6 de novembro de 2011

começa de dia e termina de noite.

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Há noites frias em que a gente tenta entender o mundo. E pensa nisso e naquilo e sorri meio besta olhando o volume da própria barriga deitado na cama: a pança que estufou, os pentelhos que há tempo não são aparados, os pés que uma namorada achava lindos porque têm, ela explicava, a curva mais perfeita.
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Saudades da primeira namorada é o retrato da estupidez. Estou sorrindo nele. Estou também com uma camisa florida, bermudas branca e minhas mãos fazem um sinal que, à época, era engraçado. Não há mal nenhum e nem tristeza há. S-a-u-d-a-d-e-s, essa palavra que não denota nem tristeza nem alegria.
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Ela dizia que tinha tesão na imagem de uma mulher dando o cu. Mas ela não dava o cu. Dizia ter dado e sofrido pra um primeiro namorado que não era eu. Eu queria comer seu cu. É normal, em certo sentido. O namoro faz com que você ache que pode tudo. E o cu é parte desse tudo. O cu, inclusive e de modo geral, é a parte menos problemática. Seja como for, eu penso: não comi o cu dela e nem ouvi eu te amo. Não consigo deixar de pensar: "realmente não era amor."
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Nunca mais cartinhas. Estou falando de uma moça que pisca como poucas e por quem me esforço pra não sentir seja lá o que: tesão, amor, paixão, etc. Alimento apenas a fraternidade. Mas o mundo ta aí e oferece sua ironia: "O risco de desejar sem controle deve ser domado pelos animais que dominam a palavra e a linguagem. Ou seja, os humanos. O desejo carnal é a forma mais natural de se relacionar com outrem, por isso é perverso: faz com que humanos se comportem como animais.", diz o livro que leio com a barriga encostada no balcão.
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No bar há gente triste e decadente. Estou entre eles, mas me sinto especial. É parte da jogada ''decadente'' se sentir especial. Aprendi um bocado por lá e, por ora, confesso: a tristeza concentrada é uma visão infernal. Meu sonho, se sonho há, é não perder minha alma. Pode parecer pouco e talvez seja. Importa-me menos as grandes conquistas do que a certeza de que tenho uma alma que resiste. Estou, agora e deliberadamente, me comparando com os outros. E, a gente sabe, a comparação é um método idiota e ineficaz. Mas, mesmo assim, eu insisto: tenho alma. tenho alma.