12 de junho de 2010

aquilo tudo.

Estou falando sobre nostalgia. E também sobre saudades. Incluo no assunto as dores - as grandes dores. Aquelas dores solitárias que, quando ditas para alguém, se tornam ainda mais solitárias e doloridas.


Estou falando sobre solidão e isolamento. Sobre incompreensão. Sobre o tempo escorrendo lento e fatal nos relógios derretidos do quadro do Dalí. É sobre a perda do viço e o enrigecimento dos músculos. É sobre o cansaço de sonhar.


Não é sobre as pombas às cinco da manhã no parapeito da minha janela e não é sobre o fim das minhas séries preferidas.

Estou falando sobre olhos cansados e mortes precoces. Não sobre manchas de pele, paus moles e vaginas secas. É sobre desesperos e suores noturnos. Sobre chorar com comédias românticas, sobre ver velhos e ficar triste, sobre crianças esquecidas diante da escola.


Não tem mais o culpado. Não tem mais o mundo mau. Não tem mais a doença degenerativa que me aleijaria lentamente.


Agora é o oceano imenso me causando arrepios. O céu azul ameaçando que eu caia pra cima. É uma escada de cordas em cima de um balde de lata no meio de um palco vazio. São precipícios particulares e abismos internos.


As tirinhas do Charlie Brown. As tirinhas do Charlie Brown quando o Snoopy tenta escrever cartas de amor e não consegue. A foto do meu pai jovem e eu bêbe em cima da moto CB400 preta.


Estou falando sobre o que era e não é. Sobre memórias idealizadas com o passar do tempo. Sobre o primeiro amor que acaba se tornando o único.


É sobre impossibilidade. Sobre o Tempo-Seta seguindo adiante. Tempo-Trator com combustível ecológico: mais esperto e mais triste.