13 de fevereiro de 2011

Todo Domingo Faço Planos.

Nada mais estúpido e natural do que fazer planos. É algo inevitável em nossa espécie. Somos gente e é natural. Natural como matar, foder, morrer, etc. Natural... E há sempre um idiota que defende a Natureza e toda sua crueldade como modelo a ser seguido. Tio Brecht condenava o "natural" por motivos bem mais nobres do que os meus.
Seja como for, naturalmente eu faço planos. A cerveja e o jornal de Domingo parecem impor isso. Planos variados, simples ou complicados, tanto faz. Recortar matérias de jornal é um deles. Consumir cocaína para fazer ligações importantes e constrangedoras é outro...
E por aí vai. A maravilha dos planos, em outras palavras.
Lembro que existem amigos/conhecidos que seguem seus planos. Penso neles e me impressiono. Ele têm missão, têm força da vontade, têm crença e nunca duvidam da própria crença. Acho admirável, confesso.
Essa gente com metas definidas e planejadas me deixam de boca aberta. Por um lado o sangue correndo nas veias que querem alcançar seus desejos, por outro a frieza intrínseca à quem segue obstinadamente seus planos. (Não sei se me fiz entender, mas é mais ou menos assim: ele farão e acontecerão. Eles têm força e são determinados. A vida é deles e eles a usam. Não estão à passeio e jamais questionam seus planos a ponto de desistirem.)
E eu me impressiono. Porque sou fraco, porque sou volúvel, porque me abalo se, por exemplo, J me diz que G ou H não presta. Os auto-ajudas que leio (o Lowen e a Bionergética) dizem que meu Ego é mal formado: ou oral ou esquizóide.
O fato é que Domingo é dia de planos. Faço contas, projeto rotinas, estruturo pensamentos e até planejo emagrecer quinze quilos. Domingo de sol, Rio de Janeiro no verão e o poema triste da Maria.
Lembro da Ivana e seu jeito de falar as coisas. Sinto-me íntimo dela sem o ser e concluo que isso faz um bom blogue. E fico delirando ao imaginar os planos dela e, durante o delírio, imagino mandar uma carta pra ela que nunca escreverei.
Porque meus planos não são planos, são delírios.
Penso no Lobão, no livro que devo ler, no trabalho que tenho que fazer, nas crianças que brincam no corredor do meu andar, nas minhas sobrinhas que precisam saber se os pais estão separados ou não, em meus pais que se agridem porque não podem conversar sobre o plano (olha ele aí de novo) de aposentadoria, no Aramis em seu ceú-inferno Maceió, no Luiz se impondo como um cego que ignora estar cego, na minha barriga que cresce despudoradamente, no Festival de Teatro que achei que seria selecionado e não fui e chorei, no estranho filme que vi ontem e que, misteriosamente, ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, na Clara que está na Argentina, nos meus próprios planos de ir à Argentina, em Nova Iorque, em cidades pequenas onde há apenas um bar e uma mercado, na P que me amou com devoção e agora ama outro com devoção também, no prazer proporcionado pelo álcool, nos cigarros-muletas, na vida, nas meninas que me mandaram cartinhas quando eu tinha 15 anos, na J. Joplin e seu charme datado, etc.
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Pra finalizar:
Que venha, que seja:
estamos aí.
Não faço o tipo que se mata,
é tudo que posso dizer.