1 de outubro de 2010

relatinho.

  • Fechar os olhos e sentir o gosto do whisky na boca. Lembrar dos sonhos que existiram. Das promessas de amor, das fodas perfeitas, da sopa de um dia de inverno. Era estúpido e feliz. Pra sempre... o riso e as repetições que confirmavam o sentido. Tão bom saber, de antemão, como ela reagiria.
  • A megasena à 76 milhas. Ficar milionário deve ser um problema. O que fazer quando você pode fazer tudo? É indecente... tão mais fácil ser obrigado a sobreviver, se sustentar e suar pelo pão. A alegria mais genuína: animas satisfeitos com o próprio suor. Quem entende?
  • Conversando com amigos vejo que os artistas são uma gente fudida. Sempre esperando, sempre achando que, cedo ou tarde, AQUILO virá. A vida real arranhando nossas costas e endurecendo nossas articulações. Crueldade de mãos dadas com os sonhos. É insuportável. E, no caminho, a desistência de gênios incompreendidos. E tanto faz se fossem gênios ou não. A desistência lá: tornando amarelas as páginas escritas, fazendo a boca do cantor ficar torta, deixando rouca a soprano... essas coisas.
  • A auto-critica nociva e perturbadora. Bem mais simples dizer: faz e depois vê. Habilidade distante, gente distante, mundo distante. Qual a vantagem de saber do erro e da farsa? A verdade é que não tenho a elasticidade suficiente pra chupar meu próprio pau. E as opções são poucas: ou isso ou a cegueira. Desconfiar de tudo é uma prisão.
  • Nunca mais uma foda genial após um domingo bêbado. Assim: prepara almoço, resolve beber com o almoço já pronto, bebe e fala, bebe muito e fala muito, resolve-se trepar e trepa-se bêbado e insano num domingo lento, daí dorme e acorda às 17. Esquenta-se a comida e come como só a ressaca e o pós-sexo incrível permitem. Há paz. Ver Fantástico pode ser uma bênção.
  • Senta o cu e escreve. Faz de conta que a vida não é real. Escreve. Faz isso por horas. esquece a merda e a vida real e também os idiotas que ganham dinheiro mais por capacidade social do que por competência. Ignora o real simplesmente porque o real não presta e nem é justo. Seja egoísta, mas não faça concessões pra si próprio. Se quiser ser vegetariano, seja - mas não ache que está contribuindo para a melhora do mundo.
  • Deixar a platéia ouvir o bolero de Ravel no escuro será a próxima cena da peça que não fiz e que talvez nunca farei. A evolução lenta bem lenta. A luz vindo lenta bem lenta. Em cena só uma garota com um cesta de flores na mão e dois caminhos pra escolher. Enquanto a luz e a música evoluem, a garota apenas olha pros dois únicos caminhos que pode pegar, mas não consegue se decidir. Quanto mais forte é a luz e a música, mais indecisa ela fica. Subornos e vantagens aparecem de um lado e do outro. A indecisão só aumenta.
  • A chuva acalma os otários e eu estou entre eles. Sinto-me bem com o barulho da chuva e também com a tarde cinza. Parece provar alguma coisa. Bobagem, eu sei. Mas saber que algo é bobagem não quer dizer nada. A gente gosta da merda e têm piedade. A gente é legal e educado: damos beijinhos ao nos encontrar.