24 de dezembro de 2008

gracinha de natal.




E que venha o bom velhinho com seu saco enorme, seu pau mole e sua risada de ho-ho-ho.
Quando eu era criança eu sentava no colo dele e recebia balas e presentes.
Minha família era cheia de crianças nessa época e sempre havia um papai noel bêbado e familiar que chegava em cima do capô de um carro.
Era divertido.
Agora existem poucas crianças e não haverá papai noel. Conta-se alguma mentira pra elas que têm a sorte de acreditar em tudo.
Com mais sorte emprestamos o papai noel bêbado do vizinho.
Ainda é divertido.

12 de dezembro de 2008

rio de janeiro, arredores da Pça. Tiradentes.

Cheiro de mijo e merda, gente feia pelas calçadas e, no entanto, há qualquer encanto no ar.
As garotas te chupam por 5 pratas e por 10 abrem as pernas. Não são tão ruins quanto o preço sugere. São garotas mais ou menos perdidas dando cabeçada pela vida como todo o resto do mundo. Algumas ainda guardam um frescor no fundo dos olhos e quase sorriem quando você recusa a oferta com um "não, obrigado".
Ninguém parece desesperado por ali. Executivos e burocratas almoçam em grupos, pretos elegantes distribuem panfletos e as meninas, bem, as meninas apenas sorriem.
Fico constrangido pensando em mim mesmo, fico constrangido pensando que todos estão vivos. Todos, todos estão vivos, um planeta inteiro de gente viva.
Fico constrangido sem nunca participar de fato. Me sinto bem, apesar de tudo.
4 livros novos, um passeio que nem durou 2 horas.
Na hora de voltar pra casa tento pongar no ônibus e quase me arrebento. Me sento com os pacotes na mão e sorrio. Ler ainda me parece a coisa mais sensata a ser feita.

11 de dezembro de 2008

*

Me sinto
perdido,
então fumo
um cigarro
atrás do outro.
Me disseram
que
a fumaça
consegue
preencher
o pedaço
que
falta
pouco.

contra mim mesmo.


um ódio ao extremo
revirando por dentro
e eu não sei o que fazer
porque eu só sei reclamar.
-
as esperanças que eu não acredito,
as felicidades frágeis e bestas,
os amores de conta gotas e palavras cruzadas.
minha raiva sem sentido
me envenena também.
-
você desperezando o mundo
que também lhe despreza.
1 idiota para cada lado
e a justiça que sempre tarda.

10 de dezembro de 2008

o fogo dentro das mãos.



Era tudo triste e lento. Não havia nada além da vida acontecendo, dia após dia, uma euforia aqui e uma tristezinha ali. Não era um encanto ou fantástico, mas era a vida. Desse jeito simples e besta que deve ser.
Tinha dias que eu me sentia muito bem porque eu tinha lido algo novo e cruel, uma sequência de palavras que logo na 1° vez eu sabia que me martelariam a cabeça por anos e anos. Eu tinha um prazer imenso nisso. Ler uma coisa que ficaria me revolvendo.
Teve também a época da Av. Paulista. Andava rápido com minha mochila nas costas. Era bom estar alí. São Paulo era a Nova Iorque tupiniquim, a Paulista era a Time Square e eu era um garoto que não tinha medo de nada e que se levava a sério como só os inocentes fazem.
Depois foi a fase das convicções. O grande amor, a profissão de fé, a redenção pelo esforço. As grandes ações e as pessoas que eu admirava, todos me confirmavam que a única saída era a radicalidade, que os grandes homens eram grandes radicais. Eu pensava isso com bastante prazer, mas ficava em silêncio. Ser incompreendido as vezes era um troço medonho.




9 de dezembro de 2008

mistério.

Aquela buceta cresce a olhos vistos.

Os pêlos agora são maiores e mais grossos. Protegem os lábios que também mudaram. Lá dentro ainda há alguma confusão, mas cada vez menos. Saem de lá os duendes e as fadas, mas um unicórnio ou outro ainda permanece.
Os unicórnios são chatos, mas inofensivos. Apenas conhecem os bons lugares pra se viver.

-

(do ótimo blogue E Deus Criou a Mulher)







Ah, essa maldita consciência que surge nas pessoas depois das desgraças! Isso é tortura. É só acontecer a merda para que todos fiquem engajados. Até a Fátima Bernardes e o William Bonner ficam.

4 de dezembro de 2008

CI


"Estamos exaustos,
mas a missão foi cumprida.
Agora só falta decidir
quem é o amor da nossa vida."


21:14
Sua mensagem foi enviada para os seguintes destinatários:
camilarhodi@hotmail.com
Já é um contato
fmaatz@hotmail.com
Já é um contato
documentacion.ccg@xunta.es
Ainda não é um contato
maildocumentacion.ccg@xunta.es
Ainda não é um contato

fernandinho é auto-ajuda.

Depois de muito pensar:

Muito esforço pra ser o que se é
é falta de charme
ou de alma.

1 de dezembro de 2008

¨¨

Se eu fosse Deus e decidisse
então estaria tudo pronto.
E tudo seria justo e decente
e os perigos seriam apenas diversões
para crianças entediadas.
Seria tudo certo e puro.
Tudo traria novidade e calma
e as almas
seriam bailarinas
dançando alegremente
e
sem nenhuma
preocupação
com o excesso de peso.

#

Minha dor sem tamanho se revirando. Há quem ache que eu goste de dor, mas não é verdade. É que eu queria aquelas coisas, aqueles milagres e aquelas grandezas. Eu tenho desde criança esse delírio. E sempre me consolo de duas maneiras: ou me masturbando muito ou escrevendo.
As duas punhetas praticadas com as mãos.
*
A casa era muito bonita e arejada. Ela costumava acordar antes de mim e me trazer coisas na cama: frutas, café e, um dia, até um cigarro aceso. Ficava sentada do meu lado e passava as mãos nas minhas costas pra me acordar.
Quando ela me trazia chá, geralmente de gengibre, ela, depois que eu tomava o tal chá, me beijava, ou melhor, puxava meu lábio inferior com os dentes e segurava meu lábio por um bom tempo, depois me dava instruções pra eu respirar fundo, soltando meu ar pela boca e fazendo com que os olhos dela lacrimejassem com o ardido do gengibre.
Ela sempre fazia isso, pelo menos uma vez por semana. Era estranho, mas eu gostava. Quanto mais ela lacrimejava mais ela apertava meu lábio com os dentes. As vezes até sangrar. Era um tipo de cumplicidade que ela tinha estabelecido e eu respeitava: ela com suas lágrimas e eu com meu sangue. Parecia honesto e verdadeiro, nós dois nos machucávamos, mas sem nunca nos separar.
Depois ela aprendeu a dirigir. Era sempre ela que dirigia nosso carro. E sempre, sempre, sem exceção, dirigia louca e veloz. Ficava com um sorriso na boca enquanto guiava com uma rapidez desnecessária e arriscada. Eu me cagava de medo, mas fazia o possível pra não demonstrar. Quando ela quase batia soltava uma gargalhada e apertava minha perna.
- Essa foi por pouco, neguinho...
- É, foi, foi.
Ela gargalhava com o rosto virado pra mim. Eu respondia sem tirar os olhos da estrada.
Quando nasceu o nosso primeiro filho a gente ficou 1 ano e 1 mês sem trepar. Ela dizia que depois que nosso filho tinha saído dela, ela não queria que nada mais entrasse. Dispunha-se a me masturbar sempre que eu quisesse, mas sem nenhuma penetração, nem oral nem nada. Depois de alguns meses ela me disse que estaria de acordo caso eu transasse com alguma mulher, mesmo uma puta, desde que eu tomasse as devidas precauções. Disse que entendia as necessidades físicas de um ser humano. Eu não disse nada.
13 meses depois a gente transou. Quando eu estava dentro dela, assim que eu enterrei meu pau o máximo que pude dentro dela, ela me disse muito séria: eu te odeio.
Tentei sair de dentro dela, mas ela não deixou. Disse que pra ela era importante me odiar, que ela não conseguiria trepar comigo caso me amasse.
A separação foi inevitável, mas demorou. Nossa segunda filha era surpreendemente loira e risonha. Um desses bêbes que quase nunca chora, que ri muito e parece um anjo. Quando nosso bêbe tinha 4 meses ela me disse, quase calma, que preferia ela. Que ela, nossa segunda filha, era a mais amada e que, se fosse o caso, ela preferia que nosso outro filho ou mesmo eu morresse. Inclusive disse que preferia perder os dois do que perder aquela anja loira e calma.
Um ano depois a gente se separou. O desgaste completo, a imbecilidade de dividir coisas que não haviam sido feitas pra dividir. O toma lá da cá.
As mágoas surgindo nos detalhes mais idiotas, a morte por sangramento de pequenas alfinetadas. O fim.
(...)

simples assim.

Não gosto de saltos ou pulos
e também
não gosto de caronas.
Não ligo,
no entanto,
quando me pedem cigarros.