas, eu sei.
Minha matemática faz julgamentos apenas por erros de soma.
Meu charme são todos esses erros.

3 de março de 2010

03032010


Minha princesa gigante me telefona de seu castelo. Gostou da pequena cabeça de dragão que lhe enviei. Uma cabeça que caçei e que me deu certo trabalho. O dragão nem era daqui, pertencia à outros asfaltos.

Exigiu alguma luta, mas foi abatido.

Eu, Quixote gordo, estava num dia dos infernos. Noite mal dormida, boca de cinzeiro, pulmão no talo e obrigações idiotas a se cumprir. Tomava um café após a primeira obrigação idiota quando o telefone tocou.

A voz dela estava doce e pastosa. Minha pequena cabeça de dragão havia chego em seu castelo. Ela estava feliz com a oferenda e comentou sobre a casinha que acompanhava o pacote. Achei curioso o destaque dado a casinha e pensei que isso era bom porque, de tudo, a casinha é o item mais resistente.

Meu mau humor infernal se dissipou enquanto eu saia do Shopping. Terminei o café, acendi um cigarro e caminhei lento pra casa.

Na passagem subterrânea reparei no rosto das pessoas que passavam. Muita dor e loucura, muita força e desespero. Pensei que é isso. Viver não é a aventura dos filmes. Eu pensava na satisfação da minha princesa gigante e me sentia bem, apesar de tudo.

No metade da passagem subterrânea, onde é possível ver o céu, cruzei com o Fortão que mora no 2° andar do meu prédio. Nós sempre nos cumprimentamos com um aceno curto de cabeça. Dois machos que se cumprimentam com formalidades ancestrais.

Acho que por estar pensando na minha princesa gigante, o cumprimentei com um aceno de cabeça mais largo e um sorriso satisfeito no rosto.

Pra minha surpresa o rosto do Fortão carrancudo do 2° andar se transformou. Abriu a boca fina num sorriso frágil e sincero. Os dentes, muitos pequenos, se mostraram pela 1° vez.

Até acenamos com a mão.