1 de junho de 2010

Os olhinhos apertados até podem comover.

Mas quem é e quem topa e até quando? Quem que, esperando, espera muito tempo?
A gente é contemporâneo, a gente tem pressa, a gente fala sobre estados líquidos e culpas superadas.
A gente é falso. A gente mente. A gente não tem paciência pra esperar.
Temos Internet e mil janelas, temos carros e velocidade, temos metrô e bebidas-ice sem gosto, temos um mundo inteiro que não é mundo algum.
Falo de mim.
Sou gordinho, mimado e sofro.
Falo de mim.
Papai e mamãe me apoiam, loucas me dão e meu pau se inibe diante do sexo pelo sexo.
Falo de mim.
Mulheres objetivas demais, clitorianas demais e auto-suficientes demais.
(que sempre achei a dependência um traço comovente... quando haviam homens fracos e mulheres fracas que se encontravam e se amavam...onde um ajudava a fraqueza do outro e era mais simples...e o amor existia e transpunha barreiras inimagináveis...)
Agora falo do mundo.
Todas jogadas e todas apostas. Temos que tentar - e tentar não custa, num é?
Mas custa, a gente sabe.
Mundão terrível cheio de autoridade, dizendo: - me segue, imbecil.
E eu sigo.
To no meio da merda e me julgo espertinho.
Gordinho-espertinho-de-papai-e-mamãe, eu - e só eu - me acuso.
Falar da gente, a gente é gente, né gente?
Amorzinho de verão e plano de saúde. Previdência em banco privado e esperança de velhice calma e lenta...como se ficar próximo à morte pudesse ser tranquilo...
Ah...minha bundinha virgem sendo cobiçada por lindos viados...se não dou meu cu é porque mamãe passou talco nas minhas partes.
É justo, não é? É decente, não é?
Eu acho. E acho um monte de coisas.
Mas nem tudo falo que sou discreto.
E... bem.... só ESTÚPIDOS falam TUDO.
E mesmo gordinho-mimadinho, ESTÚPIDO não sou.
Meu ego gordo, meu delírio prudente.
Que tenho lá minhas contas e meu plano de previdência...
Com 50 anos - novo, né? - vou ter 800 pilas por mês.
Precavido, diz o bom moço. Cuzão, diz o fino canalha.
Tudo certo.
"Equilíbrio precário é corpo teatral", aprendi na lição.
Então deliro e não falo sobre nada.
Dia sim e dia não.
A falta de sempre
e a glória de sempre.
(Ainda calo minha boca com uma boa - eu disse boa - chave de buceta.
Porque, enfim, o mundo é mesmo cheio de gracinhas.)