17 de novembro de 2008

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Agora
sim,
semi-bêbado,
eu falo
num fôlego só.
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é que há essa loucura e esse devaneio sem fim. sabe como é? todas as conquistas e histórias. e também as tragédias diárias e a morte sempre no calcanhar lembrando que tudo isso acaba e que nem adianta chorar. essas coisas assim: do dia à dia, da repetição, do tédio, do reclamar, da felicidade que não chega, do dinheiro que não cai, das sombras que surgem, do novo projetinho que pode dar pé. o dia à dia - sem culpa, sem jeito, sem opção.
mas daí, no meio desse abismo todo, você tem um belo final de semana com sua garota. e você nota, que lá de vez em quando, esses fins de semana vão ocorrer e você sente uma paz tranquila e nem se afoba. e você suga lento esses milagres que só ocorrem de vez em quando -porque são milagres e não podem ocorrer sempre.
e você se sente muito bem e pensa que nem precisa beber tanto. você acorda tarde todos os dias e sente uma preguiça sem culpa e abraça aquela garota bonita que tá do teu lado. vê a cara dela ainda com sono e passa a mão no seu corpo dela e deixa a mão alí na buceta. na buceta dela que é quase sua e que é mais quente que o resto do corpo. e você volta a dormir com a mão parada naquele seu inferno particular.
e você dorme muito bem e acorda às duas da tarde.
e tem o macarrão ruim que ela fez, mas que se torna uma boa lembrança porque o mundo pode ser bom as vezes, ainda que sem perfeição. ela sentada, as pernas juntas fazendo sua mea-culpa de má cozinheira e, secretamente, elaborando planos que a ajudam pensar na eternidade com menos medo.
ela calma sem querer fazer tudo. você vaidoso por confirmar suas intuições.
os teatros ruins que assistimos, a briga de bêbados, o idiota de sempre, o macarrão sem gosto, a casa suja e o imbatível sorvete de flocos: tudo perdendo o sentido quando, durante o gozo e quase em desespero, você ouve:
- eu te amo, eu te amo.