31 de outubro de 2010

Omelete de claras, ela explica.

Seis ovos e apenas uma gema. Sal, pimenta e muita cebolinha. Tem que ser fresca e tinha na sua geladeira, ela sorri.
A camista branca é minha. Vi primeiro de costas: um lado da calcinha enfiado num dos lados da bunda. Achei bonito. Um tipo de imagem infernal: mulher com sua camiseta e calcinha semi-enfiada sem querer. O chinelo, claro, era meu.
Senta. Quer café?
Eu quero o mundo. Quero meu chinelo também. Ele é parte do mundo, sabe?
Ela lhe acha engraçadíssimo. Deus, no alto de seu trono, deve saber o motivo. Ela tá feliz e prepara o tal omelete. Faz explicações que você nem queria, mas ouve:
- só depois de um minuto que se põe a cebolinha. tem que estar quase desgrudando, mas com a parte de cima ainda mole. daí põe a cebolinha, dá mais um minuto e vira.
Você ri e reclama do seu chinelo de novo. Ela ri. A calcinha é cor de pele. Não deveria ser sexy, mas é. Mas o que sabem as revistas femininas?
- manteiga é o certo. gostei de ver manteiga na sua geladeira. e com sal... eu não entendo que tipo de gente compra manteiga sem sal...
O café é forte e com pouco açúcar. Lembro da minha mãe. Lembro do diabo à quatro. Ela prepara o omelete e parece não lembrar de nada. Ela está calma e sorridente: como sua bunda com metade da calcinha enfiada. Ela fala.
- nunca imaginava cebolinha aqui. ainda mais assim, fresquinha. foi só deixar na água um pouquinho que ela inchou. já reparou como cebolinha incha depois de você deixar de molho?
Eu falo pouco de manhã e ela não. Talvez seja nossa primeira diferença.
A calcinha tá lá e meio que me pisca um olho.
- delícia, né?
- hum, u-hum...
- nem precisa escovar os dentes, né?
Ela gargalha. Acha tudo engraçadíssimo. Come narrando os sabores e eu nem me incomodo. Comenta o curry, a pimenta, a clara que predomina, a cebolinha semi-azeda e a manteiga... fala horas sobre manteiga. Manteigas caseiras, temperadas, trufadas, com queijo, com lascas de sal, de garrafa, líquidas, misturadas, etc.
Manteiga parece ser uma especialidade.
Ela toma um banho e anuncia que vai embora. Adora domingos, ela diz.
Eu fico. Tomo banho depois dela sair.
- estranho isso, bem estranho.
Nem parece ser verdade. Ela sorri mais uma vez.