5 de dezembro de 2010

Mi-Mariazinha.

Mariazinha tinha as mãos frias. E finas também. Chamarem ela de Mariazinha a irritava. Mas fazer o quê? 1 metro e meio dá nisso. Era bem branquinha e já que era chamada por todos de Mariazinha tratou de estudar. Gosta do estatus que os estudos dão: especialização, mestrado, doutorado e pós-doc.
Mariazinha estava em Nova Iorque e era um luxo. Ótima atriz e pesquisadora de mão cheia. Teatro-Educação, a especialidade dela. Inglês impecável, salto alto e Mariazinha era a única aluna terceiro-mundista que tinha respeito de todos. Se ela fosse negra seria imbatível. Mariazinha, 1 metro e meio, terceiro mundo e pós-doc. Terceiro Mundo... uma bênção... ah... seu eu fosse pretinha, ela delirava.
Descobriu que o lance era ficar sentada. Os homens gostavam dela e ela gostava dos homens. 1 metro e meio é uma bênção. Tanta agilidade. Faz-se o que quiser. Ela sorria e era vaidosa: salto alto, gestos delicados e sorrisos que fingiam timidez.
Gostava de homens enormes. Paus imensos, pra ela, eram uma libertação. Sentia-se bem, sentia-se grande, imaginava sua vagina surpreendentemente funda e ria sozinha: Mariazinha é os cambau.
Daí conheci Mariazinha. Em pé. Com salto tinha 1 metro e 58 cm. Usava uma saia preta e uma blusa colada verde. Tesão. Peitos pequenos sem sutiã me dão tesão desde sempre. Acho que é culpa da minha mãe. Mariazinha me maltratava. Ignorava meus convites enquanto eu a seguia e via ela saindo dos bares da rua 43 com aqueles homens enormes.
Pensei em usar um sapato masculino com salto, mas desisti. Mariazinha, além de pós-doc, era sagaz.
Um dia, após a seguir, entrei no bar da 43 e sentei na mesa dela. Antes que ela dissesse qualquer coisa, segurei o rosto dela e enfiei minha língua na sua boca pequena e de lábios finos. Ela se ofendeu um pouco, mas expliquei que já a seguia a 2 meses. Ela sorriu.
- eu sei.
- sabe?
- claro. vamos embora daqui?
- onde?
- ué... me faz o convite.
Casei com Mariazinha. A gente tem três filhos. Ele são pelo menos 5 centímetros maiores do que eu e ela tem um orgulho danado. Às vezes ela reclama deles não serem negros ou mulatos.
- Eu queria tanto ter um filho pretinho.
- Bobagem...
- Bobagem nada, em Nova Iorque faz mó sucesso.
- Deixa pra lá, amor.
- Eu deixo, eu deixo.
E ela ri e a gente faz amor.
Nossa filha mais velha apareceu com um namorado mulato e a Maria o adorou, disse que eles têm que estudar bastante e ir pra América com alguma bolsa. Há muitas bolsas pra isso, sabiam?
Ontem mesmo conhecemos nosso primeiro neto. A mais velha engravidou sem querer para a revolta da mãe que havia a ensinado sobre todos os anti conceptivos.
É um menino. Não é negro, mas é quase. A Maria tá mais satisfeita do que nunca. Voltamos a fazer sexo e ela até cogitou que é hora de parar de estudar.
O nome do nosso primeiro neto é José. A Maria que escolheu. A gente tá bem feliz. Ela parou de usar salto alto e eu acabei de terminar meu Doutorado.
Ao que tudo indica, ano que vem nós passamos o Natal e o Revelion em Manhatam. A Maria têm o convite para uma banca de mestrado lá e a oportunidade parece única.
Vamos em família. O caçula talvez não vá porque ele faz competições de Judô e, segundo seu técnico, é um grande judoca.
Mas isso ainda não sabemos. Essa coisa de filho atleta é muito confuso.

sábadu.

  1. Não gosto de conversas que mantêm um único assunto por mais de uma hora.
  2. Não acredito em gente que fala de si como se estivesse se descobrindo. Ou pior: em processo de auto descobrimento.
  3. Desconfio de seguidores de blogues e também de quem faz confissões em twitter ou coisas do gênero.
  4. Duvido de todo mundo que acha que está evoluindo e que - inevitavelmente - faz questão de tornar público a tal da evolução.
  5. Curtir comida JAPA e ser budista é antiquado e sintoma de afetação. Quem que você conhece que é budista sem divulgar à sua crença?
  6. Príncipes encantados são o fetiche mais antigo que existe. Tanto faz se o princípe é princesa ou se ele tem particularidades que o tornam único. Ser ÚNICO é um desejo decente e óbvio na mesma proporção.
  7. Valorizar os erros é o sintoma mais gritante da Estupidez. Errar é parte da jogada, mas não é virtude. Errar é igual respirar - coisas que todos fazem e que não têm importância real.
  8. (Insisto: ainda sobre erros.) Não repetir erros é a função da natureza. Não há sabedoria alguma em quem, após errar que 2 e 2 são quatro, começa a chutar números aleatórios. Gato escaldado tem medo de água fria é o óbvio ululado sem nunca ter a atenção merecida.
  9. Pra dizer fim: sou eu mesmo e repito: tesão todo mundo tem, sonhos também. Sonhar e ter tesão é como estar vivo: algo que se faz mesmo sem se pensar sobre a vida, o tesão ou os sonhos.