2 de maio de 2010

o cretino com garras e esperança.

Se eu pudesse apenas berrar e ser a criança imbecil. Se fosse uma questão de cálculo e conta. Se eu não fosse a bicha que eu sou e não esperasse por sacadas loucas e espertas. Porque tenho tesão nisso: nas sacadas loucas e espertas. Se eu fosse um idiota satisfeito gritando grandezas sem pensar muito. Se eu não fosse eu. Se eu não me importasse com quem diabos eu acho ser. E se houvesse as ternuras sem tamanho e constrangedoras. As xotas que fossem AS xotas e que agissem como AS xotas.
Mas não tem nada. E tem o cheiro de velho. O bolor idiotizante e repetido. A agonia de desejar muito e saber que desejar muito é se frustrar. O alimento vomitado e comido. O tempo fatal agindo e mostrando o quanto a liberdade é uma idéia estúpida e equivocada já que só nos repetimos. ( E Nelsão novamente me atinge ao mostrar sua consciência cruel e implacável: "Eu não existiria sem as minhas repetições.")
E, agora, com 28 anos, já não dá mais pra ficar culpando Deus e o mundo. Porque, agora, com 28 anos, eu nem acredito em Deus ou no mundo. Mas na culpa eu ainda acredito. Porque não sou burro e sei que a culpa existe. A culpa existe, criança. Negar a culpa é perfumar merda, é acreditar que a consciência - a consciência, sim!, te redime de alguma merda. E ta aí o erro: a consciência apenas te mostra a culpa e a falta de saída.
Mundo de merda e raves. Raves com drogas e ideias sublimes: raves-ecológicas, raves-classe média, raves-mundo melhor, raves-patrocinadas pela Petrobas, raves-um país de todos.
E eu? Eu nada. Eu discurso no meu blogue faminto. Eu vómito comido e dedo em riste. Eu apontando pro céu sem ter dedo ou direção. Eu só falando de mim, por mim, através de um blogue na Internet. A Internet que se pretende muito democrática e acessível, mas que nem é e nem sabe. A Internet que aponta em tantas direções que mostra que ter direção é uma bobagem porque tudo, absolutamente tudo, é uma bobagem.
E que sejam abençoados os idiotas - crendo no impossível e praticando sexo virtual. A liberdade de quatro e escancarada. As crianças tristes em companhias pedófilas.
E eu? Eu sou a bichinha que põe música clássica pra escrever. A bichinha que escreve. A bichinha a-pai-xo-na-da pela escrita. Cheio de ambições secretas, cheio de merda triste, cheio de sonhos infantis que são confrontados com os 28 anos de incapacidade e falta de senso prático.
Teatro ou escrita. Amor ou buceta de ouro. Mentiras alimentadas por mim para minha satisfação. O egoísmo articulado num blogue, em mais um blogue que é o seu próprio blogue. (Nada que se compare a realidade da velha que pediu pra cheirar minha garrafa vazia de cerveja porque não pode mais beber depois de ter ficado 15 dias na CTI.)
Mas é pelos gritos que eu vivo. E isso quer dizer incapacidade e não genialidade. Pelos gritos. Pelos milagres. Pelo desejo impossível. Pela falta de senso prático. Pelo idiota que se vira. Pela esperança tosca de Domingo ser melhor do que Sábado que, por sua vez, será melhor que antes. Desculpas de crianças tristes. Tristezas de crianças velhas. Velhice de quem espera novidades pelo telefone. E esse quem que espera - que sou eu - sabe que nada disso acontece ou acontecerá. A gracinha do mundo como a grande gag de Deus. Deus velho e gordo, já sem paciência pros detalhes ou sutilezas.
E claro que há esperança. Esperança sempre existirá. É da natureza da esperança o sempre. Ela não precisa acontecer pra ser o que é: Esperança.
Então estamos aqui e existe uma roda. Ou melhor, duas rodas. Uma é a ciranda com pretos e índios que seguem a música no bom e velho 1, 2, 3. Outra é o carrossel com cavalinhos pintados de branco e olhos fixos no nada girando em torno do próprio eixo. As opções são poucas, mas, mesmo assim, a gente ainda as considera: rodar eterno com os próprios pés e índios e pretos; girar em cima dos cavalinhos; ser um dos cavalinhos. Ou ainda: ver as duas rodas e achar que não tem nada a ver com isso. É uma escolha difícil e é como é: sim ou não ainda são as respostas que importam.
E, mesmo assim, a sabotagem ainda é uma grande forma de explicar tudo. E tudo, a gente sabe, é o que não importa. Minha ode e minha oração: sabotar apenas no blogue me parece um bom começo.
E claro está que competência não é o meu forte. Eu tenho gracinhas também, o que, enfim, só complica mais as coisas. Mas a gente se vira como pode - como a velha que cheira a cerveja. É legítimo, eu sei. O que não quer dizer que seja seu desejo para-a-vida-inteira.
De forma que chutar um gato morto ainda é empolgante. Assim como ter um blogue e delirar com o auxílio de drogas.

" - eu sonho, minha coisinha, eu sonho...e você?"
" - é...bem...eu ainda...não sei..."
" - eu entendo, minha coisinha, eu entendo."
" - haha...te amo agora..."
" - hahaha...te amo sempre..."