28 de dezembro de 2009

No mar até ficar enrugado.

Mexendo
no pau
pela lateral
do calção
e pensando
se a água salgada
é benéfica pra ele.

26 de dezembro de 2009

Tias, tios, primas, pai, mãe, sobrinhas. O inferno mais quente que posso ter.

Não há nenhuma chance de silêncio. Estou entre os meus e eles falam e falam. Como que pra sempre.
Muitas vezes vejo, participo e falo mais do que eles. Outras não, fico de longe e me finjo de ocupado no computador.
Daqui a pouco todos acordamos e seguimos viagem. Euforia matutina, café coletivo e nenhuma chance de cagar. O mundo é duro quando não se caga.
Depois barco e mar e areia. Uma pequena caminhada no deserto e, com sorte, chegamos ao Paraíso. Vida besta e livro novo.
Nessa virada de ano meu banquete está garantido e será consumido apenas após à meia noite. É o jeito certo na minha cabeça. A promessa de fartura em uma única refeição.
O regalo e o excesso.
Acreditar na coisa é, acho, materializar a coisa.

23 de dezembro de 2009

em sampa.

Amanhã é natal e haverá a parentada. Hoje em dia são umas 40 pessoas, acho. Já foi mais, mas sabe como é: brigas entre primos, alas que viram evangélicos, richas por grana e etc. É gente demais. Antes acho que éramos uns 60.
A grande vantagem é que a maioria bebe. E álcool é azeite pra festas. De forma que bebo e fico falante. Engraçado que aqui não sou tímido. Abuso do rótulo primo do teatro e tudo certo. Com as cervejinhas e esse rótulo sou o mais simpático da festa.
Pra mim o que pega é que são pessoas que me relaciono pelo vínculo de sangue. Nem sempre existem afinidades ou ideias comuns. Existe sangue e sangue basta.
E como moro longe, fica ainda mais fácil.
Seja como for amanhã é dia.
E beberei e serei falante e simpático e mexerei no cabelo das minhas tias beatas.
Ficarei impressionado quando elas, as tias beatas, lembrarem que Jesus nasceu nesse dia pra morrer e nos salvar. Então elas pedirão uma roda e daremos as mãos e haverá o Pai Nosso.
Eu ficarei de olhos abertos e repararei no rosto de cada um da roda - como que tentando desvendar as culpas secretas.
O sangue é um treco que me impressiona.

22 de dezembro de 2009

Ela está lá tentando descobrir o motivo pra uma coisa que não têm motivos ou explicação. Esquece que o mundo não é justo e pensa em como se sentir melhor comparando sua vida com vidas piores. Como se desgraça alheia fosso consolo pra alguém.
Eu daqui a vejo e lhe mando recados. Ela não ouve e nem imagina.
Lembro das pernas imensas que gostaria de ver abertas
e penso que talvez exista a mulher perfeita.

21 de dezembro de 2009

Então vejo isso e aquilo.
Gente das antigas e outras nem tanto.
Carnes novas pra passear os olhos e línguas que falam em idiomas que eu não conheço e nem me interessam.
Na grande média o óbvio ulala satisfeito e implacável.
Tem um que virou carcereiro e é daimista. Tem o cana bombadão. A guria com olhos de prata. Os velhos de alma. O idiota eterno. As crianças que cresceram e têm mamicas e pêlos pelo corpo. Etc.
É quase um parque de diversão e falo com todos como se eu fosse um tipo descolado. E nem sou e nem quero ser.
É que aqui meus dentes aumentam e viro um coelho: como, cago e tenho família.

18 de dezembro de 2009

16 de dezembro de 2009

mulheres altas falam baixinho.

Ela apareceu mamando uma lata. Achei estiloso. Me perguntei se ela tinha comprado no caminho ou se trazia de casa. Ela virava a cabeça para mamar - um traço quase masculino.
Como eu esperava uma giganta fiquei surpreso. Ela era alta, mas só isso: alta. Na minha cabeça ela seria muito, muito alta e também seria forte e poderia me socar quando quisesse. Mas, por sorte, eu estava errado.
Então estávamos alí: dois desconhecidos bebendo e tentando descobrir coisas. Minha cisma foi a mão que não saía da coxa. E também reparei no laço que ela trazia na barriga. Uma mulher com laço é um treco que me faz pensar.
Seja como for, o álcool azeitava o papo e ela era boa de copo e fumante. Muitas perguntas e histórinhas, algumas repetições inevitáveis e uma puta vontade de puxar aquela boca pra mim.
E eu queria puxar pelo queixo porque ela tinha esse queixo empinadinho que me deu uma estranha vontade de morder.
Acho que mordi.

15 de dezembro de 2009

Aquelas carnes tremendo na minha frente. Mais do que tudo há precisão. Direita esquerda frente trás.
O rosto importa pouco numa situação dessas.
A minha conclusão é que as melhores dançarinas usam aparelho nos dentes. É uma coincidência que se repete. Um mistério.
Então, toda vez, entro com aquele papo de conhecer a casa e faço a média de quantas meninas com aparelho nos dentes estão por alí.
Porque gosto mesmo é das danças. O pagar drinks e o subir pro quarto me oprimem. Acho que é por conta do tempo marcado. Sou um tipo que precisa de um mínimo de romance, mesmo que seja apenas pra me enganar.
Por isso apenas bebo minha cota de cervejas e volto pra casa.
Lembro das caras e bocas e sorrio. As carnes tremendo na minha frente ainda me impressionam bastante.

14 de dezembro de 2009

Tem isso e aquilo.
A loucura é grande e eu é que não me meto.
-
Ela chorava e ficava satisfeita. Achava bonito chorar e sofrer. Ria depois. Mas o riso era bem mais oco do que o choro. O choro, as vezes, era sem som. Mas o choro mesmo, daqueles verdadeiros e inquestionáveis, era grosso e saia num gemido rouco e insano.
Ela tinha a mania de escrever em versos. Achava rimar uma proeza. Passava dias procurando a rima perfeita e depois me mostrava os versinhos. Eu geralmente não gostava, mas sorria e dizia legal. Não havia porque lhe dizer que achava, na grande média, versos rimados um saco. Deturpar a escrita por uma determinada sonoridade me soa como frieza. E se é pra ser frio que seja o João Cabral. Sem modismos e extremamente racional.
Apesar disso tudo ela era gentil. Fazia afagos no meu pau e, ocasionalmente, lambia meu rêgo. A língua molhada e lenta passeando nas minhas nádegas. Eu gostava disso. Da calma da coisa. Ela, ao contrário da maioria, não chupava pau pra mostrar que chupa pau. Até o contrário. Nem sempre chupava, mas quando fazia, fazia sem pressa e cheia de perfeccionismos: língua na glande, língua no freio, língua nas bolas e no períneo. Depois só boca. Depois boca e língua. E depois só dentes - como que brincando com a ameaça da situação. E sempre, sempre depois de chupar, ela vinha por cima. De alguma maneira eu entendia seu raciocínio: quando eu chupo, eu mando e estabeleço o ritmo. Era justo.
A coisa desandou por causa dos versos e do choro. A busca pelas rimas perfeitas era cada vez mais longa e mais chata. Queria achar rima pra mãe que não fosse champanhe.
Eu só observava sem falar nada e esperava o choro. Sem som, sem alma e sem nenhuma lágrima. Um choro chato que nem sabia porque chorava.
E eu lá: sem ter meu pau chupado ou meu rêgo lambido. Eu não chorava, mas, por dentro, sentia uma tristeza sem tamanho - como se eu pressentisse que mãe não tem outra rima além de champanhe.
E deu no que deu:
O fim de tudo,
a casa vazia e
a eterna lembrança de ter tido meu rêgo
lambido por sua língua.

13 de dezembro de 2009

Abro meu J.D e passeio os olhos por coisas velhas. É bom estar por aí e ver o mundo. Nada demais e nada de menos. Tudo lento e limpo. Sem euforia por novidades e sem necessidade de grandes viradas. A vida como é: implacável e terrível.
Hoje de manhã li uma cartinha de uma boa amiga. Chorei e lembrei de coisas tristes. Um tipo de injustiça que, infelizmente, é parte da jogada. O mundo é grande demais para ser bom. Ele não pode simplesmente ficar preocupado com essas coisas. Ele gira e faz força pra continuar. É o que é, o que pode ser.
No mais meu D. Quixote de lata me enviando mensagens secretas.
Talvez devesse reler o livro e entender mais a coisa.
Talvez devesse apenas dormir.
Olhos apertados para ver melhor.
-
Muitas bundinhas na paisagem e também reflexos na água. É tudo tão bonito que é quase chato. Mas nem é.
Estou parado e olho pra frente e pra trás. Os gatos são pardos e esta água é suja. Penso sobre isso e lamento.
Penso também:
  • as gurias bebem pra ficarem falantes e eu bebo pra ficar calado.
  • estar parado onde todos se movimentam e fazem contatos me parece uma boa contribuição.
  • a euforia é legítima. gosto de entrar e sair dela. eu disse, entrar e sair dela.
  • gente esperta tem uma habilidade imensa de falar com as mãos no barulho insuportável.
  • sempre lembro do poderoso chefão e do corleone/pacino virando o godfather: ele parado, pernas cruzadas e a câmera virando lenta e revelando seu rosto inchado.
  • o rio de janeiro causa um encantamento no início de tudo. lembro bem disso. acho que o imaginário de 'cidade maravilhosa' é levado à sério pelos cariocas.
  • é um desses traços bacanas dos cariocas: eles acreditam plenamente que moram na melhor cidade do mundo. acho isso bonito.
  • voltar caminhando pra casa é quase um milagre. os pés apertam o chão e te movem.

11 de dezembro de 2009

Sonho por culpa do maldito livrinho que to lendo e, bem, ler pode ser bem perigoso. As palavras virando garras no cérebro da gente e, de repente, se descobre que aquela memória não é sua, mas de um livro que você leu. O cérebro da gente ainda confunde muito as coisas. É fato. Tem até aquele experimento: mostrar uma pintura ou narrar sobre a pintura. Pro cérebro muda pouco. As mesmas áreas são ativadas numa ou noutra experiência - ver ou ouvir sobre.
Seja como for, enfio um pouco mais de nicotina no meu cérebro e volto.

nem.

olhando aqueles ombros e pensando se
pois aqueles ombros poderiam ser.
mas desisto e decido o que me agrada:
pressa, agora, é parte da jogada.

10 de dezembro de 2009

Meu gatilho na testa do estranho que passa e insiste em fazer de conta que me conhece. Porque prefiro os que conheço ou os que se parecem comigo. Não sou vasto, não quero ser vasto. Não gosto de quem se diz vasto: achando que tudo pode, que tem mil amigos, que deseja mil e uma mulheres, que diz ter tido 50 paixões fulminantes. Prefiro ser o otário da escola que apanha, mas que não arrega. Pra falar e pegar bem eu também sei. Mas prefiro é não participar. Gosto dos bares que só eu conheço. Não acredito na opinião do povo e não acho que se cada um fizer a sua parte o mundo vai melhorar. Não é porque duas coisas existem que elas são obrigadas a se relacionar...

9 de dezembro de 2009

Aquela boquinha minúscula de mulher vulgar. Tão vermelhinha, meu Deus.
Bem que queria ela passeando no meu mamilo e depois no meu pau.
Quem sabe uma línguinha no rêgo?
A boquinha perdendo o batom na minha péle e ficando branca, branquinha.
Jesus, lá de cima, até nôs abençoava, sabia?
Porque Jesus sabe das coisas e não duvida de mim
e do meu desejo por essa boquinha vermelha com formato de coração.

pnht

Alimento-me de sopas e sanduiches. Parece decente.
Hoje desejei seus dentinhos no meu pescoço.
Fiquei olhando horas pra você.
Reparei no queixo, nos olhos e na boca.
O fato é que me impressiono com o queixo e com a repetição das histórias.
Confesso que não gosto disso, mas...que fazer, né?
E você nem existe, né?
Mas meu blogue taí e não me deixa mentir: gosto dos meu delírios.
Daí que te invento e que crio conflitos terríveis: sua implicância com meu cigarro, minha intolerância com suas crenças, o sexo sem nenhum palavrão, etc.
Vou longe que só vendo.
Devia era cair dentro da mina de sampa. Meio estranha, mas fumante. Essa queixa não ouviria.
Mas, na verdade, tudo e todo o resto é só pra escrever no blogue porque, bem, acho bacana escrever aqui todo dia.
Que seja.

8 de dezembro de 2009

relatinho.

Comida pronta e cerveja estalando. Uma leve pressão nos pulmões por excesso de cigarro, mas nada que chegue a abalar.
A long neck tava mais barata e comprei. Acho o fino beber no gargalo. Goladas longas que combinam com o calor do Rio de Janeiro. O lance é segurar no neck da garrafinha e virar bem a cabeça pra trás. O risco é babar, mas minha barba também serve pra reter esse tipo de coisa.
Hoje fiz o circuito que faria no sábado: acordar, chapar de café, cigarro e merda sem pressa. Depois hortifruti com açai e mercado: sabão, kiboa, algum queijo e, claro, amendoins da elma chips que são enormes e inteiros.
-
(lembrei agora de você e digo: o hortifruti na segunda de tarde não tem um décimo do charme que tem no sábado. só haviam mulheres gordas e velhas e feias. todas com pressa e disputando batata baroa contigo. um horror. não recomendo.)
-
Em casa um naco de pizza na chapa e deitar com um livro novo em punho. O soninho chegando e o pau quase duro pelo relaxamento sanguíneo. Telefone toca e é mamis. Com mãe eu falo.
-
(Mãe é uma dor é uma falinha da peça da vez. Fico bem satisfeito quando as pessoas riem ao ouvir isso.)
-
Agora salada pronta e terceira long neck pega pelo neck e bebida no gargalo.
Não acredito em felicidade, mas a paz é possível.
Às vezes.

7 de dezembro de 2009

agora sim.

Vamos lá.
A satisfação de fazer teatro é estranha e encantadora. E isso ao mesmo tempo.
A bola da vez é o que podemos chamar de 'teatro alternativo': sem grana, sem estrutura, mas à base de desejo e vaquinha. É bonitinho, eu confesso.
Esse desejo todo que se enfia em roubadas alimenta, de certa forma, a alma. Mas a verdade é que o 'teatro alternativo' pra mim não é um ideal. É o possível, o que posso fazer, o que faço.
Na verdade queria ter condições de trabalho: grana, espaço, tempo pra pensar, contra regra... Não queria ser alternativo. Queria ter toda a estrutura que um Meyerhold tinha, por exemplo. Porque é justo, ora pois. Eu ralo, corro atrás, leio a porra toda. Se tudo fosse causal o mundo seria outro e eu não estaria limitado ao 'teatro alternativo'.
Mas é o que faço porque é o que posso. Não vou chorar por isso. Não é o caso.
Um dos meu baratos com teatro é que você lida com o possível. Em teatro a coisa é muito objetiva. Ou dá ou não dá. Essa coisa de que tudo é possível é estúpido de maneira geral e mais estúpido ainda no caso de teatro.
Seja como for, fizemos e estamos lá. Uma peça que é o que é. Que não pretende ser nada além de um teatro reto e simples. Um teatro que, como sempre tentamos, busca provar que teatro não precisa ser chato.
Porque, vamos lá, devemos admitir que há muito teatro chato por aí. E chato, principalmente, porque é um teatro que não se basta como teatro. É uma coisa de querer outras coisas através do teatro: provar que é bom ator/diretor/autor/cenógrafo/pensador, etc. Um porre.
Teatro não é importante, nunca foi e não precisa ser. O Brecht com a coisa do 'mostrar que pensar é divertido' fala sobre o lugar objetivo que o teatro pode ter. Um entretenimento que não é babaca, como telenovela por exemplo.
E agora que estreamos tenho certa paz. É isso que fazemos porque é isso que podemos fazer. E isso não quer dizer que não existam outras ambições.
Desejar é diferente de ter. Ficar satisfeito com o que se têm é achar que tudo deu certo, mesmo sem esquecer que as coisas sempre podem melhorar.
É da dinâmica da vida ou das coisas. Sei lá.
No mais, a alegria besta e solitária que não precisa ser explicada.
-
p.s. vá ver. me liga. me deseje merda.

6 de dezembro de 2009

Teatro Irresponsável. (d2)


(pra mim é 9194-1029 - e hoje é dia de framengo no Rio de Janete!)
se você não entende que
nem é isso que me pega,
eu digo, sem medo de errar:
meu bem, você é uma prega.

4 de dezembro de 2009

pra roer o osso é preciso osso.

ou tem ou não tem, ou é ou não é.
gentinha chata que põe as manguinhas de fora sem notar que o braço tá coberto.
elegância não é entender 30 línguas, elegância não é conhecer 66 países, elegância não é nunca deixar de falar.
por isso prefiro a alma discreta dentro do corpo. mesmo que o corpo seja imenso e a alma mínima. sou dos que preferem um passarinho na mão, embora saiba me divertir com corpos.
meu cu é mais escuro que todo o resto. é um cu normal e honesto. onde há luz há cor, onde não, escuridão.
simples, bem simples. matemática de soma apenas.
por isso me escondo aqui. no blogue, no teatro, nas escritas e na vida. é meu cu protegido, por assim dizer. já que pouca luz chega lá, sou eu, e apenas eu, quem decide a luz que o iluminará.
meu cu só brilha quando eu quero.
porque cu, me desculpem, não foi feito pra brilhar.

3 de dezembro de 2009

Dezembrão me pegando como um gato de unhas afiadas. Meu Deus, onde vamos parar?
Olho pro céu e pergunto sobre as putas natalinas, mas ninguém me responde.
O céu está aberto, sem nuvens e num silêncio brutal.
O calor provoca tédio e apatia.
A cerveja gela a garganta e os cigarros são regulados nos bares.
Um dia, e espero estar morto, só haverão evangélicos e artistas nas ruas. Será o inferno, o Apocalipse. A guerra mais imbecil pela razão menos lógica: quem berra mais alto.
Pra dezembrão emplacar preciso de UMA buceta. Não duas, não três, UMA buceta. Com nome, telefone e pequenos lábios quase simétricos - coisa mais rara do que se imagina.
Se essa UMA me acha e me diz, como se fosse acaso, que nesse calor é só dando que se recebe, eu tenho um troço e, juro, sempre lembrar do nascimento de Jesus na noite de natal.

2 de dezembro de 2009

Sempre desejando o que não existiu.

1.
Olho pra frente e pra trás e sinto ternura por uns e raiva por outros. A escola e a euforia de fazer parte da turma, os planos de plenitude e os amores calmos que haveriam de existir.
2.
O filme termina com o cara pegando o ônibus e sorrindo sem muita convicção. Ele não está alegre nem nada. Também não está triste. Ele está apenas pegando o ônibus que o tira daquele lugar e o põe em outro. É justo e decente.
3.
Toda estrada é um purgatório: ela passa por nós que estamos parados e a vemos passar. A velocidade acontece fora e não dentro. É uma percepção e tanto que só mesmo no cinema é possível ser captada.

1 de dezembro de 2009

Se pudesse eu lhe dizia uma verdade bem bonita.
Mas sabe como é: seus amigos te estragaram e agora você confunde vaia e aplauso.
A culpa não é sua, fique tranquila. Inclusive lembro de você me dizer: culpa é tão careta, comigo não que sou moderna.
E eu fiquei em silêncio e pensei: ela se acha a cima da culpa, meu deus.
Mas até aí tudo certo. Achar-se isso ou aquilo sempre acontece. O problema é o excesso de confiança na opinião dos amigos. Porque eles mentem, sabe. Não por mal e até o contrário. Mentem porque são seus amigos.
E eles elogiam você e você acredita. E aí, já viu, a velha confusão dos diabos.
Então você começa a sorrir o tempo inteiro e acha que por está sorrindo, está em paz.
Eu, que não sou seu amigo, digo: você está sorrindo porque o tédio é enorme.
Falo por mim que também ando sorrindo muito.
E hoje a lua tava bonita e, como não poderia deixar de ser, você me perguntou: - essa lua não tá um troço de tão linda?
Eu fiz que não ouvi e continuei andando. Pensei que prefiro a lua quando ela é apenas bonita, quando ninguém, além de mim mesmo, me avisa sobre a beleza da lua.

29 de novembro de 2009

Suei o domingo inteiro.

Enrola fios, abre machos e fêmeas, desce e sobe, fuma cigarros, descasca fios e acopla ao macho ou à fêmea, ri da piada idiota, cansa e reclama, pensa na vida, pisa na lâmpada, carrega microondas, passa fitas e faz testes, passa fita e faz contas, reclama de novo, ri de novo da mesma piada idiota, descasca parede, sangra o dedo no cobre, segura escada, limpa suor na camisa, tampa o espelho, estica o pano, muda o sofá, desce e sobe o sofá, põe o vaso no vão, descobre o curto e conta as lâmpadas.
Então mijo num jato grosso e extremamente amarelo. Quase laranja.
Sinto-me macho e satisfeito.
Macho pela cor do mijo e pelo cheiro.
Satisfeito porque fizemos o que era pra ser feito.
-
Agora é torcer porcas e ter a bendita sorte bem dita.
Três cervejas pra janta e a alma quase em paz por lembrar que há rosbife na geladeira.
AMA
NÃO
AMA
SE
AMA
ME
CHAMA
QUE
EU
VOU
(os mutantes)


28 de novembro de 2009

Mais uma histórinha pra contar.



Pretendo viver assim: cheio de histórinhas e balançando a pança. Uma cerveja pra espantar o tédio e, com sorte, uma dama bonita que me ame e me afague as carnes em dias ruins.
No mais as histórias que não me interessam: as casas grandes, a natureza e sua pureza, os amores passionais, os gritos que só comovem no escuro, as conquistas pelo suor, o conta gotas de quem mantêm a conta poupança, as loucuras com data marcada, os risos sem som, as bocas sem dentes, os corpos sem alma, etc e etc.
O mundo é um desbunde idiota quando se afirma tudo pode ser e se esquece que nem tudo importa.
Por isso fico quieto e vejo mais do que falo. Tenho bom senso pra não ser o chato que repete diante dos outros: isso é velho, isso é velho e falso.
Mas claro, e como não, cá comigo, muitas vezes penso: isso é velho, isso é velho é falso.
E então fico calado e me sinto ótimo.
Que desafio vale apenas para as lutas e os maus filmes americanos. Que o bom da América não fala disso e acho que até fala do oposto.
O bom da América é sobre aquilo que não dá certo no mundo ideal que a América vende como possível.
Seja como for, me repito: os dias são longos e querer ser feliz é o primeiro passo pra eterna frustração. Por isso me dedico à tentar ser mais esperto e ter sorte.
E sorte ainda é o mais importante.

26 de novembro de 2009

-°-

A cabeça rodando e o pau, lá embaixo, amassado em meio ao suor. Viver no RJ nunca será civilizado. O calor não permite, a informalidade não permite e é melhor assim.
Mas nem importa isso. É que gosto de escrever e disparo. Perco o ponto.
Volto:
A cabeça roda quando a gente não sabe o que fazer. Sabe como é: você vê a coisa e julga a coisa, descobre que há problemas na coisa, mas não faz ideia de como os resolver. Isso podemos chamar de inferno. E o inferno é quente e cheio de capetas e capetinhas. Uns tem cara e outros não. São os capetas-sombras: você nunca tem certeza se eles existem ou se os inventou.
Amanhã terei o dia pra me dedicar à punheta da vez. Com sorte o pau fica duro e mata, num único jorro, 70% dos demônios. Sem sorte nem sei e nem quero saber.
E eu que não sou imbecil de achar que sorte não existe. Existe e é quase concreta. Assim como um relâmpago é.

25 de novembro de 2009

Uns trecos bonitos que se vê na rua.
Mesmo agora, com essa pulga que me devora lenta e implacável, sinto esse treco bonito.
E esse treco bonito não tem nada a ver com felicidade ou harmonia. É uma coisa besta que te basta.
Como aquele casal que atravessou a rua e estava de mãos dadas e sem conversar. Ela parou pra arrumar a sandalía e ele apenas esperou. Depois seguiram do mesmo jeito que antes.
Minha pulga é simples: achei que tinha resovildo uma coisa, mas não resolvi. E é triste porque antes, embaixo do meu abajur, a solução era clara e certa.
E o tempo é terrível e tortura e, infelizmente, sempre acaba faltando.
No mais: mulheres bonitas que falam comigo. Queria elas de olhos abertos diante da minha imensa pança e do meu pau semi duro desejando ser chupado. Mulheres são exigentes demais. Não todas, mas as que agora desejo.
E meu pau e minha pança, tadinhos, nem sempre causam boa impressão.

24 de novembro de 2009

abismo.

Nunca
mais
me
viram
aqueles
olhos
bonitos
onde
deveria
ter
me
afogado

o fino.


(Pryscila Vieira)
ela é enorme e gostosona, tem aquele sotaque curitibano que só é bonito mesmo em mulheres grandes. O blogue dela tá linkado aí.
Uma estranha loucura sem nome e endereço. Não sei se me importo ou não. Ver os loucos ou falar com os loucos? O risco de falar é que há loucos que são convincentes. E alguns, não muitos, têm um puta charme sedutor.
Por hora não falo nada e penso alto. Tomando o devido cuidado pra não mexer a boca enquanto penso.

22 de novembro de 2009

Ela tocou mais uma siririca na tarde quente e insuportável do Rio de Janeiro. Queria dormir, mas não tinha sono. Achou que a siririca iria ajudar. Errou.
Desde que havia descoberto o clitóris, ela tocava siririca pelo menos 3 vezes por semana. Ficou encantada quando pegou um espelho e, movendo as peles, descobriu o que chamou de pirâmide vermelha. Tão pequeno e tão potente, pensou.
Quando foi perder a virgindade ficou horrorizada com aquele negócio que queria entrar nela. Entrar pra que? Doer pra que? Mas tava decidida e queria fazer parte da turma. Pegava mal ter 18 anos e continuar virgem.
Deixou entrar, sentiu a dor e achou muito estranho aquele entra e sai. Parecia inútil na cabeça dela. Bem mais simples girar a pirâmide vermelha. E mais higiênico também.
Quando viu a ejaculação do rapaz, achou aquilo parecido com vómito de bebê. Não entendia porque o sexo tinha que fabricar tanta sujeira.
Imaginou aquilo sendo jorrado dentro dela e sentiu uma ojeriza fatal. Decidiu que não teria filhos e que nunca, nunca mesmo, permitiria à um homem usá-la como receptáculo.
Achava a camisinha uma bênção. Era grata a existência da AIDS, pois, quando era o caso, argumentava sobre os riscos do sexo sem proteção.
De qualquer maneira, preferia a siririca. Não gostava do vai e vem, do entra e sai. Achava agressivo e desnecessário. Fora que era demorado. A siririca era objetiva: em minutos estava satisfeita.
Quando transou com um rapaz que, durante o chatíssimo entra e sai, lhe tocou o clitóris, se apaixonou.
Namoraram por 5 meses, mas ele começou a reclamar da obrigatoriedade da camisinha e eles terminaram. Ela nem chegou a ficar triste, mas lamentou e sentiu que nunca seria compreendida por ninguém.
Decidiu que seria sozinha e auto suficiente. Ela não precisava de ninguém e era feliz. Era uma mulher independente, com um bom emprego e uma casa própria. Viver era simples e ela sabia disso. Cogitava fazer, antes dos 40, uma inseminação artificial.

21 de novembro de 2009

O que mais me irrita é esse desejo por homens delicados ou por mulheres masculinas. Fetiche de idiota, isso sim. Quando quero uma garotinha quero ela justamente por ser uma garotinha. E repito: se fosse pra dar um cu, dava pro cara mais macho da cidade.
Que eu é que não entendo isso. Uma mulher não é bonita por parecer qualquer outra coisa que não uma mulher. Acho, de novo, que é só uma maneira de 'turvar as águas pra as fazer parecer mais profundas', como diz o d. oliveira.
É chato e falso. Uma ladainha tão coerente com esse tempo nosso, 2009, onde confusão se tornou virtude na cabeça dos eternos indecisos.
A indecisão é parte da jogada de quem tá vivo e respira por aí, mas indecisão não é um estilo, uma virtude ou um jeito de aceitar tudo de tudo. Indecisão só pode ser legítima quando passageira.
A eternidade da indecisão inverte a coisa, como se o imbecil lhe afirmasse com os olhos injetados: - decidi ser indeciso, bonito não acha?
Só idiotas - ou ignorantes de alma - aceitam tudo de tudo. De graça nem injeção na testa, que achar que 'de graça' é a grande vantagem que não desejo ter. Prefiro pagar certos preços.
Não deixo de roer meu osso, mas sei que um osso é um osso. Não vou inventar uma sobra de carne que não me alimenta. Se for pra inventar, invento um banquete ou um milagre.
Mentir pra se safar ou pra se sentir melhor é uma coisa indecisa e mal resolvida.
Radicalizar, mesmo em ninharias, ainda me parece mais decente.

20 de novembro de 2009

Por
algum
tipo
de
mistério
a
apatia
surge
quando
não
nada
mais
a
ser
julgado

19 de novembro de 2009

Sonho de novo com ela.
Sonho que se parece com novela e que não tem nada de extraordinário.
Apenas falação, tentativa de convencimento e uma amiga do contra.
Depois de acordar, vejo o que vi e penso na coisa do destino. De desejar o destino.
Não é simples assim, mas certas coincidências simplesmente me apavoram.

Quando você
estiver comigo
e quiser dançar,
acorde bem cedo
e prepare um belo
café da manhã.

Porque, bem,
na verdade,
eu não gosto de danças.
E talvez isso,
pra você,
seja um grande problema.

Então peço:
- me trate bem
e com alguma ternura
nesse dia.

Pra que de noite,
diante da pergunta fatal,
eu apenas lhe responda “vamos lá”.
Porque agora,
e só agora,
eu aprendi:
eu não gosto de danças,
mas,

mesmo assim,
eu posso dançar
se isso for lhe agradar.

Mas, veja bem,
não abuse de mim.

E quando for,
finalmente,
dormir comigo,
não se esqueça

de forma alguma,
de nunca,
e nunca mesmo,
me desejar,

segundos antes
do sono terrível,
bons sonhos.

18 de novembro de 2009

Nem ternura nem descaso.
-
Meu saco pra lua ao ver a repetição: gente burrinha e chata, reclamando com pontos de exclamação e achando que são originais.
Eu tão chato que, se fosse cachorro, mordia meu rabo. Ou, se a barriga deixasse, roía as unhas do meu pé.
É uma mania estranha que, como não é minha, eu não reconheço: dizer que ama quem adora e chorar porque acha as lágrimas bonitas.
É tudo muito confuso. E tem muita jogada nisso e naquilo. E jogo por jogo, prefiro o meu blogue. Que é meu e eu sei.

Gosto da posse. Daquela posse tranquila que é olhar por horas e horas a buceta da mulher amada. Remexendo ali, descobrindo pintas e rugas sem nenhum medo de gostar menos por ver isso assim, tão revelado e arreganhado.
Separar os lábios e ver a cor cintilante da carne nevrálgica que pode roubar minha alma.
Abrir a buceta da mulher amada e ver lá dentro é como encarar o abismo.
Sentir o terror e a tentação.
E decidir, mesmo sabendo de todos os riscos, cair ali dentro.

17 de novembro de 2009

><

Aquela gorda do metrô era um escândalo. Pena eu implicar com gorda.
Porque sou gordo - e gordo e gorda trepando é um ballet triste de se ver.
Ela era uma dessas gordas fartas, de peitos enormes e braços roliços. Pensei que ao lado dela estaria sempre protegido porque aqueles braços eram fortes e vigorosos.
Ela tinha um rosto delicado e uma boquinha de desenho animado. A boquinha, muito vermelha de batom barato, era quase um coração.
Gorda sim, mas não roliça. Gorda que mantêm as curvas e as formas, que não parece uma azeitona ou um pino de boliche.
A gorda desceu em Botafogo e andava calma e sonhadora, como só uma gorda poderia.
Dava uma mordida na barra de chocolate e passeava em direção à saída da São Clemente.

16 de novembro de 2009

Daqui e de lá.
-
a única opção é ser discreto,
mas mesmo assim
não muito.
falar e escutar,
roer o próprio osso
ou outro.
sem saco
pra isso
sem saco
praquilo.
dez mil que se parecem entre si.
-
meu cu arde
e o sal acaba no meio da carne assada.
não quero bater palminha,
não vou bater palminha,
me pego batendo palminha.
-
gente-maldita-gente
eu entre eles
e nós,
todos nós,
contando vantagens
uns para os outros.
-
uma beleza.

14 de novembro de 2009

Passeio.

Ressaca curada com PF e vou ao meu Shopping de sábado à tarde que é o Hortifruti e seu ar condicionado perfeito.
  • As mulheres mais lindas do planeta vão ao Hortifruti aos sábados.
  • Uma mãe e uma filha. A mãe belíssima e penso que deve ser terrível ter uma mãe tão bonita assim.
  • Reparo no zelo do velhote que escolhe tomates e imagino, pela quantidade, que é ele, há 50 anos pelo menos, o responsável pela macarronada de domingo.
  • A caixa de amoras é quase um bibelô. Se eu tivesse uma guria linda e esperta me esperando em casa, compraria uma caixinha de amoras pra ela.
  • Ao escolher um bife pro domingo, uma mulher me desdenha. Penso que deve ser uma vaca vegetariana que acha que não comer carne a faz superior.
  • Mulheres elegantes de 40 anos deixam claro, pelas compras, que não têm marido ou namorado. Eu adoraria ser o pau amigo de uma delas: seria generoso no sexo oral e as ajudaria a lavar o alface.
  • Na volta vejo que mesmo entre os prédios as crianças ainda jogam futebol na rua.
  • Agora: arroto meu almoço e confirmo que o PF estava mesmo delicioso.
  • Em segundos: cortinas fechadas, eu peladinho e o ventilador no talo. Depois posiciono a luminária, abro o livro e espero o soninho.
  • Dormir à tarde é quase voltar a ser criança.

13 de novembro de 2009

Cinco dias e cinco noites.

Uma paz quase chata e duas doses antes de dormir.
Tudo lento e sem pressa: meu velho mau humor brotando junto com as minhas ironias.
Uma dose a mais e é possível perder cabeça. Silêncio pra passagem do caixão e farra na hora de beber o morto.
Se dançar é chacoalhar o corpo, eu concluo que também sou dançarino.

12 de novembro de 2009

arms.

Cara virada pro asfalto.
Até a lapa pode ser um paraíso.
Questão de pegada, de jeito de olhar, de dia bom.
Fala-se o caralho a quatro. Devem ser lentos os bons papos.
Recheios pra todas as crianças: fofocas com goiabada, verdades com sorvete e confissões com mariola.
Tudo é uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma bobagem que deve ser compartilhada.
Lenta, bem lenta, como deve ser.
Que não eu é que não queimo rádios. Que você é que não trata lesmas com alface.
Papo reto e simples de gente que cresceu e decidiu partilhar umas coisas.
Sem forçar, sem exagerar, sem declarar amor eterno à cada novo porre.
-
Bato três palmas sonoras e calibro meu longo copo de whisky. Sei celebrar sozinho,
mas, as vezes, os amigos colaboram sem saber.
A vida tá acontecendo e o tempo passa veloz e implacável.
Uns seguem e outros somem.
O risco é o mesmo e o trágico
ainda é notar
que você não ouviu
a sua velha intuição
e que, de novo,
era ela,
e apenas ela,
que estava certa.
-
A esperança é que fiquemos mais espertos.
Acho que estou.
E ele também.

10 de novembro de 2009

sem vogal.


Aquela dança era só um jeito de se desesperar. A gente se vira com o que pode e com o que tem. Somos os macacos que em volta de uma árvore inventaram o join de vivre. Não por desejo, mas por tédio.
E tem tanta gente que confunde tédio e desejo que nem falo nada. Minha aparência de arrogante paga seu preço por não ser tão simpática assim.
Mas lá fora tem aqueles dois ou três que realmente importam. Falta a fêmea, a fêmea fatal: guria esperta pra quem venderei minha alma e por quem, no auge da loucura que o amor provoca, jurarei, cheio de sinceridade e crença, que, por ela, deixo de ser eu mesmo e viro seu herói/príncipe dos sonhos encantados.
É por acreditar que o amor existe que eu não danço. Não quero dançar assim: apenas pra provar que também sou capaz de mexer o meu corpo e meu quadril. Se o lance é o desejo e não o tédio, eu berro sem medo de queimar a mão: deseje apenas o impossível.
O possível é o playcenter dos que não acreditam que a vida pode ser melhor. Como quem facilita a sujeira ao se concentrar apenas no lado bom de tudo.
Merda velha e repetida de gente que não sou eu e que não quero do meu lado. Poliana é uma metáfora e não, por Deus, um exemplo que deve ser seguido.
*
No mais, estou pelado e meu pau toca minha canela. Com minhas pernas dobradas, o ventilador ligado e uma música boa, sou capaz de nunca mais sair da minha casa.

8 de novembro de 2009

***
Acordo antes da sete. Lembro da infância e ligo a TV. Criança no domingo acorda e vai direto pra cama dos pais, onde assiste, com interesse médio, o globo rural. Minha mãe fazia torradas e a gente comia. Ficava eu e meu pai lá, comendo torradas e vendo o globo rural.
***
Como acordei cedo, tomei café na padaria e lembrei de quando ela acordava antes e comprava abacaxi no caminhão que ficava aqui do lado. Ela voltava e me acordava com nacos de abacaxi na boca. Tão bom comer abacaxi com a boca pastosa de sono. De manhã ela era falante e, a cada naco, me contava do papo que teve com o dono do caminhão que vinha do Espírito Santo até aqui pra vender abacaxis que na verdade eram ananás. E me explicava a diferença entre um e outro que o dono do caminhão tinha explicado pra ela.
***
Dia com cara de passeio, mas me falta uma boa fêmeazinha. Talvez devesse descobrir o telefone dela e fazer uma surpresa. Seria uma ousadia e tanto. Pra mim e pra ela, acho. A gente caminharia em um lugar bonito, comeria algo leve e saudável e só beberíamos sucos naturais. Um boa fêmeazinha é um perigo: penso até em mudar quem eu sou.
***
Já fiz tudo e mais um pouco, mas as horas passam lentas. Agora uma geralzinha na casa e, quem sabe, uma volta pelo bairro e uma ida ao hortifruti. Nesse calor da preguiça de comer. Talvez devesse ler os livros chatos e voltar a dormir, talvez dobrar as roupas, não sei. Mais um cigarrinho e, depois de cagar, tomo uma decisão. Quem sabe.

6 de novembro de 2009

É essa faca no peito e umas coisas que eu sei.


Porque vivi por aí e me joguei em 3 ou 4 roubadas, vi o inferno 2 vezes e quase conheci o céu uma única vez.
E por isso meço palavras e faço fita. Meu auto controle deseja ser mantido.
Pago os preços e aviso: a paz acaba se uma fêmea ganha estatus de deusa.
Porque mulheres são loucas e todos sabem disso.
Mulher, eu sei, pode me perturbar a alma.
Eu perco a mão, eu topo a merda, eu chafurdo na loucura que se faz pro encontro das carnes - o encontro, o encontro real e raro quando os 4 olhos abertos deixam de ser usados pra enxergar e se tornam uma suruba de anjos.
Os corpos colados, os orgasmos evoluindo em sintonia e uma pulsão de morte na qual você se abandona. A pequena morte da língua fresca, o inferno abençoado pelo padre do Seu Chico e a dissolução absoluta do ego dos meus livros de auto-ajuda.
Por isso e por essas vou manter minha discrição e controlar minha capacidade de delírio.
Fazer de conta que sou indiferente, deixar o telefone tocar e, como sempre, dormir bem bêbado e rezar pra não ter pesadelos.
Têm uns preços altos que se pagam por aí. Arrependimento é um deles. E à merda os imbecis que não se arrependem jamais! Imbecis, eu disse.
Hoje senti uma dor estúpida: lembrei que nunca, nunca mesmo, fui buscar ELA na rodoviária. Meu Deus! Isso faz séculos! E me doeu tanto. E me senti tão idiota ao lembrar de quem eu era lá. Uma pena, uma terrível pena. Até porque nunca mais houve ninguém chegando de ônibus na horrorosa rodoviária do Rio de Janeiro.
Mas o tempo passa e é fatal. Não poderia ter seguido, seria desonesto se tivesse seguido.
Um novo começo cheio de alvoroços seria um milagre maldito que me deixaria doente e satisfeito. O velho delírio do rapto com cavalo branco.
Acho que está claro que a ideia de destino me apraz.
Seja como for, sonho com ela e, sobretudo, que seja ela a figura misteriosa que me caça no google no Sul do país.

5 de novembro de 2009

Hoje sai de casa sem cagar, o que me incomoda profundamente.
Prefiro perder sono à sair assim. Geralmente adianto o relógio, preparo o café, bebo e espero a pressão. Então fumo meu primeiro cigarro durante o ato como se fosse um cronômetro.
E assim saio preparado para enfrentar o imenso mundinho.
Mas hoje o sono tava bom e o sobre o calor nem comento. De forma que nem caguei e meu cronômetro ficou desregulado e passou o dia inteiro a me cobrar miudezas.
E fui pra lá e pra cá e, bem, confesso que prefiro mesmo é não sair de casa. Essa coisa de fazer mil atividades pra completar o dia me parece estúpido. Não é completando cruzadinhas que me sentirei mais vivo. Eu não, pelo menos.
Pra terminar, minha casa só minha e meu banheiro só meu. Não tá limpo, mas é confortável. Cago lento e impassível e agradeço que amanhã as cruzadinhas serão só minhas e secretas - que é assim que deve ser.
-
Meus pés ainda doem, mas meus amigo me tranquilizam: - não é gangrena, idiota!
Confio neles.

4 de novembro de 2009

>>

Dia de sol e sofrimento. Porque gordo sofre no sol. É inevitável.
-
Andei pelo mundinho e até participei: dei beijinhos e perguntei 'tudo bem', sorri sem vontade e até cedi meu assento pra uma velhinha do metrô.
A tarde vi uma mulher alta que acho bonita e misteriosa. Misteriosa porque ela não deve ser quem aparenta ser.
(Ela é todo o estereótipo de mulher anti feminina que não precisa de nada e que acha a feminilidade uma fraqueza. Mas, ao mesmo tempo, quando nos cumprimentamos e somos educados, fico com uma pulga que me diz que não é nada disso, que isso, essa atitude anti feminina dela, é apenas uma defesa como outra qualquer).
Depois o de sempre e a novidade que meus dois pés doem. Pode ser o tênis, o peso, ou, quem sabe, a gangrena chegando lenta.
Tenho lá minhas defesas. não tenho?
E, acredite, atualizar o blogue diariamente é uma delas.

2 de novembro de 2009

dd

Nenhum desejo extravagante me perturbou. Papiei aqui e ali, vi a chuva da minha janela e dormi quase sempre cedo.
Na internet a mesma tristeza de sempre: umas notícias trágicas, a apatia generalizada e uma ou outra manifestação de afeto. Tudo muito contido e elegante.
Lá fora houve grandes churrascos e festas. Não fui em nenhum, mas eram todos chatos e previsíveis como o metrô lotado em dia de sol.
Uma birita com a nova maturidade da minha boa amiga e o sorriso sacana da minha velha conhecida que gostaria de ver de quatro. Apenas por ser do contra e por acreditar, piamente, que ela deveria dar pra mim por uma semana, pois, assim, do alto da minha arrogância, afirmo que ela aprenderia a trepar.
Mais umas atividades supostamente úteis e rever, pela 10° vez, o poderoso chefão. Dessa vez revi o segundo.
E afirmo, sem medo de errar, que sempre entendi tudo de tudo daquele filme, ou melhor, daquela trilogia.
É a ética como assunto interessante. Não a ética regida por leis/sociedade, mas a ética profunda dos que não temem em usar a palavra empenhada como assinatura reconhecida em cartório.
*
Pra finalizar: a expectativa de uma manifestação alheia que inventei e que desejo. Porque sei que o tempo é cruel e escorre lento, porque o milagre pode, muitas vezes, se manifestar em quem não acredita em milagres.

31 de outubro de 2009

31102009

Quer sair comigo?
A gente pode andar um ao lado do outro sem falar nada. Podemos apontar o dedo pra uma ou outra coisa apenas pra mostrar aquilo que viu. Comentários, podemos combinar, ficam proibidos.
Se mesmo assim ficarmos constrangidos, a gente deixa de andar e senta num banco. Aí nem apontamos nada e ficamos lado à lado em silêncio. E também podemos evitar olhar muito diretamente um nos olhos do outro porque, as vezes, você sabe, surge um anjinho pelado dentro da pupila. E anjinho pelado é algo assustador, não acha?
Eu prefiro a noitinha, pois o lusco fusco me dá mais segurança. Que sol e areia, desculpe lhe decepcionar, não é comigo. Até porque essa gente de sol e areia é risonha demais e, confesso, que não consigo confiar neles. Quando a pessoa tá alegre ela não fica rindo o tempo inteiro, né? Acho até que quando a pessoa tá alegre ela nem sabe disso. O que que você acha?
Bem, acho que falei demais. Aqui sempre acabo falando demais. Mas aqui é mais fácil. Porque aqui é sozinho e sozinho é bem mais simples. Sexo, amor, família e amigos são coisas ótimas, mas dá um trabalhão que nem sempre vale a pena.
Bom, telefona praquele número que eu te dei escondido ou então, se preferir, me manda um e-mail. Que aí nem a voz um do outro a gente precisa conhecer.
Beijos e bom feriado.
Fernando.

mulher engajada -

A piranha dançava e ia até o chão. Tinha facilidade e conhecimento de causa. Sabia das coisas, sabia como usar seus instrumentos.
Não forçava nenhuma barra e era, na medida do possível, discreta. Os olhos eram azuis como só as lentes permitem. A boca vermelha, as unhas também e o cabelo, com cheiro de creme, balançava loiro e cadenciado.
Quando ostentou, de costas, o salto da sandália prata eu, como bom teimoso, fiz força e torci meu pescoço pra olhar direto na cara dela. Do meio das próprias pernas ela me viu e fechou o rosto.
Virada de novo, e sempre na cadência, ela arrancava suas roupas e as jogava em mim. Com força, com raiva, e sem nenhuma atitude de sedução.
Ela era uma gênia e sabia usar o espaço à seu favor. Depois da última peça, mas ainda com as sandálias, ela se aproximou e me disse baixinho: - escroto de merda.
Saiu pisando forte e com toda razão. Não se deve olhar assim pra uma piranha.

30 de outubro de 2009

Daqui e de lá.

Meu osso é duro, mas meus dentes também. Vou continuar roendo. Eu rôo, eu acho decente roer. Que osso bom é osso roído.
Das coisas que me tocam/me pegam, eu sei que a insistência é uma delas. A capacidade de insistir é algo que me comove. Sempre acabo dando dinheiro pro mendigo que se repete. Mas só quando se repete ao longo do tempo e não no mesmo dia.
Insistência combinada com paciência é a virtude da fêmea que me matará. Sei disso desde os 16 anos.
Ocorre agora que a insistência existe, mas não tem direção. É uma insistência que não se decide e que lembra mais uma gaivota que aproveita o resto dos peixes do que uma águia que mira lá de cima e que desce como um raio pro seu último combate.
Ok, a metáfora não é das melhores, mas o ponto é: precisamos sempre da tríade sagrada. É pai, filho e espírito santo. E não pai e filho ou espírito santo e pai.
E já que insisto nisso, vou ser bem claro: pra mim, a morte serena virá da fêmea perfeita que levará minha alma e meu coro e que, como não poderia deixar de ser, carregará a santíssima trindade: a insistência, a paciência e a decisão.
Minha musa
com três peitos
e buceta ardente.
Tem
que
insistir
e ser
paciente.
E depois
de decidir
ser insistente.



29 de outubro de 2009

Tenho achado muito viadinho essas coisas que tenho escrito. A merda do blogue é essa: você acaba escrevendo, mesmo achando viadinho.
Mas o blogue é meu e é a minha mão que se suja de merda quando o papel higiênico rasga. É por esse motivo que eu reclamo de mim mesmo e faço auto acusações. E também porque, confesso, reclamar é um prazer.
To relendo os artigos do N. Rodrigues e, puta que pariu, imaginar que ele escrevia aquilo em jornal. Era um mundo menos tacanho e menos bundão, eu acho. É só pensar em quem escreve nos jornais de hoje. E mesmo quando é alguém da pesada, ali, no jornal, fica tímido e nunca põe o cu na reta.
Esses caras que escreveram o fino me constrangem quando penso em escrever. Mas sou teimoso e o cu é meu.
Se eu pudesse chupar meu próprio pau, eu o faria.
Como não posso, mantenho meu blogue e atualizo meu orkut/facebook diariamente.

-

É que tem essas coisas que são as misturas todas que fazem a gente ser quem a gente é. É quase uma loucura, mas nem chega a ser. Porque loucura de verdade é pesado e dolorido. Só estúpidos podem achar a loucura uma coisa boa.
Mas volto.
Passo horas ali e tento desvendar certos mistérios. Os mistérios não são reais, são meus porque fui eu que os inventei. E mesmo assim, com consciência disso, me pego pensando "e se". "E se" é tudo e mais um pouco. Tio Stanis sabia disso. E tio Stanis era fodão.
Bem, meu sonho com P. foi de uma realidade surpreendente. No sonho fui convencido que não era sonho. Sou mesmo desconfiado, mas confiei e sofri. Era sonho mesmo, infelizmente.
Coisa bonita essas coisas que permanecem. Quase um milagre. A sobrevivência de algo após tanto tempo traz o sentido, foi minha conclusão.
E não há nada pra lastimar. Dia ruim e dia bom. Minha Russeffinha me disse da sorte que tive e concordei em silêncio, que é, enfim, a única maneira decente de concordar.
Mas queria ter objetividade e nem rolou. Acontece.
O blogue é uma punheta e fico feliz quando alguém elogia meu pau. "A curvatura perfeita", ela me disse com outras palavras.
Ela tem mais classe do que eu. Melhor assim.

27 de outubro de 2009

http://barulhodegrilo.blogspot.com/

DE UM DOS BLOGUES MAIS FINOS DO OESTE.





eu à 30 léguas.

Que vejo e ouço. Participo menos porque fico sempre olhando e pensando. É um tipo de vício e vícios são doenças e tá tudo perdoado.
O nome daquilo é excesso. Ainda mais pra mim que moro sozinho e me sinto ótimo na solidão voluntária. Mesmo que delírios de noites de amor sejam inevitáveis.
Poderia dar nome aos bois, mas nem valeria tanto. O lance é aquela massa junta, que convive e conversa e se ama e se odeia.
Na minha viagem sobre sangue, ter sangue tem a ver com isso.
Uma grande hemorragia que jorra na mesma direção.
As coisas se misturam e não há nenhuma individualidade. Carnaval é o caralho. Tem data e prazo.
Dissolver-se no sangue sim é uma coisa de bicho, de animal.
Até porque o prazo de validade é a morte e, mesmo assim, nem sempre.

26 de outubro de 2009

Muita gente e alguma confusão. Que é difícil ser você e fazer coisas quando a casa é cheia e falante.
No sábado um sonho verdadeiramente pertubador. Sonho quase velho e repetido. A coisa de encontro eterno como coisa do destino. E sem medo. E, por que não?, feliz. Sonho que de tão bom desconfiei ainda dormindo e disse que era sonho, mas aí a outra parte do sonho me convenceu que não, que não era sonho. E eu acreditei e acordei assim, semi perturbado.
Agora segunda e coisas parecidas na cabeça. Sem chancer de ser eu mesmo e fazer coisas.
E nem há telefones pra ligar. E nem acho que tenha esse direito.

23 de outubro de 2009

freak-me.

o
que
me
irrita
é
que,
além
de
esperta,
ela
parece
bonita.

é
que
quando
beleza
fora
de
uma
garota
esperta,
eu
morro
de
medo.
ou
feia
e
esperta
ou
bonita
e
burra
se
não
é
bem
capaz
de
eu
tomar
uma
surra

#

A bêbada triste chorava no bar. Tava vestida como homem: bermuda de surfista, camiseta preta, cabelo curto e com manchas amarelas.
No inicio achei que alguém tinha morrido. O bêbado eventual que é mecânico e que a acompanhava tentava a consolar com o verso de uma música do Vinicius. Era um verso bonito que me chamou atenção porque me lembro do meu pai cantando ele.
Depois entendi que nem era dor de morte. Acho que perdeu o emprego e, pelo que entendi, por culpa da filha da patroa. Ela disse que vai matar a menina. Talvez mate mesmo, mas acho que não.
<>
Em bar tem, as vezes, um nível de decadência real que se vê. É estranho porque eu estou lá e penso que talvez, a única diferença, seja minha idade. Sou mais novo que eles.
Seja como for, voltei pra casa antes. Gosto de ver a vida alheia e pensar nas minhas coisas. No bar é esse meu tesão. Vejo e não participo, prefiro assim.
E hoje, aquele choro e aquela decadência, foi demais pra mim. A dor dela era real, mas besta. Muito provavelmente a filha da patroa deve ter razão de não gostar daquela mulher: um tipo ruim de ver, que parece grávida, mas não tá. Os olhos eram apagados e tinha um choro grosso, chato de ouvir.
E a loucura, a loucura da vida real, é que a dor daquela mulher, pra ela, era tão grande quanto uma morte.
<>
Há qualquer erro nisso que eu pressinto, mas que não consigo desvendar. Sei lá. Acho que se chora pelos motivos errados, que se ri por falta de assunto e que se diz 'não leve a sério' por temor.
O parque de diversão é apenas a reunião de um monte de brinquedos divertidos.
E cada um tem o seu preferido.

22 de outubro de 2009

Será que um dia
eu vou te ver assim,
de quatro, pelada,
e olhando pra mim?
É só isso, você sabe.
-
Uma coisinha aqui e outra cá. Firulas que a gente faz ou inventa pra movimentar as coisinhas daqui que, assim, reunidas, são quase uma vida. Tanto faz e já faz tempo. Acho melhor assim, mesmo que assim seja mais triste. Coisas passam, a gente sabe. E é triste porque coisas e coisinhas já pareceram eternas.
Mas que seja. O gotejar deve ser lento e completo. É meio um combinado que tenho comigo. Porque acho o lento mais honesto do que o rápido. E que Deus não me pergunte o porque.
Uma paisagem bizarra,
um papo calmo com uma amiga antiga e a sorte,
quase impossível,
de pegar um ônibus que vai pela Rua da Passagem.

21 de outubro de 2009

relatinho.

1-
Deixe - me ser discreto e elegante. Sabe como é? É fácil contar histórias e é ainda mais fácil gostar das histórias que se conta.
E por isso ficarei aqui, fazendo de conta e fingindo que não é comigo. Auto preservação é um instinto básico e louvável.
Gosto mais do que falo do que do que faço. É meu bom senso se manifestando, dizendo baixinho: veja bem, seu rojão não estoura sempre, mas, quando estoura é implacável.
De qualquer maneira o isqueiro tá na minha mão, meus cigarros eu ainda acendo.
2-
Tem coisas que perdem o sentido e tem coisas que não. As que não perdem o sentido, fizeram sentido e as que perdem, são, enfim, manifestação do tempo.
Não sei porque digo isso agora, mas, alí, esperando o metrô, isso me pareceu uma coisa fina e boa: o que importa são as coisas que não perdem o sentido. Era como se eu pudesse entender a vida através disso: sentido que ficou e sentido que se foi. Acho que eu teria 12 ou 13 sentidos no máximo. Ou 11, que seria uma conta mais justa.
O que quero dizer é que vivemos pra achar o sentido. E ele é raro, bem mais raro do que se supõe por aí a fora.
3-
Demora pra uma ideia ganhar forma. Primeiro se cogita e se imagina. Depois junta isso com um meio, ou uma aplicação. Depois testa aquilo e no teste a coisa tende a mudar. Etc. Em teatro isso me parece ainda pior. Porque virá os atores, o jeito deles, a coisa de fazerem em determinado espaço e mais um etc.
Isso porque pensei em fazer uma cena hoje inspirada num curta muito legal, mas que eu tinha visto a dois anos atrás. E rôi meu osso e pensei que essa brincadeira de por ideias em prática deveria pagar e muito bem. E não na coisa da publicidade, onde a ideia já tem um fim determinado. Mas sim na ambição artística, onde não se sabe direito onde chegar.
Hum, sei lá. Coisa de viado.
4-
Ela é uma amiga dessas muito boas. Hoje eu lhe disse que fazia tempo que não bebíamos só nós dois e que sentia saudade disso. Ela disse que a culpa era dos outros que falam muito. Eu queria dizer que sentia saudade dela e eu e apenas ela e eu. E é mesmo uma amiga, ainda que, algumas vezes, eu a imagine como uma mulher ótima e fantástica.
Quando ela culpou os outros eu lembrei que ela é durona e que disso eu já sei. Pensei que éramos amigos por isso. Eu sei de umas coisas que não preciso falar e ela sabe de outras que não me fala também.
É uma forma de amor, pensei. Desses amores durões que nunca deixam o outro saber o quanto é amado. Faz sentido pra mim e pra ela.
5-
E termino reclamando de mim mesmo e pensando no porque desses textos tão longos. Acho, cá comigo, que textos longos não combinam com blogues. Mas acontece. E nem precisamos sentir culpa. Melhor assim.

20 de outubro de 2009

Euforia e delírio medo de embarcar na própria loucura a tentação é suave e corre lenta resistir é uma forma de prazer tentar ter calma pra sentir o perfume discreto do diabo a dança mais demorada o salto mais fino a unha mal pintada o pêlo encravado e as mãos em concha que rezam pra desfazer o pedido a mania de roer canetas o olho sem vidro sem cor sem vista a casa nova o prédio na frente as crianças na piscina e um desabafo que tem medo de chegar aonde quer.


A guria mais bonita não tem nome, nem blogue, nem orkut.
Ela passeia sozinha e sorri sozinha e
nem repara em como você olha pra ela.
Ela não não pode te amar porque não te conhece.
E você não pode a amar porque ela não existe.

19 de outubro de 2009

domingo - senta de novo.

Descubro a coisa e deliro:
É quase normal. Só noto o quanto é estranho delirar assim quando saio de casa e vou almoçar no shopping.
Na rede desvendei tudo o que não era segredo. Passei horas nisso. Se o cigarro não acabasse, eu não saia. Tenho tendências a me encantar e hoje entendi o ponto disso.
Preciso de ternura, acredito na ternura. Ternura é um tipo de delicadeza que me comove. Uma coisa que não explico, mas que reconheço: em textos, em fotos ou em vídeos.
Sinto mais falta de ternura do que de sexo. Meu reino por uma ternura.
No delírio:
Seria uma coisa lenta e gradativa. Atração de estranhos, cheiros a serem reconhecidos e um charme artístico que nenhum dos dois deixaria de alimentar.
Charme artístico é isso que é: ter objeto pras metáforas das coisas que se pensa em silêncio e sozinho.
E nós nos amaríamos pra sempre. Você me entenderia na coisa que defino como:"A beleza possível será inventada." E, bem, seríamos felizes.
Felizes sem burrice que seríamos espertos. Um a salvar o outro como se isso fosse nosso destino. E usaríamos a palavra destino sem medo da tragédia.
Meu delírio corria solto e eu nem imaginava nada de ruim. Era só beleza. Eu pensava comigo mesmo: essa desgraçada me fará parar de fumar, essa puta me fará fazer exercícios, essa doida me convencerá até a parar de comer carne de porco.
Meu deus é tão bom delirar. Ela seria a mulher capaz de me modificar plena e puramente, como se mudanças assim fossem reais.
Meu delírio, meu delírio lento e vaidoso até ver, durante o banho: minha pança enorme, minha falta de ar, minhas espinhas na bunda e o excesso de vermelhidão que, de uns dias pra cá, aflora na cabeça do meu pau.
A felicidade é meu delírio nessa tarde de domingo: ouvindo cada coisa, vendo cada foto e reparando em cada imagem que queria passar rápida, mas que eu não deixava.
O mundo real:
A nova dor nas costas, a voz que assusta, a velha dor no pulmão, os vagabundos do bar, a comida sem vontade de comer, a tv ligada, o rádio ligado, a mina com o mano, a mina com o namorado, a mina amando, a mina amando e falando sobre o amor, a unha esbranquiçada, o peido molhado, o banho como obrigação, a punheta pra esvaziar, o sonho com os mortos, a casa limpa e vazia, a grosseria sem solução, o casamento que era seu, o filho que não teve, a vontade de fugir, o bar que teria, a grana da loto que mudaria o mundo, o arrependimento, a grosseria feita no passado, a mãe que telefona e ama, a dor da mãe que não pode entender por não ser mãe, o lixo cheio do banheiro, a merda que é aguada e preta, o bar que tava agitado, a música de velho que toca, a tela branca que não basta, a garota com quem delirou e que não existe, o namorado bonitão, o namorado saudável, o namorado cheio de gás, a mina com o mano, a merda espalhada, o blogue punheta, o sitemiter, o desejo secreto, a ruptura, a morte, o delírio do domingo, o etc que isso não tem fim.
Agora:
Aplacado e calmo. Sem raiva de ninguém e quase vazio. Queria trinta coisas, mas trinta coisas todo mundo quer. Saber que não é especial é parte da jogada. Sofrer em paz também é.
Conclusão:
Todo bloguinho é uma mal disfarçada terapia.

18 de outubro de 2009

senta que lá vem história.

BLOGUE:

37 horas sem sair. Ninguém além de mim. E me lambo e me adoro. E, daqui, vejo o mundo com uma imensa ternura. Perdôo os idiotas, penso nos grandes erros e sinto compaixão por todos.
Tomo banho e me preparo pro ataque. Alguma dose de mundo e a voz da minha mãe cravada na minha alma pra sempre: ver gente é importante.
Banho lento e bem lavado. Desligo a água a cada etapa. Não pra poupar o planeta, mas sim pra focar a higiene. Sabão, xampu, unhas, orelhas e umbigo inclusos. Sou o cara mais limpo do Rio de Janeiro. Acho graça de mim mesmo e me enxugo com a mesma calma do banho.
Desodorante, cueca e roupas limpas. Vou ver gente, minha mãe. Vou descer e ter uma dose saudável de mundo. A TV, que ta ligada, faz com que tudo se torne ainda mais lento. Meias, cueca, unhas aparadas, calça, tênis e, ufa, camiseta. Ver o mundo dá trabalho. Não gosto de trabalho. Por isso fujo das mulheres, penso sozinho e rio. Acho, nessas horas, que sou um gênio cheio de espírito.
No bar um movimento maior que a média. Fico quase tenso, mas pego uma e abro meu livro. Vou no bar, ou no mundo, com um livro na mão. Adoro me sentir só e único nesses lugares. Estou lá e não estou. Uma ambigüidade dos diabos, mas que me agrada.
É aniversário da Solange – uma preta pequena e que parece uma azeitona que sempre ta lá. Ela me oferece um pedaço do bolo e eu nego 1, 2 e 3 vezes. Depois de segundos me arrependo. É um tipo de formalidade que deixei passar. Negar o bolo da Solange a ofende, eu sei. E nem custava nada roer aquele bolo pra a deixar satisfeita. Bem, passou. Pena só ter entendido isso depois. Acontece.
Meu livro é bom. Penso que queria fazer aquelas coisas que leio. Ser vagabundo, ver o mundo e escrever. Parece a bem aventurança. Lembro disso e leio bem devagar.
O cara que vende pó ta ali e há um pequeno movimento. Reparo discreto e penso que eu jamais teria habilidade pra comprar pó desse cara. Ele ta sempre ali e isso me inibe. Não gosto de ser reconhecido, por assim dizer. Acho, como sempre, a discrição uma arte. Os caras que admiro são ou eram discretos.
Termino minha relação com o mundo e volto. Confirmo com o porteiro o novo horário e me sinto bem.
Agora umas palavrinhas, um bom cd e todo o planeta que pode ser você só e com uma tela branca.
Não quero participar do mundo que conheço. Não acredito nele. As pessoas são legais e simpáticas, mas não tem alma. Eu gosto de alma. Pensei, nessa tarde de solidão voluntária, que gostaria de ver um documentário cujo mote fosse as perguntas: você acredita em alma? O que acha que é a alma?
Agora eu mesmo e minha calma por ter ouvido a terrível voz da minha mãe. Fui ver gente e voltei melhor. Com a certeza de que não quero, e não quero mesmo, participar disso daí.
Eles e elas estão lá fora. Brindam a felicidade besta de quem não pensa e vive bem. Prefiro isso aqui que não é eles e elas. E que, principalmente, não acha a felicidade uma coisa tão importante assim.

16 de outubro de 2009

oh yes - sr

2
-
Preciso de uma louca poderosa que saiba amar e que tenha generosidade. Uma louca que me diga coisas terríveis em noites calmas. Que de louquinha pop já tive minha dose e nem valeu, muito tempo pra pouca eternidade. E prefiro o delírio inteiro, completo, sem calculos e sem História - que, na média, é mais chata do que ficção.
Porque mentira por mentira é melhor a mentira elaborada. E não se trata de de escolher, mas sim de ter habilidade.
(mi coracion: ler meu blogue não é saber quem eu sou, que tenho lá meu senso estético).
Pense comigo: se fosse pra eu ser bicha, eu é que daria o cu, saca? Que, assim, ao dar o cu, eu seria um bicha plena, pois assim, de quatro e recebendo a pica, eu realmente teria uma grande experiência de bicha. É o mínimo. E é deselegante confundir dedo e pau, clitóris e vagina, plástico e carne.
Meu dedo acusa, mas nem sempre vai ao fogo.
(E, mi coracion, sua coisa de recém separada é pop, mas não inteligente. Ex separada que só fala do ex marido não cola e nem colaria).
Perceber que eu sou inteligente é o mínimo de excitação que eu preciso pra beijar a sua boca vermelha. E que fique claro que sua marca de batom é bem vulgar, o que, se fosse mais esperta, saberia usar a seu favor.
A vulgaridade matemática eu também vi nos filmes: uma mulher verdadeiramente vulgar não precisa copiar os clichês pornográficos, se é que me entende.

15 de outubro de 2009

ntsqsqç

ser elegante. ter compaixão por umas tristezas que não são suas. ver o oceano. lembrar do passado sem pensar isso ou aquilo. na mesa do bar ouvir as mesmas histórias como se fosse tudo novo. sentir o eco lento do tempo batendo na carne. se empolgar com uma migalha gorda e sem sentido. punheta com alma. tédio sem culpa.
blogue, bloguinho, blogão.

14 de outubro de 2009

Então começa a decadência, lenta e implacável.
Condição de quem tá vivo e pensa. Sem pensar era mais simples: vivia apenas, mentia apenas, me bastava com as miudezas que se arranca da cartola.
Mas prefiro subir a escada e ver o monte de merda onde mergulharei. E farei o salto de olho aberto porque sou vaidoso, apenas por isso. Sinto medo, mas faço questão de deixar os olhos abertos.
Sei lá porquê. Acho que é apenas minha lógica caipira.

12 de outubro de 2009


A vida lenta e decente. Sem essa historinha de muito feliz e agora sim. Lenta, bem lenta. Sem mentir pra otários e sem tocar punheta pra desconhecidas. A paz não é um lugar ou mesmo um estado. A paz é um desejo com o qual se flerta. Flerta de flertar que aprendi com a minha vó: uma troca de olhares que NÃO QUER chegar a lugar nenhum.
Daqui a pouco um frango frito e uma voz estridente que me chama pro almoço. Estou com o peito aberto e com a cara emburrada. O whisky é um paliativo mais eficaz do que a falsa espontaneidade que só evidencia o óbvio constrangimento: é cada um na sua turma, afinal.
Não faço questão de novos amigos e não acho, como meus colegas de facebook, que a chuva atrapalhe minha vida. Lenta, decente e sem falsear alegrias passageiras. Há coisas mais importantes do que a felicidade.